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Eduardo de Ávila
Defender, comentar e resenhar sobre a paixão do Atleticano é o desafio proposto. Seria difícil explicar, fosse outro o time de coração do blogueiro. Falar sobre o Clube Atlético Mineiro, sua saga e conquistas, torna-se leve e divertido para quem acompanha o Galo tem mais de meio século. Quem viveu e não se entregou diante de raros momentos de entressafra, tem razões de sobra para comentar sobre a rica e invejável história de mais de cem anos, com o mesmo nome e as mesmas cores. Afinal, Belo Horizonte é Galo! Minas Gerais é Galo! O Brasil, as três Américas e o mundo também se rendem ao Galo.

Vamos falar da conquista de 2006?

Ricardo Galuppo

O Brasileirão avança, o Galo segue na dianteira e cada três pontos que soma na tabela escancaram ainda mais a frustração de quem ainda sonha em atrapalhar a festa. Na quarta-feira passada, foi a vez do Corinthians. Os 3 a 0 no placar, com três pinturas assinadas por três artistas talentosos — Diego Costa, Keno e Hulk — não traduziram toda superioridade mostrada em campo. Era forma para mais!

Calma! Ainda é cedo para comemorar — mesmo porque, a história nos ensina que isso dá ziquizira. Os adversários mais manjados ainda não desistiram da mamata. A ajuda descarada que o Clube de Regatas “Melhor Elenco do Brasil” (rsrsrs) recebeu do apito na quinta-feira passada é sinal de que as forças sinistras responsáveis pelas vitórias daquela coisa permanecem vivas. Será que a mudança na chefia da arbitragem da CBF não se destina manter os privilégios do Classificadaço? Aí, tem!

Em meio a tantas dúvidas, surge uma certeza: cada exibição de gala do Atlético, como a da quarta-feira, dificulta as ações de quem se habituou a ganhar títulos na base da mão grande. Este ano, será preciso uma cara de pau maior do que a habitual para cometer os crimes que sempre cometeram.  Não é hora de relaxar! Mas a superioridade e a autoridade que o Galo tem demonstrado em campo dificultam cada vez mais as tramoias manjadas que tantas vezes nos abateram.

Até outro dia, tinha gente do lado de lá batendo no peito e dizendo que, quando pagassem os tais “dois jogos a menos”, a diferença que os separa do líder cairia para quatro pontos. Pois bem. Agora eles só têm um jogo a menos. E a diferença? Pode continuar nos mesmos 11 pontos atuais depois do nosso jogo de terça-feira ou, se tudo der certo hoje, pode pular para 14. Se ainda não é hora de gritar “é campeão”, também não é pecado sair por aí cantando “vou festejar”!

Camisa no varal

O momento é diferente. A sensação é a de que, contrariando a frase célebre de meu amigo Roberto Drummond, o vento passou a soprar a favor da camisa preta e branca pendurada no varal. E o Atleticano está torcendo para a tempestade aumentar ainda mais! Tudo que dava errado em temporadas passadas começou a dar certo este ano — e isso, sem dúvida, não é obra do acaso. O Atlético que hoje colhe os frutos de seus acertos é o mesmo clube que, virada do século quase naufragou em erros escandalosos.

Nunca é demais recordar que o atual presidente Sérgio Coelho era o vice-presidente de futebol, na chapa de Ricardo Guimarães, em 2004, 2005 e 2006 — os três anos mais tenebrosos da história do Galo. Se Coelho quiser passar para a história como um dos presidentes mais vitoriosos que o Galo teve em todos os tempos, já tem o roteiro pronto. Basta fazer o oposto do que fez da outra vez que teve poder.

Não é por masoquismo que trago de volta as dificuldades de nosso passado recente neste momento de festa! Mas é bom não esquecer: antes de passar a receber dos investidores atuais o apoio financeiro e administrativo que o levará a caminhar com as próprias pernas, o Galo comeu o pão que o tinhoso amassou, engoliu cem quilos de sal e rolou pedras morro acima só para vê-las despencar ladeira abaixo quando estava a metros do topo.

