Chiwetel Ejiofor vive 12 anos de escravidão

por Marcelo Seabra

12 years a slave banner

Algumas verdades precisam ser reafirmadas de tempos em tempos para não caírem no esquecimento, e passagens trágicas da história devem ser revisitadas para não serem repetidas. Essas funções são muito bem desempenhadas por 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013), longa que mostra de forma realista o horror da escravidão nos Estados Unidos do século XVIII e vem recebendo diversos prêmios, todos merecidos. Ótimas atuações, uma história brutal e emocionante e mais um grande trabalho do diretor Steve McQueen, enfiando o dedo numa ferida americana.

Em Django Livre (Django Unchained, 2012), temos uma amostra absurda e divertida do que era ser escravo nos Estados Unidos. Com roteiro de John Ridley (de Três Reis, 1999), McQueen faz o oposto, filmando o livro homônimo que conta a experiência real de um negro livre sequestrado e vendido como escravo. Como o título diz, são doze anos passando por situações inimagináveis, um terror perfeitamente possível tornado ainda mais sofrido pela atuação impecável de Chiwetel Ejiofor, merecidamente indicado a uma pancada de prêmios. Já reconhecido por seu talento há algum tempo, ele tem em sua bagagem longas despretensiosos como Simplesmente Amor (Love Actually, 2003) e outros mais engajados politicamente, como Coisas Belas e Sujas (Dirty Pretty Things, 2002). No ano passado, apareceu na produção da HBO Phil Spector. Já era hora de um ator desse peso receber um papel forte como o de Solomon Northup.

12 years a slave Fassbender

Quando percebe que ninguém vai denunciar a injustiça cometida contra ele, Solomon passa a aceitar o que lhe é imposto, já que outra reação poderia levá-lo à morte. Quando somos apresentados ao primeiro senhor a quem ele serve, percebemos o início de uma discussão interessante: um sujeito que trata os outros bem, mas mantém escravos, pode ser uma pessoa boa? O contraste entre os personagens de Benedict Cumberbatch (de Álbum de Família, 2013) e Michael Fassbender (de O Conselheiro do Crime, 2013 – acima) leva o público a refletir, mas o cineasta não pretende dar respostas. Fazer pensar já é mais do que suficiente. Fassbender, em sua terceira colaboração com McQueen (depois de Hunger, 2008, e Shame, 2011), tem mais uma atuação excepcional, à frente de um elenco notável que inclui gente como Paul Giamatti, Sarah Paulson, Paul Dano, Alfre Woodard e a ótima estreante Lupita Nyong’o, que rouba as cenas em que aparece como a escrava objeto da obsessão de seu senhor.

Northup parece sobreviver à espera do dia em que sua situação será corrigida, e isso lhe dá forças para continuar. Mas e os demais, que nasceram cativos e provavelmente morrerão assim? É uma realidade muito fora para os que vivem hoje em grandes centros urbanos, mas seria assim tão distante para todos? 12 Anos de Escravidão esfrega na cara do público uma verdade inconveniente e McQueen comprova a extensão de seu talento ao conduzir um longa maduro, bonito temática e esteticamente e muito bem amarrado.

Lupita é uma ótima revelação

Lupita é uma ótima revelação

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É uma bela viagem a Nebraska

por Marcelo Seabra

Nebraska poster

A morte é uma das poucas certezas que temos na vida, mas a velhice pode assustar muito mais. Chegar ao fim da vida sem o domínio das faculdades mentais e físicas é de fato o grande pesadelo, e Alexander Payne acerta mais uma vez ao apresentar-nos a um personagem que já não é nenhum rapazinho. Nebraska (2013) é mais um ótimo trabalho do diretor e uma grande oportunidade para o veterano Bruce Dern mostrar sua competência. Sobram elogios até para o humorista Will Forte, que encara um papel dramático com muita naturalidade e só soma ao projeto.

