Repescagem 2017: A Origem do Dragão

por Marcelo Seabra

Para um filme que parecia ser um Bruce Lee: Origens, A Origem do Dragão (Birth of the Dragon, 2016) é bem surpreendente ao dar importância a outros personagens. Assim, ele enriquece a história e evita endeusar seu biografado. Lee, entre várias qualidades, é mostrado como um sujeito bem vaidoso, o que não deixa de ser uma forma nova de vê-lo.

Um desafio ao contar a história de uma pessoa habilidosa como Lee é conseguir alguém que o represente bem, se pareça com ele e passe veracidade quanto à tal habilidade. Essa pessoa é Philip Ng Wan-lung (abaixo), ator e lutador nascido em Hong Kong que, se não é o melhor dos intérpretes, não chega a comprometer. E garante as cenas de luta, que coreografa e executa com maestria.

Talvez para prender a atenção do público ocidental, temos Billy Magnussen (de Ponte dos Espiões, 2015) fazendo a ponte entre dois grandes nomes do Kung Fu: Lee e o Mestre Wong Jack Man (Xia Yu, também muito bem). Aparentemente inimigos, os caminhos dos dois vão se cruzar de uma forma muito mais inteligente que em Batman vs Superman (2016). Tudo de um jeito que faça sentido, apesar de ter uma trama secundária bobinha.

Não se pode negar que A Origem do Dragão seja bem exagerado. Falta sutileza para caracterizar os personagens, com suas características bem ressaltadas para acelerar as apresentações, e as situações, com qualquer desavença logo virando pancadaria. Mas ele revela fatos que muitos devem desconhecer, mostrando como Bruce Lee chegou a ser a lenda até hoje reverenciada nas artes marciais e no Cinema.

Bruce Lee volta e meia ganha uma homenagem no Cinema

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes, Indicações, Personalidades | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Repescagem 2017: Bright

por Marcelo Seabra

Disponibilizado no final de dezembro, a Netflix lançou seu primeiro blockbuster sob fogo intenso da crítica. Quem teve acesso antecipado a Bright (2017) já garantia que seria uma bomba. Tendo em mente que se trata do diretor de Esquadrão Suicida (2016) e o roteirista de Victor Frankenstein (2015), essa afirmação seria facilmente comprovada. O resultado até tem seus méritos, mas está longe de ser bom.

Uma espécie de cruzamento moderno de O Senhor dos Anéis e Dia de Treinamento, Bright nos apresenta a um mundo de orcs, fadas, elfos, humanos e outros tipos que vivem misturados, numa alegoria óbvia e capenga às raças diferentes que coexistem no nosso dia a dia. Um orc, criaturas obrigatoriamente malignas, entra para a força policial e busca mostrar o seu valor, com todos os colegas contra, torcendo por uma morte rápida e esquecível.

No elenco, temos um Will Smith nada inspirado, trazendo apenas o lado ruim de seus filmes: carisma e esforço no zero, vaidade rumo ao topo. Joel Edgerton (de Ao Cair da Noite, 2017), debaixo de uma máscara e muita maquiagem, sai ileso desse mico, assim como Noomi Rapace (de A Entrega, 2014). Num filme de Smith, fica difícil ressaltar a presença de outros atores, já que ele pega o foco só para si. O único coadjuvante que consegue aparecer um pouco, e de forma negativa, é Edgar Ramirez (de A Garota do Trem, 2016).

David Ayer já dirigiu coisas boas, claro, como Marcados para Morrer (End of Watch, 2012). Mas é bastante irregular, como provam Esquadrão, Sabotagem (Sabotage, 2014) e Tempos de Violência (Harsh Times, 2005). E Max Landis ficou famoso por escrever Poder Sem Limites (Chronicle, 2012), e basicamente mais nada, lembrado apenas como filho de John Landis. E, mais recentemente, apontado como predador sexual nessa bem-vinda onda de revelações. Talvez por isso, não esteja envolvido na sequência de Bright, já anunciada. Apesar de altamente criticado, o longa garantiu uma boa audiência – e uma continuação.

