Guardiões da Galáxia chegam em outro especial Marvel

Depois de estrear um novo formato com Lobisomem na Noite (Werewolf by Night, 2022), nem filme, nem série, os estúdios Marvel seguem com uma atração que não poderia ser mais diferente: Guardiões da Galáxia: Especial de Festas (The Guardians of the Galaxy: Holiday Special, 2022). Trata-se de uma aventura alegre, colorida, engraçada e cheia de músicas, como já era de se esperar, já que conta com os Guardiões.

Como não seria diferente, o especial para a TV conta com James Gunn no roteiro e direção, o que garante o espírito dos Guardiões que conhecemos nos dois filmes anteriores, além das aventuras em grupo com outros Vingadores. Tirando o foco do deprimido Peter Quill (Chris Pratt), que sente a falta de Gamora, Gunn mira em dois coadjuvantes e dá a eles a chance de aparecer. Assim, temos Mantis (Pom Klementieff) e Drax (Dave Bautista) como protagonistas. E eles aproveitam bem a oportunidade.

Depois que Kraglin (Sean Gunn) conta a triste história do Natal de Peter com Yondu (na voz de Michael Rooker), Mantis tem uma brilhante ideia para animar seu amigo e sai atrás da solução com Drax. Klementieff, mesmo com toda aquela maquiagem, consegue ser bem expressiva e segura bem a ação. Até Bautista, um ator bem limitado, claramente se diverte nas filmagens, e Drax não exige dele mais do que pode oferecer. Assim, ficam todos bem adequados.

Quem viu os filmes dos Guardiões ou mesmo o trailer desse especial já sabe que temos uma participação especial. O “grande herói” Kevin Bacon aparece, também muito à vontade, e vive uma versão muito simpática de si mesmo – que não deve ser diferente da vida real. Rocket (voz de Bradley Cooper) e Groot (Vin Diesel) ficam mais de lado, e mesmo assim têm a oportunidade de apresentar um novo personagem: o cão superpoderoso Cosmo. Revelada para o mundo no segundo filme de Borat (2020) e vista recentemente em Morte, Morte, Morte (Bodies, Bodies, Bodies, 2022), Maria Bakalova é a responsável pela voz e personalidade de Cosmo, um cachorro posicionado que não aceita desaforos.

Com o lançamento do terceiro filme marcado para maio de 2023, os fãs dos Guardiões da Galáxia podem se deleitar com esse especial de Natal, que, se não muda muita coisa no universo deles, proporciona uma história gostosa de se assistir e mantém o contato com os heróis. Assim como Lobisomem na Noite, esse Especial de Festas pertence à Fase Quatro do MCU, está disponível no Disney+ e conta uma história fechada, que se conclui ali mesmo.

Até o Kraglin de Sean Gunn ganha maior destaque

Publicado em Estréias, Filmes, Homevideo, Indicações, Quadrinhos | Com a tag , , , , , , , , , , , , , , | Deixe um comentário

Wandinha Addams ganha nova vida na Netflix

por Laís Simão

A Netflix lançou Wandinha (Wednesday, 2022), série que tem como foco a icônica filha mais velha de Mortícia e Gomez, da família Addams. Boa dose de nostalgia para quem viveu a década de 90 e já conhece essa excêntrica família, tanto pelo desenho animado da época quanto pelo filme, lançado em 1991, e sua continuação, de 1993. Isso, sem mencionar as encarnações anteriores dessa família.

Apenas pela premissa, a série já gerava altas expectativas. Quem conhecia os personagens já esperava pelo reencontro do nostálgico, macabro e cômico, da forma leve e lírica que só os Addams propiciam. Essa expectativa se elevou ainda mais após a divulgação de que a direção caberia a Tim Burton, responsável também por clássicos como Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands, 1990), Sweeney Tood (2007) e Batman (1989), entre tantos outros aclamados por público e crítica.

A série acompanha a adaptação da jovem Wandinha Addams em uma nova escola. Poderia ser apenas mais uma história de uma adolescente tentando pertencer, se a protagonista não fosse esta que dá nome à série. A Escola Nunca Mais tem como integrantes os excluídos, aqueles que são hostilizados pela sociedade por não se enquadrarem no que é dito como normal.

A escola acolhe alunos com habilidades excêntricas e a chegada de Wandinha coincide com a ocorrência de diversos homicídios praticados por uma criatura desconhecida na pequena vila de Jericho. A partir disso, a série se desenvolve, abordando temas importantes como a relação dos jovens com a tecnologia e o poder da ancestralidade, além de romper de forma leve, e sem necessariamente levantar bandeiras, com paradigmas raciais, famílias plurais e questões de gênero.

