O melhor do Cinema em 2013 – e o pior

por Marcelo Seabra

Best Worst

Para fechar as listas de 2013 n’O Pipoqueiro, seguem as minhas escolhas para o melhor e o pior de 2013. Há muitos filmes, para cima e para baixo, que merecem ser lembrados. Por isso, além de cada Top 10, há outras menções. Todos foram lançados comercialmente este ano e a maioria tem texto já publicado, que pode ser acessado através do link no título.

Aproveito para agradecer a todos que acompanharam os textos aqui publicados e desejar um 2014 de muita coisa boa, inclusive cinematograficamente falando. Seguimos nesse ano novo com mais textos, e espero continuar contando com os amigos que já se habituaram a visitar O Pipoqueiro. Abraços!

10 melhores

Zero Dark Thirty

  1. A Hora Mais Escura
  2. Capitão Phillips
  3. Rush
  4. Django Livre
  5. A Caça
  6. Além da Escuridão – Star Trek
  7. Faroeste Caboclo
  8. Gravidade
  9. Os Suspeitos
  10. Detona Ralph

Menções honrosas (em ordem de estreia):

Warm Bodies

  1. Meu Namorado é um Zumbi
  2. O Voo
  3. As Sessões
  4. Indomável Sonhadora
  5. Killer Joe
  6. Os Croods
  7. Dentro da Casa
  8. Evil Dead – A Morte do Demônio
  9. Somos Tão Jovens
  10. O Grande Gatsby
  11. Guerra Mundial Z
  12. Círculo de Fogo
  13. Invocação do Mal
  14. Elysium
  15. Amor Bandido
  16. Blue Jasmine
  17. Como Não Perder Essa Mulher

10 piores

GI Joe Retaliation

  1. G.I. Joe: Retaliação
  2. Se Puder… Dirija!
  3. O Resgate
  4. Fogo Contra Fogo
  5. Chamada de Emergência
  6. Duro de Matar – Um Bom Dia para Morrer
  7. O Massacre da Serra Elétrica 3D – A Lenda Continua
  8. Depois da Terra
  9. O Concurso
  10. As Bem-Armadas

Menções desonrosas:

Silver Linings Playbook

  1. O Lado Bom da Vida
  2. Dezesseis Luas
  3. Amigos Inseparáveis
  4. Linha de Ação
  5. O Acordo
  6. The Canyons
  7. O Último Exorcismo – Parte 2
  8. Se Beber, Não Case! – Parte 3
  9. Sem Proteção
  10. Odeio o Dia dos Namorados
  11. Os Smurfs 2
  12. R.I.P.D. – Agentes do Além
  13. A Maldição de Chucky

Top 5 séries:

  1. Game of Thrones
  2. Hannibal
  3. The Blacklist
  4. Ray Donovan
  5. The Following
E vem aí...

E vem aí…

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O que aconteceu na TV em 2013

por Rodrigo Seabra

TV 2013

Bem vindo a mais uma retrospectiva d’O Pipoqueiro com os destaques em séries de TV do ano que passou. Como nos anos anteriores, o que procuramos fazer não é aquela tradicional lista de melhores e piores e nem exatamente uma coluna de crítica subjetiva com impressões profissionais bem calculadas. Tudo bem, talvez haja um toque de avaliação aqui e ali, mas a intenção é misturar o conteúdo das listas mais confiáveis, divulgadas agora em dezembro, com uma visão geral do que foi visto e dito ao longo de 2013 na imprensa especializada.

A análise do ano televisivo de 2013 tem um lado curioso: houve uma inversão indesejada, porém óbvia, na qualidade dos programas transmitidos no começo e no final do ano. O que aconteceu foi que o primeiro semestre superou com folga a temporada de outono que deveria ser o grande chamariz do ano na televisão norte-americana. Os primeiros meses se sustentaram muito bem com as continuações do outono anterior, um midseason consistente em estreias e retornos, uma primavera excepcionalmente repleta de bons programas e ainda uma programação de verão ocasionalmente interessante. Veio então a chamada fall season, iniciada em setembro na TV aberta, e, mesmo em termos absolutos, só pôde ser classificada como um verdadeiro fiasco, algo que não se via há muito tempo. Não foi, no geral, um ano ruim, longe disso.

Breaking Bad

Aos olhos da crítica – e, convenhamos, da própria história da televisão –, o grande acontecimento do ano foi sem dúvida o encerramento de Breaking Bad. A série já vinha sendo considerada por muita gente boa como a melhor ou uma das melhores de todos os tempos e um símbolo inquestionável dos anos de ouro que estamos vivendo na TV. Fechou seu ciclo com cinco temporadas altamente aclamadas e um histórico de excelentes críticas desde a estreia, algo muito raro de se ver. O episódio final, mesmo que muitíssimo aguardado e condizente com o caminhar da série, suscitou críticas isoladas (e pertinentes) com relação a certas liberdades tomadas pelos escritores e produtores, mas nem isso ofuscou os elogios espalhados por todos os veículos importantes que fazem cobertura de televisão.

Outros grandes dramas chamaram a atenção mais para o começo do ano e foram muito bem lembrados nas recentes listas de melhores. Por exemplo, um dos maiores trunfos daquele primeiro semestre foi a estreia de Hannibal, com irrepreensíveis atuações de Mads Mikkelsen e Hugh Dancy. A fotografia sombria, a onipresente trilha sonora de gelar os ossos e a cuidadosa montagem das refeições preparadas pelo refinado psicopata Hannibal Lecter se reuniram para criar um clima ao mesmo tempo aterrorizante, opressivo e sedutor, e fortíssimo, considerando-se que é uma série da TV aberta norte-americana.

Ao lado dela, tivemos pelo menos duas outras gratas surpresas nos primeiros meses. Orphan Black, com a história de uma moça que se descobre clonada, mereceu efusivos elogios para a então desconhecida Tatiana Maslany, que já ganhou diversos prêmios e indicações ao se desdobrar em múltiplos papéis bem diferentes como se fosse uma veterana. Além dela, também The Americans conquistou olhares ao recriar a tensão entre americanos e soviéticos no começo dos anos 1980, não apenas com um grande trabalho de maquiagem e cenografia, mas também por um belo uso de músicas da época. A ação e as intrigas do casal espião são entremeadas pelo drama de seu casamento de mentira e por uma alternância muito bem vinda entre as diversas faces dos protagonistas.