Ramirez é apenas um dos problemas em Bright

Publicado em Estréias, Filmes, Homevideo | Com a tag , , , , , , , | 1 Comentário

Repescagem 2017: Detroit em Rebelião

por Marcelo Seabra

Deveria existir um subgênero chamado “filmes que te deixam com raiva”, ou algo assim. São aqueles que, inspirados em uma história real, mostram casos de abuso de poder, violência policial, racismo, assédio sexual e por aí vai. Detroit em Rebelião (Detroit, 2017) reúne todas as situações citadas e ainda traz o senso de urgência dos longas de Kathryn Bigelow.

Novamente se reunindo com o roteirista Mark Boal, Bigelow visita outro fato da história dos Estados Unidos. Depois do ficcional Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008) e de A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012), sobre a caçada a Osama Bin Laden, a dupla foi à Detroit de 1967, cidade marcada por revoltas nas ruas de uma população prioritariamente negra que frequentemente se via sofrendo abusos de uma polícia repressora e, em sua maioria, branca.

Somos apresentados a uma variedade de personagens que rumam a se encontrar, e prevemos que algo de ruim vai acontecer. John Boyega, destaque da nova trilogia de Star Wars, está à frente de um elenco bem homogêneo, onde todos funcionam bem. Will Poulter (de O Regresso, 2015 – acima, com Anthony Mackie) chega a atrair para si tamanha raiva que era bem capaz de apanhar na rua, caso alguém o visse na saída do cinema. John Krasinski (de 13 Horas, 2016), numa curta participação, é outro que passa a ser odiado imediatamente, tamanha é a sua competência.

Como o caso do Hotel Algiers não chegou a ser 100% esclarecido, muito teve que ser criado por Boal para ligar os fatos, mas nada muito fantasioso. Era bem capaz que as coisas tivessem acontecido da forma como são mostradas. E a fotografia de Barry Ackroyd, veterano com larga experiência nesse tipo de filme (como Voo United 93, 2006, e Capitão Phillips,  2013) explora bem tanto as ruas quanto os quartos do hotel, o que nos coloca próximos aos personagens. E o pior: sofrendo com eles.

Boyega se vê no meio da confusão

Publicado em Estréias, Filmes, Indicações | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Repescagem 2017: Suburbicon

por Marcelo Seabra

Essa época de fim de ano e início do seguinte é propícia para a chamada respescagem, correr atrás dos filmes que acabaram passando direto. Um deles, que estava há pouco em cartaz, é Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso (2017), novo longa dirigido por George Clooney. Não é difícil perceber que tem dedo dos irmãos Coen no roteiro, mas a história é pouco mais previsível que as produções usuais deles.

Matt Damon (de Jason Bourne, 2016) vive um tranquilo morador de uma comunidade suburbana que parece idílica. Mas, como é tradição para os Coen (como no famoso Fargo, de 1996) e para o próprio Clooney (que comandou Tudo Pelo Poder, 2011), a aparência esconde bastante hipocrisia e coisa pior, como racismo e até assassinato. O personagem de Damon tem sua casa invadida e sua vida muda a partir daí, além de acompanharmos o caso de violência contra a família negra que se mudou recentemente para a vizinhança.

Dois destaques do elenco são Julianne Moore (de Kingsman 2, 2017), em papel duplo e fantástica, como sempre, e Oscar Isaac (de Star Wars: Os Últimos Jedi, 2017), vivendo um sujeito que poderia facilmente ter ficado para Clooney. Mas o grande nome a ser ressaltado é o do pequeno Noah Jupe, destaque também em Extraordinário (Wonder, 2017). O garoto é o alvo principal da atenção do público e Jupe segura bem a responsabilidade.

Na direção, Clooney mostra segurança e a montagem, bem enxuta, agiliza as coisas. A reconstituição de época é ótima e os diálogos expõem apenas o necessário, com altas doses de cinismo, revelando aos poucos o verdadeiro caráter daquele pessoal. Saber de antemão aonde aquilo vai chegar nem tira o prazer da jornada, e é muito fácil prever. Mas os ingredientes funcionam tão bem juntos que 100 minutos se passam num instante.

