Frankenstein ganha nova aventura no Cinema

por Marcelo Seabra

I Frankenstein poster

A criatura de Frankenstein vem assombrando gerações há séculos e já ganhou vida no Cinema várias vezes. Além de adaptações mais fiéis, a criação de Mary Shelley serviu de inspiração para muitas histórias derivadas, e nem sempre o resultado é dos melhores. Uma delas acaba de estrear na telona e deve causar estranhamento em muita gente: em Frankenstein: Entre Anjos e Demônios (I, Frankenstein, 2014), a criatura se vê envolvida numa luta milenar entre dois clãs e precisa descobrir qual é o seu papel nessa guerra. E ninguém menos que Aaron Eckhart (de Batman: O Cavaleiro das Trevas, 2008) vive o protagonista, que praticamente se torna um galã, mesmo tendo sido formado pelos cadáveres de oito pessoas.

Em 1990, Roger Corman misturou a história da escritora com a ficção que ela criou em Frankenstein: O Monstro das Trevas (Frankenstein Unbound) e deu um filme bem interessante. Mais recentemente, em sua pequena editora, o roteirista, quadrinista e ator Kevin Grevioux, criador da franquia Anjos da Noite (Underworld), escreveu uma revista com o personagem e vendeu os direitos de adaptação para a Lakeshore Entertainment. Quando o roteirista Stuart Beattie foi contratado e assumiu a direção, os dois se juntaram para escrever a versão final do texto. Beattie, ao mesmo tempo em que é lembrado por ter escrito o ótimo Colateral (2004) e o bem sucedido Piratas do Caribe (2003), é culpado por coisas como Austrália (2008) e G.I. Joe: A Origem de Cobra (2009).

I Frankenstein

No início de I, Frankenstein, temos um resumão da história, para situar os desprevenidos, e vemos a criatura matando a noiva de Victor. O monstro foge para o norte, Victor o segue a acaba morrendo congelado. A criatura, então, sai pelo mundo, sempre evitando a humanidade, numa jornada bem solitária. Os delírios de Grevioux começam aí, pegando elementos de Underworld e jogando o monstro clássico no meio. Uma raça de demônios infiltrada no nosso mundo tenta dominar e escravizar os humanos, e um grupo de gárgulas enviadas por anjos luta contra. O príncipe demônio (é, isso existe – lá, ao menos) é o grande vilão, e temos um Bill Nighy (de Questão de Tempo, 2013) quase constrangido, parece que ele não sabe dizer não a um convite. Á frente do outro time, Miranda Otto (de Flores Raras, 2013) comanda aqueles que deveriam ser os mocinhos, mas tomam atitudes tão estranhas que concluímos que ninguém no filme é confiável.

Por algum motivo, o Frankenstein de Eckhart é imortal e indestrutível, praticamente um super-herói. Como ele já existe há algumas centenas de anos, sua inteligência se desenvolveu consideravelmente e suas cicatrizes são bem mais discretas – além do cabelo estiloso, num corte bem moderno. Ele nem chama muita atenção quando passa no meio de multidões. Além da trama ser descabida, alguns conceitos são jogados no público e nunca resolvidos, como a discussão sobre alma. E temos ainda a linda Yvonne Strahovski (de Dexter) num papel equivocado de uma cientista especialista em reanimação, uma espécie de aprendiz moderna e boboca de Victor Frankenstein.

Com um monstro de Frankenstein bonito, inteligente e forte, fica difícil associá-lo à rica criação de Mary Shelley. Ele é tão atormentado quanto um menino rico que ficou sem Danoninho. As lutas são exageradas e pouco inventivas. Ninguém explica as explosões e os fogos que insistem em aparecer, e os closes na cara de monstros apenas para eles fazerem cara de mau e grunhirem são ridículos. E os personagens, rasos e aborrecidos, não ajudam em nada, com intérpretes no piloto automático. Um garoto de uns 12 anos que saía da sessão comentou que adorou o filme. Logo na sequência, respondendo ao filho, o pai soltou um sonoro “Detestei”. Deve haver um público para esse Frankenstein, mas eu definitivamente não faço parte dessa turma.

"É, andei fazendo uns abdominais..."

“É, andei fazendo uns abdominais…”

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True Detective é uma das grandes apostas do ano na TV

por Rodrigo Seabra

True Detective Title

Nem foi preciso avançar muito em 2014 para testemunharmos a primeira grande estreia do ano nas séries de TV. True Detective, produção da HBO, traz os nomões do Cinema Woody Harrelson e Matthew McConaughey, amigos de longa data na vida real, como detetives da polícia no estado norte-americano da Louisiana investigando seu primeiro caso juntos, em 1995. Só que parte da ação também se passa em 2012, quando Marty Hart (Harrelson) e Rust Cohle (McConaughey) são chamados separadamente por seus colegas policiais para depor a respeito de outro caso que pode estar relacionado àquele primeiro.