The Good Wife

The Good Wife, tanto no final de sua quarta temporada quanto no começo da quinta, continua a ser, sem qualquer dúvida, a melhor série da TV aberta americana na avaliação de 9 entre 10 críticos sérios. Se engana quem, iludido pelo título, pensa se tratar de algum dramalhão para senhoras. Longe de afetações novelescas, a série traz diálogos afiadíssimos em roteiros enxutos, instigantes disputas de tribunal entre advogados ególatras e temas sociais e políticos sempre complexos, muito atuais e tratados de maneira acessível. E talvez o melhor de tudo: trafega, de maneira quase exclusiva na televisão atual, entre os formatos episódico e serializado, amarrando muito bem os interessantes “casos da semana” e as longas narrativas e evoluções dos personagens.

O segundo semestre trouxe para o cabo a excelente Masters of Sex, que romantiza a luta do Dr. William Masters e sua assistente Virginia Johnson (brilhantemente interpretados por Michael Sheen e Lizzy Caplan) para compreender melhor a sexualidade humana no final dos anos 1950. Além da perfeita recriação da mentalidade e dos usos de época, a série se destaca pela química inegável entre os protagonistas e pela construção perfeita do relacionamento entre eles, tudo fortemente temperado pelas atividades controversas que o médico decidiu empreender naqueles tempos tão moralistas.

Completando a nata de 2013, Justified é uma presença discreta, porém constante nas listas de melhores desde sua estreia. A sempre tecnicamente brilhante Game of Thrones teve mais uma grande temporada, apesar de ainda criticada, com razão, pelos episódios muito arrastados e apenas pontuados por ocasionais grandes acontecimentos. Mad Men continua sendo uma excelente hora de televisão, mas teve uma sexta temporada de pouca expressão – ainda muito discutida e lembrada, como sempre, mas menos reverenciada por causa da irregularidade de temas e episódios. Homeland, tão incrível em sua primeira temporada e sólida na segunda, acabou sendo recebida com poucos rojões no terceiro ano, só se reerguendo nos episódios finais. The Walking Dead continua sendo uma espécie de “pária” da crítica: é ao mesmo tempo uma das maiores diversões do público espectador – a audiência da série no cabo é excepcional até para padrões de TV aberta –, mas, por muitos motivos que se somam, jamais é levada a sério no cômputo geral. Mereceram recomendações também a francesa Les Revenants e a inglesa Broadchurch, ambas exibidas nos EUA e prestes a ganharem versões norte-americanas, tamanho o sucesso. E há ocasionais menções exultantes a séries virtualmente ignoradas pela audiência, como Southland (que encerrou sua trajetória elogiada como nunca antes), Enlightened (dramédia da HBO que também acabou este ano e evoluiu tremendamente desde seu primeiro episódio), Treme (sempre qualificada como outra bela produção da HBO) e Rectify (tida pela maioria como contemplativa, de tão lenta, mas extremamente bem recebida pela crítica).

House of Cards

Outros nomes ganham uma atenção um pouco diferenciada. O primeiro é House of Cards. Não dá para dizer que o drama político de Kevin Spacey empolgou o mundo inteiro só com seu bom e complicado enredo. É certo que a série foi bem recebida e assistida em maratonas, mas ela só se tornou assunto inescapável de verdade pelo fato de não ter sido lançada por qualquer canal de TV, e sim pelo serviço de aluguel de conteúdo Netflix, mostrando que o modelo convencional de TV terá concorrência seríssima nos próximos anos. Em segundo lugar, devem ser lembrados The Blacklist e Sleepy Hollow como os únicos dramas dentre os estreantes da temporada de outono a ganhar qualquer tipo de menção positiva, ainda sem empolgação. Ausentes de qualquer lista de fim de ano, comprovam como o segundo semestre foi decepcionante para a TV americana. E, por fim, Top of the Lake desfila em uma categoria mais ou menos à parte como a grande minissérie do ano. A produção neozelandesa de Jane Campion arrebatou a crítica e mostrou que Elisabeth Moss sabe fazer muito mais do que Mad Men.

Em termos de destaques negativos, deixando de lado o que foi rapidamente cancelado e esquecido, podemos começar relembrando os nomes de The Bridge, Under The Dome, The Following (renovadas para uma segunda temporada) e Low Winter Sun (cancelada). Todas traziam boas expectativas e decepcionaram com roteiros frouxos e resultados comuns. Mas sem dúvida os dois fiascos mais comentados nos fóruns e sites especializados foram a última temporada da antes badalada Dexter e a estreia incrivelmente anticlimática da produção mais aguardada de toda a temporada de outono, Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D. (um péssimo título, aliás, segundo avaliação em peso da crítica e do público). Dexter já vinha dando sinais de afundamento irreversível há anos, de modo que a derradeira temporada só confirmou o estado lamentável de uma série que teve um começo muito promissor. Em particular, o episódio final e o destino dos protagonistas foram destroçados pela crítica e pelo público. Já a estreante S.H.I.E.L.D. teve uma história meteórica. De uma ideia aparentemente caça-níqueis nascida de uma hora para a outra, ganhou uma encomenda inicial em tempo recorde e, por motivos que no máximo somente tangenciavam a série em si, gerou rapidamente um falatório absurdo. Se pararmos pra pensar, não é difícil perceber que o hype vinha embasado por muito pouco. Afinal, Joss Whedon seria apenas um nome nos créditos, sem envolvimento diário com a série; e o megassucesso Os Vingadores teria, no máximo, uma ligação temática vaga com o conteúdo a ser desenvolvido. Não deu outra: a série nunca decolou. Nem é exatamente ruim, mas demorou demais a encontrar seu foco e deixou todo mundo frustrado. A decepção do público e da crítica se mostrou suficiente para coroá-la como um dos grandes fracassos de 2013.

Orange is the new black

No meio do caminho entre dramas e comédias, Orange Is The New Black foi uma das séries do ano. Ganhou muita visibilidade não só pelas óbvias qualidades de seu roteiro esperto, personagens interessantes e elenco diversificado, mas também por seu papel na revolução da “televisão fora da televisão” – mais uma vez, obra do Netflix. A série começou focando no apuro da menina bem nascida que vai parar na cadeia, mas logo extrapolou para a história das outras presidiárias e do dia-a-dia daquele ambiente, lembrando uma variação mais divertida e envolvente da lendária OZ, da HBO.

Já no quesito das comédias mais tradicionais… Bem, se a intenção é fazer uma retrospectiva dos destaques televisivos de 2013, então só podemos começar este tópico pelo lado negativo.

