Irmãos Coen atacam o folk dos 60

por Marcelo Seabra

Inside Llewyn Davis

Ser estranho não faz um filme ser necessariamente ruim. Pelo contrário: os irmãos Coen sabem como poucos como construir um universo à parte, com personagens inusitados e um clima melancólico. À primeira vista, eles fazem filmes estranhos. Olhando bem, percebe-se um talento enorme para observar o comportamento humano e criar situações interessantes. Em Inside Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum (2013), Joel e Ethan acompanham um sujeito por uma semana e mostram a riqueza de uma rotina sem maiores eventos.

Da mesma forma que acontece com jogadores de futebol, para cada cantor que consegue atingir fama e prosperidade há diversos que não chegam a lugar algum. Inspirado em Dave Van Ronk (mais no estilo musical que na personalidade), Llewyn Davis é um compositor, cantor e instrumentista que se apresenta pelos bares do Greenwich Village ganhando a vida um dia de cada vez nos idos dos anos 60, quando todo mundo conhecia vários artistas, que podiam ser vistos em cada esquina. A câmera acompanha Llewyn de perto, com muita honestidade, mostrando seus aspectos positivos e negativos. Sem nunca saber onde vai dormir, ele luta para viver de música e não ter que se entregar a um emprego regular qualquer, o que certamente o mataria de desgosto. Sua falta de habilidade social, misturada a princípios bem definidos que não podem ser dobrados, faz de Llewyn uma pessoa difícil de se conviver. Por isso, volta e meia ele tem um desentendimento com amigos e conhecidos e fica cada vez mais complicado sobreviver nesse cenário.

Com cores apagadas e um frio que assombra os personagens, a Nova York do filme parece um lugar desolador, bem o contrário do que costuma-se falar de lá, principalmente nesse momento histórico de grande agitação cultural. A bela fotografia de Bruno Delbonnel (de Sombras da Noite, 2012) ressalta a importância da cidade para a história e ajuda a criar no público as sensações experimentadas pelos personagens, como a claustrofobia causada pelos apartamentos apertados e pelos corredores exageradamente estreitos. Como brinde, ainda temos ótimas composições folk produzidas por Marcus Mumford (da banda Mumford & Sons) e T Bone Burnett (de True Detective).

Cat

Puxando o elenco, o ator e músico Oscar Isaac consegue a proeza de viver um protagonista irritante e temperamental e ainda fazer o público simpatizar por ele. Apesar de seus erros e chiliques, ele é batalhador e busca sua grande chance. Isaac já havia vivido um cantor em 10 Anos de Pura Amizade (10 Years, 2011) e o faz sempre com muita naturalidade, como quem conhece aquela vida. Outro que mantém atividade dupla e está em casa com um violão nas mãos é Justin Timberlake, celebridade que vem aparecendo cada vez mais nas telas, recentemente visto em Curvas da Vida (Trouble With the Curve, 2012) e Aposta Máxima (Runner, Runner, 2013). Carey Mulligan, que fez barulho quando cantou o tema de New York, New York em Shame (2011), também encara um microfone, fechando um triângulo amoroso com os dois rapazes. Gente bacana para os demais papéis não falta, e temos nomes como John Goodman, F. Murray Abraham e Garrett Hedlund, além de um gato que rouba cenas e tem muita presença.

Dentro da filmografia dos irmãos Coen tem de tudo. Eles pulam de um gênero para outro com muita facilidade e as bolas fora são raras (Matadores de Velhinha, alguém?). Inside Llewyn Davis é um filme menor no que diz respeito às dimensões do projeto e à expectativa gerada. Mas não no que toca sua qualidade – não é a toa que ele recebeu diversas indicações a prêmios e foi o escolhido pelo júri em Cannes. A circularidade da história reforça o quanto a vida de Llewyn é pacata e rotineira. Bob Dylans eram raros, ao contrário de Llewyn Davises.

Bruno Delbonnel fez um belo trabalho

Bruno Delbonnel fez um belo trabalho

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Morro do Alemão estrela produção nacional

por Marcelo Seabra

Alemão posterEm 2012, assistindo à televisão, Rodrigo Teixeira teve uma ideia. Produtor de longas conhecidos, como Heleno (2011) e Frances Ha (2012), ele criou um argumento que seria desenvolvido e se tornaria Alemão (2014), nova produção nacional a chegar aos cinemas. Ter a contratação de José Eduardo Belmonte (Billi Pig, 2012) garantiria alguém com experiência de direção e, como de costume, para ter atenção do grande público, seria necessário contratar para o elenco algumas figurinhas tarimbadas, muitos até do elenco da famigerada Rede Globo.

Com roteiro do estreante Gabriel Martins, Belmonte conseguiu um elenco chamativo. Cinco atores dividem o posto de principal, no papel dos policiais que se vêem presos em um barracão na favela do Alemão após a identidade deles vazar. Eles trabalhavam disfarçados, no meio da comunidade, e agora todos os bandidos locais os procuram. Estes cinco são estabelecidos como personalidades bem diferentes, mas acabam sendo um bando de estereótipos mal explicados. Há o novinho idealista (Caio Blat), o veterano explosivo (Milhem Cortaz), o responsável meio paizão que recebe todos (Otávio Muller), o ex-corrupto que procura corrigir-se (Gabriel Braga Nunes) e o infiltrado apaixonado por uma inimiga (Marcello Melo Jr.).

Alemão Reymond

A comparação que muitos fizeram a Tropa de Elite não se justifica. Não se trata de um longa de ação exatamente, e as cenas mais movimentadas não convencem. O filme cresce quando se concentra na tensão claustrofóbica vivida pelos personagens, que estão sendo procurados e sabem que não haverá piedade por parte dos bandidos. Como sempre, cria-se um envolvimento amoroso que vai servir para ser explorado à frente e complicar ainda mais a situação. O vilão central, o traficante Playboy, é interpretado por um Cauã Reymond apático, que não é capaz de ser ameaçador em momento algum, perdendo até para seus capangas, que conseguem ser muito mais autênticos. Ele é claramente inspirado em figuras reais e o pano de fundo foi visto há pouco, não só por Teixeira, mas por todo o Brasil. As cenas da tomada do Morro do Alemão pelas forças armadas e da fuga dos criminosos puderam ser vistas em todos os canais de televisão em coberturas extensas.