 

A atuação é outro ponto que merece destaque no spin-off. Jenna Ortega, a protagonista, participou recentemente de filmes como X – A Marca da Morte (2022) e Pânico (Scream, 2022), além de interpretar a personagem Ellie Alves na série You, também um original Netflix, que retrata a história de um stalker e serial killer. Aqui, Ortega desempenhou um de seus melhores trabalhos, conseguindo entregar uma personagem que estava em processo de descoberta, acompanhada sempre de sua excentricidade.

Outra atriz que igualmente se destacou é a Gwendoline Christie, que interpreta a diretora da Escola Never More, Larissa Weems. Os fãs de Game of Thrones, que estavam acostumados a vê-la de armadura, cabelos curtos e absurdamente séria ao interpretar Brienne de Tarth podem se surpreender com o contraste em relação à elegância e beleza de Weems.

A presença ilustre de Catherine Zeta-Jones como Mortícia Addams chega a ser um presente para o público. A grande homenagem, no entanto, se deu com a escalação da atriz Christina Ricci, que na série interpreta a monitora Marilyn Thorn. Nos filmes de 1991 e de 1993, ela viveu na própria Wandinha.

O jogo de cores, que é uma marca registrada de Burton, mais uma vez se fez presente na série. A mistura do mórbido com o colorido também teve seu diálogo com a maravilhosa trilha sonora, que apresenta desde clássicos de Edith Piaf (Non, Je Ne Regrette Rien) e Roy Orbison (In Dreams) a Dua Lipa (Physical), passando por Vivaldi e suas Quatro Estações (Inverno, claro). As coreografias da série também foram muito bem estudadas, trazendo esgrima, kung fu e, como se trata de adolescentes, até mesmo danças, obviamente com o toque extravagante dos Addams.

A primeira temporada tem oito episódios de duração, cada um de aproximadamente uma hora. É uma série bastante dinâmica, com um ápice no final de cada episódio que leva facilmente o expectador a querer assistir de imediato ao próximo. É uma grande homenagem aos filmes dos anos 90, mas, também, pode se tornar um novo marco para os jovens de agora. Não só pelo brilhantismo da série, mas pela importância da mensagem que os Addams sempre trouxeram: a de sermos sempre nós mesmos.

Christina Ricci, a Wandinha dos anos 90, faz uma ponta

Publicado em Adaptação, Estréias, Indicações, Quadrinhos, Séries | Com a tag , , , , , , , , | Deixe um comentário

The White Lotus já tem a terceira temporada garantida

Com apenas quatro episódios de sua segunda temporada exibidos, The White Lotus já teve sua terceira garantida pela HBO. Trata-se de uma antologia, aquelas séries em que um arco não tem ligação direta com o outro, a não ser por algum elemento periférico. Aqui, esse elemento é um resort caríssimo que recebe milionários em férias, e podemos acompanhar os problemas e as intrigas que eles criam entre si, interagindo com outros hóspedes, com os funcionários e os locais.

A primeira temporada, vencedora de dez Emmys e indicada a outros dez, nos levou a uma praia paradisíaca no Havaí onde um jovem casal foi passar sua lua de mel. Lá, Shane e Rachel Patton (Jake Lacy e Alexandra Daddario) conhecem os Mossbacher, uma família cheia de particularidades, e Tanya (Jennifer Coolidge), uma herdeira meio problemática que acabou de perder a mãe. Eles são recebidos pelo escorregadio Armond (Murray Bartlett), o gerente do White Lotus, e uma grande equipe.

O criador da atração, Mike White, até então era mais lembrado como o professor substituído pelo amigo Jack Black em Escola de Rock (School of Rock, 2003), ou como o diretor de O Estado das Coisas (Brad’s Status, 2017). Usando o seu próprio sobrenome no título, ele não só criou The White Lotus, mas escreveu, dirigiu e produziu todos os episódios. Queira animando ou não o espectador, é inegável que a série é redondinha, dividindo bem o seu tempo entre os personagens e apresentando o suficiente deles para nos interessar. E para nos importarmos com eles.

Na segunda temporada, temos uma mudança de ares. Um outro White Lotus fica na costa italiana na Sicília, um prato cheio para homenagens e referências cinematográficas. Novos personagens são apresentados, encabeçados por dois casais (acima): Cameron e Daphne Sullivan (Theo James e Meghann Fahy) e Ethan e Harper Spiller (Will Sharpe e Aubrey Plaza). Cameron e Ethan foram colegas de faculdade e decidem viajar juntos, levando as esposas. A toxicidade da amizade deles fica clara de cara, com Cameron mostrando ser um manipulador no limite da psicopatia.

