Besouro Azul é mais um herói da DC nos cinemas

Da mesma forma que foi importante que a DC Comics tivesse uma personagem mulher adaptada para o Cinema, sem que ela dependesse de um homem para ter força e decisão, agora temos um herói latino. A mesma Warner que nos deu Mulher-Maravilha (Wonder Woman, 2017) agora lança Besouro Azul (Blue Beetle, 2023), personagem menos conhecido que promete ter uma boa conexão com o público mais jovem. Ainda mais o brasileiro, já que é coestrelado pela nossa Bruna Marquezine.

Reforçando a suposta força do povo latino e a ligação profunda com a família, o filme pretende usar essa identidade para faturar nas bilheterias, mas só faz repetir estereótipos. Colocando os familiares no meio da ação mais do que Shazam! (2019) o fez, o roteiro de Gareth Dunnet-Alcocer (de Miss Bala, 2019) chega várias vezes ao ponto do ridículo, colocando por exemplo uma dona de casa para pilotar uma nave. Nave esta criada com uma tecnologia que teria sido inventada há anos por um milionário genial e humano. Enquanto estamos falando de um artefato de origem alienígena, entra em cena a suspensão de descrença e compramos a ideia. Agora, dizer que na Terra há certas coisas mirabolantes é demais.

Falando no roteiro, os diálogos muitas vezes são totalmente descabidos, com falas fora de lugar, que não se justificam. Os mexicanos gritam o tempo todo e o herói é inocente ao ponto de achar que argumentando ele vai parar os vilões. Há conveniências a torto e a direito, com as coisas acontecendo só quando precisam acontecer. Afinal, com uma armadura superpoderosa, o problema poderia ter sido resolvido em dois minutos. Temos, no entanto, que aguentar mais de duas horas de sofrimento para que o final óbvio chegue. Não sem antes termos flashbacks melosos e ridículos para explicar o que não precisava de explicação.

A trama de Besouro Azul nos apresenta a Jaime Reyes (Xolo Maridueña, de Cobra Kai), um rapaz de 22 anos que terminou um curso superior e voltou para sua cidade achando que as oportunidades se abririam para ele. Como isso não acontece, ele aceita trabalhos esporádicos e acaba conhecendo Jenny (Marquezine), filha do ricaço que fundou as empresas Kord – nos quadrinhos, Ted Kord é o segundo Besouro Azul, após Dan Garret. O misterioso escaravelho vai parar nas mãos de Jaime e os dois se fundem, dando origem ao herói do título.

O casal central, formado por Maridueña e Marquezine, até funciona, graças ao carisma de seus intérpretes. A vilã principal é uma figura genérica e forçada que a grande Susan Sarandon (de Casamento em Família, 2023) não precisava no currículo dela, dando à personagem o mínimo de dignidade que foi possível. Umas falas canalhas que não vemos em filmes de segunda. O capanga dela, Carapax (nos quadrinhos, o Homem Indestrutível), vivido por Raoul Max Trujillo (de Vingança a Sangue-Frio, 2019), é o típico bandidinho ex-militar de quinta, de longe o pior e mais raso dos personagens. E a família Reyes, com destaque para os veteranos Adriana Barraza (de Rambo: Até o Fim, 2019) e George Lopez (de Reno 911!), só grita e faz gracinhas, irritando a cada poucos minutos.

A provável intenção por trás de chamar um diretor porto-riquenho, Ángel Manuel Soto (de Menudos: Sempre Jovens), e um roteirista mexicano, Dunnet-Alcocer, é dar veracidade à produção com gente que deveria saber o que é ser latino. A impressão que fica é que ter chamado o Seu Antônio da padaria daria no mesmo, e talvez tivesse mais graça. Soto apela para tomadas repetitivas e mostra que, nesse caso, não tem ideia do que está fazendo. Os novos mandachuvas da DC, James Gunn e Peter Safran, deveriam olhar para o outro lado e fingir que esse filme nunca existiu no universo que estão criando.