Com isso, temos, ao mesmo tempo, um cuidadoso estudo de personagens e uma trama duplamente misteriosa. Grande parte da lenta narrativa é voltada para conhecermos quem são aqueles dois parceiros, como funcionam suas mentes e seus métodos, como se estabeleceu seu relacionamento, quais são suas histórias de vida, como travaram seus diálogos e o quão confiáveis são suas lembranças um do outro. Os recém-apresentados são ambos durões e distantes, mas logo descobrem que têm personalidades bastante diferentes e, claro, não demoram a se estranhar. Hart se julga um exemplar homem de família que na realidade é um grande hipócrita, ao passo em que Cohle é amargurado, frio e abraçou um lado negro que Hart quer ver longe de si a todo custo. Enquanto isso, vamos junto com eles reunindo pistas para entender como aconteceu o brutal assassinato da jovem prostituta e por que exatamente eles foram chamados para conversar com a polícia dezessete anos depois.

True Detective

Com apenas dois episódios exibidos até o momento, a série ainda não deixa ver exatamente se seus oito episódios serão dignos de tanta espera, mas é certo que a antecipação é justificada. Trata-se de uma aposta grande da premiadíssima e sempre competente HBO, que já nos legou tantos seriados e telefilmes de qualidade indiscutível. É claro também que os protagonistas atraíram muita curiosidade para o projeto desde o primeiro momento. Fora eles, provavelmente nenhum outro nome chama tanto a atenção, seja dos coadjuvantes (Kevin Dunn, Michelle Monaghan e Alexandra Daddario, entre outros), do roteirista e showrunner Nic Pizzolatto ou do diretor Cary Fukunaga, os dois últimos também atuando como produtores e a cargo dos roteiros e direção de toda a primeira temporada.

O que já foi visto deixa transparecer uma realização de primeira categoria. Em ótima forma, Harrelson retorna à TV, onde apareceu quase trinta anos atrás na clássica comédia Cheers, enquanto McConaughey segue sem trégua em sua recente escalada assustadora rumo à imortalidade de Hollywood, depois de estrelar muita besteira e agora escolhendo papéis bem mais fortes e adultos, e angariando prêmios com suas excelentes atuações. Ele inclusive ainda está magro como visto em Dallas Buyers Club. Contribuem para o esforço dos dois um grande trabalho de maquiagem, cabelo e figurino, que não tem como passar despercebido, e uma fotografia belíssima, muito bem cuidada, que serve como um personagem à parte, mostrando tão bem a pasmaceira amarelada que cerca os detetives, em contraste com os cenários frios da(s) delegacia(s).

True Detective é uma antologia, ou seja, prepare-se para se despedir de Hart e Cohle ao final desses oito episódios, uma vez que a segunda temporada deverá ser uma história completamente diferente dentro da mesma premissa, nos moldes do que vemos atualmente em American Horror Story. A recepção, até o momento, foi excelente, tanto por parte da crítica especializada quanto do público que se manifesta em fóruns de discussão. Aliás, a audiência da estreia, no último dia 12, foi a melhor abertura da HBO desde Boardwalk Empire, em 2010. No Brasil, a nova série vem sendo exibida rigorosamente ao mesmo tempo em que na HBO americana, o que cai para nós na meia-noite de domingo para segunda. A iniciativa é muito louvável, mas pode ficar um pouco tarde para muita gente. Se for o seu caso, não se preocupe: logo na segunda à noite, temos uma reprise em horário mais aprazível, às 22h.

Amigos de anos se encontram na telinha

Amigos de anos se encontram na telinha

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Scorsese e DiCaprio se encontram em Wall Street

por Marcelo Seabra

The Wolf of Wall Street posterDepois de vários anos dirigindo filmes de suspense, policial, drama e até documentários, Martin Scorsese voltou ao que faz melhor – e o que mais agrada ao público: misturar tudo na ascensão e queda de um carismático pilantra, tal qual fez em seu jovem clássico Os Bons Companheiros (Goodfellas, 1990). Não que não tenha criado boas obras nesse intervalo, porque é uma melhor que a outra. Mas O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013) consegue passear entre gêneros e ir da tensão ao nonsense total, passando rapidamente até pela comédia. Tudo isso com a ajuda de seu novo protagonista favorito, Leonardo DiCaprio, já na quinta colaboração.

Baseando-se na autobiografia do corretor Jordan Belfort, o roteirista Terence Winter escreveu a adaptação para Scorsese, reeditando a parceria da série Boardwalk Empire, da qual ambos são produtores. Belfort teve uma vida de excessos que estaria mais condizente com um astro do rock e pegou cadeia por fraudes relacionadas à comercialização de ações. Em quase três horas muito bem montadas, sua vida é contada de forma criativa para um público incrédulo, tamanho era o exagero de seu estilo de vida e de suas ações. No início um sujeito humilde e batalhador, ele logo descobre que o poder e o dinheiro corrompem e, muito além de prostitutas e drogas, seu maior vício é o dólar.

Em momento algum da projeção, Belfort chega perto de se arrepender de ter enganado tanta gente e ter feito tantos estragos financeiros nas vidas de pobres coitados ambiciosos que acharam que iam ficar ricos com a ajuda daquele corretor bem articulado e persuasivo. DiCaprio teve bastante contato com o verdadeiro Belfort, que faz até uma ponta no filme: ele apresenta o personagem nos minutos finais. Se em Django Livre (Django Unchained, 2012) ele já compôs um vilão tresloucado sem nenhuma noção moral, aqui DiCaprio perde qualquer freio e eleva à enésima potência da loucura o universo yuppie da Nova York dos anos 80, quase um Psicopata Americano (American Psycho, 2000).

The Wolf of Wall Street couple

Além do ótimo DiCaprio à frente, o elenco ainda conta com outros nomes em momentos muito inspirados. Matthew McConaughey, ainda muito magro pelo esforço para Dallas Buyers Club (2013), rouba as poucas cenas em que aparece como o inspirador de Belfort, seu mentor no mundo financeiro. Jonah Hill (de Moneyball, 2011) finalmente consegue utilizar os trejeitos usuais em um personagem tridimensional e brilha como o amigo e capacho de Belfort, merecendo todos os elogios que vem recebendo. O olhar vidrado e os dentes que brilham no escuro são ótimos suportes à composição. Margot Robbie (vista recentemente em Questão de Tempo, 2013 – acima) mostra que, além de fisicamente irrepreensível, é uma boa atriz, convencendo como a fútil segunda esposa do milionário. O cineasta Rob Reiner, como o pai de Belfort, funciona muito bem como ator tanto no modo estourado quanto no polido. Entre as participações menores, temos ainda Kyle Chandler, Jon Bernthal, Jon Favreau, Jean Dujardin, Shea Whigham e a veterana Joanna Lumley.

Assim como em Os Bons Companheiros, Scorsese acompanha um grupo de amigos que cedo ou tarde terá essa tal amizade colocada à prova pelas autoridades. E as músicas também são escolhidas a dedo, marcando bem cada momento. As similaridades são várias, e o resultado é tão fantástico quanto. No entanto, há algumas diferenças importantes: os mafiosos encaram o “trabalho” com mais seriedade e até uma certa ética; são psicopatas sim, mas adultos. Belfort e seus colegas são crianças grandes com muito dinheiro e nenhum respeito por pessoas, instituições ou regras de convívio social. E Scorsese mostra bem os absurdos, em momento algum ficando do lado deles. Fica muito clara a opinião do diretor sobre seu protagonista, evitando duas possíveis armadilhas: mostrá-lo como um escroque vilanesco ou como um simpático galanteador que por acidente tem um desvio de caráter. Ele é tudo isso e um tanto mais, e cabe a cada um tirar suas próprias conclusões.

O verdadeiro Jordan Belfort e sua segunda esposa

O verdadeiro Jordan Belfort e sua segunda esposa

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Disney faz bom uso de clichês em Frozen

por Marcelo Seabra

Frozen

A fórmula pode ser a mesma, e a Disney não se cansa de requentá-la. Mas, dessa vez, o estúdio realmente conseguiu ir mais longe, quebrando clichês e levando-os a outro nível. Frozen – Uma Aventura Congelante (2013) tem princesa, bicho engraçadinho, príncipe, cantoria e tudo o mais que costuma aparecer em suas produções, e até o trailer prometia algo bobo e irritante. Os diretores e roteiristas, no entanto, conseguem surpreender o público e até modernizar os estereótipos, colocando as mulheres como heroínas e os homens como fracos ou sensíveis, tendência clara nesses tempos politicamente corretos.

Pais e filhos podem ir juntos aos cinemas e se divertir e, não a toa, o longa já levou o Globo de Ouro de Melhor Animação e é o campeão de apostas no Oscar na mesma categoria. Partindo de uma história de Hans Christian Andersen, os roteiristas Chris Buck, Jennifer Lee e Shane Morris mudam o que julgam necessário e expandem o universo original, chegando até a encontrar os personagens de Enrolados (Tangled, 2010), outro produto da Disney que apresenta diversos elementos similares. Referências internas à parte, as adições e alterações são bem-vindas, já que permitem à exibição chegar a seus 100 minutos, e as canções não chegam a cansar. Let It Go, o carro-chefe, é inclusive uma das favoritas ao Oscar.

Frozen 2Após uma boa introdução, que entrega as informações que precisamos de forma enxuta, a trama parte para a coroação da Rainha Elsa, na noite em que ela se desentende com a irmã mais nova, Anna. No momento de raiva, Elsa revela seus poderes congelantes e coloca a cidadela embaixo de um inverno rigoroso. Anna decide empreender uma excursão ao topo de uma montanha gelada para tentar convencer a irmã a retirar a maldição e consegue no caminho a ajuda do humilde Kristoff e sua rena, Sven. O gelo que castiga a todos gera cenários lindos e tecnicamente perfeitos, com um uso fantástico das cores que o caracterizam. Figurinos, expressões, cabelos, tudo é impecável.

As decisões e escolhas dos personagens são colocadas em cheque e até descobrimos que algumas foram bem erradas, o que traz uma sensação de risco e até uma profundidade a eles, que não são infalíveis. A posição em que Elsa se coloca pode indicá-la como vilã, mas é totalmente circunstancial, já que acompanhamos o drama dela também. Ela é outra vítima da situação e ainda se vê caçada por seus pares. Anna, que deveria ser a jovem em perigo, mostra sua força e coragem. Caso a conta não esteja batendo, aproveito para reforçar: sim, são duas princesas de uma vez, o que enriquece as relações afetivas vistas e embaralha os papéis sem confundir. Até o Olaf, o boneco de neve, consegue ser cativante, com uma engraçada fixação por climas quentes, desconhecendo totalmente o efeito que o calor teria nele.

Como já é de praxe em desenhos, de uma forma geral, e está se tornando uma epidemia até entre filmes com temas mais adultos, é praticamente impossível encontrar uma cópia de Frozen legendada. Os talentos dos dubladores originais, como Kristen Bell, Josh Gad, Alan Tudyk e Ciarán Hinds, passam batido para o público brasileiro, que é obrigado a engolir alguma celebridade qualquer. Menos mal que há, de famoso, apenas o comediante Fábio Porchat, nem sinal de Luciano Huck (que “trabalhou” em Enrolados). Sem falar que as canções, dubladas, perdem até o sentido, e muitas vezes são difíceis de agüentar. Quem quiser conferir esse bela obra terá que enfrentar esse problema.

Frozen

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Stallone e De Niro acertam o tom em Ajuste de Contas

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Grudge Match poster

No começo dos anos 1980, Billy “The Kid” McDonnen (Robert DeNiro, de Última Viagem a Vegas, 2013) e Henry “Razor” Sharp (Sylvester Stallone, de Rota de Fuga, 2013) eram os maiores nomes na categoria meio-pesado do boxe nos Estados Unidos. Os dois travaram duas lutas naquele período, com cada um vencendo uma. O “tira-teima”, como costumamos dizer por aqui – nunca aconteceu. O vencedor da segunda luta, Razor, resolve se aposentar logo após o segundo combate com The Kid, o que causa a fúria do segundo. É daí que parte Ajuste de Contas (Grudge Match, 2013), longa que reúne dois grandes nomes do Cinema que haviam se encontrado em Cop Land (1997), em outro contexto.

Trinta anos depois, os dois lutadores se encontram em lados completamente opostos da vida – e ainda nutrem um ódio mútuo entre si. Razor perdeu todo o seu dinheiro, trabalha na indústria de ferro e aço e se esforça para pagar o asilo de seu ex-treinador Louis “Lightning” Conlon (Alan Arkin, de Argo, 2012). The Kid soube investir melhor os frutos de sua carreira e mantém um restaurante e uma concessionária de carros usados em Pittsburgh, Pensilvânia.

Grudge Match scene

As vidas dos dois veteranos voltam a se cruzar quando o empresário Dante Slate, Jr. (Kevin Hart, de É o Fim, 2013) propõe que tanto Razor quanto The Kid se submetam a um processo de captura de movimentos para que possam ser transformados em personagens digitais em um jogo de boxe. Razor hesita, mas, como precisa do dinheiro, acaba topando, com a condição de que ele e seu antigo rival estejam no estúdio em horários diferentes, para que não se cruzem por lá. The Kid aceita na hora e aparece no estúdio justamente no meio da sessão de Razor pois vê, aí, a chance de ter sua tão aguardada terceira luta e provar ao mundo que só fora derrotado trinta anos antes por não estar preparado para o confronto. Em uma era de celulares equipados com câmeras potentes e de Youtube, não demora para que o vídeo da pancadaria entre os dois se torne viral e o que era uma luta de videogame se torne algo real.

Ajuste de Contas – apesar do título genérico em português – é um filme bastante divertido. Stallone não sai de sua zona de conforto e vive um boxeador pela sétima vez em sua carreira, o que gera até uma ou outra piada com Rocky Balboa. DeNiro deixa de atuar no automático e dá uma certa profundidade ao personagem que lhe é reservado, relembrando seus dias de glória como Touro Indomável (Raging Bull, 1980). Cabe a Alan Arkin o papel de velho sem limites que não se importa com o que diz ou faz, porque sabe que não tem muito tempo restante nesse mundo. Stallone e DeNiro, especialmente, fazem com que o espectador se importe com aqueles personagens e chegue mesmo a tomar lados na luta que virá. Kim Basinger (de Informers, 2008) e Jon Bernthal (de O Acordo, 2013) completam o elenco em papéis importantes com performances razoáveis.

Ajuste de Contas deve ser avaliado como realmente é, ou seja, uma comédia com uma pequena – quase nula – carga de drama que, apesar de não trazer nada de novo, tem seus momentos divertidos e serve como uma boa diversão. E ainda guarda pelo menos uma surpresa hilária para fãs de MMA.

Quem diria que estes dois se enfrentariam nos ringues...

