Depois Daquela Montanha é onde queremos chegar

por Marcelo Seabra

Alex e Ben precisam viajar. Mas nenhum avião está para sair, uma tempestade se avizinha. Ela vai se casar no outro dia. Ele tem uma cirurgia importante, o paciente está esperando. No aeroporto, eles conversam e constatam a urgência do outro. Alex consegue um bimotor com um piloto confiante que poderia entregar os dois no destino dentro do prazo deles. Mas eles não contavam com um acidente. Depois Daquela Montanha (The Mountain Between Us, 2017) chega aos cinemas essa semana com a dupla tentando sobreviver.

Se uma tempestade se aproxima e o voo é cancelado, você contrataria um piloto freelancer? Se um avião enorme, com todas as condições de voo, é impedido de voar, você pagaria o triplo para um menor, totalmente duvidoso? É exatamente o que fazem os protagonistas desse filme, que seguem tomando decisões bem estranhas. No meio de uma montanha gelada, cheia de neve, a única coisa que você pode fazer é tomar decisões erradas. Todas, num primeiro momento, parecem ser. E quem deixaria para voltar para casa na véspera do próprio casamento?

O grande mérito desse Depois Daquela Montanha é o elenco. Mesmo não parecendo muito à vontade um com o outro, Kate Winslet (de Beleza Oculta, 2016) e Idris Elba (de Thor: Ragnarok, 2017) fazem valer o ingresso. Os dois sabem exatamente o que fazer, cada um no seu papel. Winslet vive uma fotojornalista competente, que está no momento de seu casamento e só consegue pensar no noivo (Dermot Mulroney, de Conspiração e Poder, 2015). Ben pensa no paciente que aguarda pela operação, mas sabe que o essencial é sobreviver.

O problema é que, enquanto você acha que se trata de um drama de sobrevivência, toda a campanha publicitária aponta para um romance, que parece acontecer sem perceber que as pessoas precisam antes sobreviver. Se você cai de avião em uma montanha e sobrevive, você torce para o seu colega ser um médico. E um daqueles que faz tudo pelo próximo, não um que queira apenas se salvar. É o que acontece com Alex, que tem a sorte de ter Ben por perto.

A fotografia de Depois Daquela Montanha não tem muita opção, a não ser mostrar neve e paisagens acidentadas. Até um certo ponto, tudo corre como esperado, e temos até momentos de tensão. Mas as coisas entram num ritmo de Sessão da Tarde e se torna previsível, dificultando ficar na sala de cinema mais um pouco. O filme acaba sendo muito longo, tirar vinte minutos não faria mal. E, quando você acha que acabou, ele continua mais um pouco, cansando mais. E você pensa: ao menos, teve Kate Winslet e Idris Elba, dois grandes atores.

O premiado Hany Abu-Assad, de Paradise Now e Omar, é o diretor da adaptação

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1922 é o quinto Stephen King do ano

por Marcelo Seabra

Com a nova produção original Netflix, Stephen King vê sua quinta obra sendo adaptada esse ano. E, felizmente, com um ótimo resultado. 1922 (2017) já está disponível e vai assombrar os pesadelos de muita gente, com seus inúmeros ratos surgindo não se sabe de onde. O resultado só perde para It – A Coisa (2017), mas são caminhos bem distintos: esse segue pelo terror psicológico, pelos fantasmas que só um homem culpado vê.

Com uma leve influência de Crime e Castigo, clássico de Dostoiévski, e uma pegada de O Coração Acusador, de Allan Poe, King desenvolve seu próprio estudo dos efeitos da culpa, dentre outros assuntos. O mais impressionante é que o conto, terceiro a saltar do livro Escuridão Total Sem Estrelas, não parece dos mais promissores para as telas. Mérito do diretor Zak Hilditch (de As Horas Finais, 2013), que adaptou ele mesmo a história e soube aproveitar os pontos mais importantes, sem esticar nada. Nada mirabolante, daquele tipo que dá a falsa impressão de ter sido feito muito facilmente.

