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Eduardo de Ávila
Defender, comentar e resenhar sobre a paixão do Atleticano é o desafio proposto. Seria difícil explicar, fosse outro o time de coração do blogueiro. Falar sobre o Clube Atlético Mineiro, sua saga e conquistas, torna-se leve e divertido para quem acompanha o Galo tem mais de meio século. Quem viveu e não se entregou diante de raros momentos de entressafra, tem razões de sobra para comentar sobre a rica e invejável história de mais de cem anos, com o mesmo nome e as mesmas cores. Afinal, Belo Horizonte é Galo! Minas Gerais é Galo! O Brasil, as três Américas e o mundo também se rendem ao Galo.

TREINO É TREINO; JOGO É JOGO

Ricardo Galuppo

Por mais óbvia que pareça, é sempre conveniente recordar a frase imortalizada por Didi, bicampeão mundial de futebol no tempo que a Seleção enchia o Brasil de orgulho. “Treino é treino; jogo é jogo”, dizia o craque sempre que algum corneta criticava o time por não repetir numa partida oficial as jogadas que saiam com facilidade nos tais “coletivos aprontos” ou nas disputas de menor importância. 

A frase ganhou uma nova versão (ou uma releitura, como se diz hoje em dia) do filósofo Ronaldo de Assis Moreira na Libertadores de 2013. Caso alguém não se recorde, num jogo que em nada alteraria a posição na tabela da primeira fase, o Galo perdeu para o São Paulo por 2 a 0. Foi o que bastou para atiçar os isentões de sempre — que viram o placar como a prova da superioridade do time paulista, que voltaria a enfrentar o Galo nas oitavas de final. 

Pois bem… Na primeira partida do mata-mata, na casa do adversário, 2 a 1 para o Galo, de virada. Na segunda, uma sova impiedosa, por 4 a 1, fora o olé. O time paulista não se achou em campo. No final, os repórteres perguntaram ao filósofo se ele havia anotado a placa da jamanta que havia passado por cima do São Paulo. Sem perder a calma nem o bom humor, ele explicou o que tinha que explicar e concluiu o raciocínio com uma frase épica: “Quando tá valendo, tá valendo!”

Sim! Quando está valendo, está valendo! Não podemos nos esquecer dessa frase, que trago a este espaço como ilustração para alguns comentários que tenho ouvido neste momento em que o time entra na terceira semana de treinamentos da temporada de 2022. Muita gente tem comentado as duas partidas que o time disputou sob o comando de Antonio Ricardo Mohamed Matijevich (ou simplesmente Tony, como os jogadores o chamam) como se algo importante estivesse em disputa e se esquecem de considerar que as duas (como todo respeito que merecem o Villa Nova e o Tombense) serviram como treino.

As partidas se pareceram com treinos na medida em que Tony mudou praticamente todo o time da primeira para a segunda rodada. Apenas Ademir entrou como titular em ambas. No total, 27 jogadores diferentes (ou seja, mais de dois times completos) foram utilizados nas duas primeiras partidas do Mineiro… Mais do que as trocas que serviram para o treinador ver com os próprios olhos o desempenho dos jogadores que tem sob seu comando, o time começou a explorar nos dois jogos uma jogada que pode significar a solução de um problema que já preocupava antes de antes de Jorge Sampaoli ser contratado para a temporada de 2020 — e que nem o careca e nem Cuca conseguiram resolver.

ANTES DO MEIO CAMPO!

Atenção! Começar a esboçar não significa dizer que Mohamed já tenha nas mãos o segredo que ajudará o Galo a espantar um de seus fantasmas mais persistentes nos últimos anos: a retranca. Mas a verdade é que, pela primeira vez em muito tempo, parece que o Galo, ao invés de utilizar como a principal arma contra as defesas trancadas as jogadas insistentes, construídas pelo meio (no melhor estilo “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”), o time parece disposto a dar espaço ao adversário para, depois, surpreendê-lo com lançamentos longos e improváveis. 

O gol contra o Vila Nova nasceu de um lançamento primoroso, feito em diagonal por Zaracho. O argentino estava antes da linha do meio do campo e a bola que ele disparou encontrou Dylan em condições de marcar. Não foi um caso isolado. A jogada do primeiro gol contra o Tombense também começou com lançamento longo, numa bela inversão de bola de Ademir. 

No instante em que recebeu a bola de Calebe, Ademir poderia ter avançado em direção à linha de fundo ou tabelado com Hulk, que estava ao lado dele. Preferiu fazer o lançamento longo, em diagonal, que encontrou Dylan dentro da área. O jovem colombiano não dominou com a mesma maestria da jogada contra o Villa e a bola quase se perdeu pela linha de fundo. O menino insistiu e não deixou que ela saísse. Procurou Ademir, que não acertou o chute e a bola sobrou para Calebe, que a mandou para o fundo das redes. (O gol foi comemorado com a “peitada no ar” entre Calebe e Dylan, no melhor estilo Ronaldinho e Jô!)

O terceiro gol também surgiu de um lançamento longo. Mariano, que assim como Zaracho contra o Villa também estava antes da linha do meio de campo, poderia ter passado para Savarino, que estava bem mais próximo. Preferiu um lançamento longo, em diagonal… Assim como Dylan, na jogada do primeiro gol, Sascha não foi feliz no primeiro domínio. Insistiu na jogada e impediu que a bola se perdesse. Em seguida, deu início a uma jogada que teve a participação de Neto e terminou com o belo chute de Savarino para o fundo das redes. 

PRIMEIRO PASSO

A descrição detalhada de jogadas que todos já viram e reviram têm o objetivo de registrar a semelhança entre elas. Se o time faz um gol que se inicia com um lançamento longo, como o de Zaracho para Dylan, contra o Villa, tudo bem. Isso pode ser resultado do talento específico de um craque. Se, na partida seguinte, um novo gol nasce do mesmo fundamento, como no lance que começou a ser construído com um lançamento de Ademir para Dylan, tudo bem. É coincidência. Mas se acontece outra vez, a terceira, como na jogada do gol de Savarino contra o Tombense, então já é hora da gente desconfiar que o time começa a construir pelas mãos de Tony Mohamed uma alternativa de jogada que não era explorada como recurso recorrente sob o comando de Cuca.

Se dará certo ou não, são outros quinhentos. Se o time conseguirá, a partir desse tipo de jogada, surpreender os adversários que terá pela frente no Brasileirão e na Libertadores, também são outros quinhentos. O que estou querendo dizer é que, depois de apenas duas semanas de trabalho, se tanto, o time já começa a explorar jogadas que não se via no trabalho de Cuca. Isso é sinal de que, por menos que se percebam mudanças eloquentes, elas existem. 

Estamos no início de uma longa caminhada que, como toda marcha, começa com o primeiro passo. E o que se viu ate agora já me enche de ânimo. Eu sei que já tem gente por aí criticando o trabalho de Tony e manifestando saudades da temporada passada, como se Cuca tivesse ido embora por decisão da diretoria e não do temperamento inquieto do treinador. Eu sei que vai ter gente dizendo que Tony não deveria lançar, agora, os jogadores que terminaram a temporada de 2021 como titulares. O certo, dirão os críticos, seria preservá-los agora e usar o Campeonato Mineiro laboratório para testar a rapaziada que precisa de uma chance para mostrar seu trabalho.

Eu digo que, ao lançar tantos jogadores em apenas duas partidas e, em ambas, lutar pelo resultado até o fim (o gol contra o Villa saiu aos 44 minutos e o terceiro contra o Tombense, aos 45. Ambos na etapa final), o treinador está começando a dar ao melhor elenco do futebol brasileiro uma feição nova e interessante. O tempo dirá se estou certo ou se isso não passa de uma demonstração de entusiasmo.

Quando eu retornar a este espaço, no dia 15 de fevereiro, já estaremos praticamente na véspera da partida contra o Flamengaço Classificadaço — que por ter chegado em segundo no Brasileirão, ganhou a chance de disputar com o Campeão brasileiro e da Copa do Brasil o direito de decidir qual é o melhor time do país. Até lá o Galo já estará mais encorpado e em condição de dar à Massa a primeira alegria maiúscula do ano. Não que o torneio caça-níqueis valha muita coisa. Mas ganhar daquela gente, cá para nós, é sempre um delícia!