É impossível não reparar como o ano em geral e a temporada de estreias de 2013 em particular foram tristes com relação às novas séries humorísticas. É comum vermos os canais abertos insistindo em empurrar programinhas genéricos e sem qualquer inspiração que todo mundo enxerga que não vão render nada, a não ser, parece, os próprios executivos que são pagos para entender de TV e insistem em aprovar a falta de qualidade. Na temporada iniciada em setembro, os desastres se contam em duas mãos, entre as produções já devidamente canceladas e aquelas que continuam a se arrastar sem agradar. São pavores como Super Fun Night, Dads, We Are Men, Mom, Sean Saves The World, Kirstie, The Millers, Welcome to The Family, 1600 Penn (que estreou ainda em dezembro de 2012 e afundou de vez no começo do ano) e as menos malhadas, mas decididamente fracas, The Crazy Ones e The Michael J. Fox Show, que só mereceram alguma atenção por conta de seus atores principais. Junto a elas, mais pontos baixos foram herdados de outros carnavais sofríveis, como Anger Management, Mike & Molly, 2 Broke Girls e a morta-viva Two And a Half Men, já apodrecida e cheirando mal há pelo menos três temporadas.

Entre as comédias novatas, somente Brooklyn Nine-Nine foi mais ou menos bem falada logo de começo, mas ainda recomendada sem entusiasmo, corroborando a péssima safra de sitcoms. Ao lado dela, nas últimas semanas veio sutilmente subindo nas preferências a também estreante Trophy Wife como uma espécie de segredo bem guardado. A conferir.

O ano em baixa também não ajudou os destaques de listas anteriores. Pra começar, 2012 já tinha ceifado representantes interessantes do gênero, como Happy Endings, Don’t Trust The B—- e a promissora Ben & Kate. Então, Louie, sempre tão bem quista, não foi exibida em 2013, assim como Curb Your Enthusiasm. Janeiro viu o último suspiro de uma das melhores comédias da década passada, a brilhante 30 Rock. E Community, sem seu criador Dan Harmon, teve uma quarta temporada ainda aplaudida, porém muito irregular, distanciando-se da genialidade já experimentada em outros anos.

Dentre as continuações, os nomes com mais peso foram Bob’s Burgers, New Girl e Parks & Recreation. Mereceram boas posições nos rankings e permaneceram firmes em sua trajetória no reino das comédias simpáticas e bem escritas, que garantem a diversão inteligente e não fazem o espectador ter a sensação de que perdeu meia-hora. E Girls, a grande falação do ano passado, ainda rendeu algum alarde, mesmo alternando entre pontos razoáveis e outros muito baixos, sem encontrar um foco narrativo. Felizmente, permaneceu longe de cair para o plano das comédias mais “comuns” da TV aberta, ostentando o experimentalismo e a ousadia do selo HBO. Talvez por isso tenha conseguido posições razoáveis nas lembranças dos comentaristas.

The Big Bang Theory

Curiosamente correndo à margem de tudo, inclusive das listas, The Big Bang Theory já vinha sendo louvada com muita consistência pelos melhores críticos nos últimos anos, e 2013 não foi diferente. A comédia continua amealhando altíssimos índices de audiência em plena sétima temporada, mas, raridade no gênero, conquistou o respeito da crítica especializada ao trazer personagens que de certa forma evoluem e ao mostrar enorme competência em explorar um terreno ultrarrepetitivo que ainda consegue revelar detalhes, introduzir gente nova e desenvolver arcos interessantes.

Enquanto isso, Veep, da HBO, é constantemente lembrada como algo a ser degustado pelos mais exigentes. Modern Family continua sendo injustamente muito premiada e com zero menções entre as melhores. E é importante não esquecer da pequena notável The Middle, uma ótima opção de comédia familiar que não rompe barreiras, não entra para a história e jamais alcança as listas de fim de ano, mas foi lembrada e elogiada por alguns bons críticos ao longo do ano por seu texto sempre despretensioso e pelas excelentes atuações, especialmente dos filhos da família Heck.

Assim foi 2013. Dezenas de outras séries nem foram mencionadas aqui ou na preferência dos bons críticos. Se não se sobressaíram, é certo que algumas também não fizeram tão feio assim. Oscilam entre o recomendável e o estranho. E uma retrospectiva é tão objetiva quanto possível, mas é claro que tantos outros títulos podem merecer considerações diferentes, como os novelões exagerados (Scandal, Revenge), o humor mais corrosivo (Sunny in Philadelphia, Archer), as animações com um toque mais ingênuo (Adventure Time), a ação sanguinolenta (Spartacus) ou um grande drama de época (Downton Abbey – abaixo). Mesmo tendo sido um ano irregular, ainda não foi desta vez que faltou variedade para o espectador.

Downton Abbey

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Os destaques do ano, na TV e no Cinema

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

2013

Esse foi um dos anos em que menos freqüentei as salas de cinema, por motivos diversos. Por outro lado, e talvez por causa disso, foi também o ano em que mais assisti a séries de TV. Assim sendo, essa lista com os destaques positivos e negativos do ano, tanto no Cinema quanto na TV, terá mais exemplos vindos da segunda do que do primeiro.

Thor 2Em 2013, vimos mais um round da eterna briga Marvel/Warner DC no cinema. Enquanto que em 2012 a briga se mostrou equilibrada, com a Marvel se destacando com Os Vingadores e a Warner com seu Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, esse ano a coisa pendeu mais para a casa de Stan Lee, não só pelo número quanto pela qualidade do que se viu nas telas. Enquanto a Marvel nos apresentou três produções – Homem de Ferro 3, Thor: O Mundo Sombrio e Wolverine: Imortal (ainda que essa seja uma produção Fox) – a Warner/DC trouxe apenas o segundo reboot da franquia Superman com O Homem de Aço. Homem de Ferro 3 e Thor cumpriram bem o papel que lhes fora reservado no sentido de manter o interesse ao redor do universo coeso que a Marvel pretende criar no Cinema; Wolverine Imortal, apesar de ser um esforço decente e que apaga um pouco a péssima imagem de seu predecessor, ainda está longe de transpor o personagem dos quadrinhos para a tela grande. Vale mais pela cena escondida do que pelo filme em si. Finalmente, a Warner/DC erra novamente em seus esforços cinematográficos e O Homem de Aço, apesar de ser um bom filme de ficção e aventura, falha em mostrar o Superman ao qual os fãs se acostumaram no cinema.

Outros destaques positivos do ano ficam para a segunda parte de Jogos Vorazes, apesar de que a primeira parte do filme parece bastante arrastada; O Hobbit: A Desolação de Smaug, que também sofre um pouco com a questão de ritmo em alguns momentos; Além da Escuridão – Star Trek; e o bobinho, mas bastante divertido, Círculo de Fogo. Por outro lado, o badalado (pelo menos por aqui, por ter dois brasileiros em seu elenco) Elysium, Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer e Guerra Mundial Z são filmes que, ao meu ver, ficaram abaixo da expectativa e se encaixam na categoria “eu não pagaria para vê-los de novo”. Todos têm seus méritos, mas não superam suas falhas.