Era olhar para Isaac e lembrar de Clooney

Publicado em Estréias, Filmes, Indicações | Com a tag , , , , , , , | Deixe um comentário

O melhor e o pior do Cinema em 2017

por Marcelo Seabra

Olhando outras listas de melhores e piores por aí, percebo que não assisti a alguns filmes importantes, que poderiam estar em um dos extremos. Mas não houve tempo para ver tudo – como Detroit em Rebelião (2017), que entra para a repescagem – e continuo com a política de me poupar de algumas bombas óbvias. Afinal, tudo tem limite.

Uma das causas do tempo reduzido para ver mais filmes foi a criação do Programa do Pipoqueiro, que segue firme e já está em sua 13ª edição. Para ouvir o programa, clique aqui e escolha a edição.

A lista com os melhores e os piores filmes que vi em 2017 segue abaixo. É importante ressaltar que de forma alguma pretendo causar afrontas ou levantar polêmicas. Quando houver crítica no site, basta clicar no título para conferir.

Melhores:

Dunkirk

A Qualquer Custo

Manchester à Beira-Mar

Blade Runner 2049

La La Land

Paterson

Jim and Andy – The Great Beyond (2017)

Trainspotting 2

Fragmentado

It – A Coisa

Menções honrosas:

Bingo

Logan

Piores:

Beleza Oculta

A Cabana

Minha Mãe É uma Peça 2

Baywatch

Tempestade

Transformers 5

Piratas do Caribe 5

Tinha que Ser Ele

Fica Comigo

Death Note

Menções desonrosas:

Paixão Obsessiva

Uma Razão para Recomeçar

A Múmia

Tudo e Todas as Coisas

Esta É a Sua Morte

O Culto de Chucky

Voltou para o gênero original, o terror, mas nem por isso…

Publicado em Estréias, Filmes, Homevideo, Indicações, Listas, Notícia | Com a tag , , , , , | 6 Comentários

Surpresas e decepções de 2017

por Marcelo Seabra

Por mais que sempre tentemos não criar expectativas sobre novos filmes, basta um trailer, ou uma campanha de marketing mais insistente, para surgir aquela ansiedade. Se o filme é bom, todos ficam satisfeitos e o problema está resolvido. Mas, se o filme não é bom, é aquela decepção – caso de A Torre Negra, aguardado ansiosamente por anos! Não necessariamente o pior do ano, mas um golpe nos espectadores.

Outros projetos parecem ser desenvolvidos na surdina, sem elementos que chamem muito a atenção. Ou, às vezes, são baseados em material não muito querido, do qual se espera pouco. E eles chegam arrebentando, crescendo na propaganda boca a boca e viram inesperados sucessos na temporada.

Abaixo, seguem as cinco maiores surpresas e decepções de 2017, todos com uma rápida explicação do porquê de estarem na lista. Para a crítica completa, clique no título.

Surpresas

Mulher-Maravilha

Depois de três fracassos consecutivos, ninguém esperava muita coisa da DC. Curiosamente, a redenção vem com aquela que historicamente é considerada a personagem mais fraca – em termos comerciais – da chamada Trindade da DC. Mulher-Maravilha (Wonder Woman, 2017) é um filme que supera as expectativas e mostra que, apesar da resistência inicial de muitos, Gal Gadot é a melhor coisa surgida na WB desde que a produtora resolveu seguir os passos da Marvel e transferir seu universo dos quadrinhos para a tela grande. Além de toda a ação e efeitos visuais fantásticos, é a primeira vez que temos o amor e a esperança como presença forte, uma mudança muito feliz. Ao invés de um maníaco desiludido vestido de morcego ou de um alienígena com uma eterna sensação de não pertencimento, temos uma guerreira forte e otimista. Mulher-Maravilha é um filme cuja única mensagem política é que a guerra é um inferno e o ser humano não é tão bom quanto deveria ser.