Quem diria que estes dois se enfrentariam nos ringues…

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Os Globos de Ouro – 2014

por Marcelo Seabra

Apresentadoras

Tina Fey e Amy Poehler começam os 71º Globos de Ouro, pela segunda vez, às 23h. Uma série de brincadeiras depois e elas chamam a primeira categoria, Melhor Atriz Coadjuvante. E é ninguém menos que Jennifer Lawrence, de Trapaça (ou American Hustle), que levou o último Oscar de Melhor Atriz. Para Melhor Atriz Coadjuvante de uma Série ou Filme para Televisão, várias atrizes jovens e bonitas são indicadas, mas o prêmio ficou para a experiente Jacqueline Bisset, por Dancing on the Edge. Um discurso longo, com palavrão e tudo, e ela encerra o primeiro bloco.

Na sequência, Naomi Watts e Mark Ruffalo chamam a Melhor Série ou Filme para a TV, e dá a HBO: Behind the Candelabra, ou Minha Vida Com Liberace, longa sobre o fantástico pianista e sua vida íntima. Como Melhor Atriz em Série ou Filme para a Televisão, Elizabeth Moss, mais lembrada por Mad Men, ganha por Top of the Lake, uma minissérie muito elogiada de Jane Campion. Ela bate gente como Jéssica Lange e Helen Mirren. O presidente da associação de imprensa estrangeira entra para saudar a todos e a categoria seguinte é Melhor Ator em uma Série de Televisão. Não poderia ser outro que não Bryan Cranston, de Breaking Bad, na sua última temporada. Na categoria Melhor Série Dramática, não poderia ser diferente: Bryan Cranston volta ao palco para ajudar a equipe a receber o prêmio por Breaking Bad, numa homenagem que deve durar a noite toda. Vince Gilligan, o criador e produtor, com sua voz débil, agradece, abrindo espaço para o coadjuvante Aaron Paul.

BonoO prêmio seguinte fica com o figura Alex Ebert, pela Trilha Sonora de All Is Lost, Até o Fim no Brasil, e é seguido pelo prêmio para Melhor Canção Original, que fica com o pessoal do U2 e colaboradores pela música Ordinary Love, do filme Mandela: Long Walk to Freedom. Tudo leva a crer que a estatueta seguinte, Melhor Ator Coadjuvante de Série, Minissérie ou Filme para  TV, é mais uma para Breaking Bad, mas quem leva é Jon Voight, o pai de Ray Donovan. A categoria mais equivocada, Melhor Atriz – Comédia ou Musical, que escolhe os filmes mais nada a ver com os gêneros específicos, premia novamente Trapaça (American Hustle), para a linda Amy Adams, indicada anteriormente quatro vezes. O casal Kyra Segdwick e Kevin Bacon chama a Melhor Atriz em uma Série ou Filme para a TV, e é Robin Wright, de House of Cards.

O vencedor de Ator Coadjuvante no ano passado, Christoph Waltz, entra para anunciar o vencedor desse ano, e a surpresa é o cantor Jared Leto, que voltou a fazer um filme com Dallas Buyers Club. Spike Jonze, que diz falar inglês mal, mesmo sendo sua única língua, fica com o Globo de Ouro de Melhor Roteiro, por Her. Numa categoria meio difícil, onde quase qualquer um seria uma zebra, Andy Samberg, de Brooklyn Nine-Nine, leva Melhor Ator em uma Série de Televisão. A Grande Beleza, obra italiana de Paolo Sorrentino, é o Melhor Filme Estrangeiro, mesmo eu tendo gritado aqui que seria A Caça. Não deu, não ouviram. Uma grande barbada veio a seguir, com Michael Douglas como Melhor Ator em uma Minissérie ou Filme para TV vivendo Liberace em Behind the Candelabra.

Frozen

A Disney mostra quem manda levando Melhor Animação por Frozen – Uma Aventura Congelante, a favorita da categoria – afinal, Meu Malvado Favorito 2 é sacanagem, né? A apresentadora Amy Poehler levou Melhor Atriz por uma Série de TV – Comédia ou Musical, por Parks and Recreation, o que a pegou desprevenida, e mesmo assim ela aproveitou para beijar Bono. Para ela, prêmio duplo. Tina Fey aproveitou para saudar a amiga, com uma pitada de ironia. Emma Stone, por algum motivo, introduz o prêmio Cecil B. DeMille, que este ano é para ninguém menos que Woody Allen. Depois de um longo clipe sobre as obras do diretor, Diane Keaton entra para fazer uma homenagem mais apropriada, já que ela é uma das atrizes mais marcantes da carreira do cineasta. Como Allen não está lá, ela recebe o prêmio pelo amigo. Um longo discurso e uma música depois, ela sai para que a cerimônia continue.

Na sequência, vem o prêmio de Melhor Diretor, e os cinco são pesos pesados. No fim das contas, quem leva é Alfonso Cuarón, pelo visualmente fantástico Gravidade. A Melhor Série de TV – Comédia ou Musical é mais uma honraria para Brooklyn Nine-Nine, uma série que vem sendo elogiada, mas ainda não mostrou serviço. Só de não ter ido para Girls ou Modern Family, já está ótimo. O Melhor Ator – Comédia ou Musical vem de O Lobo de Wall Street, que não é nem comédia e nem musical. Ele é Leonardo DiCaprio, o Jordan Belfort do novo trabalho de Martin Scorsese, que fez questão de reverenciar os demais indicados. Já o Melhor Filme – Comédia ou Musical é Trapaça, mais um prêmio para a produção de David O. Russell.