Outro fator que ajudou muito no sucesso dessa adaptação foi a escolha do protagonista. Em sua terceira incursão no mundo de King (depois de O Apanhador de Sonhos e O Nevoeiro), Thomas Jane (acima) mais uma vez mostra ser um ator subaproveitado pela indústria. A mudança física, para um sujeito que já foi galã e (anti)herói de quadrinhos, é impressionante. Magro, com entradas que sinalizam uma calvície próxima, arcadas dentárias que não parecem se encontrar e um jeito taciturno, ele vive um perfeito fazendeiro de poucas posses, acostumado a muito trabalho naquele longínquo ano de 1922.

Com um terreno razoável para suas plantações e vacas, Wilfred (Jane, de O Sono da Morte, 2016) sonha em anexar os acres herdados pela esposa, Arlette (Molly Parker, de Pequenos Delitos, 2016). O problema é que ela pensa em vender tudo o que puder e abrir uma loja na capital, onde julga que as pessoas sejam muito mais interessantes, e assim seria a sua vida. A mudança significaria ao filho do casal, Henry (Dylan Schmid, de Amaldiçoado, 2013), ter que deixar a namorada, a filha do fazendeiro vizinho, para acompanhar a mãe.

Para manter suas terras e sua vida no mesmo lugar, Wilfred começa a arquitetar a morte da esposa. E o pior: manipula o filho para ajudá-lo. E é aí que as coisas esquentam. É muito curioso acompanhar as consequências dos atos dos dois, e a forma como a mente de Wilfred funciona. Para contribuir, temos a combinação de dois elementos fantásticos: a trilha sonora de Mike Patton (de O Lugar Onde Tudo Termina, 2012), que sabe o momento exato de ficar perturbadora, e a fotografia de Ben Richardson (de Indomável Sonhadora, 2012), que consegue passar claustrofobia mesmo em lugares abertos.

O tempo passa e as pastagens vão ficando marrons, o gado vai morrendo e Wilfred, perdendo a sanidade. E o público acompanha o processo de perto. Ele é um sujeito terrível, claro, mas não conseguimos ter raiva dele, tamanha é a desgraça que se avizinha. Assim como em Jogo Perigoso (Gerald’s Game, 2017), boa parte do que vemos está na mente do protagonista. Mas, nem por isso, é menos prejudicial ou assustador.

Arlette não sabe o que a espera

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Programa do Pipoqueiro #05 – James Bond

por Marcelo Seabra

Em mais uma edição do Programa do Pipoqueiro, fizemos um ranking das 15 melhores músicas-tema do espião James Bond, com muitas curiosidades e informações sobre os filmes. É só apertar o play abaixo!

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Thor: Ragnarok é uma grande comédia de ação

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Do trio que forma a espinha dorsal dos Vingadores no Universo Cinematográfico da Marvel, Thor é o personagem com o qual os produtores e roteiristas têm a maior dificuldade de trabalhar. Se o Capitão América é o soldado e o Homem de Ferro, o gênio, playboy, bilionário, filantropo e comediante, Thor fica numa área cinzenta entre os dois. Ele é um deus, o que significa que um ego gigantesco e fanfarronice desmedida se encaixam no papel, mas também precisa se adaptar à convivência com humanos, o que gera diversas situações cômicas. Thor: Ragnarok (2017), terceiro filme solo do Deus do Trovão, abraça isso e o que temos aqui é uma comédia de ação no melhor estilo Guardiões da Galáxia.

A referência aos Guardiões é apropriada pelo fato de Thor: Ragnarok ser, antes de mais nada, uma aventura interplanetária e de o roteiro escrito a seis mãos, por Eric Pearson (de Agente Carter), Cristopher Yost (Thor: Mundo Sombrio, 2013) e Craig Kyle (de vários desenhos da Marvel), disparar piadas uma atrás da outra, nem sempre com os melhores resultados. Apesar disso, eles e o diretor Taika Waititi (de O Que Fazemos Nas Sombras, 2014) não esqueceram da ação, o que o filme tem de sobra. Outro ponto positivo do roteiro do trio foi o fato de eles terem olhado para uma das melhores fases dos quadrinhos tanto do Deus do Trovão quanto do Hulk para construir a história, o que vai fazer a alegria dos fãs.

