Tom Hanks enfrenta piratas em história real

por Marcelo Seabra

Captain Phillips posterEm abril de 2009, piratas somalianos tomaram um navio cargueiro americano e acabaram levando o comandante como refém. Essa é a história que acompanhamos em Capitão Phillips (Captain Phillips, 2013), novo longa do diretor Paul Greengrass que consegue ser tão tenso quanto Voo United 93 (United 93, 2006), com a diferença de que não foi necessário ter tanta imaginação, já que o livro do próprio Richard Phillips (coescrito com Stephan Talty) serve como base para o roteiro. O outro ponto forte da produção atende pelo nome de Tom Hanks, em mais uma bela interpretação numa carreira tão marcante.

A história de Phillips e do seqüestro do cargueiro Maersk Alabama é envolta em discórdia, membros da equipe do capitão chegaram a procurar a imprensa para desmentir a saga heróica que ele teria vivido. Foi dito que ele era um sujeito egoísta e arrogante que não se importava com a tripulação e os levou direto para a área que vinha sofrendo ataques, mesmo tendo sido repetidamente alertado. Alguns dos profissionais estão até na justiça, buscando compensação financeira pelo episódio vivido, alegando que a falta de segurança no navio foi uma falha consciente da Waterman Steamship Corp. Os engenheiros Mike Perry e John Cronan chegaram a afirmar à CNN que Phillips parecia querer ser tomado como refém, por ter conhecimento do risco e insistir em passar perto da costa da Somália, contra as recomendações.

Captain Phillips scene

Independente da discussão do mundo real, o filme é mais uma demonstração do bom Cinema de Greengrass. A exemplo de seu primeiro longa, Resurrected (1989), que acompanhava um soldado em uma jornada épica de volta para casa, o diretor se interessa por mostrar um grande feito de uma pessoa comum em uma situação extraordinária. Equilibrando a ação entre os pontos de vista dos americanos e dos somalianos, ele eleva o nível da tensão a um ponto que parece que o público está na mesma situação a que está assistindo. Como em United 93 e até em Domingo Sangrento (Bloody Sunday, 2002), conhecer os fatos não diminui em nada o impacto do final. O percurso é o que importa para Greengrass, e a câmera nervosa de Barry Ackroyd (também do United 93) percorre todo o espaço com tamanha urgência que só nos resta acompanhá-la.

Ganhador de dois Oscars e quatro Globos de Ouro, para ficar nos prêmios mais famosos, Tom Hanks consegue o feito de viver um papel que não nos remete a nenhum outro de sua vasta galeria. Para um ator tão conhecido, conseguir fazer o público se desligar dele e ver o personagem é algo a se comemorar. E ele vai mais longe: consegue fazer do Capitão Phillips uma pessoa de verdade, e não um clichê ambulante, um erro que o roteiro de Billy Ray (de Jogos Vorazes, 2012) o ajuda a evitar. Os estreantes somalianos também ajudam no quesito credibilidade, compondo um elenco competente de rostos desconhecidos.

Independente da verdade por trás dos fatos e das acusações de servir como propaganda para o Governo Obama, com a criação de um herói que eleve a moral dos norte-americanos, Capitão Phillips é uma obra construída de maneira impecável, que nos faz lamentar o fato de Greengrass ultimamente dar um intervalo de três anos entre suas realizações. Resta-nos esperar pela próxima, que infelizmente deve passar longe da série de Jason Bourne, mas certamente terá uma qualidade ímpar.

O ator e o verdadeiro Phillips comparecem ao lançamento mundial, no Festival de Nova York

O ator e o verdadeiro Phillips comparecem ao lançamento mundial, no Festival de Nova York

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Antes do Mordomo, havia o garoto do jornal

por Marcelo Seabra

The Paperboy

O diretor Lee Daniels está muito em evidência devido ao barulho provocado para O Mordomo da Casa Branca (Lee Daniel’s The Butler, 2013), já em exibição no Brasil. Mas seu filme anterior ainda não havia sido lançado no país, e vai chegando a algumas cidades, depois de passar pelo Festival de Cinema do Rio. Obsessão (The Paperboy, 2012) é mais um trabalho forte do ator Matthew McConaughey, à frente (ou ao lado) de um bom elenco que é prejudicado por um roteiro disperso, que abraça o mundo e parece uma colcha de retalhos.

Depois de uma bem sucedida carreira como produtor, Daniels atacou como cineasta, não recebendo muita atenção na primeira tentativa (Matadores de Aluguel, 2005). Com a segunda, Preciosa – Uma História de Esperança (Precious, 2009), ele se tornou mais conhecido e teve várias indicações a prêmios, e o longa ficou com os Oscars de Atriz Coadjuvante (para Mo’Nique) e Roteiro Adaptado (para Geoffrey Fletcher). Um elemento recorrente na filmografia de Daniels é a abordagem de questões raciais, inclusive com o envolvimento de muitos artistas negros. Em Obsessão, ele ainda misturou mais um tema ao caldo: homossexualismo. Experiências próprias devem ser uma forte motivação, já que o próprio Daniels é negro e gay.