Em As Confissões de Schimdt (About Schmidt, 2002), Payne entrou nesse universo da terceira idade com um sujeito que parecia sem rumo ao se aposentar e ficar viúvo. Agora, com menos humor, ele consegue ser mais contundente ao apresentar um idoso que se prende a uma fantasia para dar sentido ao fim da sua existência. Ele acredita ter ganhado um prêmio de um milhão de dólares de uma propaganda de uma editora e agora precisa ir a outro estado para recolher a bolada. Cansado de lutar contra, o filho decide ir junto e passar um tempo com o pai, mesmo que o passeio vá dar em nada. Sair da rotina já seria o suficiente.

Nebraska scene

Chegando a outra cidade, o filho (re)conhece amigos e parentes dos pais, com quem não tinham contato há tempos, e a notícia da celebridade ganhadora do milhão se espalha com o vento. Em produções mais bobas ou espetaculosas, cada descoberta seria um trauma, ou algo fantástico (como no dramalhão Álbum de Família, 2013), mas os reencontros de Woody (o pai), Kate (a mãe) e David (o filho) não representam nada de extraordinário. São apenas as pequenas experiências que nos fazem ser o que somos, construindo uma identidade pouquinho por pouquinho. Woody continua bebendo mais do que devia, e David percebe que é muito tarde para querer mudá-lo. Mágoas passadas não faltam, mas David opta por ser otimista e perdoar. Dessa forma, eles viajam juntos e temos um road movie em que até as paisagens se tornam personagens, tamanha é a poesia que o diretor de fotografia Phedon Papamichael (colaborador de Payne em Os Descendentes, 2011, e Sideways, 2004) extrai delas. O contraste do preto e branco torna tudo mais bonito, e com um quê de clássico imediato. A sensível e autêntica trilha de Mark Orton praticamente nos joga na trama, tamanha é a ambientação que proporciona. E o belo roteiro do estreante Bob Nelson é o primeiro que Payne só dirige, com apenas pequenas modificações suas.

Finalmente, em meio a tantos pontos positivos, temos três atores dando o melhor de si. Bruce Dern (visto recentemente em Django Livre, 2012) traz uma certa doçura a um personagem que à primeira vista não atrairia um pingo de simpatia. Um alcoólatra que nunca foi um bom pai ou marido e se deixava enganar por qualquer pretenso amigo. Ao contrário do que vimos em Amor (Amour, 2012), ele não trata a mulher com carinho, e ela sofre na companhia dele. Ao mesmo tempo, June Squibb (também de Schmidt) mostra nos detalhes que sua Kate, apesar de forte e reclamona, nutre grande amor pelo marido. E Will Forte, muito lembrado por comédias duvidosas e pelo eterno humorístico Saturday Night Live, faz algo similar ao que Adam Sandler fez em Embriagado de Amor (Punch-Drunk Love, 2002): controlou todos os seus impulsos, guardou as caretas e ouviu o diretor cegamente. Dessa forma, não ficou nada atrás do casal de veteranos, e os coadjuvantes completam um belo elenco.

Nebraska é uma dessas raridades que conseguem indicações a prêmios e são de fato boas, ao contrário de tantos que andam fazendo campanha loucamente e acabam lembrados, mesmo sem merecerem. O longa foi indicado a seis Oscars: Ator Principal (Dern), Atriz Coadjuvante (Squibb), Diretor de Fotografia (Papamichael), Roteiro Original (Nelson), Diretor (Payne) e Filme. Isso, além de cinco indicações nos Globos de Ouro, três no BAFTA, duas em Cannes (Dern levou), entre vários outros. Payne mostra, mais uma vez, que é um grande contador de histórias e se preocupa verdadeiramente com seus personagens, que passam a ser gente com quem devemos nos preocupar e para quem vamos inevitavelmente torcer. Mesmo que não sejam exatamente simpáticos.

