Grande elenco busca garotas sequestradas

por Marcelo Seabra

Prisoners

Justiça pelas próprias mãos é sempre um tema espinhoso. Vários pais do Cinema decidiram correr atrás dos filhos, sequestrados, ou mesmo caçar os assassinos, quando o pior aconteceu. É por esse caminho que segue Os Suspeitos (Prisoners, 2013), novo drama policial em que o canadense Denis Villeneuve mostra que o monstro pode morar ao lado. As coisas podem ser mais simples, ao contrário de séries de TV que trazem o psicopata da semana, e ainda assim escaparem do radar da polícia. Mas se meter na investigação seria o melhor caminho? E quem são as verdadeiras vítimas nessa situação?

O título original, Prisoners, poderia muito bem ter sido simplesmente traduzido, já que não há muitas obras com esse nome. Já com Os Suspeitos e variações, há uma fartura, começando pelo novo clássico de Bryan Singer, de 1995. E o termo prisioneiro define vários personagens, em momentos distintos. Duas meninas, de famílias amigas, são seqüestradas da casa de uma delas num dia de Ação de Graças. Logo, as prisioneiras literais estão aí. Mas há outras situações de aprisionamento, físico ou psicológico, que causam tanto dano quanto esta. Os pais, por exemplo, nunca conseguirão ter uma vida normal até ter um fechamento para o caso.

Prisoners

Mais uma vez mostrando sua versatilidade, Hugh Jackman, também conhecido como Wolverine, abraça o papel de Keller Dover, um pai que não se contenta com o retorno negativo dado pela polícia e resolve buscar a filha por conta própria. O principal suspeito, Alex (Paul Dano, de Ruby Sparks, 2012), é solto por falta de provas. Mas um pai desesperado não precisa de tantas provas. Pior para o Detetive Loki (Jake Gyllenhaal, de Marcados para Morrer, 2012), que se dedica ao caso com afinco e ainda precisa se preocupar com o “colega”, que acaba por ocupá-lo também. Duas boas interpretações, dois atores que sabem bem o que fazer. O destaque é Jackman,  que parece sempre buscar novidades para sua carreira. Ele sofreu e cantou como Jean Valjean (de Os Miseráveis, 2012), voltou a viver o mutante nervoso (em Wolverine: Imortal, 2013) e então se deparou com esse desafio. Claro, podemos quebrar o galho dele e esquecer Para Maiores (Movie 43, 2013), que não deixou de ser mais um capítulo nessa busca.

Villeneuve, diretor do elogiado Incêndios (Incendies, 2010), faz um ótimo uso dos ambientes, das luzes e da chuva para reforçar a fragilidade psicológica em que seus personagens se encontram – ajuda muito contar com a maestria de Roger Deakins, diretor de fotografia com mais de 70 trabalhos no currículo (como Operação Skyfall, 2012). O pequeno apartamento em reforma, por exemplo, é prisão física para um, mas serve como metáfora para o outro. A esposa de Keller (Maria Bello, de Tarde Demais, 2010) se afunda em remédios para dormir, por não agüentar enfrentar a situação, e o outro casal, os Birch (Terrence Howard, de Na Estrada, 2012, e Viola Davis, de Histórias Cruzadas, 2011), não sabe se apóia ou se entrega a cruzada independente de Keller. Melissa Leo (de O Voo, 2012), competente como de costume, completa o elenco principal.

O ritmo lento, cada vez menos comum em produções americanas, ajuda a aumentar a tensão e a riqueza de detalhes espalhados pela trama. Apesar do roteiro de Aaron Guzikowski (de Contrabando, 2012) não ser redondinho, Villeneuve é hábil o suficiente e mantém o foco onde quer, ganhando facilmente a adesão do público, que mal percebe que foram 153 minutos embora. Os Suspeitos não é um filme de fácil digestão, tampouco sairá da memória rápido.

Melissa Leo e Paul Dano são sempre um bônus

Melissa Leo e Paul Dano são sempre um bônus

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Kick-Ass ganha nova aventura

por Marcelo Seabra

Kick-Ass 2

Quando você conhece uma forma mais excitante e atraente de viver e é forçado a voltar ao cotidiano entediante de antes, você experimenta a sensação que vem atormentado Dave Lizewski, o adolescente que teve seus dias de glória como o herói Kick-Ass. Por que parar, então? Esse é o mote para Kick-Ass 2 (2013), sequência das aventuras do herói menos poderoso de todos os tempos. Se o primeiro filme trazia um certo ar de novidade e as referências ao universo dos quadrinhos eram interessantes, agora é mais do mesmo. Exatamente por isso, para ter um diferencial, os realizadores julgaram que precisavam levar a violência a outro nível, e podemos ver mais sangue.

