M3gan é a nova boneca a nos assombrar

Imagine juntar, num mesmo filme, algo parecido com Chucky, o brinquedo assassino, Christine, o carro de Stephen King, e Robocop, com uma pitada de Ultron. Com uma peruca e um vestido e temos M3gan, a boneca protagonista do filme homônimo (2023) que chega aos cinemas hoje. Se a mistura sugerida causa estranheza, o mesmo acontece com a boneca, com seus olhos enormes e profundos, e com o filme, que sustenta uma seriedade até certo ponto para virar um derivado de Sexta-Feira 13.

Obras de ficção-científica, até as ruins, costumam trazer discussões sobre temas caros à humanidade, e M3gan começa por esse caminho. Tópicos como luto, solidão, uso excessivo de telas por crianças e os limites éticos da tecnologia são alguns dos tratados, com maior ou menor ênfase, mas sem muita profundidade. A ideia é apresentar a boneca o quanto antes, já que ela é a atração aqui, e dar o palco a ela. A introdução é bem feita, sem correria, e dá uma boa base para que compremos a ideia.

A garota Cady (Violet McGraw, de Viúva Negra, 2021) fica órfã e vai morar com a tia, a engenheira de robótica Gemma (Allison Williams, da série Girls e de Corra!, 2017). Sem a menor ideia de como cuidar de uma criança, ainda mais numa situação tão delicada, e apertada de prazos no trabalho, Gemma acaba unindo o útil ao agradável e dá à sobrinha sua mais recente invenção: uma boneca que “aprende” sozinha, assimilando as informações percebidas de sua dona, com quem se conecta, e baixando da internet. O complexo nome que ela recebe é representado pela sigla M3gan.

Mais do que depressa, tem início uma bela amizade, ou assim parece. A boneca logo desenvolve um senso de proteção de Cady e se mostra manipuladora e perigosa, burlando qualquer trava que possam ter colocado nela – como as diretrizes que impediam Robocop de ferir executivos da O.C.P. As referências dos responsáveis pelo longa não param aí, sobra para clássicos como O Iluminado (The Shining, 1980) e O Exorcista (The Exorcist, 1973).

A dancinha da boneca virou moda imediatamente no TikTok, fazendo com que a expectativa pela estreia fosse às alturas. M3gan já passou dos US$ 100 milhões de arrecadação, tendo gasto US$ 12 milhões em sua realização. Isso é garantia de uma continuação, que já foi marcada para 2025 e pode ajudar a firmar a boneca como um novo ícone do terror. Ajuda ter por trás dois gigantes do Cinema de terror atual: Jason Blum e James Wan, este também responsável pela história e criador de outra boneca encapetada: Annabelle.

A estreia do longa em Los Angeles foi marcada por oito modelos vestidas como M3gan

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Babilônia é a homenagem de Chazelle a Hollywood

Com La La Land (2016), Damien Chazelle fez uma homenagem a Los Angeles e aos musicais, gênero que tanto gosta. Agora, o diretor partiu para um projeto um tanto mais ambicioso para reverenciar a Hollywood clássica, seguindo os passos de gigantes como os irmãos Coen (de Ave, César!, 2016), David Fincher (de Mank, 2020) e Quentin Tarantino (de Era Uma Vez Em… Hollywood, 2019), para ficar em exemplos recentes. Babilônia (Babylon, 2022) tem tudo em larga escala: grandes astros, muitos figurantes, cenários opulentos, uma extensa duração e um orçamento em torno de US$ 78 milhões.

Inspirando-se em figuras reais, como o ator John Gilbert, Chazelle criou seu roteiro com uma boa dose de ficção, imaginando como era viver na Los Angeles de 1926, na era do Cinema mudo. Numa festa que mais parece filmada por Baz Luhrmann, com um tanto a mais de nudez e drogas, conhecemos nossos personagens principais, todos circulando ao redor do mundo do Cinema: astros, produtores, funcionários e iniciantes sonhando com o estrelato. E sempre ao som da trilha contagiante de Justin Hurwitz, parceiro frequente de Chazelle e vencedor de dois Oscars por La La Land.

