Sou de uma época em que o cinema nacional era completa promiscuidade. Fiquei anos a fio, sem qualquer interesse por películas aqui produzidas. Felizmente, e isso tem tempos, passamos a ver interessantes produções – ficção ou não, romances, policiais e ainda documentários que prendem a atenção e nos mostram a realidade brasileira nas telonas. Longe de ser cinéfilo, condição apropriada para bons e atentos críticos da arte, costumo ir ao cinema com assiduidade.
Vejo, aprendo e me permito avaliar e reavaliar conceitos, assim como com leituras e convivência do dia a dia, que balizam – se achar necessário – mudanças de comportamento e reação perante acontecimentos dos tempos recentes.
Estamos vivendo permanentes transformações externas com reflexo em nosso cotidiano. Juízo de valores, muitas vezes contaminados pelo que lemos e ouvimos. Informações que fogem e escapam ao nosso entendimento, os verdadeiros interesses dos veículos de comunicação. Uma imposição de valores e costumes, aliada a informações muitas vezes distorcidas.
Dito isso, volto a falar do quanto foi interessante, nos últimos dias, poder assistir a três produções nacionais. Uma delas, “Baronesa”, tendo Belo Horizonte como cenário. Não a capital da zona sul, que conhecemos. Mostra a dura realidade de duas amigas e vizinhas, que moram numa comunidade da capital. Uma delas, construindo uma casa para fugir da guerra – notadamente – do tráfico na região. A outra, com um amontoado de filhos pequenos, esperando a soltura do marido preso. É uma dura realidade, a poucos metros das nossas casas.
Outro, que acontece no Rio de Janeiro, traz uma realidade também ignorada pela classe média e alta. Em “Canastra Suja”, uma família de periferia, em que um casal demonstra felicidade, entretanto – como em grande parcela dos brasileiros –, tudo aparentemente ajustado. O marido alcoólatra e a esposa num relacionamento adultero com o namorado da filha, convivem num ambiente pesado, que ainda conta com dois outros irmãos: um jovem sem perspectiva de trabalho e uma garota especial.
E em uma terceira produção, agora já em Salvador, se misturam um sargento do Exército aposentado, um policial e um traficante. Em “Tungstênio”, buscando combater um crime ambiental, todos se escondem atrás de uma máscara pessoal e moral. Todas essas películas cinematográficas relatam e retratam um Brasil desconhecido pela maioria dos brasileiros.
A interessante relação cinema/educação, em qualquer idade ou fase de nossas vidas, tem espaço e lugar. Por mais que possamos nos imaginar prontos para enfrentar ou sermos conhecedores da realidade em que vivemos, na verdade pouco ou nada sabemos. Viver essas três realidades é algo distante de acontecer.
Entretanto, todas elas existem e estão muito perto de cada um de nós. O cinema permite conhecer, debater, entender e até mesmo sugerir mudanças de comportamento em busca do bem comum. Inimagináveis os diálogos que cada um destes filmes nos mostram, entretanto, todos reais. Em alguns momentos, provocam e sugerem gargalhadas, embora a seriedade e a naturalidade que cada detalhe nos conduz a uma profunda reflexão.
Em tempo: Ao escolher um filme, procure se orientar pelo telefone da sala de cinema. A programação divulgada nos jornais, sistematicamente, apresenta equívoco.
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