No Brasil, Bruna Marquezine é o destaque no elenco

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Asteroid City é mais Wes Anderson com elenco estrelado

Fã ou não do diretor Wes Anderson, já dá para ter uma ideia do que esperar de seus novos projetos. Seus filmes mais parecem um compilado de esquetes dos mais variados e esquisitos personagens, alguns mais bem amarrados que outros. Depois do complexo A Crônica Francesa (The French Dispatch, 2021), para não dizer ruim, ele escreveu e dirigiu Asteroid City (2023), mais um longa que conta com um número enorme de estrelas em papéis que vão de pequenos a minúsculos. Alguns nomes que vemos subindo serão surpresa, mesmo ao final da exibição, porque apareceram tão rapidamente que nem deu para notar.

Fazendo uma homenagem aos filmes de ETs e conspirações governamentais, Anderson nos apresenta à Asteroid City do título, um vilarejo construído em torno da cratera de um asteroide, no meio do deserto. Algo como a Los Alamos de Oppenheimer (2023), povoada por alguns civis e muitos militares. Lá será realizada uma espécie de convenção de nerds adolescentes, e todos se reúnem para o evento sem saber que algo muito mais importante está por vir. Importante notar que isso tudo é uma peça escrita pelo premiado dramaturgo Conrad Earp (Edward Norton, de Moonrise Kingdom, 2012), então temos uma história dentro de outra história. Tudo absolutamente ficcional.

Anderson tem seus cupinchas de plantão, aqueles colaboradores que volta e meia dão as caras. Estão lá, pelo menos pela segunda vez com o diretor, Norton, Jason Schwartzman, Tilda Swinton, Liev Schreiber, Jeff Goldblum, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Adrien Brody, Willem Dafoe, Rupert Friend, Jarvis Cocker, Tony Revolori, Bob Balaban, Fisher Stevens, Seu Jorge e Scarlett Johansson, que narra Ilha dos Cachorros (2018). Dentre os marinheiros de primeira viagem com Anderson estão Tom Hanks, Rita Wilson, Margot Robbie, Maya Hawke, Sophia Lillis, Hope Davis, Matt Dillon e Steve Carell, que entrou de última hora para substituir uma figurinha fácil, Bill Murray, que estava com Covid-19.

As atuações dessa turma enorme reforçam o clima de farsa, todos parecem estar um tom a mais, num leve exagero onírico. Isso, além dos cenários minimalistas, que lembram muito uma peça de teatro. Ao contrário do trabalho anterior de Anderson, aqui as várias pontas lançadas acabam se amarrando de forma fluida, tornando a sessão menos sofrida. Ainda assim, é uma obra mais indicada para quem já conhece e gosta da forma peculiar que o diretor tem de encarar o mundo. E seus belos visuais e cores saturadas do deserto.

Anderson levou seu elenco a Cannes e foi ovacionado por seis minutos

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A Era de Ouro é homenagem de filho para pai

Quem gosta de histórias de bastidores da música vai se interessar por essa estreia. Chega essa semana aos cinemas A Era de Ouro (Spinning Gold, 2023), cinebiografia de um produtor musical que descobriu vários artistas e conduziu a carreira de outros já estabelecidos. Como não poderia ser diferente, a trilha sonora é bem recheada e há muitas anedotas saborosas. O problema é o tom de reverência que perpassa por todo o filme, mostrando o protagonista como um ser infalível que acerta até quando erra. Talvez isso se deva ao fato de que o diretor e roteirista da obra seja filho do saudoso biografado.

Quando A Era de Ouro começa, somos avisados pelo próprio Neil Bogart (interpretado por Jeremy Jordan) de que tudo que será mostrado é a verdade – até o que não é. Dessa forma, Timothy Scott Bogart dá uma floreada em várias sequências, inventa outras e pinta um quadro muito elogioso do pai. Por mais que haja um escorregão de caráter aqui e ali, o veterano é mostrado como um ótimo marido, pai, colega de trabalho e chefe, além de um visionário como nunca antes visto. Até o fato de afirmar amar duas mulheres igualmente (sendo uma a esposa) passa tranquilo, como se fosse algo que acontece sempre por aí.