Tentando fazer seu nome do zero, temos Nellie LaRoy, vivida por Margot Robbie (de O Esquadrão Suicida, 2021). Nellie pega pequenos papéis e já se considera uma estrela, só o mundo que não sabe disso. Ainda. Diego Calva (de Narcos: México) interpreta Manny, um faz tudo que trabalha para um figurão e sonha em participar de filmes. E o grande nome do Cinema de então é Jack Conrad, feito por um Brad Pitt (de Ad Astra, 2019 – abaixo) especialmente canalha.

Os três protagonistas estão impecáveis, com o menos conhecido Calva despontando para o estrelato – os três foram indicados ao Globo de Ouro, Pitt como coadjuvante. O enorme elenco é cheio de nomes facilmente reconhecíveis, como a ótima Jean Smart, Jovan Adepo, Lukas Haas, Max Minghella, Samara Weaving, Katherine Waterston, Eric Roberts, Patrick Fugit, Ethan Suplee, Olivia Wilde e até o Flea, dos Red Hot Chilli Peppers. Ah, e não nos esqueçamos do Tobey Maguire, mais lembrado como Homem-Aranha e também produtor de Babilônia, que vive um mafioso perigoso.

Falando em Maguire, o longa frequentemente lembra uma outra produção que também contou com o ator em seu elenco: O Grande Gatsby (The Great Gatsby, 2013), dirigido pelo já citado Luhrmann. Não só eles têm em comum as festas, a ostentação e a megalomania, mas o tema central: o sujeito pobre que quer a todo custo crescer na sociedade, mas teima em colocar como meta conquistar a mulher amada, o que o desvia de seu caminho.

Dentre tantas referências, o aceno a Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, 1952) é o mais óbvio, com várias situações em comum. As gerações mais novas vão entender melhor a chegada do som no Cinema e, quem sabe, se interessar pelos clássicos. Se isso acontecer, a missão de Chazelle foi cumprida com louvor. Os 190 minutos chegam a cansar e o diretor perde um pouco a mão no final extenso, e chegamos a pensar que a projeção nunca vai acabar. Vale a pena insistir. O caos do início se fecha bem e mostra que o também roteirista Chazelle sabia bem onde queria chegar, e acaba o fazendo. Só não precisava demorar tanto!

Spike Jonze faz uma ponta como um cineasta alemão (ao lado de Haas e Pitt)

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Repescagem 2022: Uma Garota de Muita Sorte

Muitos ainda devem se lembrar de Mila Kunis na série That 70’s Show, como a adolescente irritante Jackie – que cresceu e estará na sequência That 90’s Show. Mesmo com algumas participações mais notáveis, como em Cisne Negro (Black Swan, 2010), a carreira da atriz nunca decolou. Em 2022, no entanto, ela pegou seu provável melhor papel até hoje: a protagonista de Uma Garota de Muita Sorte (Luckiest Girl Alive, 2022).

Ani, vivida por Kunis, parece ter uma vida perfeita. Ela é editora de uma revista conceituada e se prepara para se casar com o namorado dos sonhos. Tudo se complica quando ela é procurada por um documentarista que pretende fazer um curta sobre o tiroteio na escola onde Ani estudou. As lembranças dela começam a montar um quadro interessante e o roteiro faz justiça ao livro no qual se baseia, ambos escritos por Jessica Knoll.

Com um bom elenco de apoio, que inclui  Finn WittrockScoot McNairy, Jennifer Beals e Connie Britton, Kunis segura tudo nas costas e faz um ótimo trabalho. Mike Barker estreou na direção com o bom Planos Quase Perfeitos (Best Laid Plans, 1999) e, desde 2007, só dirigia episódios de séries até voltar aos longas. Sua direção não é das mais seguras, parecendo perder o foco às vezes, mas nada que comprometa.

Kunis e Wittrock são um casal aparentemente perfeito

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Spielberg leva suas memórias ao Cinema

Depois de nos encantar com as mais diversas histórias, em muitos gêneros diferentes, Steven Spielberg (de Jogador Nº 1, 2018) resolveu voltar-se ao seu passado. Os Fabelmans (The Fabelmans, 2022) tem uma boa dose de autobiografia misturada com licenças poéticas. Quem conhece a vida do diretor consegue prever alguns pontos da história. Independente disso, é um longa delicioso de se assistir e, se de um lado homenageia os Spielbergs, do outro reverencia a própria paixão do diretor pelo Cinema.