Nebraska couple

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George Clooney entra para a História

por Marcelo Seabra

Monuments Men

Um ótimo elenco, recheado de gente competente e famosa, não é de forma alguma garantia de um bom filme. Muito menos de bilheteria polpuda. Outro exemplo para comprovar essa máxima é Caçadores de Obras-Primas (The Monuments Men, 2014), novo trabalho do diretor, ator, roteirista e produtor George Clooney, que pode ter se sobrecarregado e perdido o foco. Filmando uma história real, passada durante a Segunda Guerra, Clooney tem dificuldade de definir o tom e ainda comete um outro grande pecado: coloca grande peso nos personagens, mas não se dá ao trabalho de apresentá-los apropriadamente.

De cara, Clooney se apresenta como o protagonista Frank Stokes, provavelmente um historiador. É meio difícil ter certeza da especialidade porque ele reúne um grupo de pessoas ligadas a arte, entre curadores, restauradores etc. É como se fosse um grupo de super-heróis, cada um com um poder, reunidos pelo governo para recuperar as obras de arte roubadas pelos nazistas nas cidades por onde eles passaram. Hitler, um artista frustrado, tinha grande apreço por pinturas e esculturas, e não se importava de se apropriar de bens alheios. Seus planos envolviam a construção de um museu em sua terra natal, para celebrar a erudição de seu reich. Os soldados e aviões aliados certamente atacariam e poderiam acertar peças valiosíssimas, tanto financeira quanto histórica e culturalmente. Stokes e seu bando teriam que reaver o máximo que pudessem, devolvendo tudo aos locais de origem.

É interessante a discussão proposta no filme: as obras são tão importantes a ponto de arriscar a vida de vários homens para recuperá-las? Clooney defende apaixonadamente o Monuments Men book“sim” e insere discursos inteiros sobre a importância da cultura, da arte e de se conhecer o passado. Chega a ser educativo, de tão expositivo. Clooney e seu parceiro, o produtor e roteirista Grant Heslov, adaptam o livro de Robert M. Edsel (com Bret Witter), escritor que tem várias obras sobre a relação nazismo e arte. Apesar da riqueza do material, o roteiro acaba disperso, sem saber qual linha seguir, apresentando um tanto de gente em uma área vasta, o que fica tanto confuso quanto cansativo.

É até difícil imaginar que um filme com esse elenco não tenha dado muito certo. Clooney parece gostar de fazer filmes em turma, e convocou o amigo Matt Damon, com quem vez a série dos Homens e Um Segredo. Os outros grandes nomes não os são habituais da gangue: Bill Murray (de Moonrise Kingdom, 2012), John Goodman (de O Voo, 2012), Bob Balaban (o narrador de Moonrise), Hugh Bonneville (de Downton Abbey), Jean Dujardin (de O Lobo de Wall Street, 2013) e Cate Blanchett (que fez com Clooney O Segredo de Berlim, de 2006), além de uma ponta do pai do ator, Nick Clooney, que vive sua versão mais velha. Como diretor, Clooney criou ao menos três obras admiráveis: Confissões de uma Mente Perigosa (2002), Boa Noite e Boa Sorte (2005) e Tudo Pelo Poder (2011). Era de se esperar algo na mesma grandeza, mas não foi dessa vez.

Eis alguns dos caçadores reais

Eis alguns dos caçadores reais

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O relacionamento do futuro é com Ela

por Marcelo Seabra

Her

Sem precisar ir muito longe, como as inventivas ficções científicas dos anos 80 e 90, Ela (Her, 2013) propõe questões interessantes acerca do futuro relacionamento entre humanos e suas criações tecnológicas. Seria possível um homem se apaixonar por uma personalidade feminina projetada para atendê-lo, e ainda por cima sem um corpo físico? Seria sempre um namoro à distância, já que os pombinhos não se encontram nunca? Só desenvolvem a relação com muito diálogo. Spike Jonze, apenas em seu quarto longa de ficção, chega mais longe que muito veterano por aí.