CateMMDiCaprio volta ao palco para entregar a estatueta de Melhor Atriz – Drama, e ficou mesmo com Cate Blanchett, a alma de Blue Jasmine. Em seguida, a estonteante Jessica Chastain convida o Melhor Ator – Drama. Entre vários fortes concorrentes, talvez o menos provável fosse Matthew McConaughey, segundo ator vencedor por Dallas Buyers Club. Steve McQueen pode não ter sido o melhor diretor, mas seu 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave) é o Melhor Filme – Drama. Um filme forte, extremamente elogiado, que chega ao Brasil na sexta-feira de carnaval, dois dias antes do Oscar, o que não é uma jogada muito esperta da distribuidora. Dentre vários prêmios que o longa poderia ter ganhado, ele ficou “apenas” com o mais importante. E, assim, se encerram os Globos de Ouro 2014.

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Amor Bandido traz o Tom Sawyer moderno

por Marcelo Seabra

Mud

Tom Sawyer e Huck Finn são dois dos maiores personagens da literatura mundial. Jeff Nichols tem se mostrado um cineasta extremamente habilidoso e está apenas em seu terceiro filme. O cineasta encontra o clima das criações de Mark Twain em Amor Bandido, título nacional para Mud (2012), um drama que reúne vários temas, todos tratados com a devida atenção, e grandes atuações, com destaque para o personagem principal, vivido com excelência por Matthew McConaughey. Tom e Huck não estão realmente lá, mas é como se estivessem.

Um lugar idílico, às margens do rio Mississipi, é o contraste para a cidade, onde a modernidade e a violência se esgueiram. É nesta cidade que crescem dois garotos simples, Ellis (Tye Sheridan, de A Árvore da Vida, 2011) e Neckbone (o estreante Jacob Lofland), cada um em sua realidade com problemas, como qualquer outro menino da região. É interessante reparar na similaridade de nomes: Ellis e Tom de um lado, Huck(finn) e Neck(bone) do outro. Quando eles conhecem o andarilho Mud na ilha para onde escapam de vez em quando, decidem ajudá-lo a se reunir com seu grande amor, Juniper (Reese Witherspoon, de Água para Elefantes, 2011). Crescimento, amor, vingança, família, solidariedade… Tem de tudo, além da beleza das imagens.

Mud boys

Os jovens atores, ambos bem jovens, são muito convincentes em seus papéis, e McConaughey segue seu belo (e recente) caminho rumo ao reconhecimento profissional. Uma série de bons filmes, mesmo que sempre usando seu sotaque característico do sul em personagens variantes do mesmo tema. Ele vem chamando cada vez mais atenção e não surpreenderia ele ser indicado a premiações. Além de Killer Joe (2012), Magic Mike (2012) e Bernie (2011), ele está no inédito Dallas Buyers Club (2012), já de cara elogiado até! Witherspoon só precisa ser bonita para trazer o potencial trágico necessário a sua Juniper, com o veterano Sam Shepard (de O Homem da Máfia, 2012) completando o time principal como um atirador amargurado. Pontas de Michael Shannon, Joe Don Baker e Sarah Paulson só engrandecem o elenco.

Versões de Tom Sawyer e Huck Finn aparecem no filme deliberadamente, o diretor confessa tê-los como referência. Não foi a toa que Ernest Hemingway disse que se tratava dos personagens mais importantes da ficção, sendo constantemente usados como pontos de partida. Algumas experiências autobiográficas estão misturadas, já que o longa trata de amadurecimento e passagem para a vida adulta. As primeiras paixões marcam um adolescente, e as descobertas nessa etapa da vida são inúmeras. Seria uma espécie de atualização das histórias de Mark Twain, mantendo um clima bem similar. Trata-se da maior produção realizada no estado do Arkansas, o que trouxe muita autenticidade às filmagens.

Para Nichols, é uma evolução. A câmera é praticamente parada em Shotgun Stories (2007), o primeiro trabalho do diretor, enquanto ela se move um bocado em O Abrigo (Take Shelter, 2011), com muitas imagens seguindo um movimento. Em Mud, ela quase não para, como conta o diretor de fotografia Adam Stone, habitual parceiro de Nichols. A ambição cresce. E há reviravoltas interessantes, que não serão aprofundadas para que não se revele nada importante. Basicamente, é o tipo de trabalho que nos faz aguardar ansiosamente pelo próximo de Nichols.