A história se passa dois anos após os eventos mostrados em Vingadores: A Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron, 2015). Desde então, Thor (Chris Hemsworth, de Caça-Fantasmas, 2016) tem vagado pelo espaço em busca das Joias do Infinito, aquelas pedras que também têm sido buscadas por Thanos (Josh Brolin) e terão importância fundamental no próximo filme dos Vingadores, Guerra Infinita. Sua busca, no entanto, se mostra infrutífera e Thor decide voltar para casa, em Asgard. Lá chegando, ele descobre que Loki (Tom Hiddleston, de Kong: A Ilha da Caveira, 2017) assumiu o trono e baniu Odin (Anthony Hopkins, de Transformers: O Último Cavaleiro, 2017) para a Terra, o que colocou os Nove Reinos em desarmonia.

Depois de um papo pouco amigável, Thor e Loki partem para a Terra e acabam encontrando Odin, que revela que seu tempo chegou ao fim. Não só isso, como também que a dupla tem uma irmã mais velha: Hela (Cate Blanchett, de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, 2014), a Deusa da Morte. Há milênios, Odin baniu Hela de Asgard, mas sua vida era a única coisa que a mantinha afastada. Com a sua morte, Hela não só voltaria, como deteria poderes ilimitados e provocaria a destruição de Asgard.

Defender o planeta acaba se mostrando uma tarefa muito mais complicada do que o esperado e, logo após o primeiro confronto com a vilã, os irmãos acabam indo parar em Sakaar, um planeta governado pelo Grão-Mestre (Jeff Goldblum, de Independence Day: O Ressurgimento, 2016 – acima), um governante que adora promover uma variação das lutas de gladiadores romanas. Lá, Thor é capturado por Valquíria (Tessa Thompson, de Westworld) e precisa enfrentar o campeão de Sakaar: ninguém mais, ninguém menos do que o até então desaparecido Hulk (Mark Rufallo, de Spotlight: Segredos Revelados, 2015). Não só isso: se quiser sair de Sakaar e voltar a Asgard para enfrentar Hela, Thor precisa derrotar seu companheiro Vingador.

Thor: Ragnarok é, de longe, o melhor filme solo do personagem. Apesar do excesso de piadas, vezes mal colocadas ou forçadas, e algumas cenas plasticamente exageradas, o filme tem um nível de ação superior ao de seus antecessores. Um dos maiores pontos positivos do roteiro foi beber da fonte do período em que o roteirista e desenhista Walt Simonson esteve à frente do título do personagem na Marvel. Alguns dos melhores momentos do filme, especialmente os protagonizados por Skurge (Karl Urban, de Star Trek: Sem Fronteiras, 2016 – abaixo), foram praticamente tirados das páginas dos quadrinhos escritos e desenhados por Simonson. Personagens e situações presentes no arco de histórias conhecido como Planeta Hulk, um dos favoritos dentre os fãs do personagem, serviram de inspiração para algumas das passagens mais interessantes.

Os méritos não se devem apenas ao roteiro. Todos os atores estão bem em seus papéis, tanto os novatos quanto aqueles já conhecidos dos fãs da Marvel, que estão de volta, com destaque para o Heimdall de Idris Elba (de A Torre Negra, 2017). A fotografia, que se aproveita da estética clássica dos quadrinhos da Marvel dos anos 1960, é muito boa; os efeitos especiais e visuais e a trilha sonora também estão adequados. Até porque é difícil criticar uma trilha sonora que tem Immigrant Song, do Led Zeppelin, como uma das principais músicas. Há também uma série de easter eggs aqui e ali, que apenas os mais atentos perceberão. Ah, e as cenas de lutas são algumas das melhores já apresentadas nos filmes da Marvel, especialmente a que abre a película e dá o tom de como elas serão daí em diante.