Escrevendo um roteiro de um filme seu pela primeira vez em mais de 20 anos (desde Inteligência Artificial, 2001), Spielberg ainda topou contar com um co-autor, seu antigo colaborador Tony Kushner, já indicado ao Oscar duas vezes por filmes que fizeram juntos (Munique, 2005, e Lincoln, 2012). É curioso ter ajuda aqui, já que tratam-se das lembranças do cineasta enquanto crescia e lidava com as mudanças em sua família, ao mesmo tempo em que se dedicava a fazer filmes caseiros com os amigos.

Em Os Fabelmans, o protagonista chama-se Sammy (vivido pelo ótimo Gabriel LaBelle, de O Predador, 2018). Ele vive com os pais (Michelle Williams e Paul Dano) e logo a família cresce, com mais irmãs sendo acrescentadas. Desde cedo, cresce em Sammy o interesse por filmes e por filmar situações que ele mesmo encenava. Por mais que tentasse deixar tudo de lado, a necessidade de se envolver na produção de pequenos filmes caseiros falava mais alto. A relação com arte e a desenvoltura do jovem ator nos remetem a Quase Famosos (Almost Famous, 2000), uma comparação que é lisonjeira para ambas as produções.

Indicado e já vencedor em várias premiações, como nos Globos de Ouro (Melhor Filme – Drama e Melhor Diretor), Os Fabelmans tem grandes chances de arrebatar vários Oscars. Apesar de ser coadjuvante na história, Michelle Williams (de Venom, 2018) está sendo cotada como melhor atriz principal, e de fato faz um ótimo trabalho como uma mãe criativa, dedicada e incentivadora. Com Paul Dano (o Charada de The Batman, 2022) não é diferente, o personagem que é mais contido e, talvez, até mais difícil de ser criado, evitando-se estereótipos.

Seth Rogen, mais lembrado por comédias bobinhas, tem misturado bem seus trabalhos (como na recente série Pam & Tommy) e faz a sua parte aqui, como um amigo sempre presente da família. Uma ponta que chama bastante atenção é a de Judd Hirsch (de Jóias Brutas, 2019), como o tio Boris. Não seria de se surpreender uma indicação do veterano como coadjuvante. E as crianças do filme, em geral, são ótimas – com direito a uma sósia da Matilda (1996).

O risco que sempre corremos ao vermos um drama de Spielberg é termos que aguentar exageros de sentimentalismo, o que volta e meia ocorre. Não é o caso aqui, o diretor consegue segurar seus impulsos por arrancar lágrimas de seu público. O que não impede que isso aconteça de qualquer forma, mas de forma natural. O filme dá a impressão de ser um grande episódio da série Anos Incríveis (Wonder Years), se Kevin Arnold se interessasse por Cinema. Há carisma, simpatia, afeto e paixão, sem passar da conta.

Como parece ser a ordem do dia, Os Fabelmans dura longos 150 minutos. A boa notícia é que passam bem rápido, de forma agradável, auxiliados por uma ótima trilha sonora, assinada por ninguém menos que John Williams. Assim como o roteirista e o maestro, outro que sempre colabora com Spielberg é o diretor de fotografia Janusz Kaminski (de Amor, Sublime Amor, 2021, entre outros), que praticamente nos coloca nas pequenas cidades que ele filma.

Ao final da sessão, chorando ou não, o público terá vivido uma experiência fantástica, como só o Cinema nos proporciona. Spielberg é um mestre na arte de contar histórias com imagens em movimento e tira o melhor de todos os envolvidos. Até do carrancudo David Lynch, diretor que não costuma ser arroz de festa, mas topou fazer uma ponta como ator em Fabelmans. E vale muito a espera!

A participação de Lynch demora a chegar, mas é divertida

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Whitney Houston tem sua vida contada no Cinema

Mais uma cinebiografia chega aos cinemas para engrossar um subgênero já rico: I Wanna Dance with Somebody – A História de Whitney Houston (2022) nos conta a trágica história da cantora, como o subtítulo reforça. E comete todos os pecados que as cinebios recentes têm cometido (com raras excessões), sendo o principal deles fazer uma lista de fatos importantes e ir correndo por todos. Check! Próximo!

Contando com roteiro escrito por Anthony McCarten, de Bohemian Rhapsody (2018), em seu quinto trabalho seguido baseado em histórias reais, o longa nos leva ao início da década de 80, quando Whitney cantava na igreja e fazia segunda voz para a mãe (Tamara Tunie, de O Voo, 2012), já uma cantora experiente. Ela sonhava em ter uma carreira própria e as coisas começam a acontecer quando um importante empresário (Stanley Tucci, de Feud) a escuta cantar.