Entre os cinco membros principais do elenco, o que destoa é Braga Nunes, que tem cara de galã de novela e parece um corpo estranho – mesmo com um cabelo ridículo. Cortaz cria um sujeito estouradinho e desconfiado que em momento algum parece uma pessoa de verdade. Os outros três conseguem um resultado melhor, mesmo o público não os conhecendo direito, o que acaba sendo um problema generalizado. Não havendo um mínimo de identificação, o espectador pouco se importa se algum deles sofrer, ou mesmo morrer. Muito tempo é gasto com palavrões e ameaças que não chegam a lugar algum.

Durante a sessão de Alemão, várias outras obras passam pela cabeça, como Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992) e Os Infiltrados (The Departed, 2006), já que há temas similares. Mas o resultado aqui não chega perto. Há momentos interessantes, outros nem tanto. Mediano é uma boa definição, o que já deixa o longa a anos luz da maioria das produções nacionais recentes.

Antônio Fagundes é outro global no elenco

Antônio Fagundes é outro global no elenco

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Robocop chega ao século XXI

por Marcelo Seabra

Robocop banner

Recebida desde o primeiro momento pelos cinéfilos com muita desconfiança, a refilmagem de Robocop (1987) acabou se mostrando uma bem pensada reinvenção do personagem. Com o avanço dos recursos técnicos e deixando roupas e penteados oitentistas para trás, o novo Robocop (2014) consegue seguir um caminho diferente de seu antecessor e pode agradar até mesmo ao fã mais xiita do novo clássico de Paul Verhoeven. É raro uma refilmagem, ainda mais de uma obra tão recente, ser tão bem sucedida e ter a coragem de tomar rumos diferentes, fugindo do lugar comum para ter uma identidade própria.

O ponto de partida das produções é o mesmo: Alex Murphy, um policial honesto e corajoso, se encontra à beira da morte e pode ser salvo por uma nova tecnologia usada por uma grande corporação para criar super policiais, o que renderia muitos milhões de dólares aos envolvidos. A partir dessa premissa, já podemos notar diferenças importantes. A primeira é a execução do policial ter se tornado menos pessoal, mesmo que mandada por um indivíduo específico. No original, que exaltava a violência como poucos, Murphy é torturado por uma gangue inteira e tem seu corpo mutilado calmamente. Agora, com um “limpo” atentado a bomba no lugar da execução sádica, a impressão que se tem é que o futuro é mais séptico, tudo é motivado apenas por negócios, sem sentimentos envolvidos. A outra diferença é apresentar uma jornada do protagonista que segue o trajeto oposto: o novo Robocop tem sua consciência intacta e vai sendo anulado de acordo com a necessidade de seus mantenedores, ao contrário do outro, que era uma máquina se redescobrindo humana.

Robocop Jackson

Os Estados Unidos são a polícia do mundo e mandam seus robôs para todos os lados, algo que os próprios americanos não apóiam. Um senador se coloca contra o uso de máquinas na manutenção da segurança nas ruas e a opinião pública o segue. Isso dificulta o trabalho dos executivos da Omnicorp, que só podem atuar fora das fronteiras. O papel da corporação é ainda mais importante para a trama e mais atual, mostrando como, no futuro, empresas serão mais importantes até que países. Outro fator que ganha muita força nessa nova versão é o poder da mídia, cujo lado podre é representado por um apresentador muito similar aos que vemos na televisão. Pat Novak, vivido de maneira acertadamente exaltada por Samuel L. Jackson (de Django Livre, 2013 – acima), mostra como distorcer fatos e criar vilões (e heróis, por conseqüência), deturpando de cara lavada o papel do jornalismo. É triste que muito do que é podre na Detroit de 2028 já pode ser encontrado hoje.

Para os brasileiros, este Robocop tem um outro chamariz: o diretor é ninguém menos que José Padilha, que ganhou notoriedade entre a crítica com o documentário Ônibus 174 (2002) e ficou realmente famoso entre o grande público com o sucesso Tropa de Elite (2007), que ganhou uma continuação três anos depois. Com roteiro do até então não filmado Joshua Zetumer, Padilha mostra mais uma vez ter personalidade até nos enquadramentos aparentemente mais simples, e no envolvimento com questões sérias, como a relação entre poder e corrupção e a questão da identidade. O que faz de uma pessoa um ser humano? Ter componentes biológicos, seu cérebro ou seu coração? É importante ressaltar que, apesar desse grande destaque para discussões filosóficas, não falta ação na obra. Ouvir o rock progressivo da banda Focus em um tiroteio, por exemplo, é inusitado e funciona muito bem. A trilha, inclusive, é um charme à parte, com Sinatra, Clash e o tema imortal de Basil Poledouris.

Joel Kinnaman Gary OldmanÀ frente do elenco, Joel Kinnaman não faz feio. Sueco, ele apareceu para o mundo na série de TV The Killing e demonstra ter carisma suficiente para ser mais que um mero coadjuvante. Mas aparecer ao lado de Gary Oldman (o Comissário Gordon de Batman) é bem difícil, ainda mais quando o veterano precisa demonstrar raiva. É muito interessante ver o contraste entre integridade (o médico de Oldman) e cinismo, representado pelo poderoso empresário do sumido Michael Keaton. É engraçado ainda notar a piadinha sobre o uso do preto, que remete a Batman Begins (2005), sendo que o próprio Keaton já viveu o herói. Jackie Earle Haley (o Freddie Krueger mais recente) faz o militar esquentadinho e repetitivo (na piada com o Homem de Lata) e Abbie Cornish (de Sem Limites, 2011) é a sofrida Clara Murphy, que autoriza o “uso” do marido moribundo no projeto na esperança de salvá-lo.