Matthew Vaughn deixou a cadeira de diretor, ficando como produtor. Jeff Wadlow, responsável por bobagens adolescentes como Cry-Wolf (2005) e Quebrando Regras (Never Back Down, 2008), assumiu a batuta, incluindo mais elementos dos estudantes colegiais e aumentando a participação da justiceira juvenil Hit Girl. E fica a sensação clara de que um filme sobre ela seria bem mais divertido. Chloë Grace Moretz rouba o filme como a garota obrigada a viver como as demais colegas da escola, ignorando o mundo de lutas e armas para o qual seu falecido pai a preparou. Dave (novamente Aaron Taylor-Johnson) a procura para formarem uma dupla, mas ela é enquadrada pelo pai adotivo (Morris Chestnut, de Chamada de Emergência, 2013) a ter uma vida normal. Por isso, Dave vai atrás de outros como ele.

Kick-Ass 2 vilao

O quadro de personagens usando fantasias cresce consideravelmente nesta continuação. Chris D’Amico (Christopher Mintz-Plasse, acima), antes filho do vilão principal, agora pretende ser o próprio (o Mother Fucker), e reúne um bando de psicopatas mercenários para ajudá-lo, já que ele mesmo não seria capaz de roubar uma velhinha. E há um tio D’Amico (Iain Glen, de Game of Thrones) que nunca mostra a que veio. Do lado dos mocinhos, a principal adição é o Coronel Estrelas e Listras, vivido por um Jim Carrey acabado, bem diferente do que estamos acostumados a ver. Ele é o líder do grupo Justice Forever, uma reunião de desajustados que querem fazer o bem e não sabem exatamente por onde começar. As duas gangues vão ter um óbvio embate, e muita gente vai sofrer no processo. Algumas piadinhas funcionam bem; outras, nem de longe, assim como os coadjuvantes.

Para escrever o roteiro dessa segunda parte, Wadlow misturou duas minisséries de Mark Millar e John Romita Jr., Kick-Ass 2 e Hit Girl. Caso o plano seja fazer mais filmes com os personagens, já está em lançamento nos Estados unidos a revista Kick-Ass 3, que seria a última. Mas Millar já avisou que deve haver mais uma. Kick-Ass 2, o filme, se pagou nas bilheterias estrangeiras com pouco mais de um mês em cartaz. Isso costuma indicar que vem outro por aí. Torçamos para que seja mais como o primeiro: melhor desenvolvido, mais inventivo e menos apelativo.

Isso é Jim Carrey, que depois disse reprovar tanta violência

Isso é Jim Carrey, que depois disse reprovar tanta violência

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Stallone e Schwarzenegger partem para a ação

por Marcelo Seabra

Escape Plan

Eles se encontraram nos dois Os Mercenários (The Expendables), mas mal trocaram umas palavras. Na sequência, houve um pouco mais de ação, mas nada que agradasse a quem cresceu vendo os longas dos anos 80 estrelados por Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. É para isso que foi feito Rota de Fuga (Escape Plan, 2013). É como um encontro entre Batman e Superman: eles até poderiam partir para a briga, mas logo encontrariam um inimigo em comum para uni-los.

O sueco Mikael Håfström vem se mostrando um diretor de altos e baixos, sendo capaz de Fora de Rumo (Derailed, 2005) e Conspiração Xangai (Shanghai, 2010), mas, ao mesmo tempo, de 1408 (2007) e O Ritual (The Rite, 2011), e este último chegou bem perto do fundo do poço. Filmar a esperada reunião de dois grandes do Cinema é uma forma de garantir público, e só faltava um roteiro esperto que trouxesse dois bons papéis masculinos sexagenários. E aí que entra Miles Chapman, estreando em grande estilo na telona. Com uma mão de Jason Keller (de Espelho, Espelho Meu, 2012), ele lapidou bem o texto. Furos podem ser facilmente encontrados, começando pela premissa: por que gastar bilhões com uma cadeia, montando e mantendo, para sumir com pessoas indesejadas, se é possível matar e sumir com o corpo?

