
Produção original Netflix (em parceria com a Paranoïd Filmes), a série ficcional Os Donos do Jogo estreou em outubro e segue firme entra as atrações mais assistidas do serviço de streaming. Criada a partir do sucesso da série documental Vale o Escrito (2023), no Globoplay, a atração mistura características de figuras reais para criar um rol de personagens interessantes e dúbios. O principal deles, no entanto, é a cidade do Rio de Janeiro, a casa do jogo do bicho brasileiro, onde contraventores se misturam à paisagem e ao tecido da sociedade, se infiltrando em todas as camadas.
Fugindo dos clichês dos cartões postais das novelas de Manoel Carlos, e evitando cair no outro extremo, da estética da fome e da pobreza, Heitor Dhalia transita bem entre os vários núcleos cariocas. Com larga experiência no Cinema, como no famoso O Cheiro do Ralo (2007), o diretor vem se especializando no cenário do crime carioca, depois de comandar as séries Arcanjo Renegado (indo para sua quarta temporada), DNA do Crime (com duas) e O Jogo que Mudou a História. Como de costume, Dhalia não exagera no violência, mas tampouco pega leve, e evita moralismo ao contar uma história na qual ninguém é bonzinho.

Logo de cara, somos apresentados ao Profeta, como atende o jovem Jefferson Moraes, que pretende se meter no crime sem sujar as mãos, como é descrito em certo momento. Adotado e vindo do interior do Rio (da quente Campos dos Goitacazes), ele se considera um batalhador e vai buscar um lugar na Cúpula, reunião dos veteranos do jogo do bicho da capital. Esse grupo é formado pelas famílias tradicionais que dividem a cidade, como os Guerra. Jorge Guerra, o patriarca, está mal de saúde e já é preparada a inclusão de seu recente genro, Búfalo Victor, já que Jorge tem duas filhas e as mulheres não são permitidas nesse Clube do Bolinha.
O sexismo da Cúpula dá início a toda a movimentação da série – e é real, tendo em vista que o mesmo ocorreu com as filhas do famigerado Maninho Garcia, morto em 2004. No entanto, crítica social não é a ideia da série, que entretém com um roteiro bem pensado, que não pesa tanto no brilhantismo de Profeta, que faz jus ao apelido prevendo os ataques de seus antagonistas. Um poder de dedução que faria inveja a Sherlock Holmes. O ator André Lamoglia, muito lembrado por obras infantis e adolescentes, se desvincula totalmente dessa imagem, partindo para um personagem adulto, perigoso e que volta e meia se vê em situações sensuais. Mel Maia, carreira iniciada aos cinco anos de idade, é outra que deixa para trás a garotinha que já foi e tem uma ótima química com Lamoglia.
Enquanto Profeta e Mirna estão em um lado do ringue, do outro estão Búfalo e Suzana, colocando as duas irmãs e seus respectivos em guerra (trocadilho não intencional) pelas praças que pertenceram ao pai doente delas. Como o ex lutador Búfalo, Xamã mostra ter presença e marca mais um ponto em sua mais recente carreira, depois do sucesso como cantor. Giullia Buscacio, de Arcanjo Renegado e diversas novelas globais, também aproveita bem seu tempo em cena, mostrando boa sintonia com o parceiro. Pedro Lamin e Ruan Aguiar completam o núcleo mais jovem como os dois irmãos do Profeta, cada um com suas questões, uns mais trabalhados que outros.

Se o elenco menos conhecido já funciona muito bem, os medalhões são a cereja do bolo. Juliana Paes, figurinha tarimbada da TV, emana segurança como a primeira dama da contravenção, a pessoa por trás do líder informal da Cúpula, Galego. Este, por sua vez, ganha vida com o ótimo Chico Díaz, ameaçador até sorrindo. Irônico, calmo e certeiro, Galego acha que está no comando, mas segue exatamente o que sua Leilinha sugere. Otávio Müller, Stepan Nercessian, Adriano Garib e Tuca Andrada são outros nomes já bem estabelecidos que dão as caras, além de uma ponta de Bruno Mazzeo, em seu primeiro papel desde o final de seu contrato de 30 anos com a toda poderosa Globo.
A primeira temporada, com oito episódios, é bem conduzida e finalizada a contento. As situações convenientes acontecem aqui e ali, com algumas soluções fáceis ou apressadas, mas não chegam a incomodar. E ficamos na expectativa do desenrolar da história, prometida para durar quatro temporadas – se bem sucedida. E isso é fato consumado, com a segunda temporada já encomendada. Se contratos foram assinados, vale o escrito.

Os Moraes, de Campos, e os donos do jogo



































Ao contrário do que muitos pensaram há uns anos, o terceiro Invocação do Mal (The Conjuring) não concluiu as aventuras da família Warren no Cinema. O quarto filme, O Último Ritual (The Conjuring: Last Rites, 2025), chega essa semana aos cinemas prometendo, esse sim, levar a extrema unção à história de Ed e Lorraine. O problema, que já derruba as expectativas acerca do projeto, é o nome do diretor: Michael Chaves comandou o longa anterior, 