Diga-se em benefício de Coelho e de todos os outros que assumiram o comando do Galo depois da rapinagem que marcou as administrações de Afonso Paulino e de Paulo Cury, que eles tiveram a coragem de assumir a responsabilidade no pior momento da vida do clube. Quem critica o endividamento atual não se recorda da aflição daquela época, quando todo dinheiro que entrava nos cofres do clube era confiscado pela Justiça.

Em campo, o time ia resistindo aos trancos e barrancos. Por duas vezes (em 1999 e em 2001), a torcida chegou a sonhar conquistas importantes. Mas qualquer um que olhasse sem paixão para as verdadeiras possibilidades do Galo reconheceria a necessidade de por a casa em ordem antes de tentar voos mais altos.

O time terminou em 6º lugar o campeonato de 2002. Ficou em 7º em 2003 e em 2004, quando o Brasileirão por pontos corridos foi disputado por 24 clubes, foi o 19º. Só se livrou da queda para a segunda divisão na última rodada, com a vitória por 3 a 0 sobre o São Caetano. Quando isso aconteceu, a diretoria parecer acordar para o risco e prometeu tempos novos para o ano seguinte. Foi quando aconteceram os maiores erros.

Sobrou para a massa!

Ao contrário dos anos seguintes, ninguém pode dizer que faltou dinheiro naquele momento. O que faltou foi critério para gastá-lo. Qualquer perna de pau que batesse na porta da sede de Lourdes com um par de chuteiras na sacola começava a treinar no mesmo dia e já era escalado para a partida seguinte. Entre as 22 contratações para a temporada, o clube trouxe o paraguaio Pablo Gimenez (um dos poucos que se salvaram) e o argentino Lívio Prieto. Trouxe Catanha, Rubens Cardoso e o ex-jogador Amaral. Manteve Rodrigo Fabri — que havia chegado ao time como craque, no ano anterior, e saiu como refugo… Melhor parar por aqui para não sentir raiva.

Para completar a lambança, o time foi entregue aos cuidados (ou à falta deles) do enganador Tite — que nunca assumiu a culpa por uma única derrota das tantas que aconteceram por sua incompetência. Ao ser posto para correr, depois de 17 rodadas de fracassos, deixou o Galo na lanterna. Foi substituído por um tal Marco Aurélio Moreira, que também não mediu esforços para empurrar o time para o buraco.

Sobrou para quem? Para a Massa. Como de hábito, ela não abandonou o Galo. Mesmo com toda lambança, a média de público foi de 21 725 pagantes, a terceira maior entre os 22 times que disputaram o campeonato (o formato atual, com 20 participantes, teve início em 2006). Na partida que definiu a queda para a Série B — o empate por 0 a 0 com o Vasco da Gama, no dia 27 de novembro — havia 42 421 pagantes na arquibancada.

Ao final do jogo, ao invés de dar chiliques e quebrar tudo, a Massa cantou o hino. Alguém ali estava feliz? Não! Alguém estava satisfeito com as decisões tomadas naquele ano trágico? Não! Alguém estava contente com o desempenho dos “medalhões” contratados com a promessa de brigar pelo título? Não! Ainda assim, a Massa mostrou dignidade. Reconheceu a queda, não desanimou, sacudiu a poeira e, ali, se uniu em apoio ao Galo.

Vamos subir, Galô!

O início da caminhada na Série B foi desanimador. O primeiro jogo foi um 1 a 1 sonolento com o Marília. O time não se se acertava e o torcedor temeu o pior. Na 10ª rodada, estava na 14ª posição.

O ânimo começou a mudar a partir da chegada de Levir Culpi, que fez o que os treinadores cheios de pompa e de não-me-toques que passaram por lá antes dele nem tentaram: implantou um padrão de jogo consistente e adequado aos objetivos do clube. Sem grandes estrelas, chegou ao quarto lugar e, portanto, à zona de classificação para a Série A, na 20ª rodada. Não saiu mais. A Massa se sentiu respeitada ao notar que o esforço que fazia na arquibancada era retribuído em campo. Poucas vezes o Atleticano teve tanto orgulho de mostrar seu amor pelo Galo quanto naquele ano de 2006.