Stallone vive Ray Breslin, uma autoridade quando o assunto é segurança prisional. A empresa do sujeito é contratada para testar a infalibilidade de prisões de segurança máxima e ele se coloca lá, como um presidiário qualquer, para testá-la. Uma figura da CIA aparece num dia normal de trabalho e faz uma proposta: Breslin teria que testar uma cadeia nova, altamente secreta, num lugar desconhecido. Os presos são pessoas que praticamente não existem mais, alguém pagou caro para se ver livre delas. Os associados de Breslin não poderiam ter informação alguma, ele estaria à sua própria sorte. É claro que nesse mato tem mais cachorro, e ele logo terá uma noção melhor do que está havendo.

Escape Plan

Lá dentro, os dois sujeitos que ele conhece de maior destaque na trama estão em lados opostos: Jim Caviezel (da série Person of Interest) é o diretor Hobbes, o criador e mantenedor da prisão, enquanto Schwarzenegger faz um prisioneiro que se alia a Breslin. Além deles, há um guarda sádico (Vinnie Jones, de Fogo Contra Fogo, 2012) e um médico (Sam Neil, de The Tudors), entre vários outros coadjuvantes. Do lado de fora, completam o elenco Amy Ryan (de Zona Verde, 2010), Vincent D’Onofrio e o rapper Curtis “50 Cent” Jackson (ambos também de Fogo Contra Fogo).

Nos anos 80, Rota de Fuga poderia ter feito um sucesso enorme, quando seus astros estavam no topo. Mas os personagens exigem intérpretes mais maduros, e eles se adequam melhor hoje. E Schwarzenegger precisava de uns anos de estrada para fazer as piadinhas que faz. O ex-governator e ex-terminator parece se divertir bastante, enquanto o colega fortão leva as coisas mais a sério, como se essa fosse a obrigação do protagonista. Ambos, no entanto, continuam com aquela saudável mistura de carisma e canastrice pela qual são famosos.

Os astros lançaram o longa na Comic Con 2013

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Gravidade é muito mais que o trailer promete

por Marcelo Seabra

Gravity

Ao pensar num ambiente com falta de gravidade, sempre me vem à cabeça um episódio de Os Simpsons no qual Homer come batatinhas voando pela nave, rolando poeticamente no ar. Potencial cômico existe, e muito, mas as coisas podem pender para o terror facilmente, como já provaram Sigourney Weaver e companhia nos vários Aliens. O pior, no entanto, é o pânico que pode tomar uma pessoa vagando no espaço não por causa de criaturas esquisitas e ameaçadoras, mas por algo bem mais simples: a falta de controle do próprio corpo, que se mexe involuntariamente, e a falta de ar. É desse terror que trata Gravidade (Gravity, 2013), um longa maravilhosamente realizado que é facilmente um dos melhores do ano.

O cineasta mexicano Alfonso Cuarón já provou seu talento em vários gêneros, passando até pela série de Harry Potter (O Prisioneiro de Azkaban, 2004). Depois de um hiato de sete anos, quando fez o emocionante Filhos da Esperança (Children of Men, 2006), ele partiu para uma história simples, escrita com seu filho Jonás Cuarón, e levou seu elenco para o espaço. Pode parecer uma ficção científica para um desavisado, mas trata-se de um drama, um estudo de personagem. Os Cuaróns colocam a protagonista em uma situação extrema e ela deve resistir e, como diz o cartaz, não se entregar.

Gravity Clooney

Sandra Bullock, na melhor interpretação de sua carreira, vive a Dra. Ryan Stone, uma astronauta de primeira viagem que precisa instalar um novo software no telescópio Hubble. A equipe da nave Explorer é liderada pelo experiente Matt Kowalski, vivido pelo esperto George Clooney (acima), que não se importa em ser coadjuvante desde que o filme seja bom. Stone e Kowalski saem da nave para cumprir sua missão, mas são surpreendidos por uma chuva de destroços. A partir daí, segue-se uma luta pela sobrevivência. Não é interessante descrever mais o enredo, até para evitar spoilers, e também porque a história não é o principal aqui.

Gravidade é o filme que melhor utiliza o recurso da terceira dimensão, dando diferentes perspectivas aos vários elementos que vemos na tela. Cuarón convocou seu colaborador tradicional, Emmanuel Lubezki, para cuidar da fotografia, e o resultado é digno de todos os prêmios possíveis. A câmera roda como se realmente não houvesse gravidade, e entramos no capacete da personagem sem pedir licença, trocando de ponto de vista. Não poderiam faltar imagens da Terra vista de cima, e Kowalski faz questão de marcar o quão belo é aquele momento. Além da beleza visual, o som é outro ponto a ser ressaltado. “No espaço, ninguém pode te ouvir gritar”, já avisava o cartaz de Alien (1979). E temos um uso fantástico do som, alternando períodos silenciosos com as falas dos personagens e, o que causa mais tensão, a respiração nervosa deles.