Sempre interessado nas relações humanas, o roteirista e diretor Jonze criou um sujeito solitário e ligeiramente amargurado pelo fim de seu casamento. Esse protagonista introspectivo, que trabalha criando belas mensagens para desconhecidos, tem acesso a um novo sistema operacional que organiza seus arquivos e e-mails, se atualiza sozinho e é configurado para o que você preferir. No caso de Theo (Joaquin Phoenix), é criada uma mulher extremamente espirituosa, inteligente e companheira. Logo, ele se vê dizendo ter uma namorada, que não passa de um software com uma voz. Uma com muita sensualidade e emoção, mas apenas uma voz.

Além do roteiro e da direção, um grande trunfo de Ela é o elenco. O casal principal apresenta uma química fantástica mesmo sem que possamos ver a garota em momento algum. Mas isso não diminui a presença em cena de Scarlett Johansson, que domina seus diálogos e faz o público imaginar uma mulher linda, o que de fato ela é. Para Theo, a beleza não importa, ele quer apenas uma companheira, alguém para trocar ideias e afastar a solidão e os pensamentos negativos. Samantha, mesmo sendo virtual, consegue cumprir essa função, mas aí vem a vida e estraga tudo. Como em qualquer relacionamento, chegam brigas, crises, ciúmes. Afinal, a grande graça da novidade tecnológica que é este sistema operacional é emular um ser humano, e isto traria também defeitos. Eu não conheço ninguém perfeito. E ele ainda tem os diferenciais que vêm com a condição de ser virtual.

Her scene

Além de Johansson, as outras mulheres na vida do Theo do ótimo Phoenix, em mais um grande papel, são vividas por Rooney Mara e Amy Adams (acima), como a ex-mulher e a vizinha, respectivamente. Enquanto uma é ressentida, provavelmente afastada pelo comportamento do ex-marido, a outra é ótima, mas talvez por não ter se aproximado muito. Ambas são inacessíveis, ao contrário de Samantha, que está sempre por perto. Há, também, a linda Olivia Wilde, mas essa só procura sua própria satisfação, já que se considera velha o suficiente para procurar exclusivamente por um marido e pai.

Ao contrário do que dizem as pessoas que têm vários parceiros, este sim é um relacionamento moderno. Não tem como ser mais. E não é por ser seu que vai permanecer seu. É um sistema operacional com vontade própria, e com destino próprio. O que ele (ou ela) fará é uma incógnita, mas sabemos que as possibilidades são infinitas. E como fica Theo nessa história? O humano é a parte sensível, que vai sofrer, previsivelmente. E nos faz pensar na natureza dos relacionamentos, nos pares com nada a ver que vemos aí, nas pessoas que insistem em ficar juntas mesmo sem ter um mínimo gosto em comum. Ou naqueles que acham que o outro sempre estará a postos, com a resposta na ponta da língua que ele precisa ouvir. Ou, pior ainda, naqueles que acham que podem mudar o outro. Programou daquele jeito, nada permitirá uma mudança. Mais ou menos o que acontece com os humanos, que parecem destinados a sofrerem.

Her Joaquin

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Ronins e Ryan se encontram na mediocridade

por Marcelo Seabra

47 Ronin posterJack Ryan Shadow Recruit posterClaro que todos gostam de ver filmes bons, mas os ruins ao menos dão bons textos, acaba sendo até divertido escrever e remoer tantos defeitos e falhas. Mais chato é escrever sobre aqueles medianos, que não chegam a extremo algum e não causam nenhum tipo de reação. Você acaba de assistir e logo está fazendo outra coisa, sem nem se lembrar do que acabou de assistir. Dois longas dessa categoria estão em cartaz: 47 Ronins (47 Ronin, 2013), em que Keanu Reeves se mete a contar uma famosa história japonesa, e Operação Sombra – Jack Ryan (Jack Ryan: Shadow Recruit, 2014), a nova encarnação do personagem de Tom Clancy em mais uma tentativa de reboot da franquia.