Logan

Depois de 17 anos e oito filmes, Hugh Jackman decidiu que era hora de aposentar as costeletas e as garras de Wolverine, partindo para o último. Logan (2017) é o canto do cisne do ator na pele do mais famoso mutante da Marvel. Apesar de alguns furos de roteiro e situações resolvidas de maneira preguiçosa, é uma despedida muito digna. É uma surpresa ver uma trilogia que começou tão mal terminar tão bem, com uma história original que nos mostra um Logan que é ao mesmo tempo sentimental e selvagem. Este é de longe o melhor dos três filmes solo do personagem. Ao contrário do que faz Zack Snyder, que busca forçar em seus filmes de heróis o pessimismo do Batman de Christopher Nolan, James Mangold consegue entregar uma obra com esse tom naturalmente, com um realismo que prova que o tempo passa para todos. Os momentos mais leves logo são cortados, lembrando a Logan que a tragédia o persegue.

Colossal

Com um conceito estapafúrdio, que mais parece uma ideia errada de um programa de comédia, o diretor e roteirista Nacho Vigalondo criou seu próprio Godzilla. E o mais surpreendente: Colossal (2016) deu certo e foi bem recebido nos dois festivais por onde passou, Toronto e Sundance. No papel principal, Anne Hathaway torna crível a situação de Gloria, com uma expressão perdida e um cabelo armado, despida de vaidade. Uma criatura enorme começa a atacar a capital da Coreia do Sul e Gloria logo descobre uma ligação com o monstro. A satisfação com a conclusão de Colossal vai do entendimento de cada um quanto às regras daquele universo. Uma vez criada, a regra deve ser seguida, o que permite ao espectador comprar a ideia.

Thor: Ragnarok

Depois de dois filmes solo que parecem não engatar, foi uma grata surpresa ver uma aventura divertida que finalmente faz jus ao Deus do Trovão. Thor: Ragnarok (2017) pende mais para o clima de Guardiões da Galáxia, com muitas cores, situações engraçadas e até uma trilha sonora inspirada – no caso, o ótimo uso de Immigrant Song, do Led Zeppelin. Lidando bem com seus personagens coadjuvantes, com destaque para Loki e Hulk, o longa respeita seu protagonista e o leva além, conseguindo sustentar duas horas em suas costas. A mistura de ação e fantasia na dose certa agradou muita gente, e só agrega ter uma atriz do calibre de Cate Blanchett como a vilã.

1922

Com a nova produção original Netflix, Stephen King vê sua quinta obra sendo adaptada esse ano. E, felizmente, com um ótimo resultado. 1922 (2017) vai assombrar os pesadelos de muita gente, com seus inúmeros ratos surgindo não se sabe de onde. O longa segue pelo terror psicológico, pelos fantasmas que só um homem culpado vê. Mérito do diretor Zak Hilditch, que adaptou ele mesmo a história e soube aproveitar os pontos mais importantes, sem esticar nada. Nada mirabolante, daquele tipo que dá a falsa impressão de ter sido feito muito facilmente. Thomas Jane mais uma vez mostra ser um ator subaproveitado pela indústria. A mudança física, para um sujeito que já foi galã e (anti)herói de quadrinhos, é impressionante. Ele vive um perfeito fazendeiro de poucas posses, acostumado a muito trabalho naquele longínquo ano de 1922 e propenso a matar a esposa para ficar com as terras dela.

Menções honrosas

Shimmer Lake

Sabemos que houve um assalto. Algo deu errado. O xerife não está muito feliz, principalmente por saber que o irmão está envolvido. Este fiapo de trama resume uma nova produção distribuída pela Netflix: Shimmer Lake (2017). E há um diferencial muito bem utilizado: a história é contada de trás para frente, dia a dia. Pode parecer mais do mesmo, que outros fizeram isso antes, mas o recurso causa de fato um efeito interessante, trazendo mais suspense sem enganar o espectador.

Ao Cair da Noite

Ao Cair da Noite (It Comes at Night, 2017) é uma ótima surpresa num gênero que passa longe do gol com tanta frequência que cria certa desconfiança. Com poucos minutos de projeção, percebemos que esse não será um terror habitual. A dedicação aos personagens é algo que não se vê sempre. Não conhecemos bem o histórico deles, mas logo entendemos as relações e o carinho entre eles. Não surpreenderia se o universo de Ao Cair da Noite desse origem a uma série interminável de filmes para a televisão: ele deixa esse gosto por mais.

