Suicídio: o problema dos que ficam

 

Foto: divulgação/web
Daniela Piroli Cabral
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A maneira de morrer é parte integrante da maneira de viver do indivíduo (BOTEGA, 2015).

O suicídio é uma forma de morrer que deixa vários questionamentos:

– “Não fui motivo suficiente para ele(a) querer viver?”

– “O que será que eu poderia ter feito?”

– “Será que foi algo que eu deixei de fazer?”

– “Ele (a) quis deixar uma mensagem? Uma punição?”

-”E se…?”

Todas essas perguntas ficam sem respostas (mesmo quando são deixados bilhetes) e são acompanhados de um processo de luto difícil, traumático, com sentimentos ambivalentes.

Hoje, estamos falando dos “sobreviventes”, as pessoas diretamente afetadas com a perda de alguém. Estudos afirmam que de 5 a 10 pessoas são direta e profundamente afetadas pela morte por suicídio. Aqueles que sofrem o impacto da morte voluntária sobrevivem ao caos, ao absurdo e à estranheza que o ato impõe. É um grupo que precisa de atenção especializada para lidar com a perda e com a dor que, às vezes, dura anos.

Além da negação, da tristeza e da raiva que são reações comuns a maior parte dos processos de enlutamento. O luto por suicídio traz um choque, momento inicial de espanto e surpresa que pode levar à busca de uma outra explicação para a morte. Estão presentes também sentimentos de:

1- culpa

Por “estar vivo, por ter ficado” e por não ter percebido que algo não ia bem;

2- vergonha

pelo estigma, pelo receio de ser julgado pelo suicídio do parente/amigo e pelo silêncio que se instaura;

3- rejeição

“ele(a) me rejeitou ao querer morrrer”;

4- medo

de que outras pessoas se matem, de que eu mesmo(a) perca o controle e chegue ao ponto de me matar em algum momento;

5- angústia

pela crise existencial e de valor que se instaura.

São comuns também as conhecidas “reações de aniversário”, lembranças que se tornam frequentes e repetitivas após o trauma, principalmente nas datas de aniversário da morte ou momento em que o sujeito se aproxima da idade em que o ente querido morreu.

Alguns psicanalistas dizem que o que é traumático é a ausência de atribuição de sentido. Assim, o suicídio provoca um trauma diante da falta de sentido. Buscam-se justificativas e explicações, mas diante da concretude do ato, não há meio de se alcançar “a verdade” do sujeito.

Todas as ações que tenham o objetivo de favorecer a expressão de sentimentos e a ressignificação da morte voluntária, atribuindo-lhe um sentido, são chamadas de ação de posvenção. Através da via da palavra, seja em grupos de apoio, seja de psicoterapia individual, os sujeitos são capazes de quebrar o ciclo de silêncio, o estigma e a invisibilidade do suicídio e ressignificar o sofrimento que pode parecer intolerável e interminável.

Para saber mais:

– BOTEGA, N. Crise suicida. Porto Alegre: Artmed, 2015.

– CVV – https://www.cvv.org.br/quero-conversar/

 

Daniela Piroli Cabral

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