Para a Massa, que não é dada a cultivar vaidades fúteis, a Taça da Segunda Divisão nunca foi tratada com desdém! Nenhum Atleticano saiu dizendo que o peso da camisa seria suficiente para levá-lo de volta à elite. Nenhum de nós esperava que os adversários tremessem diante de nosso escudo (até porque, o time que sempre treme diante de nós tinha permanecido na Série A, se achando a salvo de uma queda que, no dia que aconteceu, expôs toda a podridão daquilo lá). Se tínhamos chegado lá por nossos próprios erros, sairíamos de lá por nosso próprio esforço.

O que houve, naquele momento como agora, foi uma sintonia poucas vezes vista na história não apenas do Galo, mas de qualquer clube do mundo. Os jogadores, a comissão técnica, a diretoria e, sobretudo, a Massa estavam tão alinhados que falavam a mesma língua e usavam as mesmas palavras para dizer o que almejavam.

E se alguém, por acaso, se esquecesse do que estava em jogo, o canto das arquibancadas se encarregava de trazê-lo de volta à realidade: “Vamos subir, Galô! Vamos subir, Galô!” Qualquer semelhança com o “Vamos Galo, ganhar o brasileiro” de hoje não é mera coincidência. Naquela época, como agora, o canto era o mantra que mantinha o time e tudo o que existe ao redor dele 100% focado no objetivo que interessa. Ao invés de gastar forças gritando “é campeão” antes da hora, a Massa concentra as energias no que interessa e faz sua parte para alcançá-lo.

Momento glorioso

O resto é história. Mais de 74 mil pessoas assistiram a última partida, contra o América de Natal. O jogo aconteceu no Mineirão, em 25 de novembro — dois dias antes do Galo completar um ano na Série B. Time grande, quando cai, junta as forças e sobe no ano seguinte, certo?

Ouso dizer que nem as grandes conquistas da Libertadores, de 2013, e da Copa do Brasil, com as viradas espetaculares de 2014, produziram tanta união em torno do Galo quanto a campanha pela volta à Primeira Divisão. Calma! Ninguém aqui quer dar ao título de 2006 a mesma grandeza dos outros dois nem, é claro, do que está em disputa este ano.

Mas que foi uma delícia, ao ver o troféu nas mãos do zagueiro Marcos, nosso capitão naquela jornada, e saber que a Massa tinha participado da conquista, isso foi!  O que está se falando não é do peso do título, mas da atitude, do entusiasmo e do alinhamento que, agora como naqueles dias, vai aos poucos tomando conta de todos. E preparando a Massa para o momento glorioso que parece cada vez mais próximo.

Que lição a atual daquela conquista à atual diretoria? Muitas. A primeira delas é não deixar que a união que nasceu em torno do sonho de conquista se perca depois que o objetivo for alcançado. A conquista do Brasileirão, no momento que ela se consumar, não encerrará uma era de dissabores. Pelo contrário, dará início a uma nova era. A conquista não saciará, mas tornará a Massa mais ávida por novas conquistas. Tudo de bom que vier a acontecer este ano será degustado e festejado. Mas depois, será visto apenas como o aperitivo do baquete farto que o Atleticano espera para os próximos anos. Eu acredito!

*imagens: 1) Pedro Souza/Atlético; 2 e 3) extraídas das redes sociais

8 thoughts to “Vamos falar da conquista de 2006?”

  1. Parabéns pelo texto. É muito importante lembrarmos de tudo que aconteceu naquele ano. Eu tive a oportunidade de ver dos dois jogos do Galo aqui em Brasília, e a energia da torcida era algo impressionante. A massa deu uma aula de como apoiar o time em todos os momentos naquele período. Subimos como deve ser … erguendo a taça, cantando e vibrando. A torcida do galo não foi aos estádios do Brasil a fora assistir o time, ela foi pra jogar junto e, como diz o Cuca, “trabalhar”. Foi realmente fantástico e inesquecível. Sem arrogância e vaidade mostramos que time grande quando cai, volta no ano seguinte como campeão.

  2. Hoje o embate das 16 hs , carniça x bambis , colocará , frente a frente , dois “treinadores”, diferentes entre si , mas que possuem algo em comum : a mediocridade. Este ceni, que somente não acumula mais desastres em sua carreira , justamente por ser sua carreira nova e recente , é enjoado, chato e possue uma empáfia desproporcional a sua performance. Já o gaucho/carioca renato , ´simplesmente asqueroso , deviam proibir este sujeito de dar entrevista, ele calado deve ser reverenciado. Este é o presente do eixo pro resto do país , o lixo que nos obrigam a ver , o lixo que despejam em nossas casas.