Thor: Ragnarok pode não agradar a todos. Os fãs mais xiitas vão reclamar da desvirtuação do personagem, que parece mais um comediante do que o Deus do Trovão com o qual se acostumaram nos quadrinhos. O excesso de tiradas cômicas é um fator que tira um pouco da força. No entanto, não deixa de ser o melhor esforço da Marvel com o Thor até o momento.

Duas últimas observações: fique atento para as participações surpresa de diversos atores famosos no filme e lembre-se que todo longa da Marvel contém cenas pós-créditos. Thor: Ragnarok tem duas. E, sim, Stan Lee aparece.

Os personagens principais estão aí

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O Formidável traz Godard e uma de suas musas

por Marcelo Seabra

1968 foi o ano das “Barricadas do Desejo”, da greve geral na França que reuniu todas as classes e etnias numa insurreição popular. E foi também quando Jean-Luc Godard se sentiu longe de seu público e inútil para seu povo. Ele renuncia a tudo que fez até então e começa a acompanhar os movimentos revolucionários que têm surgido. É nesse período que O Formidável (Le Redoutable, 2017) nos leva ao diretor, focando também em como andava o casamento dele com a atriz Anne Wiazemsky.

Baseado no livro da própria Wiazemsky, o roteiro traz Louis Garrel no papel principal. O que é curioso, já que ele despontou para a fama em Os Sonhadores (The Dreamers, 2003), um longa exatamente sobre esse mesmo período, dirigido por Bernardo Bertolucci, que aqui se torna personagem (vivido por Guido Caprino). O ator, geralmente apontado como galã, passou por uma piora no visual e mostrou um bem-vindo lado leve, ajudando a tornar o longa mais palatável.

Encontramos Godard quase recluso, sem sair de seu ninho de amor com Anne (Stacy Martin, de Ninfomaníaca, 2013). Mas percebemos que a relação dos dois já foi melhor. Ou talvez não, eles sempre tenham tido uma certa frieza entre eles. Anne certamente admira Jean-Luc. Ele, por sua vez, se sente atraído por ela, mas não necessariamente por suas ideias. Talvez para enfatizar essa diferença, Martin passe boa parte do longa sem roupas, enquanto Garrel faz discursos sobre qualquer pequeneza da rotina.

Os dois estereótipos são reforçados em meio a piadas metalinguísticas e a um ar que tenta emular o clima dos filmes de Godard. A estética, as cores, a trilha sonora, tudo tenta recriar essa atmosfera. Como nem todo filme do Godard é uma obra prima, recriá-los pode ser um tiro no escuro, ou no pé. O resultado parece mais longo que seus 110 minutos e se torna cansativo em alguns momentos, além de parecer meio esdrúxula a ideia de que alguém se interessaria pela vida amorosa de Godard. E dá a entender que a produção cultural dele terminou em 1968.

Extremamente feliz no longa que o revelou para o mundo, O Artista (The Artist, 2011), o diretor e roteirista Michel Hazanavicius reforça aqui alguns clichês e consegue fazer um Godard que, além de chato e pretensioso, se torna ciumento, o que impossibilita qualquer pessoa de ficar por perto. Não dá para entender como seus amigos não se afastam. “Gênios são difíceis”, diz o ditado, e este é um exemplo. Ao menos, no retrato que O Formidável pinta dele. Para piorar, o filme ainda é um tanto moralista, defendendo valores tradicionais, como o casamento que Anne busca salvar, e demonizando os revolucionários e os membros do grupo formado por Godard, o Dziga Vertov.

O clima de revolução de 1968 é bem retratado

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Tempestade antevê o fim do mundo

por Marcelo Seabra

Depois de escrever e produzir algumas bobagens divertidas como Soldado Universal, Stargate e Independence Day (e a sequência intragável), Dean Devlin resolveu atacar de diretor. Deixou de lado a parte “divertida” e ficou só na “bobagem” com Tempestade: Planeta em Fúria (Geostorm, 2017). E a estupidez já começa no título nacional, que não obedece o conceito apresentado no filme (e no título original) de uma geotempestade, uma catástrofe que os personagens tentam evitar a todo custo.