O trailer, quando divulgado, ajudou a aumentar a expectativa e muita gente não conseguia esperar para conferir o longa. Se uma amostra de dois minutos já conseguiu tamanho efeito sobre o público, imagine 90 minutos bem desenvolvidos? Gravidade é uma obra aparentemente simples, mas não se engane: Cuarón usa todos os recursos à mão para fazer ótimo Cinema. Sempre buscando veracidade, ele não precisa apelar a nenhuma fantasia, deixando o ser humano à sua própria sorte naquela vastidão aterrorizante.

Cuarón já é um dos indicados ao Oscar de direção, por minha conta

Cuarón já é um dos indicados ao Oscar de direção, por minha conta

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Amigos comediantes se reúnem pro fim

por Marcelo Seabra

This Is the End

Várias turmas de atores amigos ficaram famosas no Cinema. Provavelmente, o Rat Pack, liderado por Frank Sinatra, foi a maior. Os anos 80 tiveram o Brat Pack, com Demi Moore, Rob Lowe, Andrew McCarthy, Emilio Estevez e companhia. Em 2000 e pouco, a mídia inventou o Frat Pack, com Ben Stiller, os irmãos Wilson, Will Ferrell, Vince Vaughn, entre outros. Uma turma mais recente é encabeçada por Seth Rogen e Evan Goldberg, parceiros criativos em vários roteiros (como Superbad, de 2007) que decidiram encarar o desafio de dirigir um longa. Para ajudar, chamaram os camaradas e fizeram É o Fim (This Is the End, 2013), comédia que traz vários atores como eles mesmos, mas em uma situação inusitada.

Vários nomes do humor atual se reúnem para uma festa na casa de James Franco. Estão lá, entre os principais, Rogen, Jay Baruchel, Jonah Hill, Danny McBride, Craig Robinson, Michael Cera e Christopher Mintz-Plasse, todos velhos conhecidos com trabalhos em comum. Juntam-se a eles outros que aparentemente não teriam relação, como Emma Watson e a cantora Rihanna, e temos a festa formada. Obviamente, o que cada ator interpreta é uma versão de si mesmo, e a graça está aí: eles brincam com a visão que o público aparentemente tem deles, ressaltando uma ou outra característica para ter um efeito cômico maior. Rogen é o mesmo cara que ele sempre vive, aquele que só quer se divertir e se recusa a crescer; Baruchel é inseguro, ligeiramente anti-social; Hill tenta ser simpático, mas é convencido e egocêntrico, Franco é pretensioso e parece estar acima dos demais. Estes são alguns exemplos, e o mais engraçado é o que foge completamente do que estamos habituados a ver: Michael Cera (abaixo).

This Is the End Cera

Em determinado momento, uma catástrofe cai sobre eles. Seria um terremoto? Uma invasão alienígena? Ou o apocalipse zumbi? Ninguém sabe, a televisão sai do ar e resta a eles ficarem juntos na casa de Franco, resistindo ao que vier. Num clima parecido com o de O Nevoeiro (The Mist, 2007), eles começam a discordar e discutir sobre qualquer coisa, e temos um divertido estudo sobre homens confinados vivendo com restrições. O que fazer, por exemplo, quando se tem apenas uma barrinha de chocolate? Alguns diálogos são absurdos, como numa versão mais jovem e drogada de Seinfeld, e não há nada politicamente correto.

Da mesma forma que O Segredo da Cabana (Cabin in the Woods, 2012), o final de É o Fim segue a lógica estabelecida, mas não deixa de ser exagerado – e engraçado. Os atores não param de rir de si mesmos até que os créditos subam, após uma surpresinha musical que, ao mesmo tempo, é irritante e faz sentido. Quem está familiarizado com o tipo de humor dessa turma e não fica escandalizado com a sujeira das piadas vai se divertir até! Só não espere uma sequência. Afinal, É o Fim!

O que seria essa catástrofe?

O que seria essa catástrofe?

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Idris Elba é a principal atração de Luther

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Luther capaAqueles que acompanham o Pipoqueiro regularmente sabem que temos um fraco por séries policiais, especialmente as britânicas. Prova disso é o fato de já termos publicado sobre várias séries da terra do Iron Maiden, como Sherlock e The Fall. Luther carrega semelhanças com elas, pois se trata de uma série policial cujo protagonista é um inspetor da polícia metropolitana de Londres com um jeito de trabalhar pouco ortodoxo, para dizer o mínimo, e também é uma produção da BBC. Além disso, Luther, assim como Sherlock e, em menor grau, The Fall, tem sua força principal na pessoa de seu protagonista, o detetive John Luther, vivido pelo experiente Idris Elba (de Círculo de Fogo, 2013).