Vikings

Quando o assunto é TV, preciso dividir meus destaques em duas categorias: de um lado, temos aquelas séries cuja primeira temporada foi veiculada esse ano; e temos aquelas que têm algum tempo de estrada e continuam merecendo menção (até porque só descobri algumas delas em 2013). Das séries que começaram a ser produzidas esse ano, merece destaque Vikings, do History Channel, que apesar de ser bastante fictícia usa resultados de pesquisas arqueológicas e históricas para jogar um pouco de luz sobre o modo de vida das pessoas daquela época. Hannibal, que mostra a vida de Hannibal “o Canibal” Lecter antes de sua primeira aparição no Cinema, também é um esforço interessante a ponto de superar minha cisma com esse tipo de produção, as prequels.

Outro ponto positivo vai para The Following, com Kevin Bacon e James Purefoy, cuja premissa é bastante interessante. O mesmo vale para versão americana de The Bridge, cujo destaque é a atuação convincente de Diane Kruger. Atravessando o oceano, a série The Fall, com seus cinco episódios, também merece menção principalmente pela performance de Gillian Anderson, a eterna Dana Scully de Arquivo X. Por outro lado, séries como Crossing Lines e Dracula ficaram abaixo da expectativa. A primeira por ser apenas mais do mesmo, enquanto a segunda poderia se aproveitar mais da censura mais alta e do protagonista carismático. Finalmente, há aquelas séries que não se destacam nem positiva nem negativamente, valem mais pela curiosidade do que por sua excelência. Nesse quesito, vale mencionar Under the Dome e Agents of S.H.I.E.L.D.

SpartacusCom relação a séries cujas novas temporadas estrearam em 2013, não há muito do que reclamar. Spartacus: War of the Damned deu um fim bem digno à série, sendo o último episódio, Victory, um dos melhores; Luther, com o grande Idris Elba, foi outra série que encerrou seu ciclo na TV, depois de apenas 4 temporadas e um total de 14 episódios, de forma bastante satisfatória;  The Walking Dead, depois de alguns trancos e barrancos na segunda metade de sua terceira temporada, começou devagar na quarta, mas engrenou e teve três belos episódios fechando os primeiros oito; Whitechapel, outra série britânica de detetives, se mostrou a grande surpresa do ano, e aguardo sua quinta temporada com uma certa ansiedade.

O grande destaque do ano, no entanto, não poderia ser outro e vai, novamente, para Game of Thrones. Impressiona como a HBO consegue manter o nível da série lá em cima e, mesmo com a concorrência da aclamada recém-findada Breaking Bad (que seria um dos destaques do ano, mas, como não a acompanhei, prefiro me abster), teve o nono episódio de sua terceira temporada, The Rains of Castamere, como o episódio de série televisiva que mais repercutiu na Internet.

Game of Thrones continua sendo o recorde de buscas na rede

Game of Thrones continua sendo o recorde de buscas na rede

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Surpresas e decepções de 2013

por Marcelo Seabra

2013

Para começar as tradicionais listas de fim de ano, publico a seguir meu top 5 para surpresas e decepções do ano que passou. Claro que, para um filme ser uma surpresa ou uma decepção, há a questão da expectativa envolvida. Portanto, não se trata dos melhores ou piores filmes do ano, mas daqueles que conseguiram agradar mesmo não sendo ansiosamente aguardados, e daqueles que jogaram na lama as esperanças de alguns.

O texto abaixo, publicado originalmente em duas partes, foi escrito para o site Cinema de Buteco, em uma das ótimas parcerias do Pipoqueiro em 2013, e pode ser visto aqui e aqui.

Surpresas de 2013

Beasts

Entre os filmes assistidos em 2013, o primeiro a ser considerado uma surpresa foi Indomável Sonhadora (Beasts of Southern Wild, 2012), e não digo isso pelo orçamento pequeno. Filmes sobre menininhas com histórias de superação costumam ser um porre, mas esse superou o lugar comum e conseguiu ser poético e emocionante. O elenco, mesmo sem experiência no trabalho, consegue ser forte e a pequena Quvenzhané Wallis emplacou até uma indicação ao Oscar, uma das quatro do filme.

Com a moda de historinhas para adolescentes em voga, já que todos queriam ocupar a vaga deixada por Crepúsculo, era de se esperar que Meu Namorado É um Zumbi (Warm Bodies, 2013) fosse ser apenas uma bobagem. Com muito bom humor, ele mistura clichês de comédias românticas com zumbis, e a mistura dá uma boa metáfora sobre a vida em sociedade, além de ser mais um longa a mostrar como é difícil passar pela adolescência. Ainda mais estando morto! E apaixonado!

Como não sou nem um pouco fã do Evil Dead – A Morte do Demônio original (de 1981), não esperava nada dessa refilmagem lançada em abril. O uruguaio Fede Alvarez conseguiu usar a premissa do original e teve carta branca para fazer alterações, que deram mais sentido à ação dos personagens. Dando o rumo que achou melhor, o diretor e roteirista conseguiu fazer um trabalho divertido e, na medida do possível, inovador.

The Conjuring

Ainda no gênero terror, James Wan é outro que conseguiu surpreender positivamente com seu Invocação do Mal (The Conjuring, 2013). Com uma história supostamente real, baseada nos casos do casal Warren, Wan levou a ação para um casarão antigo, onde uma família começou a ser assombrada por espíritos, e utiliza muito bem o espaço. Vultos, contrastes de claro e escuro, movimentos suspeitos e a sugestão do que está lá (ao invés de escancarar tudo) fazem a tensão crescer e a aceitação do público aumentar.

Outro gênero que dificilmente empolga é o dos filmes sobre esportes, ainda mais um elitista e aborrecido como Fórmula Um. No entanto, a rivalidade entre o inglês James Hunt e o austríaco Niki Lauda recebeu um tratamento muito feliz do diretor Ron Howard, que foi muito criativo na abordagem e nos enquadramentos e colocou o público dentro das pistas. Rush – No Limite da Emoção (2013) é uma cinebiografia que não precisa exagerar nos fatos ou mentir para empolgar, com um roteiro enxuto e objetivo do competente Peter Morgan.