Um bom elenco, que inclui Gerard Butler, Jim Sturgess, Abbie Cornish, Ed Harris e Andy Garcia, é desperdiçado com uma história estapafúrdia que mais uma vez coloca o presidente americano como presidente do mundo. Uma rede de satélites é inventada para segurar a natureza e evitar tsunamis e outras desgraças. Depois de muito tempo em paz, alguém começa a avacalhar o esquema e temos cenas impensáveis como uma inundação no deserto e um congelamento generalizado em Copacabana.

As coisas acontecem com os personagens como e na hora em que acontecem apenas para servirem ao roteiro. O engenheiro-chefe do projeto (Butler) é demitido depois de salvar o planeta, sendo até reconhecido na rua pela façanha. Os senadores são todos maus ou corruptos, para compactuarem com isso, e uma briga de família é forçada porque… porque precisa. E isso porque estou tentando ficar nos clichês, e não nas situações que desafiam todas as leis da física ao mesmo tempo. E a nossa paciência. As motivações dos vilões são o tipo de coisa que tira qualquer um do sério. E sabe qual é a solução quando o seu computador pegar um vírus? Basta reiniciá-lo!

Este é um exemplo dos cataclismas que vamos enfrentar

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The Gifted explora universo mutante ausente de X-Men

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Depois de duas trilogias com os X-Men e uma com o Wolverine no cinema, a Fox resolveu que era hora de explorar o universo dos mutantes da Marvel também na TV, expandindo sua franquia. Assim sendo, depois da psicodélica Legion, eis que chega à telinha The Gifted, série que reinventa personagens já conhecidos pelos fãs dos quadrinhos e cria novos em uma história, até o momento, bem interessante.

The Gifted se passa em um mundo onde os X-Men desapareceram há algum tempo e os mutantes são uma realidade cotidiana. No entanto, a exemplo do que sempre acontece em histórias envolvendo os X-Men, e que foi um dos propósitos de Stan Lee e Jack Kirby quando criaram o grupo nos anos 1960, os mutantes ainda são uma minoria, enfrentam preconceito e são malvistos tanto pelo público humano “normal” quanto pelo Estado, que os teme e quer controlá-los. Isso piora bastante quando um acidente não explicado em detalhes faz com que o governo dos EUA aperte ainda mais o cerco contra aqueles detentores do Gene X – responsável por conceder capacidades extraordinárias a seus portadores.

O pontapé inicial da série se dá quando Andy Strucker (Percy Hynes White, de Uma Noite No Museu 3: O Segredo da Tumba, 2014), um garoto que sofre bullying na escola, manifesta seus poderes mutantes pela primeira vez durante uma briga com valentões no banheiro do colégio. Está acontecendo um baile e isso faz com que diversos estudantes sejam feridos. A situação só não se torna pior para Andy porque ele é resgatado por sua irmã, Lauren (Natalie Alyn Lind, da série Gotham). Lauren também é mutante, mas já tem alguma experiência com seus poderes, ainda que tenha sido forçada a escondê-los dos pais.

Isso se dá pelo fato de Andy e Lauren serem filhos de Reed Strucker (Stephen Moyer, de Um Homem Entre Gigantes, 2015), um promotor federal especializado em crimes cometidos contra mutantes. Pouco antes dos eventos envolvendo seus filhos, Reed estava justamente envolvido em um caso espinhoso da Resistência Mutante, grupo dedicado a ajudar mutantes a se esconderem do público. Quando Blink (Jamie Chung, também de Gotham e de Sin City: A Dama Fatal, 2014) uma mutante capaz de abrir portais de teleporte, foge da prisão, a Resistência Mutante se envolve.

No confronto com a polícia, Lorna Dane/Polaris (Emma Dumont), mutante dotada de poderes magnéticos, acaba sendo capturada. E, enquanto seus aliados, especialmente Marcos Diaz/Eclipse (Sean Teale) e John Proudstar/Thunderbird (Blair Redford), tentam bolar um plano para tirar Lorna da cadeia, Reed quer usar informação privilegiada que tem contra ela para que Polaris revele onde a Resistência de esconde.