Ator veterano da TV e Cinema (com participações de destaque em séries como The Wire e The Office original), Elba começou a se tornar mais conhecido fora da Inglaterra nos últimos anos graças a uma boa sequência de papéis em filmes de Hollywood, incluindo aí produções como Thor, Motoqueiro Fantasma: O Espírito da Vingança (ambos de 2011) e Prometheus (2012), além do recente Círculo de Fogo.  Luther se passa antes de tudo isso, já que a primeira temporada da série, com apenas seis episódios, foi produzida em 2010. A segunda, mais curta ainda, com quatro episódios, foi veiculada na Inglaterra em 2011, enquanto que a derradeira – também com quatro episódios – foi encerrada por lá recentemente.

Quando a série começa, John Luther está voltando de um período de sete meses em um hospital psiquiátrico. Seu colapso se deu após seu último caso, envolvendo um pedófilo assassino de crianças – isso é mostrado nos primeiros cinco minutos da série, não se trata de spoilers. Em sua volta, ele precisa resolver o caso de um assassinato misterioso, no qual um poeta e sua esposa são encontrados mortos pela filha do casal, a universitária Alice Morgan (Ruth Wilson, de O Cavaleiro Solitário, 2013 – abaixo), uma criança prodígio que, agora adulta, se torna a principal suspeita do inspetor.

Elba Wilson

O primeiro episódio já revela bastante sobre o que se esperar de Luther – tanto do protagonista quanto da série. John Luther é um detetive com bastante experiência, que mantém um distanciamento absurdo quando examina cenas de crimes, atento a qualquer detalhe que seus pares geralmente deixam passar. Apesar de ser um policial e, tecnicamente, ter a obrigação de agir dentro da lei, Luther não se importa de usar artifícios não necessariamente legais, se isso significa que o caso será resolvido e o culpado, preso. Não que ele seja um policial corrupto ou mesmo sujo. Ele apenas utiliza a filosofia dos “fins justificam os meios” quando necessário, forçando os limites do que pode se considerar ético ou mesmo moral dentro de sua profissão.

A exemplo de outras séries semelhantes, a cada episódio de Luther o inspetor é apresentado a um novo caso, enquanto uma trama maior corre em paralelo. Uma delas envolve a vida pessoal dele, na medida em que tenta reatar seu casamento com Zoe (Indira Varma, de Game of Thrones e Roma), uma advogada que decidiu separar-se no período em que ele se encontrava hospitalizado. A atração principal da série, no entanto, vai para o desempenho de Idris Elba, que consegue dar credibilidade a um personagem cuja série não se preocupa tanto em refletir a realidade. Os procedimentos forenses, por exemplo, passam longe de uma C.S.I. O instinto e a experiência valem mais que o manual da polícia.

Bem escrita e muitas vezes imprevisível, Luther já foi indicada a vários prêmios e Elba ficou com o Globo de Ouro de Melhor Ator de Série ou Filme para a TV. A série desembarcou no Brasil recentemente pelo canal por assinatura BBC Brasil HD, que a exibe todas as segundas às 22h, e via Netflix. Enquanto a BBC Brasil HD ainda exibe a primeira temporada, a Netflix já disponibilizou até a segunda para seus assinantes.

Merecido prêmio para um grande ator

Merecido prêmio para um grande ator

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Ator e diretor se reencontram no Lugar Onde Tudo Termina

por Marcelo Seabra

The Place Beyond The Pines

Depois de chamar a atenção com o elogiado Namorados Para Sempre (Blue Valentine, 2010), o projeto seguinte do diretor Derek Cianfrance era bastante esperado, e finalmente chegou ao Brasil – em homevideo, em muitas praças. O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond the Pines, 2012) repete a parceira com Ryan Gosling, que vai cimentando sua persona de anti-herói caladão. Este personagem podia muito bem ser a continuação para Drive (2011), por se tratar do ator como um andarilho misterioso bom de direção (agora com motos), que conserta carros nas horas vagas e tem uma atividade ilícita paralela. Mesmo tendo uma índole duvidável, ele consegue a simpatia da platéia devido ao carisma do intérprete.