Além dos casais, há três gerações dos Di Grasso: Bert (F. Murray Abraham), o avô mulherengo; Dominic (Michael Imperioli), o filho poderoso e viciado em sexo; e Albie (Adam DiMarco), o neto bonzinho que não aceita as escapadas do pai. A única a voltar da primeira temporada é Tanya (Coolidge), que continua complicada e agora arrasta consigo Portia, uma assistente que serve de babá (Haley Lu Richardson). A gerente da vez, Valentina (Sabrina Impacciatore), é um tanto mais exagerada, sem educação e resmungona que Armond. É a única que destoa, já que não duraria no cargo com essas características.

A premissa das duas histórias da série segue uma frase comumente dita na língua inglesa: “white people’s problems”. Ou seja: ela acompanha gente branca e rica e seus problemas e dilemas, enquanto nos mostra outras pessoas que têm de fato suas dificuldades e sonhos, e um grupo apenas usa o outro, que tem como função servir. Na superfície, temos a frivolidade dos ricaços, que se acham modelos para os demais e parecem fora da realidade. Um pouco mais a fundo, temos conflitos de classes e hipocrisias sendo desnudadas.

Jennifer Coolidge levou o Emmy por seu trabalho na primeira temporada e está na segunda

Publicado em Estréias, Indicações, Séries | Com a tag , , , , , , , , , , , , , , , , , | Deixe um comentário

Séries ocupam o roteirista e diretor Taylor Sheridan

Poucas pessoas no showbiz norte-americano devem estar tão ocupadas quanto Taylor Sheridan. Tendo começado sua carreira artística como ator, ele se viu com 40 anos e nenhum grande papel. Foi o momento de escrever um roteiro e receber uma atenção como nunca antes. Sicario (2015) foi bastante elogiado e o levou ao trabalho seguinte, o indicado ao Oscar A Qualquer Custo (Hell or High Water, 2016). Sheridan (abaixo) não parou mais e, só essa semana, viu sua nova série estrear, além da chegada do quinto ano do maior sucesso da televisão atualmente, também assinado por ele.

Com os maiores números de audiência na tela pequena desses dias, Yellowstone chega à sua quinta temporada dando prosseguimento à história da família Dutton. Com 12,1 milhões de televisões ligadas na estreia, o novo arco traz John Dutton (Kevin Costner) como o novo governador eleito da Califórnia (o que acontece já nos primeiros minutos do episódio inicial). A partir daí, temos um empresário que se diz um não político e conservador que pretende congelar o estado no tempo. E ainda nos pegamos torcendo por ele. Afinal, trata-se de Kevin Costner. Só na ficção!

Quem viu a quarta temporada da série sabe que a rivalidade entre Beth (Kelly Reilly) e Jaime (Wes Bentley) chegou ao ápice e as coisas prometem pegar fogo. Ou derramar sangue, o que é mais provável. E Kayce (Luke Grimes) segue em sua jornada à Michael Corleone. Os dois primeiros episódios foram exibidos em sequência, para fisgar quem acha que o intervalo entre temporadas pode ter esfriado alguém. O que certamente não aconteceu, tamanho o interesse por essa volta. E a qualidade dos episódios anteriores está lá, intacta.

Além de ver a continuação de sua maior criação, Sheridan ainda acompanhou, no mesmo dia 13 de novembro, o lançamento de Tulsa King, a nova série que bolou e roteirizou. Como já é costume do roteirista, os acontecimentos e os diálogos são diretos e objetivos, e a direção do veterano Allen Coulter (de Hollywoodland, 2006) costura tudo de forma certeira. Ah, e ajuda muito ter o astro Sylvester Stallone em sua primeira vez como protagonista de série.

Depois de 25 anos na cadeia para acobertar um chefão, o capanga vivido por Sly volta à vida em sociedade e descobre que já não há lugar para ele no crime de Nova York. Matando dois coelhos com uma cajadada, o tal chefão o incumbe de instituir e dominar a máfia em Tulsa, cidade de Oklahoma até então calma, sem violência, com uma população relativamente pequena. Ou seja: a família segrega um veterano desatualizado e expande seus braços criminosos. Se a jogada der certo, claro.

Era 1997 quando ele foi preso. São 25 anos fora de circulação, numa época em que a tecnologia avança a passos largos. Dwight Manfredi perdeu muita coisa e já está na casa dos 75 anos, o que não facilita sua atualização. E é aí que está a parte mais divertida da atração: acompanhar os esforços do sujeito para entender um mundo que andou e não o esperou. Os coadjuvantes que o rodeiam são bem atípicos e devem causar situações interessantes.