Após ser informado por sua esposa, Kate (Amy Acker, de Person of Interest), do ocorrido com seus filhos, tudo muda para Reed. Agora, ele quer encontrar a Resistência Mutante para que eles possam proteger e ajudar seus filhos. Para seu azar, no entanto, o governo tem um departamento especializado em combater a ameaça mutante, o Serviço Sentinela, cujo agente Jace Turner (Coby Bell, de Burn Notice) não vai descansar enquanto não levar os Strucker e demais membros da Resistência à justiça.

A série explora o universo mutante de maneira competente, criando um cenário que faz sinergia com a mitologia apresentada no cinema, ainda que jogue a cronologia ali apresentada para o alto. O que, sejamos francos, é algo que Bryan Singer –  diretor de quatro dos seis filmes dos X-Men da Fox e que também produz a série – já havia feito na telona.

Uma das grandes sacadas da série é como utilizaram os Sentinelas. Se, no Cinema, eles são robôs gigantes construídos para combater a ameaça mutante, aqui eles tomam a forma de um departamento policial especializado. Essa foi uma forma bastante criativa de manter a figura dos Sentinelas atrelada à mitologia do Universo Mutante sem ter que contar com o CGI primário que caracteriza séries de TV cujo orçamento não é no montante de Game of Thrones.

The Gifted estreou nos EUA no dia 02 de outubro e no dia seguinte por aqui, sendo transmitida pela Fox todas as terças, às 22h30. Inicialmente, a primeira temporada terá apenas oito episódios, mas se os números de sites como o Rotten Tomatoes estiverem corretos, é certo que mais serão encomendados. Pelo que a série apresentou até agora, a Fox faria bem em apostar nela.

A equipe deu uma pausa nas filmagens em Dallas pra essa foto

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Uma Razão para Recomeçar já cansa no título

por Marcelo Seabra

“A vida é para ser vivida”. Essa frase, por si só, já caracteriza um filme como autoajuda. Uma Razão para Recomeçar (New Life, 2016) entra disfarçadamente nesse filão, repleto de mensagens para fazer seu espectador se sentir bem e sair do cinema cheio de esperança. E não passa disso. Tudo é muito bonitinho, até os momentos tristes, já que sempre podemos esperar a óbvia volta por cima.

O drama marca a estreia como diretor e roteirista do ator Drew Waters (de Transformers: O Último Cavaleiro, 2017). Baseando-se nesse único esforço, seria melhor que ele continuasse em frente às câmeras. Os poucos conflitos que vemos na tela parecem superficiais, como tudo mais. O roteiro não tem um quebra-molas, tudo corre por um caminho pavimentado, sinalizado, de poucas curvas. Isso faz com que até meros 88 minutos se tornem intermináveis e, antes da sessão acabar e as luzes se acenderem, você já está de pé, se dirigindo à porta.

Quando descobrimos que Erin Bethea, protagonista e uma dos quatro roteiristas, ficou famosa com À Prova de Fogo (Fireproof, 2008) e seguiu fazendo outros vários trabalhos de cunho cristão, tudo fica mais claro. Uma Razão para Recomeçar não chega a pregar, como outros filmes andaram fazendo, mas se aproxima muito. Somos apresentados a duas crianças vizinhas que crescem muito próximas e, na adolescência, descobrem o amor (posso até ouvir o “ahhhh” no fundo).

Já crescidos, Ben (Jonathan Patrick Moore, da série Blindspot) e Ava (Bethea) seguem firmes como casal, mas a vida entra no caminho. Uma distância mal explicada entre eles causa o primeiro revés. Mas não se preocupe, vai dar tudo certo. E, assim, eles seguem, enfrentando as agruras da rotina, os percalços da vida adulta e quantos outros clichês você possa imaginar. Não falta nem o bom velhinho que percebe o problema no ar e vem ajudar, papel do veterano Bill Cobbs (de Greenleaf). Ah mencionei o médico ranzinza que não passa de um coração enorme? Sim, ele também está lá, fazendo Terry O’Quinn (de The Blacklist: Redemption) passar constrangimento.