Algumas passagens parecem ser um tanto exageradas, e há muita imaginação envolvida, preenchendo as lacunas do que se sabe ter de fato acontecido. Isso já seria de se supor e nem é problema. Chato é ver que a vida de Houston envolveu tantas questões importantes e interessantes e o roteiro vai apenas enumerando-as. E a montagem, tendo em vista não deixar o resultado muito longo (mesmo tendo ficado com quase duas horas e meia), acaba cortando muita coisa, fazendo umas passagens bruscas entre situações.

Como geralmente acontece em cinebios, o grande chamariz desse I Wanna Dance with Somebody (título inspirado numa música de sucesso de Houston) é a atriz principal: Naomi Ackie (das séries Cupid e Master of None) é muito melhor do que a obra, em geral. Ela faz um ótimo trabalho em fazer a sua própria versão de Whitney Houston, sem imitá-la ou contar com adereços irritantes, usando apenas o seu talento. Mesmo quando o roteiro não ajuda, ela passa verdade, e a química com seus coadjuvantes principais é ótima.

Fora os problemas apontados, o roteiro tem seus acertos e a forma como ele encara de frente a relação amorosa de Whitney com outra mulher (Nafessa Williams, de Raio Negro) é o principal. A pressão para se tornar a princesa da América e o peso de ser o arrimo de toda a família também ganham destaque, o que faz com que o longa não seja esse desastre que alguns têm pregado. E há outro ponto importante a ser colocado: além de algumas imagens de arquivo, as músicas originais são usadas, com a voz de Whitney, o que é fundamental para comprarmos a história dela.

Stanley Tucci posa com o verdadeiro Clive Davis na estreia do longa

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Repescagem 2022: Até os Ossos

O diretor Luca Guadagnino gosta de repetir seus parceiros criativos e convocou o roteirista David Kajganich (de Um Mergulho no Passado, 2015, e Suspíria, 2018) e o ator Thimotée Chalamet (de Me Chame Pelo Seu Nome, 2017) para seu mais novo longa: Até os Ossos (Bones and All, 2022), adaptação do livro de Camille DeAngelis. Para a vaga de protagonista, foi convocada Taylor Russell (da série Perdidos no Espaço), atriz experiente que deve começar a aparecer mais agora.

Na trama, temos uma adolescente que ataca uma coleguinha e logo descobrimos tratar-se se uma canibal. Buscando conhecer suas origens e se entender melhor, ela pega um ônibus e vai atrás da mãe, que não conhece. Na viagem, encontra outros como ela, como o esquisito Sully (o ótimo Mark Rylance) e o desgovernado Lee (o insosso Chalamet), que passa a viajar com Maren.

As metáforas sobre o fim da adolescência, a transição para a vida adulta e todas as dificuldades que vêm nesse período são representadas por um canibalismo que surge de repente, numa representação gráfica e sangrenta que deixa o filme no meio de um caminho bem indefinido. E, claro, vai chocar quem não estava esperando. Decididamente, Até os Ossos não é um filme para todo mundo. Lembre-se do que a sua mãe te disse.

Rylance é sempre uma figura interessante para se acompanhar

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Repescagem 2022: A Mulher Rei

Com coreografias de lutas fantásticas e muito realistas, A Mulher Rei (The Woman King, 2022) nos apresenta à uma guarda real formada por mulheres. Vítimas de zombarias, elas não deixavam nada a dever a grupos masculinos, passando por cima deles como um trator. Ambientada nos anos de 1820, a trama começa quando as Agojie começam a treinar uma nova geração de guerreiras para defenderem o reino de Dahomey, na África.

À frente do elenco, Viola Davis (de A Voz Suprema do Blues, 2020) mostra enorme garra e dedicação à parte física exigida pelo papel. Tão boa quanto Davis é Lashana Lynch (de 007: Sem Tempo para Morrer, 2021), que já havia provado seu talento e segue roubando as cenas em que aparece. A surpresa fica por conta da ótima Thuso Mbedu – surpresa para quem não a viu na série Os Caminhos para a Liberdade (The Underground Railroad, 2021).

