Categories: Daniela Piroli Cabral

Violências e saúde mental: armar a população resolve?

Foto: Divulgação Web
Daniela Piroli Cabral
contato@dnaielapiroli.com.br

Uma das principais pautas das eleições foi a segurança pública. E, apesar de toda a polêmica e complexidade a respeito do tema da violência em nossa sociedade, a principal ação que o novo governo se propõe a tomar é o oferecimento de armas para o “cidadão de bem”. Mas isso resolverá o problema da violência?

Quando analisamos mais profundamente o problema é até compreensível que os cidadãos “peçam” armas no intuito de conseguirem manter a falsa ilusão de sua própria defesa e segurança, mas isso não resolverá o problema. Pelo contrário: corremos riscos de agravá-lo, diante da famosa justiça com as próprias mãos.

Sabemos que a “a insegurança sentida por muitos brasileiros (…) deriva de uma combinação de altas taxas de criminalidade, particularmente violência interpessoal, associada à impunidade. Muitas vezes, o uso de álcool e drogas ilícitas, juntamente com a grande quantidade de armas em circulação, forma o pano de fundo para a violência”. Sabemos também dos impactos que as diversas violências têm para saúde física e mental: óbitos, sequelas, lesões, traumas, sofrimento, medo, revolta.

A superação das violências a que estamos todos expostos (criminalidade, homicídios, violência no trânsito, violência doméstica, violências físicas, violências simbólicas) passa, necessariamente, pela articulação de políticas públicas e legislações específicas (tais como a Lei Maria da Penha, a Lei do Feminicídio, o Estatuto do Idoso, o Estatuto do Desarmamento) com ações articuladas e integradas de educação e de saúde. Passa necessariamente, também, por ações de mudanças culturais e o desenvolvimento de controles, formas de apuração e punição adequadas. O papel de campanhas na mídia é também fundamental para promover a paz e condenar atos de violência. A segurança abrange também o oferecimento de condições de trabalho, de convivência e de ocupação dos espaços a toda a população.

“O Brasil sempre foi um país violento: o desenvolvimento nacional começou com a escravidão dos índios e negros e as cicatrizes do passado colonial do país permanecem até hoje. Esse legado desfavorável de exclusão, desigualdade, pobreza, impunidade e corrupção, frequentemente sobre o comando do próprio Estado, há séculos vem falhando em garantir direitos básicos sociais e humanos, como segurança, saúde, educação, moradia, trabalho e lazer. Agravam essas violações valores culturais profundamente arraigados e que geralmente são usados para justificar várias expressões de violência nas relações subjetivas e interpessoais, como machismo, patriarcalismo, preconceito e discriminação contra negros, pobres, mulheres, idosos e homossexuais” (grifo nosso).

Fonte:

  • REICHENHEIM, M.E. el al. Violência e lesões no Brasil: efeitos, avanços alcançados e desafios futuros. Lancet, 2011.
Daniela Piroli Cabral

View Comments

Recent Posts

Ainda pouca mas bendita chuva

Eduardo de Ávila Depois de cinco meses sem uma gota de água vinda do céu,…

11 horas ago

A vida pelo retrovisor

Silvia Ribeiro Tenho a sensação de estar vendo a vida pelo retrovisor. O tempo passa…

1 dia ago

É preciso comemorar

Mário Sérgio No dia 24 de outubro, quinta-feira, foi comemorado o Dia Mundial de Combate…

2 dias ago

Mãe

Rosangela Maluf Ah, bem que você poderia ter ficado mais um pouco; só um pouquinho…

2 dias ago

Calma que vai piorar

Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Depois que publiquei dois textos com a seleção de manchetes que escandalizam…

3 dias ago

Mercados Tailandeses

Wander Aguiar Para nós, brasileiros, a Tailândia geralmente está associada às suas praias de águas…

4 dias ago