Aparentemente, o roteiro, escrito por Daniels e Peter Dexter (autor do livro que serviu de base), coloca como protagonista Jack, jovem desajustado vivido por Zac Efron que é exatamente o personagem mais desinteressante do longa. Efron continua sem mostrar momentos de brilhantismo, ainda mais sem ajuda do texto. McConaughey (de Killer Joe, 2011) é o irmão de Jack, Ward, um repórter de Miami que volta à sua cidadezinha para investigar o caso de um condenado à morte pelo assassinato do xerife local. Hillary Van Wetter (John Cusack, de O Corvo, 2012) aguarda a execução e aceita falar com Ward na condição de poder sempre ver a sua nova namorada por correspondência, a loira fatal Charlotte (Nicole Kidman, de Segredos de Sangue, 2013). Jack vira o motorista da dupla Ward e Yardley (David Oyelowo, de Jack Reacher, 2012) e passa a conviver com Charlotte, que vira a sua obsessão. Só assim para explicar o título nacional.

Brothers

Como se pode perceber pela trama, não faltam personagens, e a descrição acima está bem simplificada. John Cusack foge de seus usuais sujeitos comuns e assume uma persona desprezível, e tem ao seu lado uma Nicole Kidman sexy e debochada. Ambos estão muito bem e dividem um momento particularmente provocante, sempre lembrado em qualquer crítica. Nicole ainda tem outra cena, esta com Efron, muito comentada. McConaughey mais uma vez prova seu talento, e não será surpresa se o virmos subir ao palco da Academia – não por esse papel, mas pelo elogiado Dallas Buyers Club (2013). O veterano Scott Glenn tem uma pequena participação como o pai dos Jansen e a cantora Macy Gray assume a posição de narradora da história, a empregada Anita, que narra os fatos mesmo sem ter presenciado-os, ou mesmo ter ouvido a respeito.

A vida nos pântanos da Flórida pode ser muito interessante para quem assiste de fora, e os Jansen se envolvem com muita gente de caráter duvidoso. Mas a ambientação e os personagens não se misturam bem. Talvez, teria dado um resultado melhor como um novelão, os elementos estão todos lá. Cada um teria mais tempo para um desenvolvimento adequado e o público poderia saber melhor o que está acontecendo. E o mais importante: iria querer saber o que está acontecendo.

O diretor Daniels leva o elenco principal a Cannes

O diretor Daniels leva o elenco principal a Cannes

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Conheça a lista negra de James Spader

por Marcelo Seabra

The Blacklist

Com o sucesso de Homeland e de todo o gênero policial, já era de se esperar o surgimento de mais produtos parecidos. O medo que os Estados Unidos têm do inimigo interno foi tema de vários filmes e agora ganha nova encarnação na TV na figura de James Spader. Só que ele inverte os papéis: em The Blacklist (2013), Spader vive um grande criminoso, com diversos contatos no submundo internacional, que pretende entregar um a um ao FBI. Essa seria a tal lista negra do título. E as motivações do sujeito nunca ficam claras.

Quando a série começa, conhecemos a agente novata Elizabeth Keen (interpretada por Megan Boone, de Law & Order: Los Angeles), uma especialista em traçar perfis que é recrutada por Raymond “Red” Reddington (Spader). Red se entrega depois de anos fugindo, desde que era um agente do governo e traiu seu país. Ele passou a negociar segredos e a se relacionar com assassinos, terroristas, espiões e todo tipo de gente de caráter duvidoso. Um belo dia, sem motivo aparente, ele entra no prédio do FBI, se identifica e aguarda a confusão que se seguiria. Após uma correria louca de agentes incrédulos, sua identidade é confirmada e ele faz a primeira exigência: só falaria com Keen.

The Blacklist Red

A partir daí, se segue o esquema de “criminoso da semana”, com Red levando Keen e companhia à captura de alguém muito perigoso, um dos integrantes da lista. Mais segredos vão sendo revelados e o quadro vai piorando, ao invés de clarear. Red certamente está usando o FBI, que não deixa de se beneficiar prendendo os procurados. Mas qual seria o plano? E por que Keen? Essas são as duas principais perguntas, mas há diversas outras. Sobra até para Tom Keen (Ryan Eggold, da finada 90210), marido de Elizabeth, e logo entendemos que até ele tem seus mistérios.