Depois de dirigir o pavoroso Man of Tai Chi (2013), Reeves voltou a só atuar e insistiu na cultura oriental. Hossein Amini (de Drive, 2011) e Chris Morgan (dos últimos cinco Velozes e Furiosos) adaptaram uma história tradicional que reforça valores caros à cultura japonesa, como lealdade, justiça, sacrifício e honra. No meio, além de magia e uma trama romântica, trataram de colocar um personagem mestiço, meio inglês, para que Reeves não ficasse tão deslocado e forçado – mesmo que o ator seja muito mais velho do que deveria. É uma forma também de criar interesse no público ocidental pela obra, como feito em Flores do Oriente (The Flowers of War, 2011). O roteiro pode ser baseado na lenda, mas não espere qualquer seriedade ou fidelidade aos fatos conhecidos.

Reeves vive um sujeito que apareceu quando pequeno na vila e foi acolhido pela família real para viver lá, mas nunca fez parte, sempre foi tratado como um serviçal, como um marginal. Quando a feiticeira do mestre rival cria uma situação e o senhor daquela terra é acusado de tentativa de assassinato, a ele é dada pelo shogun (algo como o rei de todo o país) a oportunidade de manter sua honra cometendo suicídio ritual, o seppuku. Sem um mestre a quem seguir, os samurais caem em desgraça, quando passam a ser considerados ronins. No exílio, eles juram vingança contra o mestre rival, mesmo proibidos pelo shogun. E Reeves é afastado de seu grande amor, a filha do falecido, agora prometida ao vilão.

47 Ronin scene

O primeiro problema que se nota quando tantos personagens são reunidos é que não se sabe mais quem é quem, como ocorre em O Hobbit. Se você não sabe mais quem falou ou fez o que, como se importar? E o segundo seria a falta de desenvolvimento que se torna óbvia, já que não há tempo e nem interesse de se contar as histórias de cada um. Resta ao público esperar pelas cenas de batalha, que nem são lá uma beleza. No fim, você mira o seu celular na tela e aperta qualquer tecla, torcendo para magicamente conseguir acelerar o filme até o final, previsível e sentimentalóide, que tira completamente o foco de onde deveria estar. A parte sobre a cultura japonesa, então, espere sentado!

Com o novo Jack Ryan não foi muito diferente. Ligeiramente superior, no máximo. Já levado ao Cinema em quatro outras oportunidades, Ryan chega a seu quarto intérprete (só Harrison Ford repetiu a dose, ao contrário de Alec Baldwin e Ben Affleck). A Soma de Todos os Medos (The Sum of All Fears, 2002) já era uma tentativa de recomeçar a saga de Ryan, com um ator mais jovem (Affleck) e uma “história de origem”, quando ele era apenas um analista que se vê caindo de cara na ação para salvar o país. Pois isso acontece novamente e Ryan vai investigar uma suspeita a fundo, saindo de seu confortável escritório e envolvendo-se cada vez mais com os vilões. E quem seriam eles? Os russos, claro! Reforçando estereótipos e clichês, o experiente David Koepp (de Homem-Aranha, 2002, e Anjos e Demônios, 2009) e o estreante Adam Cozad criam uma história original, que não deriva de um livro de Tom Clancy, apenas usa os personagens. Só assim para usar o termo original aqui.

