Depois Daquela Montanha é onde queremos chegar

por Marcelo Seabra

Alex e Ben precisam viajar. Mas nenhum avião está para sair, uma tempestade se avizinha. Ela vai se casar no outro dia. Ele tem uma cirurgia importante, o paciente está esperando. No aeroporto, eles conversam e constatam a urgência do outro. Alex consegue um bimotor com um piloto confiante que poderia entregar os dois no destino dentro do prazo deles. Mas eles não contavam com um acidente. Depois Daquela Montanha (The Mountain Between Us, 2017) chega aos cinemas essa semana com a dupla tentando sobreviver.

Se uma tempestade se aproxima e o voo é cancelado, você contrataria um piloto freelancer? Se um avião enorme, com todas as condições de voo, é impedido de voar, você pagaria o triplo para um menor, totalmente duvidoso? É exatamente o que fazem os protagonistas desse filme, que seguem tomando decisões bem estranhas. No meio de uma montanha gelada, cheia de neve, a única coisa que você pode fazer é tomar decisões erradas. Todas, num primeiro momento, parecem ser. E quem deixaria para voltar para casa na véspera do próprio casamento?

O grande mérito desse Depois Daquela Montanha é o elenco. Mesmo não parecendo muito à vontade um com o outro, Kate Winslet (de Beleza Oculta, 2016) e Idris Elba (de Thor: Ragnarok, 2017) fazem valer o ingresso. Os dois sabem exatamente o que fazer, cada um no seu papel. Winslet vive uma fotojornalista competente, que está no momento de seu casamento e só consegue pensar no noivo (Dermot Mulroney, de Conspiração e Poder, 2015). Ben pensa no paciente que aguarda pela operação, mas sabe que o essencial é sobreviver.

O problema é que, enquanto você acha que se trata de um drama de sobrevivência, toda a campanha publicitária aponta para um romance, que parece acontecer sem perceber que as pessoas precisam antes sobreviver. Se você cai de avião em uma montanha e sobrevive, você torce para o seu colega ser um médico. E um daqueles que faz tudo pelo próximo, não um que queira apenas se salvar. É o que acontece com Alex, que tem a sorte de ter Ben por perto.

A fotografia de Depois Daquela Montanha não tem muita opção, a não ser mostrar neve e paisagens acidentadas. Até um certo ponto, tudo corre como esperado, e temos até momentos de tensão. Mas as coisas entram num ritmo de Sessão da Tarde e se torna previsível, dificultando ficar na sala de cinema mais um pouco. O filme acaba sendo muito longo, tirar vinte minutos não faria mal. E, quando você acha que acabou, ele continua mais um pouco, cansando mais. E você pensa: ao menos, teve Kate Winslet e Idris Elba, dois grandes atores.

O premiado Hany Abu-Assad, de Paradise Now e Omar, é o diretor da adaptação

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
Esta entrada foi publicada em Adaptação, Estréias, Filmes e marcada com a tag , , , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *