Vidro conclui a trilogia de Shyamalan

por Marcelo Seabra

Em 2000, M. Night Shyamalan se reuniu com Bruce Willis, seguindo o sucesso de O Sexto Sentido (1999), para Corpo Fechado (Unbreakable), uma fábula sombria inspirada no universo das histórias em quadrinhos. Em 2016, o diretor comandou Fragmentado (Split), e deu um jeito de conectar os dois longas, dando a entender que teríamos em breve a união desses dois mundos. E ela de fato chegou aos cinemas: Vidro (Glass, 2019) é a conclusão que todos esperávamos para essa improvável trilogia.

Se o primeiro filme focava em David Dunn, o inquebrável personagem de Willis, o segundo nos apresentou a Kevin Wendell Crumb, cujas 24 personalidades são vividas por James McAvoy. A ideia do diretor e roteirista era juntar os dois, agora dando destaque à mente brilhante por trás de tudo: Elijah Price, mais conhecido como Sr. Vidro (Samuel L. Jackson). Foi Price que, após matar muita gente em desastres calculados, descobriu que Dunn era resistente de maneira sobrenatural.

Cuidando de uma empresa de segurança com o filho (novamente Spencer Treat Clark), David Dunn tem o costume de sair para caminhadas, quando tem a oportunidade de esbarrar em desconhecidos e descobrir criminosos nas ruas. Além de superforte e resistente, ele tem essa espécie de sexto sentido. Seu objetivo é encontrar o psicopata conhecido como Horda (McAvoy), de preferência salvando as garotas sequestradas. Logo de cara, os dois são presos e levados para o hospício onde Price está há anos. E isso é tudo que pode ser dito sobre a trama de Vidro.

Para quem está se perguntando se vale a pena conferir Vidro, a resposta é bem simples: é uma ótima conclusão para a trilogia iniciada pelos dois outros. Ou seja: quem não gostou de Corpo Fechado e Fragmentado dificilmente ficará feliz agora. O roteiro é bem coerente com o que Shyamalan fez antes, e o nível de nerdice é ainda maior. Como no primeiro filme, as regras das histórias em quadrinhos são observadas, com as reviravoltas que já esperamos do diretor.

Além de nossos três velhos conhecidos, revemos também Anya Taylor-Joy (de Fragmentado), Charlayne Woodard e Spencer Treat Clark (ambos de Corpo Fechado), respectivamente a vítima de Crumb, a mãe de Price e o filho de Dunn. É importante apontar que temos uma novidade no elenco: Sarah Paulson (de The Post, 2017), sempre uma ótima atriz a se acompanhar. Ah, e não deixa de ser curioso ver o diretor repetir sua ponta de Corpo Fechado.

Os responsáveis pela trilha sonora (West Dylan Thordson) e pela fotografia (Mike Gioulakis) são os mesmos de Fragmentado, o que ajuda a manter uma unidade. Os editores (Luke Ciarrocchi e Blu Murray) claramente têm Shyamalan à frente, guiando o resultado. Como de costume, o corte final é longo, com seus 129 minutos, mas nunca é cansativo. A montagem ágil garante o interesse do espectador e divide bem o tempo de tela entre Willis e McAvoy, e há ainda o outro desafio: McAvoy vive personalidades diferentes e bem marcadas, e essa divisão é clara. E Sam Jackson, quando aparece, mostra serviço, provando o porquê de ter seu nome no título do filme.

Elijah Price é o astro da vez

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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