Felizmente, as reviravoltas na trama soam verossímeis e os personagens se mostram inteligentes e capazes, ao contrário de outras séries por aí. E as interpretações ajudam, começando por Spader: sempre firme, seguro, seu Red consegue ser ameaçador e terno na cena seguinte. Bem vestido e educado, Red é um protagonista de várias camadas, que realmente motiva o espectador a querer ver o desenrolar e, ainda mais importante, o passado dele. A subtrama de Elizabeth começa a decolar quando passamos a suspeitar, junto com ela, que Tom possa estar envolvido com algum crime. A relação entre Red e ela também é um atrativo, e é impossível não traçar um paralelo com Hannibal Lecter e seus agentes de estimação, Will Graham e Clarice Starling.

A maior surpresa quanto a The Blacklist, no entanto, está atrás das câmeras e fica a cargo do criador da atração, Jon Bokenkamp. Ele é o roteirista de nada menos que Roubando Vidas (Taking Lives, 2004), A Estranha Perfeita (Perfect Stranger, 2007) e Chamada de Emergência (The Call, 2013), três bombas em níveis variados que têm em comum, além de Bokenkamp, o fato de deixar o público morrendo de raiva. Que ele tenha criado algo interessante e engenhoso é muito estranho, e podemos considerar a série um pedido de desculpas. A série logo teve garantida a produção de sua primeira temporada, com uma média de 12 milhões de espectadores por episódio nos EUA. O piloto, inclusive, teve ninguém menos que Joe Carnahan (de Narc, 2002, e Esquadrão Classe A, 2010) na direção. A segunda temporada certamente está a caminho.

Os atores juram que não tem nada de Silêncio dos Inocentes

Os atores juram que não tem nada de Silêncio dos Inocentes

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Novo Thor continua a Fase Dois do Universo Marvel

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Thor TDW

Se o primeiro longa de Thor (2011) cumpriu bem sua função de filme de origem, apresentando os personagens daquele canto do Universo Marvel, suas motivações e interações, a nova aventura solo do Deus do Trovão (mais uma vez vivido por Chris Hemsworth) nos cinemas faz bem ambos os papéis que lhe foram atribuídos: não só entrega um filme superior ao seu predecessor, especialmente por estar livre das amarras de precisar apresentar ao público todo um elenco de personagens, como dá mais um passo na expansão do Universo Marvel no Cinema.

A exemplo de Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, 2013), Thor: O Mundo Sombrio (Thor: The Dark World, 2013) retoma não só os eventos mostrados no longa anterior, mas também aqueles ocorridos em Os Vingadores (The Avengers, 2012). Por um lado, vemos as consequências dos atos de Loki e Thor no primeiro filme, especialmente no que diz respeito à destruição da Bifrost, a ponte do arco-íris que conecta Asgard aos demais reinos, incluindo aí Midgard (ou Terra); e temos o destino do Deus da Trapaça após ser capturado por seu irmão após a chamada “Batalha de Nova York”.

Thor TDW Loki

Assim sendo, o filme começa com Thor, Sif e os três guerreiros colocando ordem na casa, ou seja, viajando de reino em reino sufocando rebeliões e reafirmando porque eles devem sua lealdade – e submissão – à Asgard. O destaque aí vai para Svartalfheim, o reino dos elfos negros, e Vanaheim, o reino dos Vanir. Ao mesmo tempo em que vemos o destino de Loki (Tom Hiddleston), quem Odin condena à prisão perpétua, é mostrada a história de Malekith (Christopher Eccleston, de G.I Joe: A Origem de Cobra, 2009), um dos elfos de Svartalfheim que, há cerca de cinco mil anos, descobriu uma arma poderosa chamada simplesmente de Éter, que, se usada no ápice de um raro alinhamento de mundos, poderia destruir todo o universo e levá-lo de volta às trevas originais. Na ocasião, Malekith é derrotado por Bor, pai de Odin, e o Éter é escondido onde nunca poderia ser encontrado.

Já na Terra, o cientista Erik Selvig (Stellan Skarsgård) descobre evidências de que esse raro alinhamento de mundos está prestes a ocorrer. Coincidentemente, Jane Foster (Natalie Portman), par romântico de Thor no primeiro longa, e sua assistente, Darcy (Kat Dennings), agora morando em Londres, trombam com um estranho fenômeno nas docas da cidade que acabará por envolvê-las na trama que virá a seguir, com o despertar de Malekith e sua busca pelo Éter para uma segunda tentativa de acabar com um universo que, segundo ele, não deveria ter existido.

Thor TDW scene

Apesar dessa grande coincidência que se mostra necessária para que os deuses de Asgard e os mortais de Midgard voltem a interagir, Thor: O Mundo Sombrio tem mais qualidades do que defeitos. O nível de ação da continuação supera em muito aquele apresentado no primeiro filme, na mesma medida em que a quantidade de piadas diminui, o que contribui para o tema do longa. Não dá pra chamar um filme de “O Mundo Sombrio” se todo mundo fica fazendo piada o tempo todo. Outro ponto interessante é o fato da história gastar mais tempo mostrando Asgard e os demais reinos, ao invés de se focar apenas na Terra. Há aspectos que incomodarão os fãs mais antigos e tradicionais dos quadrinhos de Thor, especialmente no que diz respeito à tecnologia avançada dos recursos bélicos não apenas dos Elfos Negros, mas também dos asgardianos. O lado mais divino de Thor é explorado de maneira menos superficial aqui e temos uma maior noção do porquê de seu Mjölnir ser uma arma bastante temida.