Acostumado a lidar com caubóis e caipiras, o texano Sheridan fica em terreno seguro, cercando-se de personagens nessa linha. Não que isso seja um demérito, Stephen King escreve sobre o Maine há décadas e ninguém reclama. Quem já acompanha os Duttons deve ficar satisfeito com os acontecimentos dessa nova temporada, e quem não os conhece pode começar do primeiro episódio. Há séries derivadas de Yellowstone em produção, nada menos que quatro. E Tulsa King provavelmente guarda boas surpresas, podendo se tornar um novo sucesso na carreira de seu ator e de seu criador.

Stallone levou o elenco todo ao lançamento da série

Publicado em Estréias, Indicações, Notícia, Personalidades, Séries | Com a tag , , , , , , , , , | Deixe um comentário

Wakanda Para Sempre garante o legado do Pantera Negra

Em 2018, o diretor Ryan Coogler conseguiu um feito admirável: lançou Pantera Negra (Black Panther) nos cinemas, reunindo elogios da crítica e boa bilheteria. A garantia de uma continuação era automática e o personagem se encaixou muito bem no Universo Cinematográfico Marvel. Eles só teriam que enfrentar um grave problema: o astro do longa, Chadwick Boseman, faleceu em 2020, e os produtores logo decidiram que não iriam simplesmente trocar o intérprete (como já aconteceu no MCU).

 

Para Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever, 2022) ficou decidido então que o Rei T’Challa teria o mesmo destino de seu ator: mesmo tendo vencido inúmeros combates e defendido o seu povo, ele foi vitimado por uma doença. E esse é o pontapé inicial do filme, que não perde várias oportunidades para homenagear Boseman. E Coogler aproveita para novamente valorizar as mulheres de Wakanda, cada vez mais fortes e empoderadas.

A trama começa com uma intriga política: o mundo está de olho no Vibranium, metal fantástico encontrado apenas em Wakanda, agora governada pela Rainha Ramonda (Angela Bassett). Todos querem o metal para fins escusos, como a produção de armas, e Ramonda reafirma que nada sai de seu país. Por isso, há pesquisas em andamento para tentarem achar Vibranium em outro lugar. Uma dessas pesquisas acaba por encontrar um povo submarino liderado pelo ambíguo Namor (Tenoch Huerta Mejía, de Uma Noite de Crime: A Fronteira, 2021).

Buscando proteger os seus, Namor planeja um ataque ao mundo terrestre e quer uma aliança com Wakanda. É a oportunidade para Coogler colocar também em evidência os latinos, e o mexicano Huerta Mejía (abaixo) cumpre bem o seu papel, sempre andando na linha tênue entre amigo e inimigo e evitando maniqueísmos. Isso torna Namor um dos personagens mais interessantes do MCU, além de ter a mais nobre das motivações. Ao invés de lembrar o óbvio Aquaman, ele acaba remetendo ao John Harrison de Além da Escuridão: Star Trek (2013), um vilão de várias camadas.

Outra personagem apresentada aqui que deve ter vida longa no MCU é Riri Williams, que ficará conhecida como Coração de Ferro (ou Ironheart). A jovem Dominique Thorne (de Judas e o Messias Negro, 2021) traz uma boa dose de energia a Riri, que vê em Shuri (Letitia Wright) uma mentora – nos quadrinhos, essa figura seria Tony Stark, o que nos filmes já não é possível. Wright, Danai Gurira (Okoye) e Lupita Nyong’o (Nakia) são o trio principal e coração de Wakanda Para Sempre, perdendo em destaque apenas para o furacão Bassett, que rouba todas as cenas em que aparece.

O tempo excessivo de duração às vezes cansa e dá a sensação de que a história funcionaria melhor como série, na TV. Afinal, há muito o que se fazer: personagens a serem introduzidos, tramas a resolver e homenagens a apresentar. Mesmo com vários momentos genuinamente emocionantes (não era raro ver espectadores soluçando na sala), o roteiro dá uma forçada e nos proporciona algumas pulgas atrás da orelha. Certos problemas vão perdurar na memória e poluir um pouco a nossa lembrança pós sessão. Só que os quase 350 milhões de dólares de arrecadação desses primeiros dias de exibição garantem vida longa a Wakanda e ao Pantera Negra.

Não faltam homenagens a Chadwick Boseman, o Rei T’Challa

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes, Indicações, Quadrinhos | Com a tag , , , , , , , , , , , , , , , , , , | Deixe um comentário

Nada de Novo no Front mostra a Primeira Guerra na perspectiva alemã

Nascido em Osnabrück em 1898, Erich Maria Remarque partiu para lutar na Primeira Guerra Mundial em prol de seu país, a Alemanha, aos 18 anos. Apesar de ferido várias vezes, sobreviveu ao conflito, voltou para casa e, em 1929, lançou Im Westen Nichts Neues, no qual reconta, de maneira romanceada, suas experiências na frente ocidental, onde batalhas foram travadas principalmente na França. Sucesso quase instantâneo, o livro se tornou um dos clássicos da literatura mundial ao retratar a crueldade da guerra através dos olhos do autor que, aqui, cria para si um personagem narrador, o soldado Paul Bäumer.

