O turismo é um fenômeno atual e creio que ninguém tem dúvida disso. Pode até mesmo ser comparado a espetáculos em que são envolvidas muitas pessoas que produzem roteiros, ensaios, arranjos e preparos para que no dia da apresentação os artistas e público estejam desfrutando do “show”.
É o que está por trás dos bastidores para que tudo ocorra bem numa viagem e traga experiências memoráveis para o turista. Mas, o que ocorre quando as coisas saem do controle e a “normalidade” das localidades, seus habitantes e visitantes precisam lidar com o inesperado?
Escrevendo isso, lembrei-me de Freud que fala sobre Unheimlich – palavra alemã com significado contrário de familiar, traduzido como infamiliar, inquietante. O médico/psicanalista utiliza a palavra para esclarecer o mal-estar que surge quando algo que deveria estar recalcado, ou seja, permanecer secreto, oculto no inconsciente do sujeito, aparece causando estranhamento e perturbando-o¹.
Mas, voltando para o turismo, por que me lembrei disso? Sabemos que no processo civilizatório do homem há diversas culturas e variedades de saberes e crenças. A natureza dá, mas também tira.
Temos vivido de tempos em tempos, momentos infamiliares e inquietantes que podem vir do ar, mar ou terra, ou seja, de todos os lugares, o que nos prova que estamos na mesma nave: o planeta terra, e, o que não era para nos atingir, aparece de repente.
Quero lembrar fatos recentes da humanidade que afetaram o mundo e, consequentemente, o turismo.
O terceiro milénio chegou chocando o mundo, e, em 11 de setembro 2001, no centro do capitalismo mundial, a cidade representada pela maça mordida – New York, foi atingida no seu coração por dois aviões da empresa americana American Airlines.
As duas Torres gêmeos foram ao chão, o edifício Word Trade Center passou a não fazer parte de sua paisagem. O mundo parou perplexo com tamanha violência e perdas humanas. Nós, agentes de viagens, ficamos meses sem enviar turistas para o hemisfério norte, pois havia especulações que o continente Europeu também seria atingido.
E o que chega por terra? Vulcões e suas erupções causando milhares de cancelamentos de voos como os da Islândia em 2010, o que foi um desajuste na vida de quem estava na Europa. Em 2011, o vulcão Puyehue provocou um transtorno na América Latina especialmente no Chile e Argentina.
Também são “inquietante” as pessoas com forte pulsão de morte, aquelas que fazem um estrago social enorme, matando o que é diferente de suas crenças, cultura e artes. Vimos o grupo rebelde ISIS (Estado Islâmico) destruindo o Templo de Baashamim, uma das ruínas mais preservadas de Palmira na Síria, assim como o Templo de Baal.
Bombardearam países negando a herança cultural religiosa, como citado, na Síria e também do Iraque. E existe também o inesperado, como a destruição por fogo do Museu Nacional, queimando relíquias em 2018, assim como a Notre Dame em Paris, nesse ano. O fogo foi impiedoso, também em 2019, com a natureza e áreas de preservação brasileiras.
Desde setembro um fantasma assombra o nordeste brasileiro, e, desta vez, ele veio pelas águas. Mais de cem praias nordestina foram tomadas pelo óleo do petróleo.
Dei essa volta pelo mundo para falar da esperança nas ações coletivas e de como estamos lidando com o inesperado. Como exemplo, vou citar uma praia que foi atingida de 18 de outubro pelo óleo (infamiliar) e o movimento coletivo que ocorreu para que a vida/turismo voltasse a normalidade.
Praia dos Carneiros em Pernambuco, localizada a 46 km de distancia de Porto de Galinhas, região dos grandes resorts brasileiros. Quando esses se iniciaram, Carneiros era uma praia deserta e muito apreciada pelos turistas que a visitavam. Atualmente, está em plena expansão turística.
É “chique” casar na Igrejinha de Carneiros. Nas redes sociais, encontramos essa constatação. Então, o que vejo é que esse lugarzinho paradisíaco, perdido no mapa há poucos anos, que seguia seus dias numa rotina de comunidade foi avassalado por algo perturbador. E a pauta no dia 18 de outubro de 2019 foi: retirada de óleo na nossa orla. No instagran do “nordestemeulindo” apareceu no dia 19: “Graças a atuação de 1.500 voluntários, a Praia dos Carneiros foi totalmente limpa. Foram retiradas algumas toneladas de óleo, que atingiram cerca de 2 km.”
O Nordeste sobreviverá a essa tragédia e tenho certeza que, já já, estará prontinho para grande temporada que se aproxima. Não faltam corações abertos e boa energia nesse povo bom! New York tem um buraco no seu coração, mas está recomposto e buscando reparação desse rasgo. As cidades e comunidades atingidas pelo fogo de diversas formas ficam também com suas marcas, muitas vezes irreparáveis, de artes que foram extintas e ficam somente memórias.
Temos tratamento para esse infamiliar que manifesta, para nosso alívio enquanto sujeitos. Ahh… como seria bom colocar o “mundo” no divã e não termos uma humanidade “canibal” e podermos usufruir de todas as belezas dele sem sobressaltos!
Sandra Belchiolina sandra@arteyvida.com.br Voo, Voa, avua, Rasgando o céu, Voo no deslize. Voo, Avua, Rasgando…
Daniela Piroli Cabral contato@dnaielapiroli.com.br Hoje, dia 20 de Novembro, comemora-se mais um dia da Consciência…
Eduardo de Ávila Assistimos, com muita tristeza, à busca de visibilidade a qualquer preço. Através…
Silvia Ribeiro Nas minhas adultices sempre procurei desvendar o processo de "merecimento", e encontrei muitos…
Mário Sérgio Já era esperado. A chuvarada que cai foi prevista pelo serviço de meteorologia…