Lego Batman

LEGO Batman: O Filme (The LEGO Batman Movie, 2017) é um longa inteiro para brincar com o Homem-Morcego, indo mais fundo na paródia, estraçalhando a imagem sombria e subvertendo vários clichês relacionados ao herói. Os vilões são um show à parte. Ressuscitando gente como Rei Tut, são aproveitados personagens de várias mídias e épocas, e até alguns são inventados, compondo um grupo muito interessante. Will Arnett faz uma engraçada versão convencida e fodona do Batman, e os demais membros do elenco são tão brilhantes quanto.

Decepções

A Torre Negra

Uma obra de Stephen King permanecia intocada: a série de oito livros A Torre Negra, tida como inadaptável. Coube ao dinamarquês Nikolaj Arcel, com um roteiro assinado a oito mãos (inclusive as dele), cuidar da adaptação. Que, na verdade, não é exatamente uma adaptação, mas uma apropriação dos personagens em uma outra realidade. A Torre Negra (The Dark Tower, 2017) dá vida ao Pistoleiro e ao Homem de Preto, os icônicos antagonistas do mundo criado por King e desenvolvido por mais de 30 anos. Mas a luta entre Roland e Walter, que parece ser milenar como a do bem contra o mal, nunca foi resolvida sabe-se lá porquê. E o objetivo do vilão? Governar um mundo morto, cheio de monstros. Pior do que isso, só o conflito mequetrefe que surge para colocar em xeque a amizade do Pistoleiro com o garoto. Uma decepção atrás da outra.

Kingsman 2

Depois do sucesso do primeiro filme, em 2014, uma sequência de Kingsman já era certa. No elenco, todos que precisaram voltar aceitaram o convite. Só quem não voltou foi o frescor, já que a história deixou de ser novidade. Para tentar compensar essa baixa, a dupla pegou as situações e jogou nas alturas, perdendo timing, exaurindo o humor e extinguindo a paciência do público. Com inacreditáveis duas horas e vinte minutos de duração, 80 minutos a menos que a montagem preliminar, Kingsman 2 (2017) se estende demais em vários momentos, caindo em lugares-comuns vazios e sem graça.

Boneco de Neve

Entrando para a longa lista de cineastas que ficaram extremamente insatisfeitos com um longa que comandaram, o sueco Tomas Alfredson nem esperou pelo lançamento para se manifestar. Ele afirma que quando assumiu a direção de Boneco de Neve (The Snowman, 2017), veio o sinal verde e tudo teve que ser corrido. Por causa disso, entre 10 e 15% do roteiro não foi filmado, resultando em uma colcha de retalhos faltando pedaços. O fracasso é uma pena se notarmos que se trata do diretor de Deixa Ela Entrar (2008) e O Espião que Sabia Demais (2011), dois filmes excepcionais. E a história é do festejado escritor Jo Nesbø, cujo livro deu origem a Headhunters (2011), além de contar com um elenco invejável.

A Múmia

Entrando na onda dos universos compartilhados, a Universal Pictures resolveu relançar seus monstros clássicos e uni-los, de alguma forma. Para dar o pontapé inicial, chega A Múmia (The Mummy, 2017). Devido à importância dessa primeira investida, que busca estabelecer um rumo e tem que fazer muito barulho nas bilheterias, o estúdio não deixou barato: escalou Tom Cruise e Russell Crowe. Os exageros, entre tiroteios, explosões e demais cataclismas, estão presentes o tempo todo e cansam. Quem espera por sustos ou clima de terror vai se desapontar. A ação genérica nos toma menos tempo do que parece, mas é tempo perdido.

Rei Arthur

É impressionante o número de obras que recontam as lendas de Arthur Pendragon e seus cavaleiros. Rei Arthur: A Lenda da Espada (King Arthur: Legend of the Sword, 2017) poderia se chamar Arthur Origens, ou A História Não Contada de Arthur. Ou seja: várias novidades numa história que já é conhecida, deturpando-a até que não consigamos mais reconhecer o protagonista. Parece que Guy Ritchie e seu parceiro habitual, o produtor e roteirista Lionel Wigram, partiram para uma nova tomada da história e acabaram repetindo o Sherlock Holmes da dupla, ressaltando os pontos negativos. Esse Rei Arthur é muito Sherlock Holmes para ter vida própria, e não tem identidade. É apenas uma fábula sobre um futuro rei que precisa cavar seu caminho em meio a desafios previsíveis e formulaicos.