Decepções de 2013

Man of Steel

Sendo o critério o de filme mais decepcionante do primeiro semestre, precisamos levar em consideração aqueles que não cumpriram a grande expectativa que criaram no público. E nenhum filme este ano criou mais antecipação que O Homem de Aço (Man of Steel, 2013), que acabou não correspondendo. A necessidade de se recontar a mesma história que todos conhecem como se fosse algo recém criado faz com que roteiristas e diretores inventem muita moda a acabem descaracterizando personagem. Não se trata de desrespeitar os fãs, mas o próprio herói, construído ao longo de décadas por diversos quadrinistas e destruído em pouco mais de duas horas.

Outros dois filmes que, mesmo não sendo ruins, decepcionaram por desperdiçarem ótimos elencos foram Caça aos Gângsteres (Gangster Squad, 2013) e Sem Proteção (The Company You Keep, 2012). Além de atores fantásticos, Caça ainda conta com um tema muito interessante, que na mão de um escritor habilidoso (como James Ellroy e Brian Helgeland já provaram), teria dado um resultado infinitas vezes melhor, mesmo com o estilo exagerado do diretor Ruben Fleischer. E Sem Proteção envolve dezenas de personagens, todos defendidos com paixão por seus intérpretes, para não chegar em lugar algum.

Stand Up Guys

Outra dupla com elenco excelente que não conseguiu alçar um voo maior foi Amigos Inseparáveis (Stand Up Guys, 2012 – acima) e Última Viagem a Las Vegas (Last Vegas, 2013 – abaixo), ambos com atores veteranos extremamente competentes vitimados por roteiros rasteiros. Enquanto o primeiro conta com Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin nos papéis principais, o segundo chega ao absurdo de reunir Michael Douglas, Robert De Niro, Morgan Freeman e Kevin Kline, todos em reencontros saudosos que rendem algumas piadas com idade e é só. Grandes talentos desperdiçados para arrancar alguns reais do público, que certamente esperava mais de seus velhos ídolos.

Menção desonrosa para Lincoln (2012) e Hitchcock (2012), duas cinebiografias de figuras muito interessantes que, mesmo com atores excepcionais, preferiram ficar no lado menos relevante: o ufanismo e a fofoca, respectivamente.

Fazer isso com esses caras é um pecado

Fazer isso com esses caras é um pecado

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Livro de ficção científica ganha adaptação genérica

por Marcelo Seabra

Ender's Game

Uma franquia da literatura que chega aos cinemas tem à sua volta a promessa de render mais filmes. E já fica aquela sensação de que o final será aberto, deixando pontas óbvias para as sequências. É exatamente o que acontece com Ender’s Game – O Jogo do Exterminador (2013), história sobre a gênese de um suposto herói que pode se arrastar por vários episódios, dependendo da bilheteria deste primeiro. Sorte que o retorno não tem sido interessante, nem foi suficiente ainda para bancar seus 110 milhões de dólares de orçamento.

Lembrado, o que é motivo para vergonha, por X-Men Origens: Wolverine (2009), o diretor e roteirista Gavin Hood é o responsável pela adaptação do livro que Orson Scott Card lançou em 1985. O resultado não fica muito longe do alcançado pela aventura solo do mutante. Diálogos expositivos e óbvios, ações inexplicáveis e personagens aborrecidos farão o público desejar ter revisto algum bom filme de ficção científica ao invés de perder tempo com este. As referências que vêem à cabeça durante a projeção são muitas, e todas superiores, começando por Star Wars e Star Trek.

Dois anos depois do sucesso de A Invenção de Hugo Cabret, o garoto Asa Butterfield volta a encarar a tarefa de viver um protagonista. Ele é Ender Wiggin (nome sacaneado pelos próprios colegas), o terceiro filho de uma família cujos dois mais velhos já foram reprovados para aquela que parece ser a função para a qual todos nascem: ser piloto da frota espacial e ajudar a Terra num possível novo ataque de uma raça alienígena que já matou milhões. Desde o primeiro contato com o menino, o Coronel Graff (Harrison Ford) vê nele algo espetacular e aposta suas fichas que será ele a salvar todos nós. Por algum motivo.

Ender's Game scene

Ender passa por vários testes e acompanhamos a formação desse grande enviado divino, algo como os Skywalkers ou Neo, de The Matrix (1999). Em momento algum a fé cega de Graff é justificada, já que os grandes momentos de brilhantismo de Ender só são interpretados dessa forma por quem está do lado de lá da tela. Para quem assiste, são apenas conclusões pensadas por um menino que joga muito videogame. Se você coloca uma verdade na cabeça, qualquer fato externo pode servir para corroborá-la, basta interpretar de maneira conveniente. É o que Graff parece fazer, e ficamos constrangidos por ver um astro do quilate de Ford passando por esta situação.

Ender's Game KingsleyIndicada ao Oscar por Bravura Indômita (True Grit, 2010), Hailee Steifeld fica relegada à função de interesse amoroso mal resolvido de um menino mirrado que parece ser bem mais jovem, além de mais inexperiente que ela naquele mundo. Com Abigail Breslin, a adorável Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006), e com Viola Davis (de Histórias Cruzadas, 2011) acontece a mesma coisa. Sir Ben Kingsley, no mesmo ano do malhado Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, 2013 – ao lado), foi mais longe, com temas maoris tatuados no rosto para lembrar suas origens e, como seus antepassados, poder se comunicar com os mortos. Uma característica ridícula que pretendia conferir profundidade ao personagem e acaba não servindo para nada.

Os cenários de Ender’s Game são basicamente as salas dentro de estações espaciais, com poucas exceções. Ao contrário da riqueza de Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013), é tudo muito limpo, chato, refletindo a falta de criatividade geral da produção – outro exemplo é a trilha sonora genérica e didática de Steve Jablonsky, que faz o mesmo na franquia dos Transformers. Se você não souber o que esperar ou pensar em algum momento, não se preocupe: a trilha vai te indicar exatamente o que virá. Mas isso não deve acontecer, interpretações não são necessárias. Boas ficções científicas costumam fazer o público refletir sobre várias questões, o que não é o caso aqui.

Ender's Game

O diretor apresenta seu elenco principal

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Gordon-Levitt faz uma boa estreia com Don Jon

por Marcelo Seabra

Don Jon banner

À primeira vista, Jon Martello é um babaca. À segunda, talvez ainda permaneça um babaca. Ele se diz dedicado à família, mas só briga com eles. Parece levar o catolicismo muito a sério, mas paga sua penitência malhando. E não demora a repetir os mesmos pecados: sexo fora do casamento, com mulheres lindas que ele logo dispensa, e masturbação frenética com material pornográfico online. Don Jon, como os amigos o chamam, em referência à habilidade de ficar com as mulheres mais espetaculares, só se importa com o carro, o apartamento e o próprio corpo. Nada mais faz diferença.