Padilha e equipe tomam uma série de decisões corretas que levam o Robocop de 2014 a ser uma releitura do de 1987, um recomeço para uma franquia já muito explorada e que, agora, demonstra ainda ter fôlego. Os tempos são outros, as questões se atualizam e o Cinema acompanha as mudanças. Muita gente deve ter torcido o nariz por ter o longa de Verhoeven muito nítido na memória. Mas não faltam méritos ao trabalho de Padilha, que conseguiu a proeza de pegar algo cult, manter a essência e mudar todo o resto. E não importa qual dos dois é melhor.

Kinnaman assume o papel que foi de Peter Weller

Kinnaman assume o papel que foi de Peter Weller

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Frances Ha é bonitinho, mas não mostra a que veio

por Rodrigo Seabra

Frances Ha

Acaba de chegar ao Netflix brasileiro (mas ainda sem previsão de lançamento em DVD) o filme Frances Ha, que vem sendo bastante comentado e elogiado desde suas primeiras exibições, em 2012, em diversos festivais internacionais dedicados ao cinema independente. Lançada comercialmente em 2013, a produção da brasileira RT Features inclusive garantiu lugar em muitas listas de melhores do ano passado. Parte dessa atenção se deve à sua atriz principal, Greta Gerwig, musa do movimento chamado mumblecore e tida como “it girl indie dos últimos anos. Aqui, ela também assina como co-autora do roteiro, trabalhando mais uma vez ao lado do namorado, o diretor e co-roteirista Noah Baumbach (de A Lula e a Baleia, 2005). Além dos dois, temos ainda Mickey Sumner (que viverá a lendária roqueira Patti Smith no filme CBGB), no papel de melhor amiga da protagonista, e os promissores Adam Driver (o esquisito Adam da série Girls) e Michael Zegen (visto como o prisioneiro Randall em The Walking Dead).

Apesar de tantos comentários e elogios recebidos até o momento, temos de nos dobrar ao fato de que não é fácil escrever a respeito de um filme como Frances Ha. Talvez a partir dessa introdução, o leitor já prepare seu melhor prejulgamento e conclua apressado que o filme é muito complexo, quem sabe até pesado, como são tantos independentes. Mas não é isso, ou é mais como o contrário disso. O caso é que, embora o conteúdo apresentado tenha lá sua profundidade psicológica, ele parece ao mesmo tempo não andar nem ficar parado. É um retrato quase estático, uma história que nunca começa, que nunca fica definida, o que torna difícil a tarefa de descrever exatamente qual é a trama em questão. E, se falta assunto para o próprio filme, não é uma análise que virá salvá-lo.

Partindo da suposição mais simples, é compreensível – um lugar-comum até aceitável – acreditarmos que qualquer filme nasce com o propósito de contar uma história. Ela pode até se disfarçar na forma de uma premissa estreita e esticada, como em uma fitinha de terror que não tem roteiro nenhum depois dos dez minutos iniciais. Mas espera-se que seja pelo menos algo narrável e explicável para outra pessoa. Pois então, aí vai uma possível descrição de Frances Ha: começa com um recorte em um certo dia na vida da protagonista, quando ela precisa se mudar do apartamento onde vive com sua melhor amiga; daí, nada de muito notável acontece durante o que parecem ser uns poucos meses, e então tudo termina em outro dia da vida da mesma protagonista.

Não entenda mal, o filme certamente segue um roteiro feito com algum cuidado. As coisas se sucedem em uma linha do tempo simples, com montagens bonitinhas cortando caminho aqui e ali, e os diálogos e relações fazem sentido. Dá para concluir fácil e rápido que a protagonista, uma aspirante a dançarina profissional, está perdida naquela idade crucial entre os 25 e os 30 anos, quando tanta gente ainda não sabe o que fazer da vida adulta depois da faculdade. A moça se mostra levemente imatura, dentro do compreensível, certamente inconsequente e mesmo um pouco fechada.

Só que falta polpa para dizer a respeito do que tratam aqueles 80 minutos de projeção – sim, o filme é curto e pode-se dizer econômico em sua falta de assunto. Aí reside a dificuldade em compreender aqueles que dizem que é um dos melhores de 2013. Quem sabe talvez seja só um retrato (mais uma vez, estático) pouco ousado de uma certa idade na vida? Ou de uma amizade que fica levemente abalada por um momento? Sim, essa parece ser uma descrição inócua o suficiente. Será que faltou enxergar algo subjacente? Alguma metáfora, uma pista sutil de alguma iluminação da protagonista? Será que a pretendida trajetória da relação entre as duas amigas, que não dá mais que um soluço, era para ser vista como um salto épico? E a fotografia em preto e branco? Hm, talvez seja um sinal de que a vida dela realmente não acontece, aham, em muitas “cores”.

Greta Gerwig

Por outro lado, quem disser que é terrível está mentindo. Não há nada ali para ser considerado assim tão ruim. A intenção do filme é boa, a execução é competente, algumas cenas são feitas para enternecer. Frances é uma personagem cativante em sua desorientação, e o roteiro não é particularmente cruel com ela. Dá para dizer também que a direção de Baumbach não se perde, mesmo que a própria narrativa nunca se firme com um propósito. E, acima de tudo, a atuação de Gerwig é perfeita, sensacional. É fácil acreditar que ela sempre foi aquela moça e nunca qualquer outra pessoa, que aqueles problemas são seus e são reais, que ela realmente quer subir na vida seguindo sua paixão, e que ela sofre, se ilude e se consola com o que acontece à sua volta. Não à toa, a atriz foi indicada a diversos prêmios mundo afora e acaba de ser escolhida como protagonista da nova comédia televisiva How I Met Your Dad, em um papel aparentemente bem semelhante a este aqui.

Mas… o que Gerwig/Frances faz durante todo o tempo do filme, mesmo? Ela tem uma melhor amiga e mora aqui; então, tem de ir morar ali; depois nem se sabe mais como foi parar em outro lugar, porque isso não foi exposto e nem importa. Os minutos iniciais são parecidos com quaisquer passagens no meio e com os momentos finais. Enquanto isso, outras vidas ao redor dela vão também acontecendo aos poucos, como na vida de todo mundo. Sabe o seu amigo que casou? Pois é. E o outro que mudou de apartamento? Normal. E quanto àquela amiga que te ligou esses dias? Tudo bem. A festinha que seus pais deram em casa no fim do ano e de que você mal se lembra? Foi bacana. Ah, sim, não se esqueça de que a situação no seu emprego mudou um pouco, mas você nem sabe quantificar ou explicar a diferença pras pessoas, de tão insignificante.

