Serei curto na apresentação, pois o caso da convidada de hoje é muito legal. A conheci num pré-jogo no Mineirão. Simpática e digna representante da Torcida Feminina do Galo. Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive na arquibancada. Sigam com:
Ruth Martins
Passei o dia com a cabeça fervilhando e pensando no desafio a mim proposto pelo mestre Ávila: escrever um texto para a sua tradicional coluna. Mas, o que eu poderia dizer sobre o Clube Atlético Mineiro que o colunista da Massa ainda não tenha dito?
Grande Atleticano – com A maiúsculo, como ele mesmo gosta de ressaltar – seus textos são um alento para o torcedor. Afinal, há anos ele defende, comenta e resenha sobre a paixão do atleticano. É uma referência na crônica esportiva mineira e da torcida alvinegra.
Já no final do dia me dei conta de que todo atleticano tem uma história incrível para contar. Então resolvi selecionar um dos episódios mais marcantes para mim no estádio, como torcedora, e aproveitar para ilustrar porque o Atlético precisa sim se envolver mais com as questões sociais, ser mais plural e abraçar todo mundo realmente.
Em maio de 2001 eu descobri que estava grávida e tive que parar de acompanhar os jogos no estádio. Na época, logo que souberam da boa nova, minhas irmãs passaram a me “monitorar” para não ir ao Mineirão, pois tinham muito medo de que algo de ruim me acontecesse na arquibancada. Claro que senti muito, pois vivia naquele momento o auge do meu fanatismo. Como assim eu não poderia ver o Galo de perto?
Segui longe do estádio durante um bom tempo. Na verdade, quase todo o período da gravidez. Acontece, meus amigos, que o atleticano precisa do Atlético como os peixes precisam da água para viver. No último clássico mineiro do ano, já no mês de outubro, não resisti e fui feliz (e escondida) ver o Galo no Gigante da Pampulha.
Vivi neste dia momentos tão emocionantes quanto frustrantes. O primeiro deles foi com a dificuldade que encontrei para chegar ao estádio. Tive muito medo no caminho, pois não tinha carro na época e seria necessário escolher entre o ônibus comum, mais vazio e confortável para a minha condição, mas que me impossibilitava de usar o manto sagrado, e o ônibus especial disponibilizado à torcida naquela década, que me permitia ir devidamente paramentada, mas estava sempre lotado.
Escolhi a primeira opção e fui rezando. Aqui chamo a atenção para a violência entre as torcidas, que já vem de muito tempo. Entrar no ônibus de camisa de time em dia de clássico era briga na certa. É imprescindível que o Galo realize a todo tempo ações educadoras, apaziguadoras.
A arquibancada estava tão cheia que não consegui ver o primeiro tempo. Aliás, só consegui assistir o segundo tempo com a ajuda dos colegas da Galo Metal, que fizeram um cordão humano para que eu pudesse passar com meu barrigão de quase oito meses de gravidez para chegar à grade.
Mas, ao mesmo tempo em que encontrei pessoas legais e animadas com minha disposição, ouvi alguns torcedores me chamarem de “buchuda”, doida e outras coisas. Pior, um deles teve a audácia de dizer que eu deveria estar “em casa cuidando da barriga”. Ora, a arquibancada é de todos. O Galo é o time do povo.
Fiquei muito chateada por ouvir coisas tão absurdas de quem deveria enaltecer o fato de que eu, que vivia meu momento mais especial como mulher, estava também disposta a exercer minha atleticanidade. Conviver com o machismo em campo é comum. Infelizmente ainda hoje acontecem situações chatas como essa e das maneiras mais diversas.
Sonho com o dia em que os clubes nos defendam com unhas e dentes, que ajudem a educar as torcidas a nos respeitarem. Geramos os novos torcedores, gostamos, consumimos e entendemos sim de futebol. Felizmente o Clube Atlético Mineiro, após muitas reclamações de inúmeros torcedores, começa a entender isso e a abraçar causas importantes de respeito ao próximo. Bola dentro!
Voltando ao jogo, aquele Atlético de nomes como Velloso, Ronildo, Gilberto Silva, Ramon Menezes, Marques e Guilherme, sob o comando de Levir Culpi, levou dois gols do rival e se encaminhava para uma derrota. Mas o Galo gosta de emoção, de recuperações históricas que inflamam a sua torcida. Já passava dos 40 minutos do segundo tempo quando Ramon Menezes e Marques empataram o jogo. E posso dizer com certeza: se tivesse mais um minuto de acréscimo o Galo virava e, certamente, minha filha nasceria na arquibancada.