Várias personalidades da música são retratadas, muitas vezes interpretadas por músicos de verdade. Logo, atores de mentira. Jason Derulo (acima) , por exemplo, faz um Ron Isley (dos Isley Brothers) bem fraco. Jeremy Jordan (das séries Flash e Supergirl) é competente no papel principal, mas fica o tempo todo com a mesma cara de novinho, o que dificulta um pouco perceber a passagem do tempo. Michelle Monaghan (de O Dia do Atentado, 2016) e Lyndsy Fonseca (a filha de How I Met Your Mother) se saem bem como as mulheres da vida de Neil, mas têm o mesmo problema com o (não) envelhecimento.

Com uma ótima reconstituição da época, uma fotografia competente, um elenco de apoio bem escolhido (como Dan Fogler, de The Offer) e uma história que é obviamente interessante, fica a impressão de que o diretor Bogart não tem a experiência ou o instinto necessários para conduzir um longa como esse. E a vontade de fazer um tributo ao pai falou mais alto. Com tantos feitos memoráveis, temos que concordar que Neil merecia uma homenagem. O filho só não era a pessoa certa para a missão.

O icônico Giorgio Moroder é um dos personagens, vivido por Sebastian Maniscalco

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Eric Bana revira Segredos do Passado no Prime Video

Não se deixe enganar pelo título nacional genérico: Segredos do Passado (The Dry, 2020) é um bom policial que deixa o espectador imaginando o desenrolar do caso e sempre dá um jeito de surpreender. E o melhor: sem plantar pistas falsas e nos chamar de estúpidos, como é comum no gênero. De brinde, ainda conhecemos algumas paisagens interessantes do interior da Austrália, onde a história se passa e de onde boa parte dos envolvidos é.

No sudeste da Austrália há um pequeno estado chamado Victoria, a cinco horas de distância de Melbourne. É lá que fica a cidade ficcional Kiewarra, criada pela escritora Jane Harper, onde nasceu o policial federal Aaron Falk. É um sujeito calado, objetivo e detalhista. A discrição de Falk se encaixa muito bem na falta de expressividade de Eric Bana (o Hulk de Ang Lee), que parece estar frequentando a escola Ben Affleck e acerta na escolha de papéis. Uma outra personagem chega a descrever Falk como caladão, e Bana se dá muito bem no tipo.

A história começa em um velório de uma família: um cidadão matou a esposa e o filho e se suicidou. Os pais do suposto assassino suicida chamam o amigo de infância dele, o policial Falk, para investigar a situação. Tudo isso em meio a uma seca terrível que se abate sobre a região de tempos em tempos e tem ficado pior – daí o título original. E a trama do presente se mistura a um crime mal resolvido do passado que envolve os protagonistas (acima).

Os segredos e conversas atravessadas típicos de cidades pequenas estão todos lá e as figuras que Falk encontra são bastante interessantes, do bêbado ao médico, passando pelo policial local e o diretor da escola. A teia que se forma entre eles é bem estruturada e a conclusão é mais do que satisfatória. O longa, que está disponível no Amazon Prime Video, passou batido por falta de divulgação, mas certamente merece a conferida. E a sequência, já pronta, deve chegar no próximo agosto, mais uma vez com o australiano Robert Connolly na direção e roteiro.

A escritora e produtora Harper posa com seus protagonistas

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A boneca Barbie ganha vida no Cinema

Sempre lidando com aspectos do mundo feminino, seja nos próprios filmes ou nos do colaborador frequente Noah Baumbach, a diretora e corroteirista Greta Gerwig (de Adoráveis Mulheres, 2019) agora lança uma produção baseada na boneca mais famosa do mundo: Barbie (2023). Estreando no mesmo dia de outro blockbuster, Oppenheimer (2023), o longa aproveitou essa pretensa disputa pelas bilheterias em sua já massiva campanha de marketing, criando um barulho enorme.  Já são quase 350 milhões de dólares de arrecadação pelo mundo.

A grande empresa Mattel, que comercializa e detém os direitos sobre a boneca – entre centenas de outros brinquedos -, é uma das produtoras envolvidas e é até alvo de algumas piadas, sabiamente reconhecendo que o filme é da Barbie, e não deles. Gerwig e Baumbach escreveram um conto reforçando que feminismo não é dar mais direitos às mulheres, mas os mesmos direitos que os homens já gozam. Algumas mentes fracas por aí se sentiram atingidas em suas masculinidades frágeis e tiveram que engolir calados o grande sucesso que a obra tem feito.

O filme começa deixando claro que a Barbie surgiu para mostrar às meninas que elas poderiam ser o que quisessem, e não apenas mães ou esposas. Isso também, abrindo diversas outras possibilidades: presidente, ganhadora do Nobel ou qualquer outra coisa. A brincadeira com o clássico 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), logo de cara, aponta o tom do filme, que mistura humor e crítica trazendo diversas referências ao mundo pop e borrando os limites entre a ficção e a realidade.

Além de um roteiro esperto e que sabe aproveitar o universo de Barbie, outra grande escolha de Gerwig foi a escalação de Margot Robbie (de Babilônia, 2022) no papel principal. Além da beleza padrão da boneca, a atriz traz a mistura entre otimismo e sensibilidade necessária. Teria sido fácil cair em armadilhas e criar uma personagem rasa, até antipática, mas Barbie é a amiga que todos querem por perto, de fato emulando o espírito que Ruth Handler imaginava quando a criou, em 1959.

Pouco depois de lançar Barbie, Handler achou que seria interessante que a boneca tivesse um amigo, e a Mattel lançou o Ken. O filme brinca com isso ao colocar diversas versões de Ken ligadas às versões da própria Barbie. Enquanto ela pode ser qualquer coisa, ele é só Ken, e vive em função dela. Com essa grande inversão de papéis, a história começa e volta e meia aproveita para escancarar o machismo do mundo real, onde Barbie é vista como uma figura sexualizada e vazia, não passando de um objeto.

Para fazer a contraparte de Robbie, outra ótima jogada foi trazer Ryan Gosling (de O Primeiro Homem, 2018) como o Ken padrão, um sujeito fortão que se satisfaz em passar seus dias na praia e ocasionalmente ganhar a atenção de Barbie. O elenco traz diversos outros nomes famosos, do sumido Michael Cera (de Gloria Bell, 2018) ao cômico John Cena (de Velozes e Furiosos 10, 2023), passando pela cantora Dua Lipa, além de um trio saído diretamente da série Sex Education (Emma Mackey, Ncuti Gatwa e Connor Swindells). Destaque também para o carismático Simu Liu (o Shang-Chi da Marvel – abaixo) e para a narração da grande Helen Mirren (de Velozes 10), que aproveita para fazer piadas espirituosas.

Guardando o melhor para o final, não pode-se deixar de falar do visual de Barbie. Cenários, figurinos, objetos de cena e fotografia são fantásticos, aproveitando os anos de existência da boneca e suas várias encarnações. A casa dela, assim como no brinquedo da Mattel, não tem uma escada entre os andares, forçando a personagem a inexplicavelmente voar entre eles, mais uma situação com a qual o roteiro brinca. A designer de produção Sarah Greenwood e a figurinista Jacqueline Durran mais uma vez vão aparecer nas principais premiações da temporada, brilhando em cada detalhe que vemos, dos momentos mais dramáticos aos musicais.

Mesmo que o barulho em torno da estreia pareça exagerado, todo o sucesso de Barbie é merecido, com o público inclusive se animando de ir a caráter às sessões, ou ao menos usando uma peça de roupa rosa. Querendo ou não, é um fenômeno interessante de se observar, maior do que qualquer outro dos filmes que vêm à mente durante a exibição, como Uma Aventura LEGO (2014), O Show de Truman (1998) ou mesmo Quero Ser John Malkovich (1999). Mais um ponto para Gerwig e para o próprio Cinema, que tem um ótimo momento depois de passar por longas trevas.

O filme já inspirou uma nova linha de bonecas, claro!

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Oppenheimer é a primeira cinebio de Christopher Nolan

Disputando espaço nas bilheterias com Tom Cruise em sua nova Missão: Impossível e com a boneca Barbie, o novo trabalho do elogiado diretor Christopher Nolan estreia nos cinemas nacionais nesta quinta. Oppenheimer (2023) é a primeira cinebiografia comandada por Nolan e já é um dos melhores trabalhos de sua recheada filmografia. O responsável pela ótima trilogia do Batman convocou seu Jonathan “Espantalho” Crane para uma sexta colaboração e Cillian Murphy tem uma das melhores interpretações de sua carreira no papel-título.

Em seu primeiro roteiro escrito em primeira pessoa, Nolan se baseou na biografia Oppenheimer: O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano, de Kai Bird e Martin J. Sherwin. O livro, assim como o filme, aborda tanto a vida pessoal de Julius Robert Oppenheimer quanto a participação dele no Projeto Manhattan, no qual liderou uma equipe de cérebros brilhantes para a elaboração de armas nucleares que acabaram dizimando as cidades japonesas Hiroshima e Nagasaki.

 

A suposta ligação do físico com comunistas e a movimentada vida sexual dele tomam uma parte importante do roteiro e não pode ser dissociada da atuação dele na criação das bombas, o que permite a Nolan trabalhar intrigas e criar tensão numa história que facilmente poderia ter se tornado enfadonha e cansativa. Alguém pode até opinar que o filme poderia ter ficado mais curto, que três horas é exagero, mas não há nada sobrando. A competente montagem de Jennifer Lame (de Tenet, 2020) pode muito bem levar uma indicação a prêmios.

No elenco, temos um número enorme de celebridades que nos surpreende ao longo da projeção, com o grupo principal fechado em Murphy, Emily Blunt, Robert Downey, Jr., Matt Damon (acima), Jason Clarke, Florence Pugh, Tony Goldwyn, Josh Hartnett, Alden Ehrenreich e Kenneth Branagh. Entre as participações mais curtas, há ganhadores do Oscar: Gary Oldman e Rami Malek, além de vários outros rostos facilmente reconhecíveis. Entre muitas atuações impecáveis, é Downey, Jr. (abaixo) quem já garante seu nome escrito na próxima temporada de premiações – e, possivelmente, Murphy.

Outro ponto a ser destacado em Oppenheimer são os efeitos sonoros, muito bem colocados, que ajudam a contar a história e enriquecem principalmente as sequências que se passam na mente do protagonista. A trilha sonora de Ludwig Göransson (também de Tenet) entra de forma fluida, sem chamar atenção para si. O design de produção primoroso de Ruth De Jong (de Não! Não Olhe!, 2022) recria diversos elementos dos anos 30 e 40, como toda a área dos laboratórios de Los Alamos, construída na época numa parte remota do Novo México, onde a bomba atômica foi criada. A fotografia de Hoyte Van Hoytema (Tenet) valoriza as paisagens escolhidas, mas também os espaços fechados, como as festas e reuniões.

Fazendo uma figura um pouco apagada, o aqui raquítico Murphy consegue chamar os holofotes para si de tempos em tempos, fazendo seu primeiro protagonista em um filme de Nolan. Uma oportunidade mais do que merecida, ainda mais se levarmos em conta seu excelente trabalho como Tommy Shelby em Peaky Blinders. O diretor se recupera da derrapada que foi Tenet e continua gerando muita expectativa para seus próximos projetos. Mesmo dando declarações antipáticas, como as instruções de como e onde seu filme deve ser assistido.

Os verdadeiros Einstein e Oppenheimer, personagens no filme

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Acerto de Contas é a nova Missão Impossível nos cinemas

Pela primeira vez na franquia com uma trama dividida em duas partes, chega essa semana aos cinemas Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1 (Mission: Impossible – Dead Reckoning Part One, 2023). O filme entrega tudo o que se pode esperar: espionagem, intrigas, traições, ação desenfreada, explosões, perseguições, boas interpretações e, claro, a corrida do Tom Cruise, já tão famosa, com os braços em ângulo reto. Uma boa surpresa são as situações engraçadas que se intercalam com os momentos de tensão.

Astro e produtor da série, Cruise segue fazendo as peripécias necessárias, dando muita veracidade às sequências mais movimentadas e até perigosas – que não faltam aqui. Pela sétima vez, ele vive Ethan Hunt, o espião que está sempre se arriscando por pessoas que não sabem que ele existe e por um governo que está sempre contra ele. Caso ele aceite a missão dada, está por sua própria conta, assim como os demais membros da equipe.

Mais uma vez, Hunt é acompanhado pelos sempre confiáveis amigos Benji (Simon Pegg) e Luther (Ving Rhames), personagens recorrentes, além de Ilsa (Rebecca Ferguson), que conhecemos dos dois últimos longas. Completando o elenco principal, além da volta de Vanessa Kirby (de Efeito Fallout), temos a chegada de Hayley Atwell (a Agente Carter da Marvel – acima) e Esai Morales (o Exterminador da série dos Titãs). Henry Czerny, que apareceu no primeiro, lá em 1996, retoma seu papel, e temos ainda Pom Klementieff (dos Guardiões da Galáxia), Greg Tarzan Davis (de Top Gun: Maverick, 2022), Shea Whigham (de Velozes e Furiosos 9, 2021) e Cary Elwes (de Esquema de Risco, 2023).

O inimigo da vez é a Inteligência Artificial, o que torna tudo muito nebuloso e todos são suspeitos. Apesar de parecer complicado, o roteiro é bem claro e não deixa o espectador perdido. Christopher McQuarrie, diretor e corroteirista, aprendeu bem o ofício realizando os dois últimos episódios, além de ter trabalhado com Cruise nas duas funções em vários projetos. Tudo é muito bem costurado, o ritmo acelerado é bem apropriado e as mais de 2h40 passam voando. O único problema, assim como no mais recente Velozes e Furiosos (Fast X, 2023), é já chegar sabendo que a história só termina no próximo filme.

A turma do último filme se apresenta para mais uma aventura

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Quinto filme encerra as aventuras de Indiana Jones

15 anos após a aventura mais recente, o Professor Henry “Indiana” Jones Jr. volta aos cinemas. Harrison Ford mais uma vez assume o papel e temos em cartaz Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny, 2023), quinto e último filme do personagem. Ele segue o padrão dos anteriores, inclusive com várias autorreferências, mas é mais longo e isso se reflete no resultado, que fica um pouco cansativo.

No dia em que se aposenta da universidade onde trabalha, o Prof. Jones se vê envolvido na busca por um artefato poderoso inventado pelo histórico matemático Arquimedes. Dois lados disputam a tal peça: os remanescentes do nazismo liderados pelo cientista vivido por Mads Mikkelsen (de Druk – Mais uma Rodada, 2020) e a afilhada de Jones, Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge, a eterna Fleabag). Mais uma vez, os vilões são os nazistas (os de sempre) e a busca envolve um objeto que supostamente tem poderes mágicos.

Com várias indas e vindas e o artefato se revezando entre as mãos dos envolvidos, as coisas acabam ficando um pouco repetitivas. O que segura a atenção do espectador é o carisma de Ford, sempre uma presença magnética em cena, e em ótima forma física. Mikkelsen, também muito competente, deve tomar cuidado para não ficar marcado como o vilão da vez. Quem também se sai bem é Waller-Bridge, que mostra talento para a ação e sempre injeta humor em seus diálogos.