Jack Ryan Shadow Recruit scene

Situando a trama nos dias de hoje, o roteiro coloca Ryan (Chris Pine, o novo Capitão Kirk de Star Trek) como um jovem agente da CIA, ex-fuzileiro naval, disfarçado de analista financeiro, trabalhando numa grande empresa de Wall Street para descobrir possíveis financiadores do terrorismo. Quando as contas de um tal Grupo Cherevin não batem, ele pega um avião para Moscou e se encontra com o próprio Victor Cherevin (Kenneth Branagh, de Operação Valquíria, 2008). Se os russos têm algo a esconder, a vida de Ryan não vai ser fácil, e o superior dele na Companhia, Tom Harper (Kevin Costner, de O Homem de Aço, 2013), precisa ajudá-lo. Com um plano mirabolante, eles pretendem descobrir o que Cherevin está bolando e, mais uma vez, salvar a América. Mas, no meio do caminho, tem ainda a namorada de Ryan, a Dra. Cathy (Keira Knightley, de Um Método Perigoso, 2011), numa participação um pouco mais importante do que a de dama em perigo.

Bem próxima do genérico, essa aventura traz novamente russos como vilões, algo já feito algumas milhares de vezes. Nem é problema que haja mais ação nos teclados de computadores, o problema mesmo é que tudo funcione de forma bem conveniente, o tempo anda de acordo com a necessidade dos roteiristas. Em momento algum, a sensação de perigo passa perto, como acontece em 007 – Skyfall (2012) ou mesmo em Jogos Patrióticos (Patriot Games, 1992), quando Harrison Ford temia por sua família. A cronologia vai pro espaço, já que o ponto de partida, se não me falha a memória, é bem similar ao de A Soma de Todos os Medos. Branagh está no piloto automático como vilão e como diretor. Trata-se apenas de mais uma história solta de Ryan, como acontece, por exemplo, nas revistinhas da Turma da Mônica. Não importa de onde partiu ou aonde chegará, apenas acredita-se que o meio será divertido o suficiente. A Mônica costuma ter mais sucesso.

Jack Ryan Shadow Recruit cast

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Brinquedos LEGO ganham uma aventura incrível!

por Marcelo Seabra

The LEGO Movie logo

Pegar um brinquedo que marcou a infância de muita gente e fazer um filme não deixa de ser uma experiência arriscada. Pode estragar as lembranças de toda uma geração, ou de mais de uma. Ainda mais quando se trata de algo tão rico, com tantos universos como era o LEGO, aquelas pecinhas que não só estimulavam a criatividade das crianças como as fazia pensar, já que tudo tinha que ser calculado para ficar bacana. E, depois, era possível desmontar e começar tudo de novo, de outro jeito completamente diferente. Uma Aventura LEGO (The LEGO Movie, 2014) aproveita muito bem esse espírito e deve divertir muito mais os adultos que se aventurarem que as crianças, que ficarão vidradas na quantidade de cores e atrações, mas não entenderão metade das piadas.

Com um humor bastante ácido, a história acompanha um sujeito comum, Emmet, que descobre um artefato que poderia parar os planos de dominação mundial do grande vilão, o Presidente Negócio. Essa trama padrão, bem ao estilo Matrix, se prova a oportunidade perfeita para misturar diversos personagens do universo pop, e ajuda ter a gigante Warner Bros. por trás, já que ela é detentora de muitos direitos de uso. Assim, temos heróis como o Batman e o Superman com Han Solo e Chewbacca, o mago Gandalf, figuras históricas como Michelangelo, e parece não haver limite. Bem como na brincadeira de uma criança, que não precisa obedecer a regras ou lógica. Todos parecem viver à margem da sociedade, já que as pessoas se comportam de forma padrão, gostam das mesmas coisas (ruins), como uma série de TV imbecil e uma música grudenta, e parecem não se importar com a dominação mental à qual estão submetidos.

Lego Movie

Com todos os cenários construídos por LEGO, tudo é lindo e serve aos propósitos do filme. A animação é perfeita, com aqueles pequenos bonecos mexendo apenas pernas, braços, mãos e pescoço. Quanta expressividade conseguiram tirar de um bonequinho amarelo! Que o diga o policial que brinca com o clichê do tira bom e tira mau, um dos capangas mais legais das animações. As brincadeiras com a personalidade depressiva, convencida e infantil do Batman são muito acertadas. Sem nada apelativo ou inapropriado, os diretores e roteiristas Phil Lord e Chris Miller (de Anjos da Lei, 2012, e Tá Chovendo Hambúrguer, 2009) conseguem ainda fazer críticas sociais (“Estou na TV, vocês vão acreditar em mim”) em meio a tanto nonsense, sempre quebrando padrões e superando expectativas. A música tema, por exemplo, é um convite à falta de pensamento, substituído por um otimismo infundado e irracional.