O impacto do livro foi tão grande que, no ano seguinte, ele foi levado ao Cinema pela primeira vez. Uma segunda versão, dessa vez para a TV, foi feita em 1979. Agora é a vez de Nada de Novo no Front (Im Westen Nichts Neues, 2022) chegar à Netflix pelas mãos do diretor alemão Edward Berger (de The Terror). Esta adaptação se distancia bastante do livro na qual foi inspirada, ainda que a essência dele esteja ali.

Nada de Novo no Front começa em 1917, com a Primeira Guerra Mundial já em seu terceiro ano. Parte da juventude alemã de então, incentivada pela geração anterior, não aguenta esperar chegar aos 18 anos para poder se alistar e partir para a guerra. Esse é o caso de Paul Bäumer (o estreante Felix Kammerer) que, junto com três amigos, assina os papéis necessários, passa por um treinamento – não mostrado na tela –  e logo se vê enfrentando as metralhadoras e bombas do inimigo em trincheiras alagadas, infestadas de ratos e onde o medo de ataques de gás é algo rotineiro.

Dezoito meses depois, o conflito continua, mas os alemães parecem cansados dele. Eles sabem que as coisas andam mal e querem acabá-lo de uma maneira honrosa, por falta de uma palavra melhor. Entra aí Matthias Erzberger (Daniel Brühl, de Falcão e o Soldado Invernal – abaixo), representante do governo alemão encarregado de negociar um cessar-fogo com os aliados que, efetivamente, acabará com a guerra. A partir desse momento, o longa se foca nos três dias de negociações que culminaram no fim das hostilidades, às 11 horas de 11/11/ 1918.

Um dos méritos de Nada de Novo no Front é mostrar um dos principais contrastes da guerra. De um lado, temos homens sadios, sentados em escritórios luxuosos, em segurança, comendo do bom e do melhor enquanto se debruçam sobre questões burocráticas. Do outro, temos jovens mal saídos da adolescência, vivendo em trincheiras sujas, mal alimentados, sofrendo de privação de sono, estresse intenso e, claro, matando e morrendo por motivos que não lhes são muito claros. Mesmo no meio desse ambiente desesperador, há ainda espaço para irmandade, camaradagem, alguma traquinagem e, claro, planos para o futuro.

Essa característica humana é mostrada principalmente na amizade entre Paul e Stanislaus “Kat” Katczinsky (Albrecht Schuch), um especialista em conseguir proteínas para seu grupo de amigos. Kat, no entanto, não é o único companheiro de Paul a ser explorado no longa. Tjaden Stackfleet (Edin Hasanovic), que sonha em ser subtenente do exército, e Franz Müller (Moritz Klaus), um galanteador que consegue seduzir jovens francesas mesmo no meio de uma guerra, também têm grande destaque e colaboram muito para humanizar os soldados alemães. Outro que merece destaque é o General Friedrichs (Devid Striesow), um oficial alemão que não aceita o fim da guerra e acaba por selar o destino de Paul.

O grande destaque do elenco é o jovem Kammerer, que consegue incorporar muito bem as mudanças de Paul, de jovem recruta “verde” a soldado experiente, cínico e descrente de um futuro que não seja a morte no campo de batalha. Ao mesmo tempo, ele demonstra humanidade não só para com seus companheiros, mas também em relação a seus inimigos. Isso é visto em uma das melhores cenas do filme, que foi retirada diretamente do livro e, apesar de encurtada, ainda assim causa bastante impacto.

Outro trabalho que merece menção é o do diretor. Berger não dosa a mão nas cenas de ação. A violência e o desespero da guerra são mostrados como devem ser, inclusive a crueldade dos envolvidos. Obviamente, por ser um cineasta alemão mostrando o conflito do ponto de vista de seu povo, a crueldade aqui acaba ficando concentrada nos burocratas alemães – à exceção de Matthias, o único cuja prioridade é salvar vidas através do fim das hostilidades – e nos soldados franceses. Isso, no entanto, é um detalhe.

