Mais confete duvidoso em David O. Russell

por Marcelo Seabra

American Hustle poster

Bons filmes sobre golpes precisam ser engenhosos e ter de fato uma grande jogada para se justificarem. Trapaça (American Hustle, 2013) não é assim tão inspirado nesse quesito, e mantém o interesse com boas interpretações. O trio principal de O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012), o diretor David O. Russell e os atores Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, se juntou a Christian Bale e Amy Adams (ambos de O Vencedor, 2010, de Russell) e novamente eles conseguiram fazer barulho em premiações e festivais. Dessa vez, ao menos, é mais justificado que com O Lado Bom.

Os dois primeiros filmes de Guy Ritchie são muito bem sucedidos quando se fala de golpes, contando com personagens interessantes, bom humor e uma trama bem montada. Russell e seu colega roteirista Eric Warren Singer (de Trama Internacional, 2009) não têm um resultado tão bom, com uma história que parece requentada de várias outras produções e cuja conclusão está longe de ser satisfatória. O que compensa essas falhas é o trio de atores principais, todos muito inspirados. Lawrence também está bem, e é importante para a trama, apenas tem poucas cenas para justificar tanto confete jogado nela. Cantar uma música e dar alguns escândalos não é o suficiente para ser a melhor atriz do ano, mesmo que coadjuvante.

American Hustle girls

Em seu segundo filme com o diretor, Bale vive Irving Rosenfeld, um golpista experiente que usa o sex appeal da namorada, Sydney Prosser (Adams), para enganar clientes de possíveis empréstimos e dar consultorias financeiras falsas, sempre embolsando gordas comissões. O problema maior de Rosenfeld está em casa e atende por Rosalyn (Lawrence), a esposa de humor variante que usa o filho para segurar o marido. Ambas são lindas, usam cabelos espalhafatosos e decotes generosos, mas Irving tem uma ligação mais profunda com a colega de vigarices, enquanto Rosalyn é o troféu exibido em ocasiões necessárias.

Quando Irving é preso pelo FBI, o agente encarregado (Cooper) propõe uma parceria para prender outros criminosos em troca de diminuição de pena. Partindo de subornos a políticos, como o prefeito de Nova Jersey, Carmine Polito (Jeremy Renner, de O Legado Bourne, 2012), eles acabam chegando à máfia, e a operação toma grandes proporções. O golpe, incluindo o uso de um sheik falso, é inspirado em um caso real dos anos 70 (conhecido como Abscam, algo como “golpe árabe”), mas alguns elementos, além dos nomes dos envolvidos, foram alterados para ficarem mais cômicos e absurdos. Por isso, vemos no início da projeção que “parte disso realmente aconteceu”, mas no fim somos informados que “esta é uma obra de ficção”.

Assim como outra obra recente, O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013), este Trapaça tem algo em comum com Os Bons Companheiros e Russell parece emular o estilo de Martin Scorsese. Exemplos são o uso da narração, os sucessos pop na trilha e há até uma participação muito especial que reforça isso. Mas a necessidade de fazer piadas (como a história do chefe vivido por Louis C.K.) não permite um clima apropriado de tensão, o que também é prejudicado pelo excesso de diálogos, muitos deles mais expositivos do que deveriam. A Trapaça (The Spanish Prisoner, 1997), de David Mamet, é mais enxuto e amarrado e você pode acabar confundindo os dois, pelo título nacional. Terá sido um bom negócio.

O elenco, de cara limpa

O elenco, de cara limpa

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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