Washington aproveita bom roteiro e alça voo

por Marcelo Seabra

Flight

A interpretação certeira de Denzel Washington é o principal atrativo de O Voo (Flight, 2012), mas não é o único. O ator está muito bem, e é ainda mais privilegiado por um roteiro bem amarrado e a direção competente de Robert Zemeckis, em seu primeiro projeto sem animação desde Náufrago (Cast Away, 2000). O filme começa com ação, com uma quase catástrofe, mas segue como um drama com um rico estudo de personagem, mostrando um homem que pensa estar no controle de sua vida, e não poderia estar mais longe disso.

Flight DenzelWashington (de Protegendo o Inimigo, 2012) vive o piloto Whip Whitaker, um veterano dos ares acostumado com vôos comerciais que sempre foi muito competente, apesar de um problema grave que ele consegue esconder de todos: sua dependência de álcool e drogas. Nas primeiras cenas, já presenciamos esse abuso, enquanto Whip e uma aeromoça (Nadine Velazquez, de My Name Is Earl) se divertem com bebida e cocaína. Logo, descobrimos que eles têm um vôo para comandar dali a pouco. Whip já parece, nessas alturas, ser um sujeito arrogante, talentoso e extremamente irresponsável.

A partir do momento em que é obrigado a fazer uma manobra quase impossível e salva a vida dos passageiros e tripulantes, ele ganha uma atenção indesejada que pode acabar revelando também o que não deve. A partir daí, começamos a conhecer melhor o personagem, e Washington cresce. Era necessário um ator como ele para trazer algumas características indispensáveis a Whip, que é um líder nato, bastante autoconfiante. Mesmo percebendo algo estranho, seus colegas não ousam acusá-lo ou levantar suspeitas. Recuperando-se do susto, Whip evita a mídia e conhece, no caminho, uma viciada em recuperação (Kelly Reilly, dos dois Sherlock Holmes).

Flight KellyCom o início de uma investigação do acidente, entram em cena os personagens de Bruce Greenwood (de Star Trek, 2009) e Don Cheadle (de O Guarda, 2011), que não têm muito destaque. Os intérpretes fazem o que podem, deixando a vaga de “coadjuvante-que-rouba-a-cena” para John Goodman (de Argo, 2012), que faz o amigo e fornecedor de Whip. Melissa Leo (de O Vencedor, 2011) aparece nos finalmentes e é outra presença forte. Mas Washington, em cena, pega todo o holofote para ele e até a bela Kelly Reilly (acima) fica apagada. Não é a toa que ele foi lembrado pela Academia como um dos melhores atores do ano, além do roteirista John Gatins.

Falando do roteiro, muita gente deve sair do cinema imaginando ser tratar de uma história real, que seria baseado no livro do sujeito. A credibilidade que Gatins passa é tanta que não parece ser um roteiro original. Na verdade, muito saiu das experiências do próprio roteirista, que já completa 20 anos de sobriedade. E ele ainda misturou outro medo seu (além de uma recaída): voar. E as cenas de voo são tão realistas (não necessariamente fisicamente possíveis)! Ele era um aspirante a ator que controlava sua ansiedade e falta de sucesso com abusos químicos. Foram 12 anos escrevendo o roteiro e exorcizando o passado. Tirando uma pequena derrapada no final, valeu a pena.

Parece milagre!

Parece milagre!

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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