O roteiro, escrito a oito mãos (dentre elas, as do diretor, James Mangold, de Logan, 2017), tem muitos acertos. A relação entre Jones e Helena é paternal, evitando uma situação romântica que ficaria ridícula e permitindo a Helena mostrar sua força. Jones aceita que o tempo passou e ele já não é mais o mesmo jovem de Os Caçadores da Arca Perdida – apenas nas cenas de flashback, Ford foi rejuvenescido digitalmente. As referências aos outros filmes da franquia serão um presente aos fãs, como o figurino icônico (jaqueta, chapéu e chicote), as participações especiais, as sombras marcantes nas paredes, os bordões e, claro, o bom uso e pequenas adaptações da música-tema maravilhosa assinada pelo mestre John Williams.

No elenco, contrataram um Boyd Holbrook (de Sandman) servindo como um capanga qualquer, e o ator merecia mais. Antonio Banderas (de Uncharted, 2022) quase passa batido, bem diferente fisicamente do usual. E temos ainda Thomas Kretschmann (de Greyhound, 2020) e Toby Jones (de Tetris, 2023) em papéis menores, fechando os nomes mais famosos. Os demais capangas de Mikkelsen são dispensáveis e, às vezes, até os confundimos.

Se a trama se mostra corajosa em alguns momentos, os rumos que ela segue acabam sendo mais convencionais. É o filme mais fantasioso da série e as sequências de ação também são as mais forçadas, com explosões e tiros à vontade, mas só acertando o necessário. Mangold se resume a emular a direção de Steven Spielberg, que comandou as quatro aventuras anteriores e decidiu deixar o projeto para que alguém de uma nova geração assumisse. Mesmo com um diretor diferente, Relíquia do Destino não fugiu da fórmula consagrada por Spielberg e dá um fim decente às aventuras de Indiana.

Ford foi rejuvenescido para as cenas de flashback

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Guy Ritchie vai à guerra com O Pacto

Trabalhando num ritmo louco, o diretor, roteirista e produtor Guy Ritchie lança seu segundo longa no ano, também já disponível no Amazon Prime Video. Depois de Esquema de Risco – Operação Fortune (Operation Fortune: Ruse de Guerre, 2023), é a vez do lançamento de O Pacto (Guy Ritchie’s The Covenant, 2023), primeira colaboração entre o cineasta e o astro Jake Gyllenhaal. Ritchie colocou seu nome no título original para diferenciar a obra de outras diversas homônimas.

Após os ataques de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos encheram o Afeganistão de tropas militares e o conflito se estendeu por 20 anos. Nesse período, diversas vidas foram ceifadas, de ambos os lados, e Ritchie foca sua atenção na relação entre um sargento líder de esquadrão (Gyllenhaal, de Homem-Aranha: Longe de Casa, 2019) e o intérprete do grupo (Dar Salim, de Êxodo, 2014), um cidadão local que domina quatro línguas e é visto por alguns compatriotas como traidor, por ajudar os americanos.

Ao contrário do que possa parecer, não se trata de uma história real. O que acontece com Kinley e Ahmed é uma invenção calcada na realidade. O roteiro, escrito por Ritchie, Ivan Atkinson e Marn Davies (mesmo trio de Esquema de Risco), imagina um pressuposto perfeitamente possível e segue dali, mostrando o dia a dia dos soldados ianques numa terra estranha, com costumes, língua e cultura completamente diferentes dos deles. O que fazia com que ficassem um pouco à mercê de um morador local, que deveria trabalhar para eles como intérprete.