De repente, você se assusta com os créditos subindo enquanto ainda espera uma história acontecer. Só resta pensar: será que vale tanto falatório? Afinal, é “tudo” isso o que acontece em Frances Ha. Ou seja, vidinha besta. Ou seja, nada. Com uma ou duas pitadas de inconsequência e uma boa atuação.

Baumbach e Gerwig são a alma do negócio

Baumbach e Gerwig são a alma do negócio

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Novo 300 tem mais gregos, persas e sangue

por Marcelo Seabra

300 Rise of an Empire

Antes, eram 300 espartanos contra todo o exército persa. Agora, são os demais gregos que buscam manter seu estilo de vida lutando contra o Deus-Rei Xerxes. Depois do sucesso de 300 (2006), uma sequência era inevitável. Na dúvida entre fazer uma sequel ou uma prequel, os responsáveis ficaram no meio do caminho e criaram uma história paralela, que começa antes e termina depois do sacrifício de Leônidas. 300: A Ascensão do Império (300: Rise of an Empire, 2014) certamente vai divertir quem gostou do primeiro, só não inclui nada.

O diretor Zack Snyder ficou conhecido pelo estilo de filmar alterando a velocidade e dando ênfase ao sangue que espirra, aos músculos que se chocam contra um punho cerrado e balançam de forma dramática, a todo tipo de violência estilizada que mais parece um espetáculo que uma guerra. Noam Murro, o novo nome por trás da empreitada, simplesmente tenta copiar o máximo que pode o jeito de Snyder, fingindo que é o próprio quem está por trás. Snyder inclusive é roteirista aqui, ao lado de Kurt Johnstad, repetindo a parceira do anterior. E, novamente, se baseiam numa história em quadrinhos de Frank Miller e Lynn Varley.

Xerxes

Além de conhecermos um pouco sobre a formação de Xerxes (o nosso Rodrigo Santoro – acima), entendemos que ele começa uma campanha não apenas pela dominação de Esparta, mas por toda a Grécia. Quem pretende unir os demais povos é o estrategista Temístocles (Sullivan Stapleton, de Caça aos Gângsteres, 2013), que será também a força a motivar os soldados estando à frente deles no campo de batalha. Do outro lado, temos o numeroso exército persa, que tem Xerxes como líder oficial, mas a presença que marca é de Artemísia (Eva Green, de Sombras da Noite, 2012), uma grega que nutre grande sentimento de vingança contra seus pares. A tensão sexual entre os dois antagonistas é palpável antes mesmo que eles se encontrem, e já sabemos como será o duelo final.

Enquanto tudo vai se desenrolando, conhecemos vários personagens e reencontramos outros, como a Rainha Gorgo (Lena Headey), a brava esposa de Leônidas (Gerard Butler), que aparece rapidamente e nem é creditado. David Wenham, como Dilios, é outro que chega para lembrar os espartanos e sua luta. Temístocles procura Gorgo para propor uma aliança, mas os espartanos pretendem lutar sozinhos, episódio que acaba ficando conhecido como a Batalha das Termópilas. Temístocles segue unindo outros povos contra Xerxes e o que vemos é basicamente uma repetição, já que é Davi contra Golias mais uma vez. Os gregos são, em sua maioria, fazendeiros, comerciantes ou jovens inexperientes.

300

O fim da guerra contra Leônidas pode ser visto como uma vitória para os persas, mas transformou os espartanos em mártires, heróis, histórias a serem contadas eternamente. Isso, para aquele povo, era vitória o suficiente, já que eles pareciam inclinados a morrerem de forma honrosa. Para Temístocles, o foco não é morrer, mas defender a liberdade, que era a diferença básica entre os dois exércitos: os gregos livres contra os persas e seus escravos. Xerxes permanece como uma figura curiosa, mística, que não é abordada de frente, serve apenas como desculpa para a trama. Santoro é modificado para se tornar um gigante de voz cavernosa e tem uma historinha acelerada contada no início que parecia ser o cerne, mas logo é abandonada. Assim como com Leônidas, era necessário ter um protagonista forte e carismático, envolvido na batalha, com quem o público pudesse se identificar, e esse é Temístocles.

A Ascensão do Império tem muito mais exagero que o 300 original, mantendo o espírito e potencializando-o. Não faltam membros decepados e sangue jorrando, e cenas ainda mais loucas, como um cavalo saindo da água e passando pelo fogo. As frases motivacionais e de efeito não faltam, mas nada tão emblemático como o “This is Sparta” do primeiro. O quesito ineditismo, que fez 300 chamar tanta atenção, já não funciona. Como “mais do mesmo”, no entanto, essa sequência (ou pré-continuação, ou algo paralelo) se mostra uma produção bem feita, digna de arrancar seus suados reais. E ainda tem a linda Eva Green.

Eva Green continua linda

Eva Green valeria o ingresso sozinha

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O inesperado sucesso de Rick and Morty

por Rodrigo Seabra

Rick and Morty

Um dos maiores sucessos na TV norte-americana neste começo de 2014 vem de uma fonte improvável: o canal de animações adultas Adult Swim. A série em questão é a estreante Rick and Morty, comédia tresloucada com 11 episódios produzidos para a primeira temporada, exibida desde dezembro de 2013 e atualmente em um breve hiato, mas prestes a retomar atividades com um novo episódio no dia 10 de março. A audiência é tão boa que, em termos de grupos demográficos (especialmente de homens abaixo dos 35), o programa já superou concorrentes de peso, e com isso ganhou do canal a renovação para uma segunda temporada com mais 10 episódios.