Há uma grande onda de filmes de temática religiosa tomando os cinemas, como os dois Deus Não Está Morto, e produtoras especializadas nesse grupo. Eles se apresentam como tal e têm público cativo. Uma Razão para Recomeçar se esconde numa proposta de novo Love Story, o que não é muito honesto com o público. Mas, se você gostou de A Cabana (The Shack, 2017), pode ir de olhos fechados. E coração aberto.

Até os coadjuvantes causam diabetes

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Programa do Pipoqueiro #04 – Stephen King

por Marcelo Seabra

Stephen King é o objeto desta quarta edição do Programa do Pipoqueiro. Selecionamos algumas músicas boas de adaptações para o Cinema da obra do Mestre do Terror! Tudo acompanhado de comentários sobre os filmes e de novidades dos cinemas.

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Além da Morte é releitura para novas gerações

por Marcelo Seabra

Em 1990, foi lançado um filme que não fez uma ótima bilheteria, nem recebeu críticas fantásticas. Por algum motivo, alguém decidiu que ele merecia uma refilmagem, ou uma “reimaginação”, como dizem por lá. E, assim, Linha Mortal virou Além da Morte (Flatliners, 2017), mantendo o conceito: residentes em um grande hospital se reúnem para provocar neles mesmos experiências de quase morte. Mas quem sofre é o espectador.

Uma sessão de Além da Morte não é exatamente excruciante. Mas há uns diálogos bobos e uma narração que até traz lição de moral que eram totalmente desnecessários. E os personagens são bem esquemáticos, cada um dentro de uma forma bem quadrada. O diferencial do original era um elenco de bastante apelo na época: Kiefer Sutherland, Julia Roberts, Kevin Bacon, William Baldwin e Oliver Platt eram nomes que, juntos, deveriam atrair público. A arrecadação não foi nenhuma beleza, mas o orçamento era pequeno e acabou dando lucro. Como não tem esse chamariz, o novo acaba sendo algo genérico.

Novamente com Michael Douglas como produtor e com roteiro baseado na história de Peter Filardi, o filme nos apresenta a Courtney (Ellen Page, de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, 2014), uma estudante de medicina que decide conduzir um projeto pessoal. Ela pretende investigar o que acontece após a morte baseando-se num mapeamento do corpo. Com dois amigos para trazê-la de volta, ela própria será a cobaia. Após levantar da cama, ela tem várias sensações aguçadas e retoma algumas memórias de muitos anos atrás. Mas ela logo vai descobrir que nem tudo são flores.

Os dois amigos que acompanharam Courtney, Jamie (James Norton, de Black Mirror) e Sophia (Kiersey Clemons, do novo Liga da Justiça), logo passam pelo procedimento e mais dois colegas entram na jogada, Ray (Diego Luna, de Rogue One, 2016) e Marlo (Nina Dobrev, de The Vampire Diaries). Courtney começa a ter alucinações e é tarde demais para avisar os outros, que seguem pelo mesmo caminho. Como todo filme de suspense e terror recente parece estar fazendo, ele vai mais longe nos quesitos sustos e violência que o de 1990, potencializando algumas situações que antes eram tratadas mais psicologicamente.

Se Linha da Morte não era exatamente memorável, a tendência é que esse Além da Morte seja esquecido rapidamente. O conceito é até interessante e merece ser apresentado para as novas gerações. Filardi, o roteirista original, fez pesquisas com pessoas que passaram por experiências de quase morte para dar veracidade à sua estreia no Cinema. Niels Arden Oplev (de Sem Perdão, 2013) e Ben Ripley (de Contra o Tempo, 2011), diretor e roteirista, não conseguem adicionar nada, e até diluem qualidades do longa de Joel Schumacher. Entre os dois, eu ficaria com o primeiro.

Há uma surpresa desse elenco original no novo

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