É interessante que Joseph Gordon-Levitt, astro de blockbusters como Loopers (2012) e A Origem (Inception, 2010) e de sucessos independentes como (500) Dias com Ela ((500) Days of Summer, 2009), tenha escolhido para si um papel tão moralmente questionável, apostando em seu carisma para buscar alguma identificação do público. Mais desafiador ainda que esta seja a estréia do ator no papel duplo de diretor e roteirista, somando ainda a tarefa de atuar na produção. Mesmo sendo marinheiro de primeira viagem, ele demonstra sensibilidade e honestidade no roteiro, criando personagens críveis e multidimensionais, além de ser um diretor talentoso. Os planos gerais da cidade, os enquadramentos, as passagens, o uso da trilha sonora, é tudo muito adequado. Pode não ser o mais criativo e original, mas está no caminho certo.

Don Jon scene

O inacreditável título nacional Como Não Perder Essa Mulher esconde o original, o apropriado Don Jon (2013), apelido do personagem que é facilmente identificável com o famoso Don Juan. Mesmo tendo um emprego pouco valorizado e pouco remunerado, Jon é o terror entre as mulheres. Ele e os amigos gostam de dar notas para elas de acordo com os atributos físicos, e ele só vai à caça das que recebem de oito para mais. É nesse grupo que se encontra Barbara, personagem de Scarlett Johansson (a Viúva Negra dos Vingadores, 2012), tão linda que chama a atenção por onde passa. Mas essa garota não será tão fácil de conquistar.

Em meio a tantas comédias românticas sem sal, que inclusive são alvo de críticas no filme, Don Jon é uma opção inteligente e quase fora do gênero, já que o tom não é bem o usual. Esse tipo de produção chega a ser colocado pelo protagonista como o correspondente das mulheres aos filmes pornográficos, que seriam a preferência de todo homem – na opinião dele. Para Jon, pornografia é de fato um vício, e algo que cria em sua cabeça padrões impossíveis de se atingir no mundo real. Ele prefere assistir a um clipe de sexo no computador a praticar com uma parceira, por mais escultural que seja. Nenhuma mulher parece ser tão perfeita, nos sentidos de glamour e satisfação causada, quanto uma atriz pornô. O personagem lembra o Brandon de Michael Fassbender em Shame (2011), mas mais bem humorado e mais otimista. E a produção pega leve na nudez, abusando apenas das cenas que Jon compartilha com o público das obras que ele tanto gosta.

O mais interessante em Don Jon é o rumo que toma o relacionamento dos protagonistas. Não vale entrar em detalhes e estragar a experiência do público, fica apenas essa observação. As coisas podem não ser o que parecem, principalmente para quem está assistindo de fora, caso dos pais de Jon (o sumido Tony Danza e Glenne Headly). E, quando entra em cena uma nova personagem, vivida por Julianne Moore (do novo Carrie – A Estranha, 2013), o longa só tem a ganhar. Como já estamos na reta final do ano, não é imprudente afirmar que se trata de um dos melhores lançamentos de 2013.

O elenco principal lança o filme em Nova York

O elenco principal lança o filme em Nova York

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Segundo Hobbit adiciona tons mais sombrios

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Desolation of Smaug Poster

Se os fãs mais puristas de J.R.R.Tolkien já torceram o nariz quando o primeiro filme da nova trilogia baseada no universo de O Senhor dos Anéis chegou às telas devido ao fato dos roteiristas da obra, Peter Jackson, Fran Walsh e Philippa Boyens (com uma ajudinha de Guillermo del Toro) terem tomado muitas liberdades em relação ao material original – cuja adaptação caberia tranquilamente em um único longa – a notícia é ruim: em O Hobbit: A Desolação de Smaug (The Hobbit: The Desolation of Smaug, 2013), o quarteto foi muito mais longe nessa liberdade criativa, a ponto de haver pouquíssimos trechos nos quais se reconhece o material original na tela. A boa notícia, no entanto, é que o público em geral – e aqueles que entendem que adaptar não significa transpor literalmente – vai se divertir com o longa.

A exemplo do que acontece em O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (The Lord of the Rings: The Two Towers, 2002), A Desolação de Smaug não começa exatamente onde termina Uma Jornada Inesperada (An Unexpected Journey, 2012). Ao fim do primeiro longa, deixamos Bilbo (Martin Freeman), Gandalf (Ian McKellen) e os treze anões no topo de uma montanha, se recuperando do último confronto com o orc Azog (Manu Bennett) e visualizando a Montanha Solitária, seu destino final. O novo começa mostrando um flashback com eventos anteriores ao primeiro longa, que adicionam certa carga de informação – ainda que não vital – à história. Apenas depois desse trecho é que o filme começa “de verdade”, o foco retorna ao grupo de aventureiros fugindo e se escondendo de seus perseguidores.

A partir daí, a trama segue mais ou menos o mesmo esquema do filme anterior. Bilbo e os demais precisam continuar seu caminho em direção à Montanha Solitária, onde Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage) objetiva recuperar a Pedra Arken, jóia que lhe garante o título de Rei Sob a Montanha e trará de volta a glória perdida de seu povo. Para isso, ele e seu grupo precisam atravessar diversos obstáculos, incluindo aí enfrentar e matar Smaug (voz de Benedict Cumberbatch, de Além da Escuridão, 2013), o dragão responsável pela queda da montanha.

Desolation of Smaug elves

Uma das grandes diferenças de A Desolação de Smaug para Uma Jornada Inesperada é que, apesar de manter o tom divertido e as sequências bem boladas – a fuga dos anões da prisão dos elfos é bem engraçada – a história como um todo dá um passo atrás no humor e adquire um tom mais sombrio. Os anões deixam de fazer piadas o tempo todo e parecem mais focados em sua missão. Pode ter colaborado com isso o fato de roteiristas e diretor resolverem mudar um pouco o foco da história, na medida em que ela é expandida e novos personagens são introduzidos. Logo no primeiro ato do filme, quando o grupo de anões adentra a floresta sombria, são alertados de que aquela região é dominada por elfos menos inteligentes e abnegados do que aqueles pertencentes à casa de Elrond. Isso se prova verdadeiro quando Thorin confronta o rei Thranduil (Lee Pace, de Lincoln, 2012) e a busca dos anões acaba fazendo dois aliados entre esse povo: o príncipe Legolas (novamente Orlando Bloom) e a chefe da guarda, Tauriel (Evangeline Lilly, a eterna Kate de Lost). Tauriel, inclusive, é a personagem que mais deve trazer a fúria dos puristas, já que é uma criação original de Jackson & cia para a trilogia. Paralelamente, vemos ainda a busca de Gandalf pela verdade por trás do mal que começa a surgir na Terra Média e seu confronto com o Necromante (também dublado por Cumberbatch), cuja identidade logo é revelada; finalmente, há a introdução de Bard (Luke Evans, de O Corvo, 2012) barqueiro que ajuda o grupo em parte de sua jornada e que terá papel fundamental para a conclusão da trama, caso os envolvidos se atenham ao material original.