Rick Sanchez (dublado pelo criador da série, Justin Roiland), mentalmente perturbado, constantemente bêbado, babando e arrotando entre as palavras, é um velho cientista que foi morar na casa de sua filha Beth Smith (voz de Sarah Chalke, a Dra. Elliot Reid de Scrubs) e fez da garagem seu laboratório e depósito de todo tipo de experiências escusas. O que ninguém parece perceber é que as capacidades científicas daquele senhor esquisito são ilimitadas em praticamente qualquer área. E o pior é que Rick considera o pobre do neto Morty Smith (cuja voz também é feita por Roiland) como o companheiro ideal para as missões absurdas a que se propõe. Completando o quadro estão a adolescente Summer (voz de Spencer Grammer, da série Greek), com a cara o tempo inteiro colada no telefone, e o marido de Beth e pai dos dois, Jerry Smith (voz de Chris Parnell, de Saturday Night Live, 30 Rock e Suburgatory), um derrotado executivo de propaganda que não vê com bons olhos o sogro maluco.

A história de Rick and Morty começa alguns anos antes, ou talvez em 1985, dependendo do que considerarmos como a primeira inspiração do animador, dublador e produtor de TV Justin Roiland. O caso é que, em 2006, Roiland resolveu apresentar só de farra um curta animado no pequeno festival Channel 101, conduzido mensalmente por Dan Harmon (criador e escritor da já clássica comédia Community, atualmente no ar pela NBC – abaixo, à direita). O desenho se chamava The Real Adventures of Doc and Mharti e baseava seus personagens principais nos célebres protagonistas da trilogia De Volta Para o Futuro, Doc Brown e Marty McFly. Mas com uma pegadinha: Roiland (abaixo, à esquerda) só queria mesmo chocar o diminuto público do festival. Para tanto, deu ao mais velho tendências sociopáticas e uma estranha tara sexual e fez do mais novo um garoto medroso e submisso. O dublador confessa que se divertiu mais do que o normal fazendo as vozes de ambos e apelando para um humor grosseiro e juvenil, mas logo enxergou também um potencial extra nas paródias que criara sem pretensão. O curta, entretanto, ficaria só nisso mesmo durante um bom tempo.

Dan Harmon & Justin Roiland

Eis que, em 2012, o curador Harmon se viu demitido do comando de Community (voltaria no ano seguinte) e teve de procurar outros caminhos para retomar a carreira. Encontrou Roiland ainda sonhando com as possibilidades abertas por seu velho curta animado, mas agora buscando um contexto mais profissional. Considerando que o Adult Swim já o tinha sondado a respeito de uma parceria, Harmon então decidiu que ali estava seu próximo passo.

A dupla trabalhou rapidamente em cima das ideias de Roiland a fim de estabelecer um produto novo e livre de comparações. Conferiram um design mais refinado aos traços toscos do original, renomearam os personagens e deram a eles uma nova relação de avô e neto. O conceito das viagens que vinha do filme oitentista não apenas permaneceu como se tornou o ponto central do desenho – claro que sem menção a DeLoreans. E ainda, para escrever as aventuras da nova animação, os co-criadores foram se inspirar nos saltos espaço-temporais da cultuada série inglesa Doctor Who e no surrealismo interplanetário de O Guia do Mochileiro das Galáxias.

Os seis episódios já exibidos de Rick and Morty comprovam que essas fontes comparecem em peso sem dedicar muito tempo para explicações. Por exemplo, para justificar as ausências de Morty na escola ou na hora do jantar enquanto ele está participando a contragosto de alguma viagem, Rick sempre providencia um “remendo” qualquer, tão esquisito quanto suas missões, e acaba envolvendo a família inteira em catástrofes de escala mundial. Para desespero do garoto, nada fica de fora do desenho: dimensões paralelas perfeitinhas ou completamente distorcidas, planetas com fauna e flora estranhíssimas, sonhos delirantes, muita gosma e nojeira, alienígenas lascivos, transmorfos, robôs, cachorros falantes, monstros escatológicos, microorganismos ameaçadores, versões desfiguradas dos próprios personagens e qualquer coisa que Harmon, Roiland e seu time de escritores conseguirem imaginar.

A linguagem não é necessariamente apelativa, mas os diálogos e situações são decididamente adultos, às vezes até um pouco fortes e frequentemente hilários. A liberdade criativa é tanta que é melhor nem esperar que Rick and Morty crie uma mitologia tão séria e tão rica quanto, por exemplo, a de South Park ou Os Simpsons. Afinal, cada aventura de meia-hora é deliberadamente esquizofrênica e se resolve com algum atropelo impensável dali a pouco mesmo, de modo que tudo volte a algum tipo de normalidade. Nesse meio-tempo em que nada parece fazer sentido, os apuros da dupla divertem horrores e valem o ingresso.

Scene

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Oscar 2014 – a cerimônia!

por Marcelo Seabra

Oscars

Ellen DeGeneres fez uma introdução bem levinha, até comportada, e deu a palavra a Anne Hathaway para o Oscar de melhor ator coadjuvante. Conforme esperado, Jared Leto levou. Fez um discurso bem abrangente e bonito, lembrando a luta da mãe para criar os filhos, passando por toques políticos sobre a Ucrânia e a Venezuela, as vítimas da AIDS, pessoas com estilos de vida considerados diferentes e, claro, a equipe do filme Clube de Compras Dallas.

Jim Carrey mostra um clipe sem qualquer razão de ser com cenas de animações diversas. Nada é premiado, nada é apresentado, apenas a moral de Carrey é levantada. Segue o primeiro número musical de uma indicada a melhor canção: Happy (de Meu Malvado Favorito 2), de Pharrell Williams, que chamou Lupita Nyong’o, Meryl Streep e Amy Adams para dançar de pé com ele.

Melhor figurino para O Grande Gatsby e maquiagem e cabelo para Clube de Compras Dallas. Primeiros clipes dos indicados a melhor filme: Clube de Compras Dallas, Trapaça, O Lobo de Wall Street. Matthew McConaughey e Kim Novak apresentam melhor curta animado: Mr. Hublot. E depois os indicados a melhor longa de animação, que foi Frozen. Sally Field mostra um clipe com diversas cenas de personagens heroicos, líderes e lutadores – também sem nenhuma razão de ser.

