Não tenho formação em comportamento de pessoas e tampouco conheço sobre pedagogia educacional. Já aos meus 60 anos, pronto para me aposentar e só não posso ainda realizar esse desejo por questões pessoais, ocupo-me – entre tantas atribuições – de observar as alterações naturais da evolução dos tempos.
Já comentei aqui, que em minha época era primário, ginásio e científico. Depois, mudou para primeiro e segundo graus, sendo que atualmente – salvo melhor juízo – é ensino fundamental e médio. Se hoje são nove anos, nos anos 1960 e até 1970 eram quatro e quatro, mas intercalados com uma quinta série, conhecida como admissão.
Não é isso exatamente o que interessa à nossa prosa de hoje. Aprendíamos as matérias na sala de aula, debaixo de disciplina e respeito inimagináveis aos tempos atuais. A diretora da minha Escola Estadual (que se chamava Grupo Escolar) era autoridade na outrora pequena cidade do interior. As quatro professoras do primário eram e continuam sendo respeitadas e veneradas pelos seus alunos.
Ninguém se atrevia a levantar a voz para questionar o que fosse diante da autoridade daquela mestra. Eram chamadas de “dona”, depois se tornaram “tia” e – ao que vejo hoje – até com alcunha de deboche são tratadas pelos alunos aprendizes. Ao contrário de buscar o conhecimento, em alguns casos, chegam a ameaçar e até agredir aos profissionais da educação.
Onde e a partir de quando começou essa ruptura de respeito aos educadores? Por mais curioso que me seja o assunto, não consigo desvendar o mistério. Entendo que a educação das crianças tem como base o ambiente familiar, cabendo à escola complementar, ensinar e preparar para o exercício da cidadania.
O mau comportamento de um aluno ou de um pequeno grupo, num tempo limitado de sala de aula, acaba por contaminar todo o ambiente escolar. São diversas as maneiras em que o ambiente é prejudicado por um ou poucos em prejuízo da maioria.
Desde aquele que chega, sistematicamente, atrasado e tira a atenção de toda uma sala de aula, aos que fazem comentários fora do contexto da disciplina, chegando aos tempos de hoje, seja o uso de um celular ou qualquer outro aparelho eletrônico, ou a prática do bullying. Fui vítima disso em minha época, mas tive de sofrer silenciosamente, pois sequer existia essa preocupação naqueles tempos. Superei e nem por isso me tornei uma vítima do mundo.
Tudo isso, a meu juízo, tem origem no seio familiar. Pais que não se entendem, que não têm tempo para conversar, orientar e ponderar com os filhos. Discussões a todo o momento e na presença das crianças. Total descomprometimento com a educação daqueles que geraram.
Repassam, sem constrangimento, a responsabilidade educacional à escola – seja pública ou privada –, sem perceber que o problema está na falta de tempo em interagir com seus filhos. Se o celular, conforme dito acima, é problema na sala de aula, pior ainda é dentro de casa. Pais e filhos, cada um no seu aparelho, sequer se veem debaixo do mesmo teto.
As crianças, vivendo num ambiente familiar sem interatividade, tendem a se tornar agressivas, resultado de um quase imperceptível sofrimento psíquico. Quase, pois se os pais não têm capacidade de perceber a falta que o diálogo em casa faz, jamais irão entender que o problema está ali e não na sala de aula.
Nas 24 horas do dia, a criança passa de quatro a cinco na escola, e a maior parte é em casa. Fui de um tempo em que nem televisão existia, o melhor momento da nossa rotina, além de brincar com primos e vizinhos (pique-esconde, salva latinha, queimada, futebol), sempre foi de ouvir experiências de papai e mamãe. Com ou sem fantasias e exageros, mas sempre voltadas a mostrar, demonstrar e preparar para os embates da vida. Eram muito melhores que os seriados de TV e – claro – que os joguinhos do celular.
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