Esse aumento no nível de ação no longa pode ter justificação na escolha do diretor do filme. Sai o shakespeariano Kenneth Branagh, entra Alan Taylor, veterano diretor de TV que tem em seu currículo seis episódios de Game of Thrones e que contou com um auxílio de Joss Whedom (diretor de Os Vingadores) em alguns momentos chave da trama. Isso não quer dizer que Thor: O Mundo Sombrio seja um filme soturno e sério. Ao contrário, o nível de diversão característico das produções do Marvel Studios continua ali, apenas o tom de comédia foi um pouco diminuído.

Também é bom destacar que praticamente todo o elenco do primeiro longa volta nessa continuação, à exceção de Josh Dallas, que vivera o espadachim Fandral no primeiro filme e deu seu lugar à Zachary Levi (da série Chuck) devido a conflitos de agendas. O roteiro de Christopher Yost (responsável por episódios da série animada The Avengers: Earth’s Mightiest Heroes e roteirista de revistas como New X-Men e X-Force) dá um razoável espaço de tela para quase todo o elenco, ainda que se foque principalmente em Thor, Loki e Jane Foster. Outra figura de destaque é o Heimdall de Idris Elba, que mostra bem a que veio ainda que não tenha uma participação tão extensa.

No fim das contas, é seguro dizer que o Marvel Studios continua fazendo um bom trabalho ao tentar expandir seu universo dos quadrinhos para as telonas. Sua “Fase Dois”, que tem a função principal de conduzir os expectadores para Vingadores 2, está atendendo às expectativas. E, como já se tornou tradição em filmes da Marvel, lembre-se de ficar na sala até que as luzes se acendam, ou perderá as já famosas cenas escondidas. É isso mesmo: as cenas, e não a cena.

O diretor Alan Taylor orienta seu Thor

Alan Taylor dirige seu Thor

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Ethan Hawke vive Uma Noite de Crime

por Marcelo Seabra

“Lembrete: todos os serviços de emergência serão suspensos”. Por 12 horas, crimes de todas as naturezas são permitidos, inclusive assassinato, sem possibilidade de socorro. Isso, para purgar os pecados e purificar a alma de todos, ou alguma bobagem do gênero. Ou, como logo fica claro, para que se possa justificar a hipocrisia de uma sociedade ligeiramente futurística que se diz tranquila e segura à custa de permitir o sacrifício da parcela mais pobre e doente da população. Esse é o ponto de partida para Uma Noite de Crime (The Purge, 2013), novo suspense que propõe discussões interessantes, sem se aprofundar em nenhuma delas.

Uma noite, a cada 365 dias, das 19h às 7h da manhã, tudo é permitido. Assim, teoricamente, as pessoas cometem todos os delitos que quiserem para não precisar fazê-lo o resto do ano. Garotos ricos e mimados, por exemplo, podem ir às ruas e matar mendigos, e você poderia fazer o mesmo com o seu chefe. Nesse contexto, conhecemos a família Sandin, que tem uma vida mais do que confortável em um luxuoso condomínio, tudo conquistado à custa do trabalho de James (Ethan Hawke, de Antes da Meia-Noite, 2013), que vende equipamentos de segurança. Ele vive com a esposa (Lena Headey, a vilã de Dredd, 2012) e os dois filhos. Julgando-se seguros dentro de casa durante a noite da purgação, os Sandins verão que não será tão fácil sobreviver.

The Purge couple

A exemplo de filmes como Funny Games (1997 e 2007) e Os Estranhos (The Strangers, 2008), temos aqui o pânico de ter o seu lar invadido. A diferença, no entanto, é que os invasores se identificam e revelam suas razões, por mais absurdas que sejam. E eles ainda têm a benção do governo, já que naquele dia vale tudo. As possibilidades polêmicas criadas pela premissa do diretor e roteirista James DeMonaco são várias e válidas, e a primeira é a mais óbvia: os líderes desse futuro (são apenas dez anos de diferença) buscam uma solução para a violência crescente que as cidades enfrentam. Mas é justificado liberar o crime, mesmo que por 12 horas? A melhor forma de não ter criminosos é eliminando-os? Ou, pior, permitindo que as supostas pessoas de bem o façam?