Mud Cast

O diretor reúne seu elenco para o lançamento

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Grande elenco se reúne para tragédia familiar

por Marcelo Seabra

August posterUm dramalhão interminável! Essa é a melhor descrição para Álbum de Família (August: Osage County, 2013), lançamento nos cinemas nacionais que reúne um ótimo elenco numa história arrastada dominada pelas mulheres da família Weston, um bando de gente mandona, frustrada e infeliz. Alguns atores ótimos em cena, sim, mas numa sucessão de situações irritantes e exageradas que fazem o público ficar olhando o relógio, imaginando até quando aquela tortura duraria. Duas horas depois e você está livre.

O dramaturgo Tracy Letts já havia adaptado duas de suas peças para o Cinema, que deram nos ótimos Killer Joe (2011) e Possuídos (Bug, 2006). Agora, ele é o responsável pelo roteiro deste Álbum de Família (nenhuma ligação com Nelson Rodrigues), versão para a peça de 2008 ganhadora dos prêmios Pulitzer e Tony. A ambientação de palco permanece, ganhando apenas alguns cenários a mais. A maior parte da trama se passa dentro da casa da família, numa reunião que é causada pelo sumiço do patriarca (Sam Shepard, de O Homem da Máfia, 2012). As três filhas, com os respectivos agregados, vêm ao encontro da mãe, a dopada Violet (Meryl Streep, de olho em mais estatuetas), para confortá-la.

August Cumberbatch

Como não poderia deixar de ser, cada membro da família tem uma personalidade diferente, e embates serão inevitáveis. Barbara (Julia Roberts, de Espelho, Espelho Meu, 2012) leva o marido (Ewan McGregor, de O Impossível, 2012) e a filha (Abigail Breslin, de Zumbilândia, 2009). Karen (Juliette Lewis, da série A Firma) apresenta o noivo recente, o playboy Steve (Dermot Mulroney, de Jobs, 2013). A terceira filha, Ivy (Julianne Nicholson, da série Masters of Sex), é a única que não se mudou para longe, e cuida dos pais. A irmã de Violet, Mattie Fae (Margo Martindale, de Justified), vem se meter e traz o marido (Chris Cooper, de Sem Proteção, 2012) e o coitado do filho (Benedict Cumberbatch, o Sherlock da BBC). Todos esses nomes são reunidos num pesadelo familiar que acaba se estendendo ao espectador, e o mais interessante é ver Cumberbatch no papel de um perdedor ridicularizado pela própria mãe, fugindo dos tipos espertos aos quais já nos acostumamos a vê-lo fazer (acima).

Pelo título original, fica a impressão de que, a cada mês, o drama de uma família seria apresentado, seguindo as cidadezinhas de Oklahoma, como naqueles programas ruins de televisão que expõem situações particulares. Não faltam belas paisagens das planícies do meio-oeste americano, daquelas estradas poerentas e lagos inesperados. Mas sobra atuação – no mau sentido, com principalmente Streep e Roberts se esforçando para uma lembrança da Academia, além de umas discussões e revelações que caberiam melhor numa produção mexicana. John Wells, que dirigiu o correto A Grande Virada (The Company Men, 2010), aqui pesa a mão e erra a dose. Ao menos a Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood caiu na armadilha, já que as duas atrizes de fato foram indicadas aos Globos de Ouro. Aguardemos o anúncio do Oscar.

Mãe e filha, atriz principal e coadjuvante

Mãe e filha, atriz principal e coadjuvante

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Comédia romântica viaja no tempo

por Marcelo Seabra

About Time

Misture o consagrado roteirista e diretor Richard Curtis (de Simplesmente Amor, 2003, e Os Piratas do Rock, 2009), um casal de atores em perfeita sintonia e viagens no tempo. Pode parecer loucura, mas o resultado dá muito certo. Questão de Tempo (About Time, 2013) não deixa de ser uma comédia romântica, mas vai mais longe ao misturar algumas questões existenciais encontráveis apenas nas melhores ficções-científicas. Isso, além de ser mais engraçada que a maioria de seus pares, que geralmente ficam apenas no romance água com açúcar.

Apesar de já ter aparecido em vários filmes (como Dredd, 2012, e os dois últimos Harry Potter), Domhnall Gleeson só deve se tornar um rosto reconhecível agora, com o papel do jovem inglês que descobre poder viajar no tempo, dentro de sua própria linha de tempo, e alterar o que julgar necessário. Ele só precisa tomar cuidado com o efeito borboleta, já que cada mínima alteração no passado pode ter conseqüências grandes no futuro. Como todo jovem, ele passa por experiências de crescimento e formação até ir para a cidade grande, Londres, onde vai conhecer a mulher de sua vida. É onde entra Rachel McAdams, atriz que já viveu a esposa de um viajante do tempo em Te Amarei para Sempre (The Time Traveler’s Wife, 2009). Ela é a linda americana por quem Tim se apaixona – apesar daquela franja esquisita.