Apesar do número de tramas paralelas – há ainda outras, menores – alguns trechos parecem um pouco arrastados. Isso acontece muito brevemente e quase não é sentido, mas talvez a subtração de uns 5 a 10 minutos do longa pudessem tornar certos trechos mais ágeis. Outro porém, mas esse vai mais para olhos bem treinados, é que, apesar de todo o esmero e qualidade que a Weta Workshop coloca na montagem dos cenários e na construção digital de personagens, em pelo menos duas cenas houve falhas de movimentação que deixaram claro que aquilo que víamos era um construto digital, não um ator de verdade. A Desolação de Smaug é uma boa continuação e cumpre o papel de deixar o público ansioso para ver como terminará a viagem de Bilbo e os treze anões. Mesmo com algumas falhas, é um filme bastante divertido, mesmo no 2D convencional.

O pequeno Bilbo continua tendo papel de destaque

O pequeno Bilbo continua tendo papel de destaque

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Van Sant e Damon vão à Terra Prometida

por Marcelo Seabra

Promised Land

Pode um filme ser açucarado, previsível e, ao mesmo tempo, bom? Frank Capra, há décadas atrás, provou que sim, e Gus Van Sant tenta seguir nesse mesmo caminho com Terra Prometida (Promised Land, 2012). Sorte do diretor poder contar com um ator do naipe de Matt Damon, que segura as pontas com um personagem que já nasce vilão, mas é simpático o suficiente para cativar o público, que se vê torcendo contra os pobres cidadãos de uma cidadezinha da Pensilvânia. Claro que as coisas mudam, valores são reavaliados e tudo pode dar certo no final, como antevemos nos primeiros dez minutos.

Damon, que reafirmou seu talento recentemente em Minha Vida com Liberace (Behind the Candelabra, 2013), vive Steve Butler, um executivo de uma grande empresa exploradora de gás natural que vive de cidade em cidade, mostrando para os habitantes as vantagens de permitirem a extração em seus terrenos. Com toda a convicção, ele afirma que não há riscos, apenas benefícios. Com sua parceira, Sue (Frances McDormand, de Moonrise Kingdom, 2012), ele faz ofertas ridiculamente pequenas e proporciona um grande lucro para a empresa, o que o faz crescer rapidamente. Ninguém melhor do que um jovem criado em uma cidadezinha para se comunicar com pessoas como aquelas.

Promised Land

O problema de Steve começa quando chega na mesma cidade uma “presença ambiental”, como eles chamam os ativistas que tentam dificultar o trabalho deles. Dustin Noble (John Krasinski, de The Office) traz fatos aparentemente incontestáveis, com fotos de gado morto e água contaminada, tudo causado pelo gás. “Não sou uma pessoa ruim”, não se cansa de reafirmar Steve, e nos vemos no meio da disputa desses dois sujeitos carismáticos. E, claro, tinha que aparecer um interesse romântico, vivido por Rosemarie DeWitt (de Vizinhos Imediatos de Terceiro Grau, 2012, acima), bem forçado e conveniente. Completa o quadro o veterano Hal Holbrook (de Lincoln, 2012), como um professor que fará os vizinhos pensarem a respeito antes de aceitarem dinheiro.

Partindo de uma história jornalística de Dave Eggers, Damon e Krasinski se uniram para escrever Terra Prometida, e Damon iria fazer sua estreia na direção. Acabou chamando o amigo Gus Van Sant, com quem trabalhou em Gênio Indomável (Good Will Hunting, 1997), por falta de tempo para desenvolver o projeto, e entregou a direção. Não é um trabalho que possa ser chamado de autoral, ou pessoal, já que muitos teriam feito o mesmo. Van Sant assume um ritmo lento e deleita-se pelas paisagens bucólicas do campo americano. O próprio roteiro, como se pode perceber pelas linhas anteriores, não é uma beleza, seguindo sempre por um caminho seguro.

O assunto tratado em Terra Prometida é relevante e tem sido discutido. O processo chamado fraturação hidráulica (ou “fracking”, em inglês) traz resultados, mas tem consequências imprevisíveis. Trata-se de perfurar um solo onde há reservas de gás presas em rochas, e produtos químicos são injetados para permitir a extração desse gás. É considerado por muitos como um projeto gerível, ou seja, um risco calculado. Os danos causados não são certos e são considerados pequenos, quando existem, perto do retorno. Corporações ligadas ao negócio reclamaram que o filme reforçaria uma visão negativa sobre a atividade, e é bem capaz que essa fosse uma das intenções dos realizadores. Afinal, capitalistas selvagens dificilmente são mostrados de forma atenuada no Cinema, e mesmo o Steve de Damon tem o seu lado obviamente ambicioso. Ás vezes, rende mais olhar para o outro lado do que ter princípios.

Damon ouve Holbrook, a voz da experiência

Damon ouve Holbrook, a voz da experiência

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Flash é o astro da nova animação da DC

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Flashpoint Paradox

Lançado nos Estados Unidos diretamente para o mercado do home video em 30 de julho, Liga da Justiça: Ponto de Ignição (Justice League: Flashpoint Paradox, 2013) é a nova animação da Warner Bros./DC Comics a levar para as telinhas uma adaptação de uma minissérie da editora, a exemplo do recentemente lançado Batman: O Cavaleiro das Trevas e, ao que tudo indica, inaugura uma nova iniciativa da Warner nesse mercado. Como o próprio título dá a entender, Ponto de Ignição é estrelada pela Liga da Justiça, ainda que o principal protagonista da trama seja o “Homem mais rápido do mundo”. A base é uma série homônima que no Brasil saiu no começo de 2012, em cinco edições mensais e três especiais, sob o mesmo nome de Ponto de Ignição.

A história começa com um menino pedindo a ajuda de um carro que passa em uma estrada, pois o veículo no qual ele viajava com sua mãe teve algum tipo de pane e parou de funcionar. Logo ficamos sabendo que esse menino é Barry Allen, o homem que, quando adulto, sofrerá um bizarro acidente que lhe concederá a capacidade de acessar a “Força da Velocidade” (nem pergunta) e se tornará a pessoa mais rápida do mundo. Após aprender uma valiosa lição com sua mãe, vemos Barry alguns dias após indo pra casa após a aula, feliz da vida…. Apenas para encontrar a mãe morta no chão da sala vítima de um latrocínio justamente no dia de seu aniversário. A história avança mais um pouco e vemos o já adulto Barry Allen visitando o túmulo da mãe, quando recebe a notícia de que a chamada “Galeria de Vilões” do Flash está atacando o museu do velocista em Gotham.