Para quem não sabe nada a respeito, o longa será bastante surpreendente quanto à sua estrutura. Não pretendo estragar nada, darei apenas o contexto básico. Gosling é um artista circense com a moto que vê a necessidade de ganhar mais dinheiro e começa a cometer assaltos a bancos. O outro astro da produção, Bradley Cooper (visto recentemente no terceiro Se Beber, Não Case, 2013), vive um policial cujo caminho acabará se cruzando com o do outro. Nos papéis de esposas, namoradas ou algo assim, as belas Eva Mendes (de Holy Motors, 2012) e Rose Byrne (de Sobrenatural, 2011) completam o elenco principal. Ben Mendelsohn (de O Homem da Máfia, 2012) também merece destaque, sempre muito bom no que é destinado a ele – no caso, mais um desviante que busca uma saída fácil.

The Place Beyond The Pines GoslingGosling pode acabar classificado como limitado se continuar escolhendo esses papéis caladões. Numa possível tentativa de se tornar um novo Steve McQueen, ou mesmo Clint Eastwood, ele segue como o cavaleiro solitário do século XXI, de poucas palavras e pouca ação. Por algumas críticas já divulgadas, parece que em Only God Forgives (2013) as coisas não são muito diferentes, e ele já foi até chamado de “novo Keanu Reeves”. Cooper, como de costume, não faz nada de extraordinário, no papel de um detetive que conta com os conselhos do pai juiz. Correto, ele dá vazão aos questionamentos de seu personagem, que mesmo íntegro, não deixa de ter seu lado ambicioso. Dois jovens acabam tendo uma chance de aparecerem também, e Dane DeHaan (revelado em Poder Sem Limites, 2012) e Emory Cohen (da série Smash) não desperdiçam a oportunidade.

Mesmo com toda a expectativa que muitos criaram, Cianfrance não desaponta, apesar de criar uma obra longa e, por vezes, cansativa. As tramas são interessantes até percebermos que apenas servem como amarras para a próxima. Mas as imagens são perfeitas, as atuações são boas e há momentos que fazem valer a pena os 130 e tantos minutos de projeção. Sean Bobbitt, o diretor de fotografia favorito do cineasta sensação Steve McQueen (Shame e Hunger), faz um belo trabalho entre as paisagens urbanas e rurais, incluindo aí as cidadezinhas que têm um quê de bucólicas, como Schenectady, Nova York. Com pouco esforço, a produção nos situa há 15 anos, para depois nos trazer ao presente. E a suave trilha sonora de Mike Patton é um bem-vindo bônus.

Cohen e DeHaan são a nova geração

Cohen e DeHaan são a nova geração

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R.I.P.D. é tão morto quanto os personagens

por Marcelo Seabra

RIPD

Hoje praticamente um gênero cinematográfico, as adaptações de quadrinhos costumam ter fãs cativos, que conferem a produção apenas por ser desse filão. O problema é que frequentemente os executivos não se preocupam muito com a qualidade, já que sabem ter público garantido. É assim que aberrações como R.I.P.D. – Agentes do Além (2013) vêem ao mundo. Com uma premissa engraçadinha, a trama não assume um rumo, fica megalomaníaca e só consegue aborrecer. Além, claro, de tentar ser uma cópia descarada de Homens de Preto, apenas tirando os aliens e colocando gente morta no lugar.

Baseado nos quadrinhos de Peter M. Lenkov, publicados pela Dark Horse, o roteiro revela a existência de um departamento de polícia dos desencarnados. Estes agentes (igualmente mortos) são incumbidos de trazerem sob custódia os espíritos que permanecem em negação, caminhando entre os vivos. É nesse contexto que chega o personagem de Ryan Reynolds, um policial morto em ação que precisa aceitar a oferta de reforçar a lei e a ordem do outro lado da vida. Ele é entregue a um parceiro experiente, o arredio xerife do velho oeste vivido por Jeff Bridges – uma paródia ruim de seu icônico Rooster Cogburn, de Bravura Indômita (True Grit, 2010).

RIPD scene

Se Reynolds é apático, Bridges está no outro extremo. Ao contrário de seu falante Deadpool (de X-Men Origens: Wolverine, 2009), Reynolds realmente parece estar em outra dimensão, se aproximando mais de Lanterna Verde (2011) ou de Hannibal King (de Blade: Trinity, 2004). Sem graça nenhuma, ele serve de escada para as situações criadas pelo exagerado Bridges, que tenta se divertir em cena mesmo quando as falas são absurdas ou insossas. A dinâmica entre os dois é claramente forçada e desequilibrada, fugindo completamente do resultado inspirado de MIB. A história de amor do jovem policial Nick chega a cansar, assim como o vilão repetitivo e mal explicado de Kevin Bacon (de X-Men: Primeira Classe, 2011). Completa o elenco principal a desperdiçada Mary-Louise Parker (da série Weeds – acima), que nunca mostra a que veio.