PS: Agradeço ao amigo Paulo Peixoto por ter ocupado este espaço na terça feira passada quando a Covid me impediu de estar aqui. Tomei todas as precauções e, mesmo assim, o bicho me pegou. Ainda bem que, assim como veio, partiu. Foi chato — mas não é porque já tive que que vou baixar a guarda. Essa doença não é brincadeira e não quero que nada me impeça de ver o Galo numa temporada que tem tudo para, mais uma vez, nos encher de alegria. 

7 thoughts to “TREINO É TREINO; JOGO É JOGO”

  1. Bom dia,

    O prejuízo de 58 mil no jogo contra a Tombense só vem para calar a boca do torcedor que fica chorando pelas redes sociais com relação a capacidade da Arena MRV, sobre barrar o torcedor raiz, sobre o valor do ingresso impedindo o torcedor de acompanhar o time.
    Pois bem, 6 mil e poucos espectadores num estádio de 23 mil lugares, fiquei pasmo quando vi imagens na TV (MORO em SP) e sou sincero que naqueles 15 minutos que precedia o jogo, torci para que fosse imagens congeladas de 14h bem antes do jogo.
    Mas não, realmente eram ao vivo.
    Aí cai tudo por terra, a tal da choradeira.
    Anúncio do primeiro jogo do ano com a equipe campeã de 2021 e 6 mil torcedores.
    Fiquei imaginando 6mil torcedores na Arena MRV para 47 mil lugares, ia dar até eco.
    Bola para frente.
    “El Turco”, esse para mim é o nome mais apropriado para ser usado quando se referir ao treinador do Galo.
    Turco não, porque daqui a pouco como mineiro adora diminuir tudo, vai virar Turquinho e acabar apenas com o “ínho”.
    Com as contratações anunciadas e programada, creio que o Galo deve parar por aí, corre o risco de ficar muito inchado de jogadores e assim perder o fio da miada (leia-se jogador desmotivado), acredito que por este motivo e o financeiro também, temos que vender pelo menos uns 3 até o meio do ano.
    Minha escolha neste momento seria Vargas, Savarino e Igor Rabello, não todos, mas podendo ser.
    Vargas com certa urgência devido ao fim do contrato em dezembro, Igor Rabello porque já demonstrou tudo que pode e não conseguiu ser titular, Savarino pelo excesso de jogadores para a mesma posição.
    Bom mês a todos!

  2. Rafael não atendeu as expectativas. Não sei quanto ganha, mas a diretoria podia aliviar um pouco a folha negociando ou liberando esse goleiro.

  3. Bom dia, Massa, Galuppo e Guru

    Não se aperreie Galuppo! Somos bipolares assumidos e assim como o empate do contra o Vila foi uma avalanche de críticas, a vitória contra o Melhor time mineiro na B também gerou expectativas exageradas.
    O engraçado é que nossos maiores concorrentes no momento (palmeiras e Flamerda), tiveram resultados iguais em seus respectivos campeonatos rurais, ou seja, tudo normal.
    O atleticano deveria sim entender e valorizar que temos um plantel tão forte ao até mais qualificado do que o ano passado e se o Turco cumprir a promessa de não mexer muito, a tendência será termos um novo ano historico como 2021.

  4. Bom dia!!!

    Sobre o treinador, uns o chamam de Tony (Galuppo e jogadores); outros de Mô (Barata); o presidente Sérgio Coelho de El Turco; a imprensa de Mohamed, com variações na pronúncia ora como “Mohãmed”, ora como “Mohaméd”…

    O Teobaldo lascou um “Morramédi” no cara e o Barata também sugeriu Morratana…

    Kkkkkkkkkkk

    Engraçado demais…

    De todos os nomes e apelidos, e brincadeira à parte, “Tony” é de lascar…

    Como fala o Domingos Sávio, o nutellismo chegou até no Galo…

    Eu vou de “Turco” apenas…

    Tony é Tony e Turco é Turco …

    Bamo que bamo…

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