Flashpoint Paradox

Ao chegar ao museu, o Flash se depara com alguns de seus vilões clássicos: Onda Térmica, Capitão Bumerangue, Capitão Frio, o Pião e o Mestre dos Espelhos, liderados pelo Professor Zoom (também conhecido como o Flash Reverso). Flash acaba derrotado e o Professor Zoom revela que seu plano inclui destruir dez quarteirões da cidade, a partir do Museu do Flash, para que o legado do velocista seja para sempre manchado. Infelizmente para ele, Zoom não contava com o fato de Flash ter acionado a Liga da Justiça (aqui composta por Batman, Superman, Aquaman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde e Cyborg) antes de partir para o museu, de forma que o grupo não demora muito para debelar aquela ameaça. O diálogo travado entre Flash e o Professor Zoom durante o confronto, no entanto, terá efeitos de maior duração sobre o herói.

A história avança novamente e vemos Barry Allen acordando no que seria sua mesa no prédio onde trabalha, até descobrir que a realidade onde ele se encontra não tem muito em comum com aquela à qual ele está familiarizado. De repente, o mundo está à beira de uma catástrofe graças a uma guerra entre a Atlântida – liderada pelo rei Aquaman – e a Temiscira da impiedosa princesa Diana; Cyborg é um agente do governo, o homem por trás da máscara de Batman não é Bruce Wayne; Superman nunca fez uma aparição pública; sua mãe está viva e Barry nunca sofreu o acidente que lhe concedeu os poderes que o transformariam no Flash. Cabe a ele arregimentar aliados para descobrir o que está acontecendo, como acabar com a guerra e como voltar à sua própria realidade.

Liga da Justiça Ponto De IgniçãoUm dos méritos de Liga da Justiça: Ponto de Ignição é o fato de seus roteiristas terem filtrado bastante diversos detalhes da minissérie original que apenas confundiriam os espectadores da animação, já que eles têm muita relação com a cronologia da editora até então. Outro ponto positivo é o fato de a animação não se conter e mostrar bastante da violência que se espera de uma guerra (tem mais sangue aqui do que em Wolverine: Imortal, por exemplo). Por outro lado, o traço do desenho em si é algo que destoa. Alguns personagens parecem desproporcionais e no geral isso é desagradável. Não tira, no entanto, os méritos da animação, que mantém o alto nível já tradicional das animações que a WB/DC continuamente lançam para o mercado do home video.

O longa tem a missão – a princípio – de inaugurar uma nova fase das animações da empresa. Até o momento, as adaptações da DC eram interdependentes. Com Liga da Justiça: Ponto de Ignição, a idéia inicial é que elas passem a ter uma interligação, assim como acontece nos quadrinhos. Prova disso é que aos finais dos créditos da animação há uma pequena cena escondida que traz um teaser de Justice League: War, animação que deve sair nos próximos meses e adapta o primeiro arco do novo gibi da Liga da Justiça, mostrando a formação do grupo e seu primeiro confronto com Darkside.

Este é o elenco da animação

Este é o elenco da animação na realidade paralela

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Veteranos fazem uma Última Viagem a Vegas

por Marcelo Seabra

Last Vegas

Reunir cinco atores vencedores de Oscars num mesmo filme não deixa de ser curioso por si só. Última Viagem a Vegas (Last Vegas, 2013) é uma espécie de Se Beber Não Case na terceira idade, com quatro veteranos afiados que resolvem fazer uma despedida de solteiro para um deles e vão parar em Las Vegas, cidade famosa pela diversão que proporciona para maiores de idade. O roteiro não traz nada de mais, nenhum risco é corrido. Basta encostar e ver os caras trabalharem.

Michael Douglas (Oscar de melhor ator por Wall Street, 1987) vive Billy, o solteirão convicto que resolve se casar com a bela namorada de trinta e poucos anos. Os outros três amigos de infância se juntam a ele numa viagem para Vegas, e são ninguém menos que Robert De Niro (melhor coadjuvante por O Poderoso Chefão II, 1974, e principal por Touro Indomável, 1980), Morgan Freeman (melhor coadjuvante por Menina de Ouro, 2004) e Kevin Kline (melhor coadjuvante em Um Peixe Chamado Wanda, 1988). Na “cidade do pecado”, eles conhecem uma cantora (Mary Steenburgen, melhor atriz coadjuvante por Melvin and Howard, 1980) que vai causar ainda mais atrito entre dois deles.

Last Vegas scene

Cada um dos quatro tem uma história rapidamente estabelecida que vem à tona quando é conveniente. Piadas sobre a idade deles não faltam, e fica aquela lição de não desistir nunca da vida, é possível aproveitá-la mesmo estando mais velho. O talento dos intérpretes entra exatamente aí, nas pequenas brechas que o roteiro fraco de Dan Fogelman (de Amor a Toda Prova, 2011) dá. Douglas e De Niro parecem fazer exatamente o que fazem fora das telas, os personagens abusam da persona que eles mantêm. E o segredo óbvio entre os dois vai aparecer na hora certa, conforme esperado. Freeman e Kline são mais debilitados fisicamente, mas só quando eles precisam ser. No resto do tempo, são todos como jovens se divertindo, mesmo estando perto (antes ou depois) dos 70.

Quem mais aparece no filme, no entanto, é Mary Steeburgen, uma bela mulher em seus 60 anos que chama a atenção dos amigos cantando no bar de um hotel. Volta e meia um deles a traz à cena e ela tem a oportunidade de mostrar seu talento nos melhores diálogos do filme, construindo uma personagem forte e espirituosa. Os demais nomes do elenco (nenhum muito memorável) apenas cumprem tabela, e há até uma pequena participação do rapper 50 Cent. O diretor Jon Turteltaub não é dos mais expressivos, assinando trabalhos bobinhos como os dois A Lenda do Tesouro Perdido (2004 e 2007) e O Aprendiz de Feiticeiro (2010), e mais uma vez sua marca não aparece – se é que ele tem uma marca.

Comédia que não causa risos, Última Viagem a Vegas vale apenas pela oportunidade de ver os cinco grandes nomes juntos. Assim como em Amigos Inseparáveis (Stand Up Guys, 2013), que reuniu este ano Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin, ficamos com a sensação de desperdício, já que há tanta experiência, carisma e talento reunido para um resultado tão pífio.

Last Vegas cast

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