Menções desonrosas

A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell

A adaptação da animação Ghost in the Shell ganhou no Brasil o título A Vigilante do Amanhã (2017) e tem Scarlett Johansson à frente do elenco. Tentando ser diferente de sua fonte, o roteiro traz tudo escancarado de início e a história torna-se apenas uma perseguição, com alguns fatores sendo alterados ao longo da projeção. A jornada de autodescobrimento da Major fica em segundo plano e tudo cai num lugar comum previsível. Não há suspense, não há mistério.

Corra

Depois de receber críticas extremamente favoráveis nos Estados Unidos, Corra (Get Out, 2017) chegou ao Brasil bem badalado. É a primeira incursão do comediante Jordan Peele na direção de um longa, e ele atacou logo no terror, com um roteiro dele próprio. Os quase 200 milhões de dólares de arrecadação imediata dizem que a empreitada deu certo. Só não revelam que se trata de uma bobagem sem pé nem cabeça que bebe descaradamente em várias fontes. Peele copia descadaramente outras histórias famosas e o grande mistério é revelado de maneira bem didática, passando longe de qualquer suspense. E muito fica não dito. O roteiro parece jogar a responsabilidade da compreensão para o espectador, que tira a conclusão que quiser e, aí sim, poderá comprar a ideia.

O Círculo

Adaptando um livro de Dave Eggers, com roteiro do próprio e do diretor, James Ponsoldt, O Círculo (The Circle, 2017) parece querer apontar dedos e mostrar para onde estamos indo com o uso de tanta tecnologia e com cada vez menos privacidade. Mas a crítica é tão datada e superficial que lembra um longa de 1999, Ed TV, que fazia uma versão rudimentar do que O Círculo faz. Situações exageradas são enfileiradas apenas para conduzir a história e o longa trata o espectador como imbecil, escancarando e simplificando tudo.

Nem ter Emma Watson e Tom Hanks salvou essa bobagem

Publicado em Adaptação, Filmes, Homevideo, Indicações, Listas, Quadrinhos, Refilmagem | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Programa do Pipoqueiro #13 – Anos 70

por Marcelo Seabra

Entramos nos anos 70 e o Programa do Pipoqueiro traz as melhores músicas-tema da década, além de comentários sobre os filmes mencionados e uma análise sem spoilers sobre o novo Star Wars – Os Últimos Jedi! Clique no play abaixo e confira!

Publicado em Clássico, Estréias, Filmes, Indicações, Listas, Música, Programa do Pipoqueiro | Com a tag , , , , , , , | Deixe um comentário

Larissa Manoela fala sério com a mãe Ingrid Guimarães

por Marcelo Seabra

Depois de um longo período de promoção pelo país, finalmente se aproxima a estreia de Fala Sério, Mãe (2017) no circuito comercial. Com elenco capitaneado pela jovem Larissa Manoela, o filme certamente terá em suas plateias muitos adolescentes, fãs da atriz, mas o projeto também fala diretamente às mães, representadas na tela por Ingrid Guimarães. Agora, se você não é fã de Larissa ou uma mãe como a personagem de Ingrid, o projeto torna-se apenas mais uma costura de cenas que, embora tragam uma certa dose de realidade, não fogem do lugar-comum. As pré-estreias pagas começam no Natal e a estreia oficial é na próxima semana.

Baseado no livro de Thalita Rebouças, o roteiro nos apresenta a Ângela Cristina (Ingrid), uma mulher que experimenta a gravidez pela primeira vez. Acompanhamos as inseguranças dela, ao lado do marido coadjuvante (Marcelo Laham, de Um Namorado para Minha Mulher, também com Ingrid), e logo eles têm mais dois filhos. Enquanto os mais novos vão crescendo, Ângela vive os desafios de educar uma adolescente, vivida em sua fase mais velha por Larissa. O comediante Paulo Gustavo (abaixo) faz uma ponta, assim como Fábio Jr., e geram momentos interessantes.