About Time

O relacionamento dos dois realmente funciona, já que as situações vividas são bastante críveis, e Curtis imprime seu humor fino em todo o longa. Outra figura carismática que divide a responsabilidade pelo sucesso da obra é Bill Nighy (de O Vingador do Futuro, 2012), o engraçadíssimo pai de Tim, que possui o mesmo dom que o filho, como todos os homens da família, e o prepara para essa louca verdade. A mãe (Lindsay Duncan, de Alice no País das Maravilhas, 2010) e a irmã (Lydia Wilson, de Não Me Abandone Jamais, 2010) completam o núcleo principal, além do tio abobado (Richard Cordery, de Os Miseráveis, 2012). Toda a família Lake é muito interessante, o que acaba chamando a atenção para o fato de que os pais da garota aparecem apenas uma vez, e nem se fala sobre os irmãos dela, mencionados rapidamente em um momento. Mesmo assim, os protagonistas são desenvolvidos o suficiente para que nos importemos com eles e, mais ainda, para que torçamos por eles.

A magia da história não precisa ser explicada, uma sábia decisão de Curtis. Eles apenas podem entrar num armário escuro, escolher uma época específica de suas vidas e consertar traumas e fracassos. As metáforas que nascem dessa proposta são inúmeras, e Tim acaba se tornando uma pessoa menos insegura e tímida, como qualquer interiorano recém chegado à capital poderia ser. As armadilhas comuns e a conclusão sentimentalóide que costumam marcar este tipo de produção passam longe, mostrando que há vida inteligente no gênero. Curtis conseguiu mais uma vez fazer um filme bonito, inteligente e que te deixa com um sorriso besta no rosto por alguns minutos.

Pai e filho conversam sobre viagens no tempo

Pai e filho conversam sobre viagens no tempo

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Walter Mitty ganha vida nova no Cinema

por Marcelo Seabra

Walter Mitty poster

Walter Mitty é o típico sujeito que vê a vida passar diante de seus olhos, com medo de tomar uma atitude e correr atrás do que quer. Pior até, ele tem momentos de “sair do ar” em que fica imaginando algo melhor do que o que realmente está acontecendo. Obviamente, quem já viu alguns filmes sabe que algo vai acontecer para tirar Walter deste torpor, e é aí que engrena A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty, 2013), nova adaptação do conto escrito em 1939 por James Thurber. O nome Walter Mitty (e derivados) é usado comumente por americanos para descrever uma pessoa que prefere seus feitos fictícios à realidade, tamanha é a importância do personagem.

Walter Mitty 47Adaptada para o Cinema em 1947 com produção de Samuel Goldwyn, agora é o filho dele quem cuida da nova versão. Depois de várias alterações na equipe escalada e diversos adiamentos, Samuel Goldwyn Jr. trouxe Ben Stiller para o papel principal e o ator acabou assumindo também a cadeira de diretor. Stiller já havia desempenhado função dupla, como nas comédias Zoolander (2001) e Trovão Tropical (Tropical Thunder, 2008), e contou com roteiro de Steve Conrad (de À Procura da Felicidade, 2006).

No conceito original, como bolado por Thurber, Walter é alguém com uma imaginação imensa que se vê em situações heróicas e absurdas quando, na verdade, está fazendo algo prosaico e rotineiro, como esperar a esposa ao fazer compras. Para esta nova versão, as coisas foram ligeiramente alteradas, para permitir um desenvolvimento maior. Ele é um cara pacato que nunca fez nada de mais na vida, nunca visitou um lugar legal. Quando supostamente perde o negativo da foto que estamparia a capa da última edição da revista onde trabalha há muitos anos, ele não vê outra opção a não ser sair pelo mundo atrás do fotógrafo recluso (numa participação pequena, mas importante, de Sean Penn – abaixo) que poderia ter ficado com o negativo por acidente.

Walter Mitty Penn

Claro que não poderia faltar um interesse romântico para Walter, há uma contadora na empresa admirada em segredo por ele. Tudo é muito certinho e esperado, sempre com o objetivo de empurrar o público a perseguir seus sonhos. É praticamente um filme de auto-ajuda, com diversas mensagens motivacionais marteladas com certa insistência, o que fica um tanto aborrecido. As sequências de “sonho acordado” de Walter, mesmo com algo de divertido, acabam ficando cansativas, já que logo entendemos que nada daquilo é verdade e, em seguida, veremos o pobre Walter sendo alvo de humilhações por ter ficado desligado por um tempo.

O antagonista criado para atazanar Walter é forçado e irritante, sem falar na barba falsa que fizeram Adam Scott (de Solteiros com Filhos, 2012) usar, que chama a atenção para sua própria artificialidade. A mocinha de Kristen Wiig (do incompreensível sucesso Missão Madrinha de Casamento, 2011) é sem sal e é exatamente o que o roteiro exige, sendo mais um estímulo conveniente para Walter sair do marasmo. Há participações menores de Shirley MacLaine (de Bernie, 2011) e Patton Oswalt (de Jovens Adultos, 2011), o que não chega a ser uma grande atração. O uso de canções pop, tanto mais clássicas (como Space Oddity e Maneater) como mais atuais (como Dirty Paws e Wake Up), é bem acertado, mas não é o suficiente para elevar A Vida Secreta de Walter Mitty a algo mais que uma sessão esquecível de um filme bonitinho.

"Acorda, Walter!"

“Acorda, Walter!”

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