Muito se falou sobre a falta de fidelidade histórica do filme, que mostra o rei do Dahomey (vivido por John Boyega) sendo influenciado a parar de participar do tráfico humano de seus compatriotas, quando na verdade essa era a principal fonte de renda deles. De fato, descobrir essas diferenças gritantes tira um bocado da força do filme. No entanto, como uma aventura descompromissada, funciona muito bem.

Além de Davis, Lynch e Mbedu também fazem bonito

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Repescagem 2022: Boa Sorte, Leo Grande

Uma viúva se aproximando dos 60 anos procura um garoto de programa em busca de prazer sexual. Essa é a premissa de Boa Sorte, Leo Grande (Good Luck to You, Leo Grande, 2022), longa construído através da visão feminina, já que foi escrito (Katy Brand) e dirigido (Sophie Hyde) por mulheres, além de contar com a grande Emma Thompson (de Cruella, 2021) no papel principal.

Thompson, que também trouxe várias ideias para o roteiro, vive a mulher insegura do que está fazendo, e, principalmente, com receio de ser julgada pela sociedade. A forma como Nancy é construída, entre seus erros e acertos, é muito sensível e crível, e nos sentimos à vontade até para criticá-la, já que ela faz parte dessa mesma sociedade e seria a primeira a apontar o dedo, caso não fosse ela que estivesse nessa situação.

Contracenando com a atriz, temos Daryl McCormack (de Peaky Blinders), que traz a doçura necessária ao personagem, sendo forte ou vulnerável, de acordo com a situação. A química entre os dois torna tudo muito possível e logo nos vemos torcendo por eles. O clima teatral não chega a incomodar e a duração é apropriada, terminando antes de ficar cansativo.

Thompson e McCormack funcionam muito bem juntos

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Repescagem 2022: Marte Um

Uma família negra da periferia da Grande BH, Minas Gerais, vê Jair Bolsonaro sendo eleito. A partir daí, imagina-se que isso terá grandes consequências. Não, não nas vidas daquela família. Marte Um (2022) é marcado por várias possibilidades não concretizadas, como essa, e não chega a lugar algum.

Quando parece que o filme vai se centrar em Deivinho (Cícero Lucas), que joga futebol para agradar o pai (Carlos Francisco), mas quer ser astrofísico, o roteiro opta por cobrir toda a família, acompanhando as rotinas de cada um para, pouco depois, abandonar todas as premissas vislumbradas. A mãe (Rejane Faria) se envolve em uma situação ridícula que não dá em nada. E o mesmo é observado com todos os demais.

O diretor e roteirista Gabriel Martins não escolhe qual caminho quer seguir e acaba não seguindo nenhum. Os diálogos não são inspirados e a qualidade do som não ajuda. As atuações variam do correto ao risível, mas o roteiro não ajuda o elenco, que não tem muito com o que trabalhar. Ao final, fica a dúvida do que se pretendia com Marte Um.

Os pais também têm suas histórias, mas nada é conclusivo

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Repescagem 2022: O Enfermeiro da Noite

Com uma história assustadora, ainda mais por ser real, O Enfermeiro da Noite (The Good Nurse, 2022) chegou à Netflix apostando forte em seu elenco principal: os oscarizados Jessica Chastain (de Os Olhos de Tammy Faye, 2021) e Eddie Redmayne (de A Teoria de Tudo, 2014). Os dois vivem enfermeiros trabalhando em um hospital onde começam a acontecer óbitos com uma frequência enorme.

Após uma morte chamar a atenção da direção do hospital, uma investigação é iniciada e as vidas de ambos serão impactadas. O suspense da trama está mais na forma como as coisas acontecem do que propriamente no que acontece. Com um final bem previsível, a graça é se prender à atuação de Chastain, sempre um ímã em cena. Redmayne está mais contido do que de costume e continua sendo mais valorizado do que merece.

Vindo do sucesso de Druk – Mais Uma Rodada (2020), que escreveu, Tobias Lindholm assumiu aqui a direção e fez um filme morno, contado de forma tradicional e nada emocionante. A roteirista responsável pela adaptação do livro de Charles Craeber, Krysty Wilson-Cairns, assinou recentemente os ótimos 1917 (2019) e Noite Passada em Soho (Last Night in Soho, 2021). Dessa vez, optou pelo arroz com feijão e não trouxe nada diferente do esperado.

Ganhar Oscars deve ser cansativo e os dois aproveitam uma folga

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