Apesar de ter esse início bem promissor, Uma Noite de Crime rapidamente perde a mão, colocando seus personagens em uma situação forçada e desnecessária, envolvendo um certo namorado. Logo em seguida, a violência pura e simples invade a tela e tudo se torna um aborrecido jogo de sobrevivência, perdendo toda a força que poderia ter tido. Isso, N produções oferecem, de tempos em tempos. Não que tudo vire uma catástrofe, mas é muito triste perceber o mau uso de um belo potencial. O elenco, correto, é desperdiçado, a expectativa criada fica por terra e seguimos adiante só para ver que fim terá aquela família. O final é apenas coerente e é questão de minutos até que se esqueça do filme.

Este é o educado líder dos dementes

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Whitechapel explora os crimes da famosa vizinhança londrina

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Whitechapel

Produzida pela britânica Carnival Films, Whitechapel é uma série que se foca nos casos investigados pelo departamento de polícia do bairro de mesmo nome e que, em sua maioria, tem ligações com crimes passados. Jack, o estripador, ainda que não diretamente, é o principal motivador da primeira temporada, que consiste de apenas 3 episódios. O que não foge da tendência atual da TV britânica, na qual boa parte das séries tem temporadas cujo número de episódios sequer chega aos dois dígitos.

Localizado no East End de Londres, o bairro de Whitechapel, cujo nome vem de uma catedral dedicada à virgem Maria, se tornou notório no fim do século XIX quando, entre 31 de agosto e 9 de novembro de 1888, cinco mulheres, todas prostitutas, foram encontradas brutalmente assassinadas em diferentes ruas do bairro. A série de assassinatos que aterrorizou a Londres vitoriana entrou para a história principalmente pelo fato de, 125 anos depois, a identidade de seu perpetrador continuar anônima. Seu nome, “Jack” – ou, mais comumente, “Jack, o estripador” – foi tirado de uma carta que o próprio assassino teria enviado à polícia metropolitana que investigava o caso na época. Os assassinatos pararam no começo de novembro, mas a investigação permanece até hoje, com um sem número de livros, tratados, filmes e quadrinhos dedicados a desvendar a real identidade de Jack. Na Inglaterra, há até mesmo a “ripperology”, um termo sem tradução que é usado para identificar os estudiosos e cientistas que se debruçam a entender e desvendar Jack. O número de suspeitos e teorias a respeito é tão vasto que chega a beirar o absurdo.

Whitechapel

A série começa quando o corpo de uma mulher é encontrado em um pátio. Ela está agonizando e logo falece, aparentemente devido a um corte na garganta. O departamento de homicídios local – liderado pelo detetive sargento Ray Milles (Phillip Davies, de séries como Sherlock e Being Human, acima à esquerda) – é chamado para cuidar do caso. Sem que Milles saiba, no entanto, o comissário de polícia local designa um novo inspetor chefe para sua unidade, um oficial de carreira chamado Joe Chandler (Rupert Penry-Jones, de Match Point, 2005 – à direita) que quer usar aquele caso apenas como um degrau em sua escalada para cargos mais altos. Desnecessário dizer que o caso se complica na medida em que fica claro que esse assassinato é uma tentativa moderna de recriar os crimes do mais famoso assassino a andar pelas vielas de Whitechapel.

O primeiro caso de Joe Chandler vai dominar toda a primeira temporada da série. Ela mostra bastante da investigação e como o estripador até hoje está presente no cotidiano de Whitechapel, onde há excursões nas quais especialistas em Jack (os tais “ripperologists”) levam turistas pelos locais onde o criminoso atuou. Paralelamente, vemos Chandler batendo de frente tanto com seus subordinados quanto com seus superiores, buscando objetivos diferentes: ao mesmo tempo em que precisa obter o respeito dos primeiros, necessita provar aos segundos que suas teorias de que há um assassino replicando em 2008 crimes cometidos em 1888 não só é real como a capacidade de prever o próximo passo do imitador, baseado nos registros dos assassinatos do século XIX, seria fundamental para capturá-lo.

Uma série interessante, especialmente para os fãs de criminosos históricos, Whitechapel está em sua quarta temporada no Reino Unido (todas bem curtas, sendo a mais longa a terceira, com seis episódios). No Brasil, ela começou a ser veiculada no dia 15 de agosto, às 23h, no canal pago Film & Arts e está também na BBC HD todas as segundas, às 22h.

A identidade de Jack ainda assombra Whitechapel

A identidade de Jack ainda assombra Whitechapel

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Fassbender ajuda a segurar O Conselheiro do Crime

por Marcelo Seabra

The CounselorÉ possível que um adulto trabalhador e praticamente honesto seja ingênuo a ponto de achar que pode se misturar com criminosos barra pesada e não pagar o preço? Essa é a premissa de O Conselheiro do Crime (The Counselor, 2013), novo trabalho do diretor Ridley Scott, um nome que sempre causa expectativa. O resultado, no entanto, nem sempre corresponde. Nesse caso, quem salva é o ótimo elenco, encabeçado por um inspiradíssimo Michael Fassbender (de Shame, 2011), que faz maravilhas com o roteiro confuso de Cormac McCarthy.