Melhores efeitos visuais fica com Gravidade, como previsto. Zack Ephron (com o cabelo do Syndrome, de Os Incríveis) apresenta o segundo número musical da noite: Karen O cantando o tema de Ela, a balada The Moon Song. O melhor curta metragem é Helium, o melhor documentário em curta metragem é The Lady in Number 6 e o melhor documentário em longa metragem é Twenty Feet from Stardom. A sequência se encerra com o melhor filme em língua estrangeira: A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino.

ellen

Nos dois prêmios de som, mixagem e edição, dá Gravidade. Christophe Waltz entra para chamar a melhor atriz coadjuvante, que não poderia ser outra a não ser a estreante Lupita Nyong’o. Ela faz um agradecimento emocionado a Solomon Northup, o personagem e autor do livro 12 Anos de Escravidão, a todo o elenco, à família e a todos mais que pôde. Uma piada com pizza, com Ellen recebendo o entregador no palco e a distribuindo a convidados escolhidos a dedo, e temos a mensagem da presidente da Academia. O melhor diretor de fotografia é ninguém menos que Emmanuel Lubezki, mais um prêmio para Gravidade. Bill Murray, que chamou o prêmio com Amy Adams, aproveitou para homenagear o falecido Harold Ramis, já saudoso.

Como melhores editores, levam Mark Sanger e o próprio Alfonso Cuarón, diretor de Gravidade, no quinto prêmio do longa. A música corta seu discurso, mas a cara de feliz diz tudo. E logo ele deve voltar como melhor diretor. Whoopi Goldberg, renascida dos mortos, anuncia uma homenagem não explicada ao Mágico de Oz, e Pink entra para cantar o clássico (Somewhere) Over the Rainbow. Após o comercial, Ellen volta como uma fada e anuncia o próximo prêmio, o de design de produção, que fica com o elaborado O Grande Gatsby.

A homenagem aos falecidos do ano conta com o nosso Eduardo Coutinho ao lado de muita gente boa, como Peter O’Toole, Harold Ramis, Elmore Leonard, Richard Matheson, entre outros. Citando até o crítico Roger Ebert, numa lembrança mais que apropriada, o clipe termina com o recém falecido Phillip Seymour Hoffman. Só não houve tempo para incluir o grande Alain Resnais, que nos deixou no sábado. Faltas sentidas e inexplicáveis: Tom Clancy e Dennis Farina.

Ellen volta afirmando ter quebrado os recordes de compartilhamento do Twitter com a foto que tirou com atores na plateia. Clipes de Philomena, Capitão Phillips e 12 Anos de Escravidão, indicados a melhor filme. John Travolta anuncia a indicada Let It Go, com uma mulherzinha esgoelando, da trilha de Frozen. Idina Menzel quem? OK, da Broadway, mas chata do mesmo jeito. Entre as cinco melhores trilhas sonoras, o prêmio é o primeiro de Steven Price, de Gravidade. E a canção é Let It Go, que levou tudo o que havia pela frente, e os compositores são basicamente os Flanders.

CateNo bloco seguinte, são anunciados os dois prêmios de roteiro. Nada foge do script que presumimos. O adaptado, baseado no livro do personagem, é 12 Anos de Escravidão, para John Ridley. Já o original fica para Spike Jonze e seu lindo Ela. Angelina Jolie e Sidney Poitier chamam o melhor diretor. O projeto dos sonhos de Cuarón ganhar tantos prêmios só podia significar que ele, idealizador do projeto, também levaria. Daniel Day-Lewis, melhor ator do ano passado, anuncia Cate Blanchett como melhor atriz, de longe a mais merecedora, por Blue Jasmine. Com toda a classe que lhe é característica, ela reverenciou as colegas indicadas e agradeceu a Deus e todo mundo.

MattDentre ótimos indicados, o melhor ator acabou ficando com Matthew McConaughey, de Clube de Compras Dallas. Ainda não foi a vez de Leonardo DiCaprio ou Chiwetel Ejiofor, ambos muito bons, e é uma pena que Bruce Dern não seja o agraciado. O melhor filme, roubando essa satisfação de Gravidade, foi 12 Anos de Escravidão, e deu a Brad Pitt seu primeiro Oscar – como produtor, claro. O diretor, Steve McQueen, representou a equipe, sendo apresentado por Pitt, e essa foi a última estatueta da noite. Um bye bye de Ellen DeGeneres e está encerrada a cerimônia. Comparando os palpites de ontem (nessa mesma página) e os resultados, percebe-se que O Pipoqueiro só errou uma. Boa noite!

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Oscar 2014 – Indicados e Previsões

por Marcelo Seabra

Ellen Degeneres

É chegada a hora de mais uma entrega de Oscars, o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Já em sua 86ª edição, a festa acontece neste domingo de Carnaval e conta com a apresentação de Ellen DeGeneres (acima). Os principais concorrentes são os longas Trapaça e Gravidade, cada um indicado em 10 categorias.

Como no ano passado, abaixo segue a lista completa de indicados em suas respectivas categorias. Marco o meu palpite com o número 1 e o meu favorito (que infelizmente não deve ganhar) com o 2. Se coincidirem, basta um X. Se não houver marcação, é porque não foi possível julgar. Todos os filmes já criticados aqui têm um link para o texto em sua primeira aparição na lista.