No Brasil, claro, temos o problema de não conseguir sessões legendadas, o que estraga uma grande atração de animações: as vozes originais escolhidas a dedo. Grandes nomes, alguns em ascensão, e comediantes da TV se misturam de forma muito saudável, e temos Morgan Freeman, Liam Neeson, Will Arnett, Chris Pratt, Elizabeth Banks, Will Ferrell, Charlie Day, Will Forte, Jonah Hill, Colbie Smulders, Channing Tatum, e a lista continua. São muitas participações especiais que só poderemos conferir em homevideo. Mas, mesmo dublado, vai ter muita gente chegando em casa e revirando caixas antigas e empoeiradas atrás dos brinquedos. O final, mais do que satisfatório, vai garantir a alegria do espectadores e a existência de uma infalível sequência.

Elenco rico e piadas de primeira

Elenco rico e piadas de primeira

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Mais confete duvidoso em David O. Russell

por Marcelo Seabra

American Hustle poster

Bons filmes sobre golpes precisam ser engenhosos e ter de fato uma grande jogada para se justificarem. Trapaça (American Hustle, 2013) não é assim tão inspirado nesse quesito, e mantém o interesse com boas interpretações. O trio principal de O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012), o diretor David O. Russell e os atores Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, se juntou a Christian Bale e Amy Adams (ambos de O Vencedor, 2010, de Russell) e novamente eles conseguiram fazer barulho em premiações e festivais. Dessa vez, ao menos, é mais justificado que com O Lado Bom.

Os dois primeiros filmes de Guy Ritchie são muito bem sucedidos quando se fala de golpes, contando com personagens interessantes, bom humor e uma trama bem montada. Russell e seu colega roteirista Eric Warren Singer (de Trama Internacional, 2009) não têm um resultado tão bom, com uma história que parece requentada de várias outras produções e cuja conclusão está longe de ser satisfatória. O que compensa essas falhas é o trio de atores principais, todos muito inspirados. Lawrence também está bem, e é importante para a trama, apenas tem poucas cenas para justificar tanto confete jogado nela. Cantar uma música e dar alguns escândalos não é o suficiente para ser a melhor atriz do ano, mesmo que coadjuvante.

American Hustle girls

Em seu segundo filme com o diretor, Bale vive Irving Rosenfeld, um golpista experiente que usa o sex appeal da namorada, Sydney Prosser (Adams), para enganar clientes de possíveis empréstimos e dar consultorias financeiras falsas, sempre embolsando gordas comissões. O problema maior de Rosenfeld está em casa e atende por Rosalyn (Lawrence), a esposa de humor variante que usa o filho para segurar o marido. Ambas são lindas, usam cabelos espalhafatosos e decotes generosos, mas Irving tem uma ligação mais profunda com a colega de vigarices, enquanto Rosalyn é o troféu exibido em ocasiões necessárias.

Quando Irving é preso pelo FBI, o agente encarregado (Cooper) propõe uma parceria para prender outros criminosos em troca de diminuição de pena. Partindo de subornos a políticos, como o prefeito de Nova Jersey, Carmine Polito (Jeremy Renner, de O Legado Bourne, 2012), eles acabam chegando à máfia, e a operação toma grandes proporções. O golpe, incluindo o uso de um sheik falso, é inspirado em um caso real dos anos 70 (conhecido como Abscam, algo como “golpe árabe”), mas alguns elementos, além dos nomes dos envolvidos, foram alterados para ficarem mais cômicos e absurdos. Por isso, vemos no início da projeção que “parte disso realmente aconteceu”, mas no fim somos informados que “esta é uma obra de ficção”.

