“Estou me sentindo incompetente”, me relata um profissional com quase trinta anos de trabalho numa mesma organização. “Estou inseguro e com vontade de não ir mais trabalhar”, queixa-se um trabalhador após mudanças nos sistemas tecnológicos da empresa.
É inegável que “as tecnologias de comunicação e informação (…) têm ocasionado inúmeras e profundas transformações em praticamente todas as áreas da atividade humana, envolvendo a economia, a política, a cultura, a própria organização do tecido social e das relações interpessoais” (p.309). Seus benefícios são inegáveis, no entanto, os depoimentos acima evidenciam os efeitos negativos das tecnologias para o trabalhador, fenômeno que tem sido denominado pela literatura especializada de “tecnoestresse”.
Essencialmente, o tecnoestresse relaciona-se com os efeitos psicossociais negativos do uso de Tecnologia de Informação e Comunicação – TIC. Ele é um estado psicológico negativo relacionado ao uso de TIC ou com a ameaça de seu uso futuro. Daí há uma percepção de desajuste entre as demandas e os recursos relacionados ao uso de TIC, o que pode desencadear um alto nível de ativação psicofisiológica nos sujeitos.
Quem nunca se sentiu extremamente fatigado após um dia de interação com as telas, aparelhos, dispositivos e sistema?!
O novo modelo tecnoeconômico e revolução centrada na TIC têm modificado profundamente o mundo do trabalho e exigem frequentes adaptações do trabalhador, pois as as ferramentas se tornam rapidamente obsoletas, exigindo deles constantes atualizações, que às vezes parece não ter fim.
Chega a ser angustiante assistir aos profissionais “experts” em carreira e mercado de trabalho dando dicas nas mídias para os candidatos. É uma extensa lista de qualificações acadêmicas, profissionais, pessoais e de networking que gera ansiedade, passando a impressão de que nunca estaremos prontos para aquela vaga ou determinado trabalho. As exigências de conhecimento, de versatilidade, de flexibilidade já estão também descritas na literatura como a representação do “poliprofissional” ou trabalhador “transformer”, enfatizando o caráter pouco humano do trabalhador neste contexto.
Para o trabalhador são comuns a sensação de insegurança no desemepenho de tarefas rotineiras, a sensação de estar sempre atrasado, de estar “correndo atrás do prejuizo” e o “famoso” medo de de estar “por fora”. Outros sintomas deste quadro são problemas de sono, dores de cabeça, dores musculares, transtornos gastrointestinais, sudorese, palpitações, fadiga, dificuldades de concentração, irritabilidade, sentimentos de perda de controle, absenteísmo e queda de desempenho.
E este contexto, aliado a um coletivo de trabalho enfraquecido, às relações socioprofissionais empobrecidas, de individualismo, de concorrência extrema, de competitividade, em que as falhas alheias tendem a ser ressaltadas e enfatizadas para garantir “o meu lugar”, se torna um campo fértil para sofrimentos e adoecimentos no trabalho.
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