Apesar de todas as mudanças promovidas pelos roteiristas (Lesley Paterson, Ian Stokell e o próprio diretor), Nada de Novo no Front mantém a essência do livro de Remarque. E merece todos os elogios que vem recebendo. É um dos poucos filmes de guerra que retrata com maestria como esse tipo de conflito é visto de forma diversa entre os soldados que lutam por suas vidas nas trincheiras e os verdadeiros responsáveis pela guerra, que controlam as coisas usando uma caneta em escritórios ou trens seguros, a milhares de quilômetros do front.

A primeira adaptação do livro ao Cinema comemorou 92 anos

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes, Homevideo, Indicações | Com a tag , , , , , , , , , , | Deixe um comentário

O Cinema mostra o exemplo que a Argentina deu para a América Latina

O título já diz muito: o filme Argentina, 1985 (2022) trata exatamente desse lugar, nesse período. Importante é saber o que aconteceu lá, algo crucial para o bom andamento do país que infelizmente não se repetiu por toda a América Latina. Nossos hermanos julgaram criminosos de guerra do período da ditadura deles e trouxeram alguma justiça aos milhares de desaparecidos e mortos. Eles celebram, este ano, 35 anos de democracia, momento certeiro para esse lançamento.

Talvez por tratar de um assunto tão espinhoso e, ao mesmo tempo, crucial, a Argentina tenha escolhido o filme para representá-la na pré-corrida ao Oscar. Os países indicam suas obras e, após a primeira votação, chega-se aos cinco finalistas. Só que o filme não é feito apenas de boas intenções: a reconstituição da época e dos eventos é ótima e ajuda muito ter Ricardo Darín, o maior ator argentino em atividade, no papel principal.

Brilhando numa composição meticulosa, Darín (de Relatos Selvagens, 2014) vive o promotor civil Julio César Strassera, incumbido de conduzir o julgamento dos militares envolvidos na tortura e/ou morte de aproximadamente 30 mil cidadãos argentinos, além dos muitos que sobreviveram com sequelas físicas e psicológicas. O ator não transforma seu personagem em um santo, como acontece aos montes no Cinema, e o apresenta em toda a sua imperfeição. Um bom sujeito, com defeitos, tentando fazer o bem.

Strassera precisava montar uma equipe, mas muitos advogados veteranos que ele conhecia haviam morrido. Ou pior: se tornaram puxa-sacos de fascistas – ou seja, fascistas. Por isso, chamar mais gente foi ficando complicado, e este era só o primeiro desafio dele. Logo, entra em cena um promotor adjunto, Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani, de O Clã, 2015), um jovem advogado que será essencial no caso. Curiosamente, uma das personagens mais importantes do longa é a mãe de Ocampo, que mal aparece em cena, mas tem uma participação marcante.

Dá gosto de assistir a uma produção tão bem cuidada que, além de entreter de forma inteligente, ainda traz luz sobre fatos que todos precisam conhecer. Argentina fez o necessário ao final da ditadura: colocou todos os canalhas fardados no banco dos réus e mostrou que não se trata seres humanos como eles fizeram. Se alguém estava errado ou fora da lei, que fosse julgado e pagasse por isso. Como ocorreu com eles. Algo imprescindível para o Brasil que, como não aconteceu, deixou brecha para as atrocidades que vemos hoje, com o crescimento da extrema-direita. Nunca mais!

O filme fez sucesso no Festival de Veneza e está disponível no Prime Video

Publicado em Estréias, Filmes, Homevideo, Indicações | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Não Se Preocupe, Querida se baseia em boas intenções

Uma esposa aparentemente nos anos 50 arruma a casa, vai às compras e espera pelo marido linda e com a janta pronta. É o próprio retrato da vida perfeita e de sucesso naquela época. Alice e Jack Chambers são um modelo para aquela sociedade e é aí que a diretora Olivia Wilde aproveita para fazer críticas, começando pelo machismo. Este é um rápido resumo de Não Se Preocupe, Querida (Don’t Worry Darling, 2022), longa atualmente nos cinemas cujos defeitos não podem ser ignorados apenas pela boa intenção.

O segundo filme de Wilde era muito esperado devido ao sucesso do primeiro, a comédia Fora de Série (Booksmart, 2019). Partindo para um material mais sombrio, ela novamente filmou um roteiro de Katie Silberman (uma das responsáveis por Fora de Série), baseado numa história de Carey e Shane Van Dyke (de O Silêncio, 2019). E o principal problema de Não Se Preocupe reside aí, na história, que não é nada original. Várias referências vêm à cabeça, só não vale citá-las aqui para não estragar a experiência de quem não viu.

Filmes como Longe do Paraíso (Far From Heaven, 2002) já examinaram à exaustão esse tipo de cenário à primeira vista idílico, que esconde pessoas infelizes vivendo na mentira. E os caminhos seguidos pela produção de Wilde já foram vistos também, o que derruba qualquer pretensão de originalidade. No papel de Alice, Florence Pugh (de Viúva Negra, 2021) faz o possível, mesmo que o parceiro de cena não seja grande coisa. Harry Styles (de Dunkirk, 2017) ainda não se mostrou um bom ator, se saindo melhor nas trilhas sonoras.

Do elenco, quem se sai melhor é Chris Pine (acima), nosso mais recente Capitão Kirk (da trilogia Star Trek). Na pele de Frank, o chefe daquela sociedade utópica, ele tem a oportunidade de dar camadas ao personagem, tornando-o o mais interessante do grupo. Wilde, como atriz, não faz feio, e mostra que foi uma decisão acertada não ficar com o papel principal, podendo assim se dedicar mais à direção.

Styles, chamado aos 45 do segundo tempo para substituir Shia LaBeouf, é o atual namorado da diretora. Os bastidores de Não Se Preocupe acabaram chamando mais atenção que o filme propriamente dito. A saída de LaBeouf não foi esclarecida, uns jogando a responsabilidade nos outros. Segundo relatos, Wilde e Styles sumiam de repente, e Pugh chegou a afirmar que ela dirigiu mais o longa que a diretora. Quando esse tipo de conversa se sobressai, percebemos que o filme não é assim tão interessante.

Toda a divulgação do longa foi tensa

Publicado em Estréias, Filmes | Com a tag , , , , , | Deixe um comentário

A música de 007 é visitada em um novo documentário

Chegou ao Prime Video o interessante documentário A Música de 007 (The Sound of 007, 2022), que reconta a saga de James Bond no Cinema através de suas trilhas sonoras, tanto as instrumentais quanto as canções das aberturas. Quem conhece um mínimo do espião mais famoso da ficção sabe o quanto essas músicas são marcantes e acabam sendo um reflexo da época em que os filmes foram lançados.

Não necessariamente seguindo uma ordem cronológica, o premiado diretor Mat Whitecross (de O Caminho para Guantánamo, 2006) escolhe alguns tópicos para abordar e vai pulando de um para o outro. Os envolvidos nos episódios narrados aparecem, mesmo que em imagens de arquivo (no caso dos falecidos), dando depoimentos ricos e curiosos, trazendo informação e anedotas. São diversos tipos de profissionais que aparecem: cantores, compositores, maestros, atores, diretores, roteiristas, produtores e por aí vai.

Para iniciar os trabalhos, temos um esclarecimento importante de algo que assombra os fãs de Bond: quem de fato compôs o icônico tema instrumental, que aparece em todos os 25 filmes do espião inglês? Há uma disputa histórica entre os compositores Monty Norman e John Barry, já que um foi contratado para a missão inicial e o outro, para dar rumo a uma obra não apreciada. Esse tema sofreu alterações ao longo dessas seis décadas, de 007 Contra o Satânico Dr. No (1962) a 007 – Sem Tempo Para Morrer (2021), sendo adaptado para situações e momentos diferentes.

Os responsáveis por essas adaptações, como o próprio Barry, Hans Zimmer, Marvin Hamlisch, David Arnold, George Martin, entre outros, aparecem para contar sobre suas intenções, influências, motivações. E as canções de abertura, sempre acompanhadas de uma arte elaborada, eram no início assinadas por compositores contratados e interpretadas por artistas em alta na época, como Shirley Bassey, Tom Jones e Matt Monro. Até que apareceu um certo Paul McCartney que, em uma tarde, escreveu Live and Let Die e não deixaria outro cantá-la. Começou aí a cultura de contratarem bandas em alta responsáveis por suas próprias composições, como era o caso dos Wings.

Para os artistas, era motivo de celebração ser escolhido para compor e/ou interpretar o tema de Bond. Era uma indicação do sucesso que tinham, um endosso de Hollywood a uma carreira em alta. Nem todos, claro, mantiveram esse sucesso, alguns sumindo nos anos seguintes. Poucos se lembram, por exemplo, de Sheena Easton ou Rita Coolidge. Já outros, como Duran Duran e a-ha, tiveram diversos hits e estão em atividade até hoje. Há artistas que tentaram assinar o tema e, por algum motivo, ficaram de fora, como Alice Cooper e Blondie. A sequência em que a possível contribuição de Amy Winehouse é discutida é o momento mais emocionante do documentário.

