G.I. Joe 2 leva estupidez a um novo grau

por Marcelo Seabra

GI Joe RetaliationEm 2009, os G.I. Joes chegaram ao cinema com A Origem de Cobra (The Rise of Cobra). Agora, é a hora da vingança com G.I. Joe: Retaliação (G.I. Joe: Retaliation, 2013). Com tanto tempo em pós-produção, parecia que tinha algo errado, ficavam tentando remontar e salvar o filme. Mas uma coisa ficou clara: não daria para salvar aquilo nem com reza brava. A premissa era interessante, apesar de nada original, e os 15 ou 20 primeiros minutos se sustentam. A partir daí, a queda é vertiginosa e a revolta que começa é do tipo de te fazer pedir o dinheiro de volta. E não estranhe risadas involuntárias ao redor.

O primeiro longa dos Joes tem seus bons momentos, apesar de também não valer os minutos investidos em uma sessão. Mas o segundo vai muito mais longe no quesito estupidez. Dizer que crianças vão gostar é tratá-las com total desprezo, e já imagino alguns usando essa desculpa. Outro absurdo que ouvimos é o tal de “às vezes eu só quero desligar e ver algo assim”. Filmes de ação podem ser inteligentes, como prova Jason Bourne, ou podem ficar no básico, como um Esquadrão Classe A (The A-Team, 2010), que consegue ser despretensioso e divertido. Mas nunca devem ser estúpidos, ou tratar assim os seus espectadores.

Um sujeito dirige Ela Danço, Eu Danço 2 e 3 (2008 e 2010), sequências que não sabemos como conseguiram a luz verde, e segue com o documentário sobre Justin Bieber (Never Say Never, de 2011). Por algum motivo, ele parece ser a pessoa certa para fazer a continuação de um filme que custou caro e não arrecadou nem o dobro do custo. De quebra, ele pode pegar brinquedos que fazem parte da infância de muitos e jogá-los na lama, sem a menor cerimônia. Jon M. Chu é o nome a se evitar. E os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick, que criaram o engraçado Zumbilândia (Zombieland, 2009), inexplicavelmente seguem com essa afronta, que certamente será uma mancha nos currículos deles.

GI Joe Retaliation sceneO cartaz de Retaliação já deixa claro que Channing Tatum não é mais “o cara”, já que Dwayne “The Rock” Johnson e Bruce Willis aparecem à frente. Sim: os envolvidos foram burros o suficiente para tirarem importância do protagonista já estabelecido, que anda chamando a atenção geral com trabalhos como Magic Mike (2012) e Anjos da Lei (21 Jump Street, 2012), colocando as fichas em The Rock e demais coadjuvantes. Do primeiro, voltam em posição de destaque Snake Eyes (o “Darth Maul” Ray Park) e seu antagonista, o supostamente falecido Storm Shadow (Byung-hun Lee, de Eu Vi o Diabo, 2010). Sério, ele não tinha morrido? A historinha deles no templo das montanhas traz à memória o horroroso Mortal Kombat 2 (1997), de tão canhestras que são as fantasias dos ninjas. E, por mais que sejam mortos, sempre aparecem outros tantos, e as espadas usadas estão sempre limpinhas.

A trama, mais do que batida, deslancha quando os Joes são traídos (o presidente é um Cobra, lembra do outro filme?) e dizimados. Os poucos que sobram se unem para descobrir o que houve. Até aí, tudo parecia correr bem e ainda se podia manter a esperança de que a atração seria digna. É quando começa o festival de chutes, bugigangas fantásticas e inacreditavelmente ridículas, diálogos constrangedores, atuações incômodas e, claro, maletas que controlam com um botão armas de destruição em massa. Eu disse maletas, no plural, porque não é só o “presidente do mundo livre” que tem uma. E é melhor nem mencionar os outros botões das maletas. O competente Jonathan Pryce, em papel duplo, é o único que parece estar se divertindo. Bruce Willis fala oi e garante o cachê como um jogador que entra em campo aos 45 do segundo tempo para participar do bicho.

Espero que o leitor perdoe o desabafo, e o aceite como um alerta. Não sei se a pior perda, após uma sessão de G.I. Joe: Retaliação, é a do dinheiro do ingresso, do tempo investido ou dos neurônios que cometeram suicídio durante. Ah, eu mencionei qual é o plano do Comandante Cobra? Quem descobrir, por favor, me conte.

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Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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