Policial de James Woods é o primeiro James Ellroy no Cinema

Muito conhecido como o autor de Los Angeles: Cidade Proibida (L.A. Confidential), que se tornou um filme elogiado e premiado em 1997, James Ellroy (acima) teve outros romances adaptados para o Cinema. Há poucos dias, L.A. foi escolhido para uma exibição especial no museu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (aquela do Oscar), mostrando que continua sendo a maior referência no Cinema quando se pensa no escritor. Isso, mesmo que Brian De Palma tenha dirigido A Dália Negra (The Black Dahlia) em 2006, que passou um pouco batido e realmente não tem tantas qualidades.

O que poucos sabem é que o primeiro romance do escritor, Sangue na Lua (Blood on the Moon), lançado em 1984, foi também o primeiro a ser levado às telas. Ellroy já disse publicamente que: a) Sangue na Lua é seu único livro do qual sente vergonha; b) não gostou da adaptação e não recomenda o filme. O Pipoqueiro, no entanto, vai na contramão e propõe que cada um forme sua opinião, já que o longa não é pior que outras obras policiais lançadas na década de 80. E tem James Woods num grande momento.

Com o título genérico no Brasil de Um Policial Acima da Lei, no original é apenas Cop – também nada muito inventivo. O protagonista, Lloyd Hopkins, é o sargento da policial de Los Angeles que detém o recorde de maior número de prisões, tem um talento enorme para o trabalho. No entanto, não é um sujeito conhecido por seguir regras, quebrando-as frequentemente para conseguir o que quer.  Por isso, nem todos são fãs dele. O filme começa quando Hopkins recebe uma dica e chega a uma cena de crime onde há uma mulher mutilada, e ele inicia imediatamente sua investigação sem comunicar ninguém.

Em casa, as coisas não vão muito bem. Ele tem o estranho (mau) hábito de contar para a filha pequena detalhes dos casos escabrosos em que trabalha, o que não ajuda o já complicado relacionamento com a esposa. Ser infiel também não. Esse é o cenário montado pelo filme, que pode ser descrito como um Dirty Harry realmente sujo. Hopkins é bom no trabalho, mas não é um ser humano bom. Esses traços fogem um pouco do policial infalível da década de 80, marcada pelo tipo “brucutu” de Stallone e Schwarzenegger.

E o ator principal não fazia esse tipo. James Woods já tinha uma carreira bem estabelecida. Havia trabalhado com diretores conceituados, como Oliver Stone, de Salvador: Martírio de Um Povo (1986), papel que lhe valeu uma indicação ao Oscar. Um ator de peso trazia um certo respeito ao projeto. Mesmo estando acostumado a viver advogados, assassinos e outras figuras duronas, um policial violento e sem freios era uma novidade, e Woods ainda estreou na função de produtor, papel que repetiu recentemente em Oppenheimer (2023).

Ainda que não seja memorável, ou particularmente inventivo, Um Policial Acima da Lei é um bom policial, bem amarrado. Um pouco corrido, mas divertido, ajudando a estabelecer alguns dos clichês que hoje esperamos ver em filmes do gênero. E dá uma amostra da ótima prosa de James Ellroy, cuja carreira merece ser mais conhecida. Como Sangue na Lua é apenas a primeira parte de uma trilogia, Hopkins poderia aparecer novamente, ser melhor aproveitado. Para Tom Hanks ter dito, em entrevista ao jornal The New York Times, que gostaria de viver o personagem, é porque ele não é pouca coisa.

Curioso sobre as adaptações de James Ellroy? São as seguintes:

1988 – Um Policial Acima da Lei (Cop)

1997 – Los Angeles: Cidade Proibida (L.A. Confidential)

1998 – Brown’s Requiem

2006 – A Dália Negra (The Black Dahlia)

E roteiros originais:

2002 – Dark Blue

2008 – Os Reis da Rua (Street Kings)

2009 – Um Tira Acima da Lei (Rampart) – é, nada criativa essa distribuidora!

L.A. Confidential segue sendo a adaptação mais famosa da obra de James Ellroy

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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