• MELHOR FILME
12 Anos de Escravidão (1)
Capitão Phillips
Clube de Compras Dallas
Ela
Gravidade
O Lobo de Wall Street (2)
Nebraska
Philomena
Trapaça

• DIREÇÃO
Alexander Payne, Nebraska
Alfonso Cuarón, Gravidade (X)
David O. Russell, Trapaça
Martin Scorsese, O Lobo de Wall Street
Steve McQueen, 12 Anos de Escravidão

• ATOR
Bruce Dern, Nebraska
Chiwetel Ejiofor, 12 Anos de Escravidão
Christian Bale, Trapaça
Leonardo DiCaprio, O Lobo de Wall Street (2)
Matthew McConaughey, Clube de Compras Dallas (1)

• ATRIZ
Amy Adams, Trapaça
Cate Blanchett, Blue Jasmine (X)
Judi Dench, Philomena
Meryl Streep, Álbum de Família
Sandra Bullock, Gravidade

• ATOR COADJUVANTE
Barkhad Abdi, Capitão Phillips
Bradley Cooper, Trapaça
Jared Leto, Clube de Compras Dallas (1)
Jonah Hill, O Lobo de Wall Street
Michael Fassbender, 12 Anos de Escravidão (2)

• ATRIZ COADJUVANTE
Jennifer Lawrence, Trapaça
June Squibb, Nebraska
Julia Roberts, Álbum de Família
Lupita Nyong’o, 12 Anos de Escravidão (X)
Sally Hawkins, Blue Jasmine

• ROTEIRO ORIGINAL
Blue Jasmine, Woody Allen
Clube de Compras Dallas, Craig Borten e Melisa Wallack
Ela, Spike Jonze (X)
Nebraska, Bob Nelson
Trapaça, David O. Russell e Eric Singer

• ROTEIRO ADAPTADO
12 Anos de Escravidão, John Ridley (1)
Antes da Meia-Noite, Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawke
Capitão Phillips, Billy Ray
O Lobo de Wall Street, Terence Winter (2)
Philomena, Steve Coogan e Jeff Pope

• FOTOGRAFIA
Gravidade, Emmanuel Lubezki (X)
O Grande Mestre, Philippe Le Sourd
Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum, Bruno Delbonnel
Nebraska, Phedon Papamichael
Os Suspeitos, Roger A. Deakins

• TRILHA SONORA ORIGINAL
Ela, William Butler e Owen Pallett
Gravidade, Steven Price (X)
A Menina que Roubava Livros, John Williams
Philomena, Alexandre Desplat
Walt nos Bastidores de Mary Poppins, Thomas Newman

• MONTAGEM
12 Anos de Escravidão
Capitão Phillips (X)
Clube de Compras Dallas
Gravidade
Trapaça

• DESIGN DE PRODUÇÃO
12 Anos de Escravidão
Ela
O Grande Gatsby (X)
Gravidade
Trapaça

• EFEITOS VISUAIS
Além da Escuridão – Star Trek
O Cavaleiro Solitário
Gravidade (X)
O Hobbit: A Desolação de Smaug
Homem de Ferro 3

• FIGURINO
12 Anos de Escravidão
O Grande Gatsby (X)
O Grande Mestre
The Invisible Woman
Trapaça

• MAQUIAGEM E PENTEADO
O Cavaleiro Solitário
Clube de Compras Dallas (X)
Vovô Sem Vergonha

• CANÇÃO ORIGINAL
“Alone Yet Not Alone”, Alone Yet Not Alone
“Happy”, Meu Malvado Favorito 2
“Let it Go”, Frozen – Uma Aventura Congelante (X)
“The Moon Song”, Ela
“Ordinary Love”, Mandela

• MIXAGEM DE SOM
Capitão Phillips (2)
Gravidade (1)
O Hobbit: A Desolação de Smaug
Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum
O Grande Herói

• EDIÇÃO DE EFEITOS SONOROS
Até o Fim
Capitão Phillips (2)
Gravidade (1)
O Hobbit: A Desolação de Smaug
O Grande Herói

• FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
Alabama Monroe (Bélgica)
A Caça (Dinamarca)
A Grande Beleza (Itália) (1)
A Imagem que Falta (Camboja)
Omar (Palestina)

• ANIMAÇÃO
Os Croods
Ernest & Celestine
Frozen – Uma Aventura Congelante (X)
Meu Malvado Favorito 2
Vidas ao Vento

• DOCUMENTÁRIO
20 Feet from Stardom
O Ato de Matar
Cutie and the Boxer
Dirty Wars
The Square

• CURTA-METRAGEM
Aquel No Era Yo (That Wasn’t Me), de Esteban Crespo
Avant Que De Tout Perdre (Just Before Losing Everything), de Xavier Legrand e Alexandre Gavras
Helium, de Anders Walter e Kim Magnusson
Pitääkö Mun Kaikki Hoitaa? (Do I Have to Take Care of Everything?), de Selma Vilhunen e Kirsikka Saari
The Voorman Problem, de Mark Gill e Baldwin Li

• CURTA DOCUMENTÁRIO
CaveDigger, de Jeffrey Karoff
Facing Fear, de Jason Cohen
Karama Has No Walls, de Sara Ishaq
The Lady in Number 6: Music Saved My Life, de Malcolm Clarke e Nicholas Reed
Prison Terminal: The Last Days of Private Jack Hall, de Edgar Barens

• CURTA DE ANIMAÇÃO
Feral, de Daniel Sousa e Dan Golden
Get a Horse!, de Lauren MacMullan e Dorothy McKim
Mr. Hublot, de Laurent Witz e Alexandre Espigares
Possessions, de Shuhei Morita
Room on the Broom, de Max Lang e Jan Lachauer

Lunch

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Philomena é o último do Oscar a chegar

por Marcelo Seabra

Philomena

É comum encontrar na TV programas jornalísticos que exibem matérias de interesse humano, aquelas de pessoas que passaram por grandes provações. Independente do final, elas costumam atrair muita atenção. Para jornalistas mais cínicos e pessimistas, estas são as piores missões. Martin Sixsmith era um desses e acabou partindo para uma carreira como assessor político. No momento em que se viu em desgraça profissional, voltou ao jornalismo e a primeira história que caiu em seu colo era exatamente o que não queria: a busca de Philomena Lee pelo filho entregue à adoção.

Certamente um dos filmes mais discretos entre os indicados ao Oscar, Philomena (2013) é daqueles que devem muito do barulho causado à atriz principal, a grande Judy Dench (a M das novas aventuras de James Bond). Não fosse a inglesa, seria apenas mais um filme bonitinho e sensível entre tantos outros, com seus pequenos furos. Dench dá a Philomena a dimensão exata que a personagem necessita para que nos interessemos pelo drama dela. Ainda bem jovem, ela se apaixona e engravida de um rapazinho, o pai a envia para um convento e ela supostamente é cuidada pelas freiras. Assim como no marcante Em Nome de Deus (The Magdalene Sisters, 2002), o cerne da questão é o tratamento dispensado pela Igreja Católica às garotas “desonradas” recusadas por suas famílias.