Muitos exageros acontecem, como a mãe ter uma “conversa de banheiro” com a filha e o namorado dela ouvir tudo pelo telefone. Ao mesmo tempo, vemos a relação do casal se deteriorando (mesmo que com alguns clichês e simplificações) e alguns conflitos normais para a idade dos filhos, tudo com conhecimento de causa de quem parece ter passado pelas situações. Mas realidade não traz necessariamente interesse. Ingrid é uma atriz e comediante experiente que dá um diferencial a alguns diálogos, mas temos a sensação de estar assistindo a uma novelinha da TV.

Se Carrossel, a série que revelou Larissa Manoela, não é para qualquer público, o mesmo pode-se dizer sobre Fala Sério, Mãe! Não é exatamente como as comédias da Globo Filmes se pretendem: por pior que sejam, elas buscam atingir um público amplo. Dessa vez, a produtora deve se dar por satisfeita se levar crianças, adolescentes e suas mães aos cinemas. Eles, por sua vez, não verão o besteirol usual da Globo. Com sorte, vão se identificar e se divertir.

A escritora Thalita Rebouças se juntou ao elenco na pré-estreia

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes, Nacional | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Conheça as cinco maiores bilheterias da história do Cinema!

por Marcelo Seabra

É muito comum ouvir atores e diretores falando sobre a importância do cinema como arte, como expressão. São muitos os profissionais envolvidos para garantir a qualidade da obra. Mas, como produto comercializado, é importante que um filme atinja o maior número de espectadores possível, para que seus financiadores tenham meios de lucrar e continuar na atividade. Apesar do faturamento vir de várias fontes, é a bilheteria que costuma indicar os longas de maior sucesso entre o público. Conheça os cinco filmes de maior arrecadação na história, tanto nos valores de quando foram lançados quanto nos atualizados, e algumas curiosidades sobre eles.

O poder de James Cameron

Qualquer que seja a forma de medir as bilheterias, James Cameron é um nome que sempre aparece. O diretor tem relativamente poucos títulos em seu currículo, talvez devido ao tempo que ele leva para desenvolver cada projeto. E os recursos tecnológicos precisam ser os ideais, mesmo que ele tenha que criá-los. Dessa forma, Cameron se tornou um dos maiores nomes do cinema e assina dois campeões de bilheteria: Avatar (2009) e Titanic (1997), que ocupam os dois primeiros lugares na lista com os valores da época do lançamento.

A ideia para o roteiro de Avatar surgiu em 1994 e seria o projeto seguinte a Titanic. Mas o cineasta julgou a tecnologia disponível na época insuficiente e começou a desenvolver os recursos que precisava, como câmeras em 3-D de alta definição e efeitos visuais de captura de movimentos que transformariam atores em criaturas enormes e azuis. Os testes eram feitos em documentários e outras produções – os amigos Steven Spielberg e Peter Jackson foram de grande ajuda. As filmagens começaram em 2007, consumindo um orçamento estimado em US$237 milhões.

Quando começou a desenvolver Avatar, Cameron vinha do estrondoso sucesso de Titanic, até então o campeão de bilheterias. Era o único filme a ter vencido a marca dos dois bilhões de dólares, e ainda levou 11 dos 14 Oscars aos quais foi indicado. A aventura do fatídico navio revelou ao mundo um dos casais mais queridos do lado de lá da tela, formado por Leonardo Di Caprio e Kate Winslet, e torrou US$200 milhões em sua realização. Além da grandiosidade do projeto, a obra é muito lembrada pela história de amor que conta, e muitos críticos atribuíram o sucesso a esse motivo.

A Força está com eles

Star Wars, o fenômeno criado por George Lucas, aparece nas listas com dois nomes. Com valores reajustados, o primeiro longa da série, Uma Nova Esperança (1977), garante o terceiro lugar. É lá que conhecemos Luke Skywalker, a Princesa Leia, Han Solo e toda a turma que ajudou a solidificar uma das maiores franquias da sétima arte, e um dos maiores vilões: Darth Vader. O sucesso garantiu a produção das duas sequências e ainda a criação de todo um universo multimídia, com desenhos animados, livros, produtos e mais filmes.

Em 2015, iniciando uma nova trilogia de Star Wars, O Despertar da Força chegou às telas do mundo todo causando barulho. Batendo as expectativas mais otimistas, o filme passou dos dois bilhões de dólares e abriu caminho para suas duas continuações e aventuras derivadas, os chamados spinoffs. Com J.J. Abrams na direção, produção e roteiro, O Despertar realizou o sonho de muitos fãs: ver novamente aqueles personagens no cinema, saber o que houve com eles. A cena com Han Solo e Chewbacca surgindo na nave Millennium Falcon arrancou gritos do público desde o trailer.

Clássico é clássico

Filmes mais antigos podem se beneficiar de novas exibições, que também são contabilizadas nesses levantamentos. Segundo o Guinness, o livro dos recordes, a maior bilheteria de todos os tempos, com valores reajustados, é de …E o Vento Levou (Gone With the Wind). Lançado em 1939, o clássico teria contabilizado aproximadamente US$3,3 bilhões, mais até que Avatar. Ambientado na Guerra Civil Americana, o drama conta com atores da Era de Ouro do cinema, como Clark Gable e Vivien Leigh, e levou oito Oscars de um total de 13 indicações, além de dois prêmios honorários por inovações técnicas.

Um pouco mais moderno, A Noviça Rebelde foi lançado em 1965 e também levou multidões aos cinemas, além de prêmios. Consagrada no teatro e na TV e vindo do sucesso de Mary Poppins, Julie Andrews foi contratada para dar vida à babá dos filhos de um militar viúvo, roteiro baseado em uma história real. A mistura de musical, animação, guerra e romance já havia ganhado a Broadaway e deu muito certo no cinema, com uma arrecadação que bateu o que hoje seriam US$2,3 bilhões. As músicas cantadas pela família são lembradas até hoje!

Heróis e dinossauros completam o grupo

A reunião daqueles que seriam “os maiores heróis da Terra”, Os Vingadores, chegou aos cinemas em 2012, após algumas aventuras individuais. Os estúdios Marvel foram muito espertos em formatar um universo onde os personagens coexistem e, vez ou outra, se encontram. O longa completa a lista de maiores bilheterias em valores da época do lançamento, seguindo Jurassic World (2015), e ambos passaram de um bilhão e meio de dólares de arrecadação. A aventura com dinossauros foi a quarta da franquia e abriu caminho para novas incursões, que estão a caminho.

 

As maiores bilheterias em valores da época de lançamento

1 – Avatar (2009) – US$2.787.965.087

2 – Titanic (1997) – US$2.186.772.302

3 – Star Wars: O Despertar da Força (2015) – US$2.068.223.624

4 – Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015) – US$1.670.400.637

5 – Os Vingadores (2012) – US$1.518.812.988

 

As maiores bilheterias em valores reajustados (em bilhões de dólares)

1 – …E o Vento Levou (1939) – $3.440

2 – Avatar (2009) – $3.020

3 – Star Wars: Uma Nova Esperança (1977) – $2.825

4 – Titanic (1997) – $2.516

5 – A Noviça Rebelde (1965) – $2.366

 

Bilheteria não é garantia de qualidade

É bom lembrar que grandes bilheterias são sinal de aceitação do público, de ingressos vendidos. Não necessariamente um filme que faturou bastante é bom, ou tem qualidade. Afinal, temos na lista, em sexto lugar, Velozes e Furiosos 7 (2015), que não é exatamente uma obra memorável. A primeira aventura individual de um herói Marvel a aparecer é Homem de Ferro 3 (2013), e ela não é nem de longe a melhor. Pouco mais à frente, há um Transformers!

Tem quem ache Velozes e Furiosos um clássico!

Publicado em Clássico, Filmes, Homevideo, Indicações, Listas, Notícia, Quadrinhos | Com a tag , , , , , , , , | 1 Comentário

Programa do Pipoqueiro #12 – Anos 60

por Marcelo Seabra

A edição 12 do Programa do Pipoqueiro traz algumas músicas que foram destaque em longas dos anos 60, uma sequência de sucessos de grandes filmes. Clique no play abaixo e escute!

Publicado em Adaptação, Clássico, Filmes, Indicações, Música, Programa do Pipoqueiro, Refilmagem | Com a tag , , , , , , , , , , | 2 Comentários