Há de se esperar que ao menos os efeitos especiais sejam bacanas, o que não acontece. E a maioria das piadinhas pode até funcionar isoladamente, mas não contribuem com o todo – como as identidades terrenas da dupla, que não ajudam em nada nas investigações por serem tudo, menos discretas. O diretor de R.I.P.D. conseguiu um resultado muito superior em outra adaptação de quadrinhos: RED – Armados e Perigosos (2010). Robert Schwentke abriu mão de comandar a sequência de RED para assumir esse novo projeto, e sua disposição para correr riscos deve ser exaltada. Mas, com tanto esforço para fazer um novo sucesso ao exemplo de MIB, o máximo que ele conseguiu criar foi algo próximo do pavoroso Dylan Dog (2010).

RIPD

Primo pobre de MIB

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Agents of S.H.I.E.L.D. leva o universo Marvel à TV

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Agents of SHIELD logo

Alerta: Agents of S.H.I.E.L.D. se passa após os eventos vistos em Os Vingadores e Homem de Ferro 3 e faz referências diretas a ambas as produções. Assim, algumas surpresas contidas neles podem ser estragadas aqui.

Em o Homem de Ferro (Iron Man, 2008), há duas cenas que, uma de maneira bem sutil e outra mais às claras, dão indicações de que a Marvel Studios sempre teve planos bem ambiciosos para seus personagens no cinema. Na primeira, a secretária de Tony Stark, Pepper Potts, é abordada por um membro de uma agência de segurança identificada como S.H.I.E.L.D. chamado Phil Coulson (Clark Gregg) que quer conversar com seu patrão sobre os eventos relacionados ao seu sequestro e quase morte no Afeganistão – eventos esses que levaram Tony a bolar a primeira versão da armadura do Homem de Ferro. A segunda cena, que inaugurou a tradição das sequências pós-créditos nos filmes da Marvel, mostra Nick Fury (Samuel L. Jackson), outro agente da S.H.I.E.L.D., abordando Stark a respeito de um projeto que ele chama de “Iniciativa Vingadores”.

Desde então, Coulson e Fury fizeram aparições em praticamente todos os filmes da Marvel Studios, as exceções sendo O Incrível Hulk (2008) e Homem de Ferro 3 (2013). Essas participações – fossem em pontas, como em O Capitão América, fossem em papéis maiores, como em Thor – logo se mostraram serem as ligações entre todos aqueles filmes, uma preparação para Os Vingadores. E, incidentalmente, tornou Coulson – um personagem original do cinema, criado especialmente para o primeiro Homem de Ferro – bastante popular, a ponto do mesmo ter feito o caminho inverso e migrado da TV para os quadrinhos. A comoção que sua morte no longa dos “Maiores Heróis da Terra” causou na internet à época do lançamento do filme pode dar uma idéia dessa popularidade. Coulson, afinal, é o agente secreto “nerd” e, muitas vezes, tem reações típicas de um fã que finalmente tem a oportunidade de trabalhar com seus ídolos, o que gera situações engraçadas.

Não é de se estranhar, então, que Phil Coulson seja o principal dos Agents of S.H.I.E.L.D. (acrônimo para Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão) na série que acompanha as repercussões de tudo o que o espectador viu nos filmes da Marvel até o momento. Ela começa poucos meses após a “Batalha de Nova York”, que revelou ao público a existência de seres super-poderosos, deuses e alienígenas caminhando entre nós. Em face desse acontecimento, a S.H.I.E.L.D. precisa montar uma divisão especializada com o objetivo de localizar novos indivíduos super-poderosos na medida em que eles aparecem e determinar se eles devem ser protegidos ou eliminados.

Agents of SHIELD cast

O piloto da série – a temporada tem 13 episódios – começa meio que convencionalmente. No momento em que um homem salva uma vítima de incêndio pulando com ela do alto de um prédio e caindo no meio da rua sem sofrer qualquer dano, imagens do ato inundam o Youtube e chegam ao conhecimento da agência, que tem dois objetivos: descobrir a identidade da pessoa que postou aquele vídeo na internet e a de seu protagonista. Para isso, Coulson e a agente Maria Hill (Cobie Smulders, de Os Vingadores, mais conhecida pela série How I Met Your Mother) montam um time que (clichê!) terão que aprender a trabalhar juntos: o agente Grant Ward, (Brett Dalton, de séries como Army Wives e Blue Bloods) é o típico operativo eficiente que trabalha melhor sozinho e precisa se adaptar à dinâmica do grupo; a agente Melinda May (Ming-Na Wen, de séries como Plantão Médico e Two and a Half Men) é a verterana especialista em artes marciais e veículos que fora colocada em funções burocráticas e reluta em voltar a campo; e a dupla Fitz-Simmons, formada pelo ansioso engenheiro Leo Fitz (Iain De Caestecker) e a empolgada bioquímica Jemma Simmons (Elizabeth Henstridge). Completa o grupo a hacker Skye (Chloe Bennet, da série Nashville), cuja entrada no grupo é estabelecida nesse episódio.