Foi um dia sensacional! Com altos e baixos, mas emocionante mesmo assim. A torcida gritava insana. Não dava para se mexer de tão cheio que estava o lado alvinegro do Gigante. O jogo teve um público de quase 85 mil pagantes, com maioria esmagadora de atleticanos. Na minha memória ficaram guardadas todas as sensações. No meu coração a certeza de que o Galo é amor, não é simpatia.
*fotos: 1) arquivo pessoal; 2) UAI/EM
Ruth, eu estava naquele sábado no Mineirão. Antes do nosso primeiro gol um amigo meu, Paulo Márcio, estava indo embora, me cumprimentou e se foi, aí saiu o gol, ele voltou e ficou comigo até o Marques acabar com a alegria do ex-rival. Na saída, eu e o amigo que foi comigo, Herickson, íamos em direção ao carro e uns torcedores rivais vieram para cima e até deram um soco no peito dele. Como eu estava junto, comecei a tentar reagir, mas outros cruzeirenses chegaram e acabou com a briga.
Ruth , história incrível , mas realmente quando a paixão fala mais alto, não há o que nos detenha. Admiro a sua ousadia de ir ao estádio no auge dos 8 meses sozinha rs. O legal dos torcedores do Galo, que na sua maioria são muito parceiros, porém tem uma parcela que gosta de tumulto e acaba comprometendo o momento.
Você tocou em uma questão que só é falada quando acontece algo ruim, o comportamento precisa mudar, quantos de nós tem receios de andar com suas camisas em dias de jogo por meio de alguma retaliação. Quantos episódios de violência já aconteceram?
Bom você foi e é uma guerreira !!!!
Abraços Elis Lemes!!
Prezada Ruth, sou filho de uma mãe cruzeirense, com um pai atleticano. Ambos já partiram, para meu infortúnio. Sendo assim, sei (no MEU saber, é claro) que nenhuma torcida é melhor que outra, todos amam seu clube e esse sentimento é comum em qualquer parte do mundo. Pelo menos foi isso que eu presenciei minha vida toda. Minha mãe cruzeirense gerou DOIS atleticanos: minha irmã e eu. Acabou ficando em minoria (o que aliás é notório, a torcida do Galo é muito maior), mas algumas vezes fomos os quatro ao mesmo clássico, naquela área comum onde se viam atleticanos e cruzeirenses lado a lado (confesso, esqueci o nome: estou há tanto tempo longe de Minas que me fugiu; mas ficava exatamente embaixo das cabines). Gostei de ver você com a camisa do Galo aqui nesse espaço, não de torcedor organizado. Eu conheço muitas famílias mineiras em que há torcedores rivais, por isso não acho a torcida do Atlético especial. É meu pensar. Torço só para o clube, não torço para a torcida (imagina só eu dizer que MINHA MÃE não pertence ao MEU mundo; quanta pretensão; o Galo é imenso no meu coração, mas é NADA comparado a ela). De tal modo que me incomoda quanto imputam ao clube a responsabilidade que cabe ao cidadão. Nenhum clube incentiva que uma mulher seja destratada ou aviltada por ir ao estádio, e não me parece haver responsabilidade do clube de educar seu torcedor, que é, em síntese, uma proxy da própria sociedade. Na minha opinião, eu que sou mais velho que novo, tal papel de educar é tarefa dos pais. Então permita-me discordar de você nesse sentido. Tomara que sua presença se torne assídua por aqui, tanto mais sendo jornalista e, portanto, íntima do contraditório, creio eu. Desde o tempo em que o blogueiro abriu espaço para que alguns atleticanos possam contar suas aventuras, a sua história foi a única que me arrebatou. As demais foram bem comuns mesmo. Quase nunca comento nesses dias, porque, como disse, não creio que sejamos especiais. Por vezes somos, como também acontece às outras torcidas. Mas me alegrei em saber que, ao fim e ao cabo, deu tudo certo na sua jornada incomum em busca da emoção de ver o Galo jogar.
Ir grávida a um jogo foi uma aventura que não tive coragem de fazer, parabéns.
Tal qual o seu filho eu conheci o Mineirão ainda na barriga de minha mãe, e nunca mais parei de frequentar. Nos Estádios, entre a Massa (embora eu saiba que existe muito) pessoalmente nunca vivi um episódio que pudesse configurar assédio. Aqui nesse Blog, por vezes aparece um idiota que se incomoda com minha presença.
Abro parênteses para agradecer ao Eduardo de Ávila por sempre me dá “apoio moral”.
O Galo tem um arremedo de departamento de marketing. Essas ações institucionais, pontuais, são importantes, mas muito pequenas para a inclusão que precisamos fazer se quisermos ser de fato um Time do Povo, um Time de Todos.
O CAM – através de seus dirigentes arcaicos – ainda não entendeu que não cobramos apenas um ambiente seguro e confortável para exercemos o nosso direito de torcer, cobramos também o direito de consumirmos produtos e serviços do nosso Clube.
Entre outras demonstrações de descaso, não fosse a movimentação nas redes sociais não teríamos o Manto da Massa na versão feminina, como pode?!
Mas hoje a Estrela é Você. Eu, além de torcer para o meu Time, torço também para minha Torcida, e sinto-me honrada em conhecer mais uma história de Atleticanidade. Certamente já está entre as Mulheres que me inspiram; para você, Ruth, os meus aplausos!
Um abraço.
Bom dia Massa, Ruth e Guru
Pois é Ruth, a sua atitude de ir ver o time de coração mesmo estando em estágio final de gravidez, talvez possa inspirar vários de nós que hoje ao invés de sermos otimistas e abraçar o clube, preferimos ficar aqui criticando a tudo e a todos sem lembrar que, quando vc foi ao Mineirão naquela época tínhamos um clube com vários problemas: salários atrasados, elenco fraco, rendas penhoradas na justiça, falta de estrutura; e nem por isto a torcida deixou de apoiar o clube. Que tal o exemplo da Ruth, agora com toda a atmosfera favorável?
Bom dia,
Parabéns, mais uma Atleticana trazendo sua história e sua paixão pelo Galão.
Bela história e regada a muita emoção, haja paixão.
Parabéns por escolher torcer para um time tão apaixonante, somos todos CAM.
Seja bem vinda neste espaço.
Boa Quarta da todos!
Bom dia Ruth, Lucy, Eduardo, atleticanos e atleticanas,
infelizmente o preconceito contra as mulheres nos estádios e em outros lugares, continua… Tem melhorado bastante graças às guerreiras que resolveram enfrentar ao invés de se calar e aceitar…
Frequento estádios há muito tempo e é notório o crescimento da presença feminina… Elas trazem beleza, graça e simpatia ao espetáculo…
Que você continue a frequentar estádios, e servindo de exemplo pra as novas gerações de meninas…
Você só não disse se sua filha é atleticana…
Bem Ruth, pra você e para todas as mulheres que lutam por respeito:
Olá, José Antônio! Continuo frequentando estádios sim. Abaixar a cabeça nunca foi uma opção para mim. Ao contrário. Hoje sou jornalista e busco meu espaço no jornalismo esportivo. Sobre minha filha, claro né? kkkk Ela nem tinha outra opção. Um abraço!
Ahahahhahahahahahhahahhah.. Mais uma atleticana!!!!!
abraços em você e nela… um dia a gente se encontra nesses estádios da vida!!!!!! Torcendo pro Galo, é lógico!!!!! ahhahahahhahahahahhahahhahahahah
Eu estava no Mineirão nesse jogo e quase infartei. Galoe tinha um time muito superior ao ex rival, mas saiu perdendo de dois a zero. Empatamos no finalzinho, com gol do Ramon, de falta, e outro do grande Marques. Quase viramos, num lance do com o meia atacante Alexandre, se não me engano. Nesse campeonato (2001), tínhamos o melhor time, dirigido pelo Levir, mas perdemos naquele jogo em são caetano, que choveu horrores. Uma pena. SAN
Olá, Barros! Eu também quase tive um troço. Aliás, por pouco a Camyla, minha filha, nasce na arquibancada. Quase viramos o jogo e tenho certeza de que viraria se tivesse mais 1 min de acréscimo. No jogo contra o São Caetano também fiquei muito eufórica. Uma pena toda aquela chuva e a sorte do Magrão naquele dia.
Obrigado Ruth por nos brindar com um excelente texto, não só de amor, mas também de paixão pelo glorioso. Você tem toda razão! Precisamos de segurança para que possamos assistir aos jogos, sem medo ou temor. E você blogueiro, continui nos mostrando os verdadeiros atleticanos, aqueles, como a Ruth, não medem esforços e nem avaliam as consequências dos seus atos, todos em favor de uma paixão chamada Atlético.
Olá, Angelo! Obrigada pelo seu comentário. Precisamos mesmo de mais segurança nos estádios e no entorno deles. Abraço!