por Marcelo Seabra
Surpresas
Como já é tradição, vamos às grandes surpresas de 2015. E a lista tem dois tipos de produções: aquelas menores, das quais não se esperava muito até por falta de informação, e as grandes que conseguiram ir além de qualquer expectativa. Este segundo grupo não poderia ser encabeçado por nenhum outro filme se não Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, 2015). O novo episódio da franquia de George Miller demorou décadas para sair e, desde então, vem ocupando posições privilegiadas em listas de melhores do ano. Com um novo Max Rockatansky, que responde por Tom Hardy, e uma personagem inédita, a Imperatriz Furiosa de Charlize Theron, Miller criou uma aventura acelerada, violenta e visualmente perfeita.
Ainda no grupo das super-produções, temos um novo herói Marvel de quem, assim como em Guardiões da Galáxia (The Guardians of the Galaxy, 2014), não se esperava muito. Paul Rudd emprestou todo o seu carisma a Scott Lang e criou um ótimo Homem-Formiga (Ant-Man, 2015), com muito apoio do veterano Michael Douglas e outros grandes nomes como coadjuvantes. Com a estrutura clássica de um filme de roubo, o diretor Peyton Reid conseguiu amarrar os retalhos que vinham sendo criados há anos em diversas encarnações do projeto e criou uma obra simpática, eficiente e divertida. Mesmo com o menor orçamento de todo o Universo Marvel.
No grupo dos filmes menores e excepcionais, temos como melhor exemplo Whiplash – Em Busca da Perfeição (2014). O longa leva mais longe a ideia que o diretor e roteirista Damien Chazelle já tinha adaptado em um curta, trazendo novamente J.K. Simmons no papel do professor do conservatório musical que não mede esforços para descobrir talento entre seus alunos, inclusive torturando-os psicologicamente. Milles Teller é o destaque entre os jovens e logo ganha a atenção do professor sádico. É o duelo entre eles a principal atração de Whiplash. Se Fletcher é um babaca consumado, logo fica claro que Andrew também não é uma pessoa fácil, e falamos de dois atores muito acima da média.
Outras duas produções independentes que coincidiram no gênero foram The Babadook (2014) e Corrente do Mal (It Follows, 2014). Ambas se preocupam mais em criar uma atmosfera de terror do que em dar sustos, e seus personagens são desenvolvidos o suficiente para nos importarmos com eles. Em The Babadook, temos uma mãe lutando contra seus traumas para viver bem e criar seu filho. Um dia, eles descobrem o livro sobre um certo Sr. Babadook, um monstro que mais parece um espírito obsessor, e as coisas começam a ficar mais estranhas a ponto de eles acharem que não se trata apenas de ficção. Corrente do Mal acompanha uma jovem que, após um encontro com o namorado, descobre ter recebido uma maldição: esse sim, um obsessor que não descansará até matá-la, ou até que ela passe a maldição adiante.
Nos dois casos, temos metáforas para coisas da vida, dificuldades que enfrentamos em determinadas épocas, ou após certos eventos. A dolorosa perda do marido e a passagem pela adolescência, geralmente confusa e cheia de possibilidades e questionamentos, servem como oportunidade para seus diretores criarem longas assustadores e bem construídos. Barato, nos dois exemplos, não é sinônimo de porcaria, muito pelo contrário.
Decepções
Depois de dois filmes ruins nos quais foram gastos milhões de dólares, sem falar na malfadada tentativa de Roger Corman, o Quarteto Fantástico (The Fantastic Four, 2015) teve outra chance. Com o promissor Josh Trank à frente e um elenco dos sonhos de qualquer fã de quadrinhos, encabeçado por Milles Teller, a produção só poderia dar certo. Mas devido a um orçamento cortado, um estúdio palpiteiro, um diretor de gênio difícil, ou qualquer que seja a razão, o resultado conseguiu deixar muita gente com raiva. Tudo é acelerado, fica sem pé nem cabeça e praticamente todas as oportunidades criadas se perdem. E a continuação, pré-aprovada, deve ter sido esquecida.
Outro personagem a ganhar uma nova chance no Cinema foi o T-800 de Arnold Schwarzenegger. Arrumaram até uma boa desculpa para a volta do ator, já que o modelo de exterminador estaria obsoleto. Insistindo num humor fora de hora, O Exterminador do Futuro: Gênesis (Terminator Genisys, 2015) não acerta o tom e perde a interessante premissa de revisitar o primeiro filme com ligeiras alterações. No meio do caminho entre uma continuação e um reboot, eles conseguem desperdiçar um vilão novo e vários bons atores. E, mais uma vez, sabemos de cara que a história não vai avançar, o que reforça a sensação de tempo perdido.
Não necessariamente uma decepção se converte em um dos piores filmes do ano, já que ele apenas não alcançou as expectativas criadas. No caso de O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, 2015), deu na mesma sim. De longe uma das coisas mais catastróficas exibidas esse ano, essa bomba veio da cabeça dos irmãos Wachowski, que torraram algo em torno de 175 milhões de dólares para essa ópera espacial visualmente exagerada e conceitualmente sem o menor sentido. Com atores claramente constrangidos, personagens sem nenhum propósito e diálogos terríveis, O Destino de Júpiter nos faz questionar a sanidade de certos produtores de Hollywood, que dão sinal verde pra esse tipo de coisa.
Sabe-se que o gênero comédia é um dos mais difíceis de se fazer, e um dos menos valorizados. Mas, também o que tem de comédia ruim por aí é brincadeira. E nem vou entrar no mérito da Globo Filmes porque larguei as drogas. A Entrevista (The Interview, 2014) – o que foi aquilo? Uma premissa razoavelmente interessante, algo como uma paródia de Frost/Nixon (2008), que se perde totalmente em situações ridículas e piadas de banheiro, desperdiçando James Franco e Seth Rogen. OK, nenhum dos dois é nada fantástico como atores, mas certamente mereciam mais que essa farsa sobre um apresentador de TV que consegue uma entrevista exclusiva com o ditador da Coréia do Norte. Como castigo para a Sony, vários e-mails do estúdio foram vazados e toda uma situação problemática foi criada.
Para quem era fã da família Griswold, ver o novo Férias Frustradas (Vacation, 2015) foi um balde de água fria. Apostando na nostalgia relacionada à série e no talento de Ed Helms e Cristina Applegate, o longa se resume a repetir a aventura de 1983 com uma diferença básica: não tem graça nenhuma. Ou seja: não agrada aos fãs, já que não há novidade, e não consegue cativar um público renovado, pois não há o que se ver ali. Ao menos, a armadilha funcionou: Férias Frustradas teve boa bilheteria e deve ter uma continuação. Rezemos para que ela vá mais longe.