Com um ritmo interessante, um bom volume de piadas e sequências de ação decentes, com algumas surpresas reservadas tanto para o espectador regular quanto para os fãs de longa data dos quadrinhos da Marvel, esta nova série promete ser bastante divertida, como as outras produções lideradas por Joss Whedon (diretor de Os Vingadores e criador de séries como Buffy: A Caça-Vampiros e Angel). Basta manter as qualidades de seu piloto e lapidar melhor uma coisa ou outra. A exemplo do que acontece com produções como The Walking Dead (Fox) e Game of Thrones (HBO), os episódios de Agents of S.H.I.E.L.D. serão veiculados por aqui dois dias após sua transmissão nos EUA. A série estreou no dia 24/09 na terra do Tio Sam e no dia 26/09, às 21h, no canal pago Sony.

A Disney convocou o elenco para o lançamento da série

A Disney convocou o elenco para o lançamento da série

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Família de mentira arranca muitas risadas

por Marcelo Seabra

We're the Millers

Sem realizar nada desde 2008, o diretor Rawson Marshall Thurber voltou a colocar a mão na massa e comandou Família do Bagulho (We’re the Millers, 2013), comédia que chegou aos cinemas brasileiros essa semana (sim, com esse título!). Se não é hilário o tempo todo, o longa ao menos tem alguns bons momentos e, nos demais, esbanja simpatia. Jennifer Aniston e Jason Sudeikis, como um casal de mentira, estão ótimos, com uma interação invejável, e seus filhos igualmente falsos não deixam a dever. E, como o assunto principal é drogas, não espere situações politicamente corretas.

Lembrado por seu primeiro longa, Com a Bola Toda (Dodgeball, 2004), Thurber mantém seu estilo pouco arrojado e caloroso. Suas comédias são bobinhas e previsíveis, mas também cativantes e com personagens carismáticos. Não são algo que você queira abandonar no trajeto, e mesmo já sabendo como será, você quer ver como vai terminar. O projeto já estava em desenvolvimento há anos, e foram necessários quatro roteiristas para chegarem à versão filmada. Depois de anunciados Aniston (a Rachel de Friends) e Sudeikis (de Quero Matar Meu Chefe, 2011), entraram a bordo Emma Roberts (de Pânico 4, 2011) e Will Poulter (descoberto em O Filho de Rambow, 2007), completando a família fictícia.

We're the Millers

Sudeikis vive David, um traficante peixe pequeno que se vê devendo uma bolada para um peixe grande (Ed Helms, da trilogia Se Beber, Não Case – acima). A solução é aceitar a proposta de trazer um carregamento de maconha do México, uma empreitada difícil que fica menos arriscada se houvesse mulher e filhos para acobertarem o crime. Partindo da lógica de que ninguém suspeitaria de uma família feliz de férias, eles partem para o país vizinho. Não faltam piadas com o México, seus habitantes e com as situações que são criadas. Algumas referências pop farão a felicidade dos mais atentos, e isso vale até para os erros de gravação, ao final. E o tempo das piadas é algo muito importante, não se rende nada mais do que o necessário.

Recentemente, outra família de mentira ganhou as telas, os Joneses (de Amor por Contrato, 2009), mas a realização era apática e falhava em criar interesse por seus personagens, rasos e até antipáticos. Jennifer Aniston também já havia vivido uma farsa parecida em Esposa de Mentirinha (Just Go With It, 2011), filme que não merece muita atenção apenas por ter Adam Sandler como protagonista. Não faltam mentiras familiares no Cinema, cada uma de uma forma e com um resultado. Muita coisa de Família do Bagulho já esperamos, outras conseguem surpreender e até arrancar algumas risadas. Não que não tenha clichês e furos, mas é tudo bem costurado para um fim apenas: divertir.

Elenco se junta ao diretor no lançamento em Nova York

Elenco se junta ao diretor no lançamento em Nova York

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