  3. Amigo Paulo Silva. Bom dia, Bom domingo. Pensei a mesma ,mesmíssima coisa , assistindo o jogo coelho x imortal (pras negas deles , mais mortal é inpossível). Impressiona quando disputam contra o gaLo, aleijados começam a andar, mortos ressuscitam , tudo, tudo no mundo passa a ser obsessão : ganhar do galo. Assistindo e vendo aquela marcação frouxa contra o coelho , contra a gente, tres , quatro pra marcar. Impressiona e fica claro , a inveja e o despeito que sentem por nosso clube

  4. Na verdade , há muito não via um texto tão eloquente com esse de hoje .

    Serve para mostrar que o Atlético que hoje desperta para a conquista há tanto tempo almejada tem um passado de glórias que TEM QUE SER LEMBRADO E ENALTECIDO , SEMPRE!

  5. Tudo que voce escreveu , Galuppo. passa em minha cabeça como um filme, um revival, às vezes doloroso, , às vezes difícil de recordar , mas sempre, sempre, com a dignidade e conformismo de uma torcida que dá aulas pro mundo, o que é ser uma verdadeira torcida. Não dilapidamos patrimonio público, não promovemos quebra quebra após caídas doloridas , apesar da revolta que sentíamos por ver nosso clube entregue a pessoas que orquestravam verdadeiros desmandos e catastróficas gestões , pessoas despreparadas para um cargo que representava tudo , quase tudo pra milhões de pessoas. Da caída pra B, ao erguimento da taça por Marcos peito de pombo , nosso comportamento sempre fez jus ao nosso verdadeiro titulo : a melhor torcida do Brasil e na minha humilde opinião , a melhor do mundo. Não há outra igual , fato , convivam com isto quem é contra, dói menos. Calejados e forjados na injustiça e no sofrimento , como bem diz um amigalo aqui neste espaço , vivemos os dias atuais na expectativa de um titulo grandioso, que será muito festejado porque encerrará de certa forma , este ciclo de sofrencia , de erros na condução de nosso gigante clube , principalmente na resposta que daremos aos bandidos que nos espoliaram a décadas, covardemente, nos roubando e nos prejudicando , pra favorecer sua cria do inferno. Comemoraremos como sabemos comemorar, com a alma lavada, vendo nossa torcida crescer cada vez mais, nosso amado clube bem administrado, nossa casa propria a todo vapor ,e nossa caminhada rumo ao topo , como é nosso destino, se tornar real a cada dia que passa.

  6. Bom dia, Eduardo, Ricardo Galuppo, atleticanas e atleticanos.

    Ficou mais uma vez , demonstrado que esses times brasileiros jogam a vida quando enfrentam o Galo. Quem seria capaz de reconhecer o Grêmio que enfrentou o Galo, olhando o Grêmio de ontem? Foi bom ver, ontem, o narrador e comentaristas torcendo para o Grêmio e o mequinha metendo gols. E a cara do Mancini pensando nos milhões de premiação por permanecer na série A, virando fumaça diante do Fumacinha do Galo?

    Pois é, o Galo que se cuide porque o genérico virá com tudo prá cima dele. Afinal, o melhor time do Brasil é também o time a ser batido. Vencer o Galo, para essa gente é como vencer o campeonato. Porém, nessa reta final o Galo deverá estar atento para esse tipo de jogo, jogando a sua bola com tranquilidade, sem afobamento, porque sabe que a única coisa a fazer é jogar bola e nada mais. Joga bola, Galo, só joga bola. ninguém te aguenta quando você joga bola.

    Obrigado GALUPPO, pelas felizes lembranças de uma temporada épica do nosso Galo querido. Estamos diante de outra epopéia que certamente você, como poucos saberá descrever para o mundo.

    O GALO ESTÁ VIVO E ATIVO NO PLANETA BOLA, JOGANDO COM A MASA, UMA BOLA DE CAMPEÃO.

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