Lembrado como o escritor dos livros que originaram Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country for Old Men, 2007) e A Estrada (The Road, 2009), McCarthy faz aqui sua estreia como roteirista de Cinema e fica um pouco perdido. Há filmes que respeitam a inteligência do espectador não julgando necessário mostrar tudo, deixando uma parte das peças para serem montadas por cada um. Mas há outros que deixam o quebra-cabeças faltando peças, o que é bastante frustrante. O escritor é usualmente pessimista e aqui não seria diferente. A história basicamente acompanha um homem que faz uma escolha errada, ela logo sai do controle e ele vê seu mundo ruir. O final é previsível, mas nem por isso menos doloroso.

The Counselor Fassbender

Em mais uma atuação milimetricamente calculada, Fassbender pega para si todos os holofotes ao construir a jornada do Advogado (ele não tem nome), um sujeito que parece ser correto, mas é assombrado por algum problema financeiro que em momento algum é explicitado e acaba fazendo bobagem. Em algum momento de sua carreira profissional, ele conheceu o extravagante traficante Reiner (Javier Bardem, de Skyfall, 2012) e, juntos, eles vão entrar numa operação de drogas que promete ser muito lucrativa. É questão de horas até que tudo saia dos eixos e eles precisem se virar para resolver a situação.

Além dessa grande dupla, ainda vemos em cena a belíssima Penélope Cruz (de Para Roma, Com Amor, 2012), a inocente noiva do Advogado, numa relação que parece ser a única bem desenvolvida no longa. Não conhecemos muito os personagens, mas a interação entre eles, inclusive com momentos picantes, é algo em que acreditamos desde o início. Algo parecido ocorre com Bardem e Cameron Diaz (de Um Golpe Perfeito, 2012), um casal longe de ser convencional. Um criminoso bem estabelecido, Reiner tem sua franqueza em Malkina, uma mulher forte que sempre parece ter uma agenda oculta e por quem ele é perdidamente apaixonado. Mesmo que ele perceba o risco, o que poderia fazer? Fechando o grupo principal, o galã Brad Pitt vive um intermediário que também pretende ganhar uma grana com o negócio. Há diversas pontas de rostos razoavelmente conhecidos. Algumas, como a do veterano Bruno Ganz (o Hitler de A Queda, 2004), são marcantes, enquanto outras não dizem a que vieram (o que você estava fazendo ali, John Leguizamo?).

The Counselor Fassbender PittFormas criativas de cometer assassinatos não faltam, o que pode chocar os mais sensíveis. Algumas construções visuais são bem interessantes, ajudando a reforçar o que já sabemos e até criando metáforas. O jeito de vestir, os animais, até a posição ocupada em cena por cada um entrega um pouco mais de suas personalidades, ou mesmo de suas situações. Pitt, o experiente no tráfico, sempre tem destaque quando contracena com Fassbender, o novato. As mudanças pelas quais os Advogado passa são brilhantes, e a crescente tensão não deixa o público sossegado. Paranoia e violência invadem o universo do Advogado, derrubando qualquer glamour que poderia se esperar do mundo do crime. Pena que algumas ações fiquem sem explicação e cenas inteiras entrem na edição sem qualquer critério, diminuindo muito o impacto de algo que poderia ter sido excelente.

A beleza de Cruz e Diaz não deixa de ser um atrativo

A beleza de Cruz e Diaz não deixa de ser um atrativo

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Porchat acerta com Meu Passado Me Condena

por Marcelo Seabra

Meu Passado Me Condena

Quais seriam as chances de um casal que se conhece há um mês passar a lua de mel num cruzeiro e encontrar o ex-namorado dela, que se casou com a paixão juvenil dele? Por incrível que pareça, o absurdo fica só na premissa e Meu Passado Me Condena (2013) consegue ser divertido e não apelar pras baixarias que costumam marcar as comédias nacionais. Os atores Fábio Porchat e Miá Mello se mostram muito à vontade interagindo com um roteiro esperto, que trata seus personagens com respeito – e o público também.

Antes de ganhar a tela grande, Meu Passado Me Condena já havia chegado ao canal a cabo Multishow. A série estreou em outubro e a primeira temporada teve treze episódios. A produtora Mariza Leão, esperando repetir o sucesso de bilheteria dos dois De Pernas pro Ar, tratou de convocar a criadora da atração, a roteirista Tati Bernardi, para escrever a versão em longa metragem. Depois de muita luta para conseguir os quase quatro milhões de reais para fechar o orçamento, Leão trouxe a filha, Julia Rezende, para repetir a função que ocupou na TV e dirigir a adaptação.

