Jogo Perigoso é mais Stephen King em 2017

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Pode-se dizer que esse é o ano de Stephen King nas telas, tanto grande quanto pequena. Nada menos do que cinco adaptações de histórias do “mestre do terror” chegam às telas grande e pequena esse ano. O Nevoeiro virou uma série de TV que teve suas qualidades superadas por seus defeitos e não terá uma segunda temporada. A Torre Negra e It – A Coisa, foram adaptadas para o cinema com resultados bem distintos: enquanto a primeira foi recebida de maneira bem fria por público e crítica, com bons motivos, a segunda talvez seja um dos filmes mais impressionantes do ano até o momento.

As duas adaptações restantes de obras de King ficaram a cargo da Netflix. 1922, baseada em um conto da coletânea Escuridão Total Sem Estrelas será disponibilizado no serviço de streaming no dia 22 de outubro. Já Jogo Perigoso (Gerald’s Game, 2017) chegou à Netflix no último dia 29 de setembro e alcança resultados mistos. Funciona muito bem como adaptação, mas nem tanto como filme.

Os fãs de Stephen King, especialmente aqueles que leram Jogo Perigoso, sabiam que seria uma adaptação complicada. Quando a história começa, Gerald Burlingame (Bruce Greenwood, de Kingsman: O Círculo Dourado, 2017) e sua esposa Jessie (Carla Gugino, de Terremoto, 2015) estão enfrentando uma crise conjugal. Gerald, um advogado famoso e bem-sucedido, decide que um fim de semana em um chalé isolado na companhia da esposa e mais ninguém poderia ajudar a melhorar a relação do casal.

Lá, Gerald resolve que algemar as mãos da esposa na cabeceira da cama poderia gerar um jogo sexual excitante. Jessie embarca no jogo, mas na medida em que ele se torna mais agressivo, ela recua. No confronto verbal que se segue, Gerald acaba sofrendo um infarto fulminante. Ele morre deixando a esposa algemada à cama sem possibilidade de sair. As chaves das algemas se encontram em uma mesa fora de seu alcance, assim como o único celular disponível, eliminando suas chances de conseguir alguma ajuda. A partir daí, Jessie precisa enfrentar seus demônios, presentes e passados, e confrontar um trauma de infância enquanto tenta sair. Do contrário, acabará morrendo de desidratação em poucos dias.

A maior parte de Jogo Perigoso se passa no quarto do chalé, onde Jessie se encontra presa com o cadáver do marido, e na mente dela. Ao longo do filme, a consciência de Jessie vai e volta e ela alucina bastante, por motivos que só podem ser explicados devido ao estresse ocasionado pela situação desesperadora. Nessas alucinações, ela trava diálogos duros com partes de sua consciência que se manifestam tanto como ela mesma quanto como seu marido Gerald, que se revela um fantasma mesquinho e, em alguns momentos, chato. Nessas conversas, o espectador descobre mais sobre a personalidade e o passado de Jessie. Em alguns momentos, o expectador partilha das dificuldades de Jessie em determinar o que é real e o que é produto de sua imaginação.

Jogo Perigoso se apoia bastante nas habilidades dramáticas de Carla Gugino para contracenar não apenas com os demais atores do filme – entre eles ainda estão Henry Thomas (de Ouija: A Origem do Mal, 2016), Carel Struyken (de séries como Twin Peaks e Lista Negra) e Chiara Aurelia (Agente Carter) – mas também consigo mesma. E ela consegue passar bem a ideia da mulher que se encontra em uma situação desesperadora e que fará tudo para sair dela. Bruce Greenwood também desempenha bem o papel de marido odioso, ainda que algumas das falas que lhe foram atribuídas no roteiro soem extremamente exageradas. Isso, no entanto, é apenas um detalhe.

O fato é que o diretor Mike Flanagan e o co-roteirista Jeff Howard (ambos de Ouija) conseguiram tirar o melhor da história de King em sua transposição para as telas. Jogo Perigoso, livro de 1992, não é um dos melhores trabalhos do escritor americano e isso se reflete na telinha. É um esforço decente e um filme que tem seus bons momentos, mas, no fim das contas, é apenas isso: um esforço decente. Faz jus à história de King e atrairá a atenção daqueles familiarizados com o livro. Sendo analisado apenas como um filme de suspense/terror, não é lá essas coisas, ainda que consiga causar tensão e alguma náusea.

Em menos de 20 dias, King terá outro de seus trabalhos na Netflix: 1922

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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