Quando ainda era criança, lá no meu Araxá, a perda de um parente ou qualquer pessoa conhecida era como se fosse uma tragédia naquela pequena cidade, com apenas 20 mil habitantes na ocasião. Hoje, lá já passa dos cem mil moradores, o mundo está globalizado – embora ainda um tanto bobalizado, como registou leitor aqui semana passada -, e eu morando tem décadas em Belo Horizonte. Assim, consegui aprender a conviver com mais leveza nessa situação.
Lembro-me de que em certa ocasião, numa entrevista que fiz com a doutora Maria Tofani Gontijo, médica sanitarista e de vanguarda na emancipação feminina, ouvi: “a gente não escolhe lugar para nascer e nem parentes. Escolhe, sim, lugar para viver e amigos”. Aquilo foi muito forte na cabeça de um quase ainda adolescente e resistente às mudanças que a vida sugere a cada um de nós nessa curta passagem pela Terra.
Embora seja apaixonado pela minha cidade natal, foi aqui em Belo Horizonte que me fiz e me realizei pessoal e profissionalmente. Tenho parentes adoráveis, mas carrego verdadeira paixão por cada amiga(o) que conquistei nessa metrópole. Sem perder meu elo familiar e de nascimento, me tornei rico ao avançar e desbravar uma grande cidade, tanto no quesito relações pessoais, quanto na busca de espaço e trabalho. O preço e ônus disso é o apego e o amor a tanta gente que comemoro como uma recíproca conquista.
Faço essas considerações para chegar onde pretendo. Paralelo a desfrutar de incontáveis e queridas pessoas, vez ou outra assisto à partida lenta e gradual delas para o Reino Celestial. Se até certo momento a situação dolorosa parecia intransponível, a cada novo impacto venho aprendendo a lidar de maneira diferente. Até porque o tempo e o aumento destes casos vêm em movimento acelerado e uniforme, conforme aprendi nos tempos de física na escola. Antes eram ocasionais, depois a frequência aumentou e agora os casos estão ocorrendo em série.
A cada nova partida, por mais doído que seja o momento, volto para casa numa profunda e proveitosa reflexão. Lembro-me de cada momento vivido juntos, cada conversa e quanta coisa boa essa pessoa me deixou para a sequência dos dias que ainda me restam nessa atual passagem pela vida. Cada amiga ou amigo que se vai leva um pedaço de mim, mas deixa sua presença por inteiro comigo. Ainda que saudosa. A reflexão sobre cada um que já partiu tem me feito tão bem, até mesmo quando relembro de momentos de embate e discordância. O pensar diferente era apenas demonstração de respeito, carinho e amor.
Às vezes me bate, efeito retardado, um arrependimento de não ter registrado a cada uma dessas pessoas o quanto eu os admirava e amava. Depois, concluo que este sentimento estava implícito e era do conhecimento das partes. Não fosse assim, não repetiríamos tantos encontros, regados, especialmente, a água e café – eventualmente a outra pessoa arriscava uma cerveja – e a longas e divertidas prosas, de onde saía com a sensação de que poderia ter tomado outra saideira. Ainda que, no meu caso, de água ou café. Mas perdoar e relevar cabe em vida. E tenho feito.
Com toda dificuldade que sinto, a cada novo evento desta ordem estou aprendendo a lidar com a dor. Permito-me mencionar dois comentários sobre perder amigos, um de tempos atrás e outro recente. Um saudoso e amado tio, Domingo Santos, irmão da minha mãe e que foi prefeito de Araxá por duas vezes, certa ocasião, num velório na cidade, desabafou comigo. “Tenho mais gente conhecida aqui dentro do cemitério que nas ruas da cidade”.
Na última sexta-feira, quando perdemos outro querido amigo, Ronaldo Lenoir, que foi e continuará sendo um dos grandes incentivadores da minha atividade de blogueiro aqui no UAI (no Canto do Galo e neste principiante Mirante), o amigo em comum, Silvio Scalioni, emocionado, reclamou: “Vão sobrar poucos companheiros para a nossa hora, tem muita gente indo embora precocemente”.
Vida que segue!
Em tempo: Peço permissão ao leitor deste espaço para reproduzir o que postei, no sábado, no outro blog, sobre Lenoir. Antecipando que ele iria me censurar e dizer “outro textão, precisa reduzir o tamanho”.
“Por fim, caríssimas e caros, uma nota triste. Perdemos ontem, eu e os leitores, o grande parceiro invisível deste blog. Ronaldo Lenoir, amigo estimado, foi dos maiores incentivadores deste meu projeto. Por quase um ano, editou as postagens daqui, depois seguiu como meu fiel escudeiro e conselheiro do Canto do Galo e do Mirante, que está dando seus primeiros passos. Parceiro de quase todos os jogos do Galo, despedimos – na porta da sua casa – logo após o jogo com a Chape e marcamos uma resenha para ontem à tarde, com a intenção de avaliar os dois projetos que ele era o padrinho oculto.
Este espaço está em luto pela perda daquele que era mais que um amigo. Lenoir foi das gratas amizades que conquistei em Belo Horizonte. Conselheiro, crítico sem perder a ternura, foi importante nos projetos em andamento e na contenção de meus ímpetos e arroubos. Sua cativante sensibilidade com fatos dos dias atuais, também com pequenas coisas, vinha sendo um aprendizado para a minha resistente rebeldia. Saudades, amigo!”
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Oi Eduardo e Amigos, bom dia!
Para enfrentar essas perdas com menos dor, agarrei-me à Doutrina Espírita. Ela é para mim uma grande consoladora.
Um dia, voltaremos para continuar a nossa jornada aqui na Terra, proseando, tomando o cafezinho, a água e até uma cervejinha.
Abraços
A vida nos ensina muitas coisas. Mas é na morte q aprendemos muito mais. Todos nós passamos e passaremos por este aprendizado, é a única certeza q temos na vida. Do pó viemos e ao pó retornaremos,o que fica são as boas lembranças.