Meu Passado Me Condena casalO contexto é o mesmo da série: Fábio e Miá acabaram de se casar e vão comemorar a lua de mel. Ao invés de uma pousada no campo, eles escolhem viajar para a Itália em um suntuoso navio que vai parando em pontos estratégicos do litoral. O grande problema é a recorrente lembrança do passado dos dois, que desde a série são assombrados pelos ex-namorados que insistem em aparecer. No filme, o casal de antagonistas (ou quase isso) é formado por Alejandro Claveaux (de Malhação) e Juliana Didone (de Colegas, 2012 – ambos acima). Os dois são atraentes, bem sucedidos e uma ameaça em potencial para a felicidade dos recém-casados.

Repetindo a dinâmica da TV, Marcelo Valle e Inez Viana vivem ex-casados que trabalham juntos. De donos da pousada, passaram a ser equipe de bordo do navio. Mas continuam cercando os protagonistas, arrumando esquemas ou dando conselhos pessimistas. Mesmo beirando o caricato, eles são engraçados e acrescentam à trama. Elke Maravilha, Catarina Abdala e Stepan Nercessian são os veteranos que dão suporte.

Quem segura as pontas mesmo é a dupla Porchat e Mello, que tem um timing para comédia acima da média e consegue dar vida com dignidade às situações engraçadas boladas por Bernardi e Leonardo Muniz. A garota parece ter sempre um retoque da equipe de cabelo e maquiagem, mas passa muita simpatia e nos leva a acreditar no amor que ela sente pelo garotão. Ao contrário do que vimos em O Concurso (2013), Porchat está mais tranqüilo, dá a impressão de aceitar o papel com mais leveza, evitando estereótipos e reações pré-fabricadas. Ligado no 220, ele tem várias atividades acontecendo simultaneamente, e nem por isso deixou de rodar várias cidades apresentando o longa. Não é difícil de prever que ele será recompensado: se qualquer comediazinha boboca lançada hoje bate recordes de público, Meu Passado Me Condena merece um destaque.

Os casais da TV e do Cinema

Os casais da TV e do Cinema

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Soderbergh leva Liberace à HBO

por Marcelo Seabra

Behind the Candelabra

Depois de muita dificuldade para conseguir que um estúdio bancasse a produção, Steven Soderbergh desistiu e levou seu projeto para a HBO. O canal topou a empreitada e agora temos a oportunidade de conferir as ótimas interpretações de Michael Douglas e Matt Damon em Minha Vida com Liberace (Behind the Candelabra, 2013), já em exibição na TV a cabo. Mais uma vez, a televisão mostra a sua força, e o filme provavelmente é um dos mais elogiados do ano. Ser um produto para a tela pequena é apenas um detalhe. Foram nada menos que três Emmys, melhor telefilme, melhor diretor e melhor ator para Douglas, além de outras 12 indicações.

O motivo de tantos problemas para levantar o orçamento necessário se deve ao centro do roteiro: o espalhafatoso músico Liberace (1919-1987). Famoso por enfeitar seus já chamativos pianos com candelabros e por seu enorme talento no manejo do instrumento, ele era um grande artista que sabia bem como entreter uma platéia. Mostrando do que era capaz desde os quatro anos de idade, Liberace (ou Wladziu Valentino Liberace) se aperfeiçoou, se apresentou em diversas ocasiões e logo demonstrou que preferia a música pop à clássica, para desgosto do pai, também músico. Debutou no Cinema em 1950 e, em 1952, ganhou um programa de televisão, o que lhe deu grande fama. As principais casas de show dos Estados Unidos receberam o pianista, e ele recebeu diversos prêmios durante a carreira.

Behind the Candelabra

Quando Liberace morreu, descobriu-se que ele tinha o vírus HIV. Ele passou a vida escondendo o fato de ser gay, e era uma época em que as coisas não eram tão claras para o grande público. Mesmo com aquelas roupas e gestos afeminados, ele se dizia em busca do grande amor e todos torciam por sua felicidade, presumindo que seria uma mulher. Na verdade, a figura mais próxima que ele teve, por mais tempo, era o jovem Scott Thorson, que acabou escrevendo o livro, com Alex Thorleifson, que inspirou este filme. Michael Douglas (acima) consegue fugir completamente da figura viril que está acostumado a viver, como o Gordon Gekko dos dois Wall Street, e encara o papel com muita seriedade. O mesmo vale para Matt Damon (de Contágio, 2011), como o amante mais novo. Cenas mais íntimas entre os dois não faltam, o que poderia deixar muitos atores receosos. O próprio Douglas, em entrevista à revista ShortList, disse admirar a coragem do colega Damon, que aos 42 fez o que ele não teria feito quando tinha a mesma idade. Douglas, aos 68, aceitou o desafio e vê Behind the Candelabra como uma perda para os estúdios, que julgaram muito arriscado gastar tanto com uma temática gay. Na estreia norte-americana, foram 2,4 milhões de espectadores ligados na HBO.

