Nos últimos tempos, bastante amargos, percebemos o distanciamento entre as pessoas. O desrespeito sobre o pensar dos outros, sistematicamente, vem dominando as relações. Como já postamos aqui, as redes sociais foram determinantes a essa situação. Memes e fakes criaram uma turma de valentes e irresponsáveis, que contribuíram e continuam fazendo todos nós vítimas deste imbróglio.
Abandonei dezenas de grupos, onde acreditava que os temas seriam agradáveis aos participantes, assim que percebi que a ira e a vontade de enfrentamento (que falta no contato pessoal) vinham impulsionando pessoas próximas ao confronto. Os recentes fatos políticos nacionais insuflaram essa guerra, que acabou extrapolando a outras diferenças que deveriam e poderiam ser evitadas, em privilégio da tolerância e da boa convivência.
Tenho cá minha posição sobre tudo isso, mas – procuro e me esforço – evitar o debate. Até mesmo quando sou provocado, procuro me manter a margem disso tudo. Como consequência, até questões religiosas, de preferência por time de futebol e provocações acerca de racismo e homofobia entraram nessa pauta.
Outro dia ouvi um diálogo entre dois extremos de questões políticas. Estava ao lado e, por mais que tentasse evitar ouvir a conversa, era impossível. Afinal, eu estava sozinho numa mesa ao lado, e as vozes se exaltavam além dos limites do silêncio recomendado. Cada um tinha sua razão, mas não admitiam a opinião do outro. Enveredaram por caminhos, em defesa de suas convicções, que a minha vasta barba não teve como evitar ouvir, voltando para casa colocando-a de molho.
Impressionante ainda como um não ouve o outro. Seja o da direita ou o da esquerda, refiro-me à posição deles na mesa. Mas, um detalhe me chamou a atenção. O conservador, colocado à direita e que assumia essa condição, disse ao outro que as pessoas que estavam protestando contra impeachment e prisão recentes, pulavam à frente dos carros nas ruas para chamar a atenção. Daí, o outro retrucou, afirmando que os carros eram empurrados e se movimentavam pelas mãos dos opositores.
Num outro momento, o cidadão conservador entrou na seara do preconceito e não mediu palavras ao questionar o outro, quase sugerindo um embate físico, embora se mostrassem amigos. Afirmou que não era preconceituoso, como seu contendor afirmava, relacionado à questão de homofobia. Daí desafiou: “estou eu aqui, chega uma pessoa que assume sua preferencia sexual diferente da minha, até aí tudo bem. Mas, da maneira que você está colocando, caso se insinue para mim, terei a obrigação de atender ao seu desejo?” Não teve resposta.
Evidente que ficou nítido o extremismo exacerbado entre os dois que se mostraram amigos, mas – sem querer entrar no mérito – essas diferenças e a intolerância a elas estão afastando e empobrecendo relações que antes eram ricas e proveitosas entre amigos, vizinhos, colegas de escola e no trabalho.
Os principais atores dessa comédia sem graça estão encastelados e cheios de denúncias, enquanto nós ficamos aqui idolatrando todos eles. Devem rir da gente, como fazem de quatro em quatro anos. Só que aí, cinicamente, riem para nós que brigamos por eles. Estou totalmente descrente, embora ainda tentando me manter incólume, mas repetindo minha escolha desde o primeiro voto.
Em tempo: sou kardecista e Atleticano, tolerante no primeiro e – na medida do possível – no segundo. Vida que segue!
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