Os entrevistados revelam também quem são os artistas que eles gostariam que tivessem composto uma música para Bond. Rami Malek, por exemplo, crava Queen, como não poderia ser diferente – o ator ganhou o Oscar por viver Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody (2018). Malek, como vilão do filme mais recente da franquia, tem um tempo maior em cena, assim como Daniel Craig, último intérprete de Bond (até o momento). O que acaba acontecendo também com Billie Eilish (acima) e Finneas O’Connell, que compuseram e executaram o tema de Sem Tempo Para Morrer. Adelle, que abriu as portas da série para o Oscar, vencendo por Skyfall, por alguma razão não aparece. Os dois temas seguintes, que também levaram o prêmio, acabam aparecendo mais.

Fora certas exclusões estranhas, A Música de 007 é um documentário bem completo, que situa bem o espectador no mundo de James Bond. Quem não assistiu a todos os 25 filmes da cinessérie vai ter descobertas e provavelmente vai buscar corrigir essas faltas. E, certamente, vai querer fazer uma maratona com as canções. O que acaba sendo um passeio pelos últimos 60 anos da música inglesa.

McCartney é o compositor e cantor de um dos temas mais marcantes de Bond

PS: Há duas edições do Programa do Pipoqueiro com os temas de James Bond e comentários a respeito. Clique aqui para ouvir a primeira edição e aqui para ouvir a segunda.

Publicado em Estréias, Filmes, Homevideo, Indicações, Música | Com a tag , , , , , , , | Deixe um comentário

Halloween Ends faz o que o título promete

Por pouco, o título Halloween Ends (2022) não fica mentiroso. Afinal, o novo longa realmente encerra a história da franquia. Mas quase não é um episódio de Halloween como a conhecemos. Com poucas cenas de Michael Myers, o filme nos apresenta a um novo personagem e perde muito tempo acompanhando-o. E, convenhamos, quem foi ao cinema ver Halloween queria ver Michael Myers trucidando o bom povo de Haddonfield. Dito isso, é preciso reconhecer que o resultado, mesmo cheio de defeitos, é divertido.

Com cara de produção oitentista, que confere um charme à obra, este Halloween fica um pouco perdido, como se tivesse gostado muito de seus novos personagens e se ressentisse de ter que voltar a Laurie Strode. Afinal, se vamos ter um encerramento, precisamos de Laurie, a sofredora senhora atacada em 1978 por Michael quando adolescente que cuidava de crianças no Dia das Bruxas. Ela passou décadas se preparando para reencontrar seu algoz, o que o filme de 2018 nos mostra.

Desconsiderando quase tudo o que foi feito na franquia, incluindo aí as várias continuações genéricas e o reboot de Rob Zombie, o diretor David Gordon Green e seus roteiristas foram beber na fonte, o original de John Carpenter. Passados 40 anos, Myers estava catatônico em um hospital psiquiátrico quando o Halloween de 2018 começa. Em 2021, tivemos a continuação da história em Halloween Kills, com Myers fazendo jus ao título e matando a rodo. A trama poderia ter sido concluída ali mesmo, mas já se sabia que Gordon Green faria uma trilogia.

Quando Halloween Ends começa, Myers (James Jude Courtney) está desaparecido e Laurie (Jamie Lee Curtis) finalmente decide seguir sua vida, dividindo uma casa com a neta (Andi Matichak). Para quem acreditava conhecer toda Haddonfield, uma surpresa: somos apresentados a Corey (Rohan Campbell, de Virgin River), um sujeito problemático, mas de bom coração. Esses quatro personagens são a base do filme. O problema é que o roteiro foca nos dois mais jovens (acima) quando, na verdade, queremos ver o embate dos dois mais velhos.

Um ponto a favor de Halloween Ends é encarar de frente o fato de que Laurie e Michael envelheceram. O assassino está mais devagar, já não é mais aquela máquina de matar. Estranho é isso ter acontecido só agora, já que nada disso era percebido no filme anterior (de apenas um anos atrás). Teria sido a pandemia que debilitou Michael? O crescimento da extrema direita? Não sabemos. Mesmo envelhecida, Lee Curtis continua linda e forte, e por isso sentimos sua falta, já que o roteiro dá mais tempo em cena à neta.

Um recurso amplamente utilizado na ficção é o seguidor que se inspira no psicopata. De Dexter ao talentoso Ripley, muitos já tiveram um aprendiz e Gordon Green brinca com essa ideia. Muitos pontos trazidos pelo roteiro são vistos nessa franquia pela primeira vez, o que traz um gás nessa reta final. Em menos de duas horas, temos uma resolução satisfatória para uma trilogia altamente irregular, concluindo uma franquia de mais de 10 filmes. Até quando esta será de fato a conclusão? Não sabemos. Deve demorar até vermos Michael Myers novamente.

Jamie Lee Curtis segue defendendo o título de Scream Queen

Publicado em Estréias, Filmes, Indicações | Com a tag , , , , , , , , | Deixe um comentário