A tensão nesse O Pacto é muito bem construída e é ela que sustenta o longa. A ótima fotografia de Ed Wild (de Inimigos de Sangue, 2013) nos situa bem entre as montanhas e vales por onde os personagens precisam passar e conseguimos entender bem o cenário. Os vários departamentos de design, juntos (liderados por Martyn John, outro colaborador frequente do diretor), recriam a região à perfeição, e o toque final é a contratação de atores realmente de lá. O iraquiano Salim, para quem não conhecia, será uma grata surpresa: ele evita estereótipos e extremos, compondo um ótimo contraponto a Gyllenhaal, seguro como sempre.

Reforçando o elenco principal, temos três nomes interessantes que são muito conhecidos por séries que estrelaram: Jonny Lee Miller (o Sherlock de Elementary) vive um oficial de alta patente, assim como Alexander Ludwig (de Vikings), enquanto Anthony Starr (o Homelander de The Boys) faz um paramilitar terceirizado. Com esse quadro completo da Guerra do Afeganistão, que lembra O Grande Herói (Lone Survivor, 2013), Ritchie tem seu melhor resultado no ano, e vários outros projetos já estão engatilhados.

Ritchie resolveu colocar seu nome no título para diferenciar de outros filmes

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Guy Ritchie faz seu próprio 007 em Esquema de Risco

É estranho como um filme dirigido por Guy Ritchie, com Jason Statham à frente de um bom elenco, tenha passado tão batido pelos cinemas. Depois de um período curto de exibição, Esquema de Risco – Operação Fortune (Operation Fortune: Ruse de Guerre, 2023) foi para o Amazon Prime Video, onde já pode ser conferido. Com uma trama à James Bond, Ritchie aproveita o carisma de seu protagonista e aposta na fórmula que já esperamos do diretor: ação, pancadaria, diálogos afiados, humor e um entretenimento escapista.

No início do longa, descobrimos que um artefato valioso foi roubado e deve cair no mercado negro, sendo negociado não se sabe com quem. Ou seja: o governo britânico só sabe que algo foi roubado. O que, por que e para que finalidade eles não sabem. Uma operação oficial para reaver o objeto levantaria muitas perguntas e o responsável resolve chamar uma espécie de terceirizado. Entra em cena Nathan Jasmine (Cary Elwes, da franquia Jogos Mortais), sujeito acostumado a prestar serviços para o governo e que conta sempre com seu principal agente: Orson Fortune (Statham, de Velozes e Furiosos 10, 2023).

Apresentado como uma figura ímpar, Fortune é cheio de manias, numa tentativa de dar profundidade a um personagem pouco crível. Dentre os que formam a equipe estão Sarah Fidel (Aubrey Plaza, de The White Lotus) e JJ Davies (Bugzy Malone, de Magnatas do Crime, 2019), que tentarão ajudar Fortune a impedir que a misteriosa maleta chegue às mãos do traficante de armas Greg Simmonds (Hugh Grant, de Dungeons & Dragons, 2023). O plano é basicamente distrair o vilão com seu ator de Cinema favorito: Danny Francesco (Josh Hartnett, de Infiltrado, 2021).

Em um filme de 007, já esperamos alguns exageros. Aqui, essas estripulias encontram as jogadas típicas de Ritchie, que sempre tem truques guardados na manga. Nada que revolucione o mundo da ação, mas não deixa de ser divertido. Statham continua resolvendo tudo no braço, mas faz um tipo mais sofisticado, que se veste bem e gosta de vinhos caros. Plaza e Grant são os outros destaques do elenco, com falas inteligentes e humor impecável. Boa parte do elenco já conhece bem o diretor, caso também de Hartnett.

Ao contrário de outros filmes recentes do gênero, Esquema de Risco não se aproveita de subtramas picaretas de romance. Ele foca na história, sem se levar muito a sério, e é o tipo do filme que é melhor recebido pelo público que pela crítica. Ao contrário de um Ghosted (2023), por exemplo, é um absurdo que compramos e acompanhamos. Os dois só são igualmente esquecíveis.

Mais uma vez, é Grant quem parece se divertir mais

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