Escrito por Richard LaGravenese (de Dezesseis Luas, 2013), o roteiro não se preocupa em colocar ninguém como vítima ou herói. Os dois protagonistas têm seus defeitos, assim como suas qualidades, e acompanhamos vários momentos dentro daquele espaço de tempo em que eles se relacionaram: os bons momentos, as brigas, as cirurgias plásticas, as manobras para deixar os fãs no escuro quanto à sexualidade do ídolo, as vaidades, as vulnerabilidades. A produção é bem cuidada, os figurinos são precisos e enriquecem a história de Liberace, com cenários grandiosos e cheios de detalhes. A segurança de Soderbergh é notada ao longo da exibição, e só podemos lamentar que ele tenha anunciado a aposentadoria do Cinema após Terapia de Risco (Side Effects, 2013). Se bem que, se seguir por este caminho bem sucedido, não teremos do que lamentar.

Esse era o verdadeiro Liberace

Esse era o verdadeiro Liberace

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Grande elenco busca garotas sequestradas

por Marcelo Seabra

Prisoners

Justiça pelas próprias mãos é sempre um tema espinhoso. Vários pais do Cinema decidiram correr atrás dos filhos, sequestrados, ou mesmo caçar os assassinos, quando o pior aconteceu. É por esse caminho que segue Os Suspeitos (Prisoners, 2013), novo drama policial em que o canadense Denis Villeneuve mostra que o monstro pode morar ao lado. As coisas podem ser mais simples, ao contrário de séries de TV que trazem o psicopata da semana, e ainda assim escaparem do radar da polícia. Mas se meter na investigação seria o melhor caminho? E quem são as verdadeiras vítimas nessa situação?

O título original, Prisoners, poderia muito bem ter sido simplesmente traduzido, já que não há muitas obras com esse nome. Já com Os Suspeitos e variações, há uma fartura, começando pelo novo clássico de Bryan Singer, de 1995. E o termo prisioneiro define vários personagens, em momentos distintos. Duas meninas, de famílias amigas, são seqüestradas da casa de uma delas num dia de Ação de Graças. Logo, as prisioneiras literais estão aí. Mas há outras situações de aprisionamento, físico ou psicológico, que causam tanto dano quanto esta. Os pais, por exemplo, nunca conseguirão ter uma vida normal até ter um fechamento para o caso.

Prisoners

Mais uma vez mostrando sua versatilidade, Hugh Jackman, também conhecido como Wolverine, abraça o papel de Keller Dover, um pai que não se contenta com o retorno negativo dado pela polícia e resolve buscar a filha por conta própria. O principal suspeito, Alex (Paul Dano, de Ruby Sparks, 2012), é solto por falta de provas. Mas um pai desesperado não precisa de tantas provas. Pior para o Detetive Loki (Jake Gyllenhaal, de Marcados para Morrer, 2012), que se dedica ao caso com afinco e ainda precisa se preocupar com o “colega”, que acaba por ocupá-lo também. Duas boas interpretações, dois atores que sabem bem o que fazer. O destaque é Jackman,  que parece sempre buscar novidades para sua carreira. Ele sofreu e cantou como Jean Valjean (de Os Miseráveis, 2012), voltou a viver o mutante nervoso (em Wolverine: Imortal, 2013) e então se deparou com esse desafio. Claro, podemos quebrar o galho dele e esquecer Para Maiores (Movie 43, 2013), que não deixou de ser mais um capítulo nessa busca.

Villeneuve, diretor do elogiado Incêndios (Incendies, 2010), faz um ótimo uso dos ambientes, das luzes e da chuva para reforçar a fragilidade psicológica em que seus personagens se encontram – ajuda muito contar com a maestria de Roger Deakins, diretor de fotografia com mais de 70 trabalhos no currículo (como Operação Skyfall, 2012). O pequeno apartamento em reforma, por exemplo, é prisão física para um, mas serve como metáfora para o outro. A esposa de Keller (Maria Bello, de Tarde Demais, 2010) se afunda em remédios para dormir, por não agüentar enfrentar a situação, e o outro casal, os Birch (Terrence Howard, de Na Estrada, 2012, e Viola Davis, de Histórias Cruzadas, 2011), não sabe se apóia ou se entrega a cruzada independente de Keller. Melissa Leo (de O Voo, 2012), competente como de costume, completa o elenco principal.

O ritmo lento, cada vez menos comum em produções americanas, ajuda a aumentar a tensão e a riqueza de detalhes espalhados pela trama. Apesar do roteiro de Aaron Guzikowski (de Contrabando, 2012) não ser redondinho, Villeneuve é hábil o suficiente e mantém o foco onde quer, ganhando facilmente a adesão do público, que mal percebe que foram 153 minutos embora. Os Suspeitos não é um filme de fácil digestão, tampouco sairá da memória rápido.

Melissa Leo e Paul Dano são sempre um bônus

Melissa Leo e Paul Dano são sempre um bônus

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