Philomena

Além de produzir e roteirizar (ao lado de Jeff Pope), Steve Coogan ainda assume o papel de Sixsmith, o jornalista que toma conhecimento da história da sofrida senhora e decide investigar, já que isso daria muito mais público que seus adorados estudos sobre a história da Rússia. Se, num primeiro momento, ele parece ser apenas um chato intolerante, as coisas se desenvolvem bem e ele acaba ganhando traços mais reais, de uma boa pessoa, porém vaidosa e impaciente. O momento pelo qual passa também não ajuda, o que serve de atenuante. Philomena parece ser um pouco limitada intelectualmente, o que é compensado com um grande coração e uma simpatia imensa. Sixsmith é praticamente o oposto. O contraste entre as duas personalidades cria momentos quase cômicos, que ajudam a quebrar a tensão causada pelos pontos trágicos da trama.

Mais uma vez passando despercebido por trás das câmeras, Stephen Frears é o tipo do sujeito que dirige em todos os gêneros, sem nunca deixar uma marca. Responsável por obras grandes (Ligações Perigosas, Os Imorais, Alta Fidelidade), boas (A Rainha, Herói por Acidente) e irritantes (O Segredo de Mary Reilly, O Dobro ou Nada), sua inconstância não cria muitas expectativas, o que o deixa no lucro quando acerta o alvo. Novamente sob o comando de Frears, Judy Dench repete o feito de Sra. Henderson Apresenta (Mrs. Henderson Presents, 2005) e recebe uma indicação ao Oscar de melhor atriz, sua sétima – o único que levou, como coadjuvante, foi por poucos minutos em cena em Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love, 1998). Apesar de pouco provável, Dench ganhar por Philomena seria fazer justiça a uma bela composição de uma veterana que por diversas vezes provou seu talento.

Esse é o casal real

Esses são os dois reais

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McConaughey revive os primórdios da AIDS

por Marcelo Seabra

Dallas Buyers Club banner

Na década de 80, a AIDS ainda era tida como a doença que matava gays, e as vítimas do vírus HIV eram discriminadas e tidas como párias. Imagine ser heterossexual, fazer parte dessa turma preconceituosa e se descobrir portador? Foi o que aconteceu com Ronald Woodroof, um americano cuja história chega agora aos cinemas nacionais. Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013) tem como principal trunfo o trabalho de seu protagonista, o ótimo Matthew McConaughey, que cria uma bela jornada que consegue não parecer forçada ou fantasiosa em uma das melhores atuações de uma carreira que vem se mostrando brilhante.

A partir de O Poder e a Lei (The Lincoln Lawyer, 2011), McConaughey parece ter acordado para as escolhas que vinha fazendo e deixou de lado aquelas comédias românticas duvidosas. Em vários momentos passados, ele demonstrou ser um bom ator e fez alguns filmes bem interessantes, como Tempo de Matar (A Time to Kill, 1996) e A Mão do Diabo (Frailty, 2001). Agora, a série de acertos parece ter vindo pra ficar, o que pode ser notado até na TV, com True Detective. Sempre lembrado pelo forte sotaque, ele volta a viver um texano, mas nem por isso seu talento pode ser menosprezado. E a perda de peso é impressionante!

Woodroof é apresentado como um sujeito intolerante, machista e brigão, que divide seu tempo entre assistir a rodeios e trocar de parceiras sexuais. Por pouco, descobrimos que ele trabalha como eletricista, mas logo no início da projeção, já bem debilitado, ele se descobre infectado com o vírus HIV. Como a informações não eram bem difundidas, ele corre atrás de algo a mais além do diagnóstico recebido. Os médicos lhe deram mais 30 dias de vida. Aí, começa uma certa transformação, já que Woodroof se vê em uma situação bem diferente. Seus amigos já não o toleram, ele agora é o excluído. Esse novo papel social o faz repensar algumas atitudes, enquanto ele pesquisa a respeito de remédios que poderiam dar um prazo maior, talvez até com mais qualidade de vida.

DBC

Outro destaque de Clube de Compras Dallas é Jared Leto (acima). Lembrado por obras como Clube da Luta (Fight Club, 1999), Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream, 2000) e O Senhor das Armas (Lord of War, 2005), ele andava sumido das telas por se dedicar à sua outra ocupação: a de vocalista, guitarrista e compositor da banda 30 Seconds to Mars. A volta à sétima arte se deu com o papel de um travesti que também luta pela sobrevivência, a última figura que se imaginaria ver ao lado de Woodroof. Num misto de sensibilidade e força, Leto constrói um personagem interessante, fugindo da maioria dos estereótipos que vemos por aí. É provável que a dobradinha dos Globos de Ouro se repita e McConaughey e Leto fiquem com as estatuetas carecas no próximo domingo. Outros nomes mais famosos do elenco são os de Jennifer Garner (de Juno, 2007), numa apagada participação como médica de Woodroof, e Griffin Dunne (de Depois de Horas, 1985), irreconhecível como o médico sem licença que fornece os remédios contrabandeados.

Como acontece com vários longas baseados em fatos, algumas passagens parecem um pouco corridas, já que o período abarcado é longo e saltos são necessários. Talvez, pelo fato do roteiro ter passado em tantas mãos, com diretores e atores diferentes envolvidos, certas passagens não fiquem tão claras. Liberdades criativas eram esperadas, claro, já que a obra não tem um compromisso de ser um retrato fiel da realidade. Mesmo assim, a dupla Melisa Wallack e Craig Borten também foi indicada ao Oscar, sendo esta uma das seis categorias em que o filme foi lembrado. O diretor Jean-Marc Vallée (de A Jovem Rainha Victoria, 2009) resiste bravamente à tentação de partir para a pieguice, e só chega perto das convenções de costume quando sugere um interesse romântico para Woodroof. Felizmente, o foco permanece nesse rico personagem e em sua jornada.

O diretor apresenta seus atores principais

O diretor apresenta seus atores principais

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