Assim como outra obra recente, O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013), este Trapaça tem algo em comum com Os Bons Companheiros e Russell parece emular o estilo de Martin Scorsese. Exemplos são o uso da narração, os sucessos pop na trilha e há até uma participação muito especial que reforça isso. Mas a necessidade de fazer piadas (como a história do chefe vivido por Louis C.K.) não permite um clima apropriado de tensão, o que também é prejudicado pelo excesso de diálogos, muitos deles mais expositivos do que deveriam. A Trapaça (The Spanish Prisoner, 1997), de David Mamet, é mais enxuto e amarrado e você pode acabar confundindo os dois, pelo título nacional. Terá sido um bom negócio.

O elenco, de cara limpa

O elenco, de cara limpa

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Uma tragédia real e um belo filme

por Marcelo Seabra

Fruitvale Station

Violência policial não é algo estranhos aos norte-americanos, ainda mais quando envolve negros. Na virada de 2008 para 2009, houve uma situação entre policiais e cidadãos que mobilizou parte dos Estados Unidos. Fruitvale Station – A Última Parada (2013) reconta esse triste momento e traz um pouco de humanidade a todos os envolvidos na tragédia. Como protagonista, Michael B. Jordan (lembrado por Poder Sem Limites, 2012, e pela série Friday Night Lights) abraça a oportunidade e chama a atenção, construindo um personagem tridimensional e evitando as armadilhas de levá-lo aos extremos, seja da bondade ou da maldade.

Oscar Grant era um sujeito comum, que se dividia entre a vida familiar com a namorada e a filha, dar atenção à mãe e trabalhar. Havia sido demitido do supermercado e ainda tentava voltar. No meio do caminho, descobrimos que ele cumpriu pena por algum crime relacionado a drogas e não está totalmente fora dessa vida. Cuidadosamente, o diretor e roteirista Ryan Coogler vai construindo Oscar, com poucas liberdades, se atendo a depoimentos e entrevistas com familiares e amigos. Quanto menos se falar da história, melhor, já que nem todo mundo sabe o que houve. Graduado na USC em Cinema, Coogler desenvolveu o projeto e conseguiu apoio com Forest Whitaker, que produziu o longa e serviu de mentor ao jovem estreante.

Fruitvale Station

Além de Jordan, que usa seu talento e carisma para mostrar Oscar como um ser humano com falhas e acertos, há outros nomes no elenco que merecem aplausos. Melonie Diaz faz a namorada de Grant, e consegue bem ir da fragilidade à força, assim como Octavia Spencer, que vive a mãe dele. Ao contrário da composição exagerada de Histórias Cruzadas (The Help, 2011), que inexplicavelmente lhe rendeu um Oscar, Spencer se mostra uma boa intérprete e desenvolve bem as relações com os demais personagens. Tudo funciona para ajudar o público a entender melhor a situação e ver o acontecido como mais que apenas estatística. Era esse o desejo de Coogler, segundo diversas entrevistas que ele deu por ocasião do lançamento do filme.

Para dar ainda mais autenticidade, as filmagens passaram pelos locais reais que são retratados, inclusive a fatídica estação de trem que dá nome à obra, na Bay Area. A verdadeira prisão de San Quentin também aparece, e filmagens amadoras do ocorrido acabaram incluídas. Com tanto detalhismo e carinho pelo projeto, Coogler viu Fruitvale Station levar vários prêmios por onde passou, incluindo Sundance, Cannes e o sindicato dos produtores. No Brasil, já está em cartaz, e vai acabar lembrando um episódio parecido, também levado ao Cinema, envolvendo um dos nossos. Infelizmente, violência e injustiça estão pelo mundo, e Oscar foi apenas um caso – de muitos.

Isso não podia dar certo...

Isso não podia dar certo…

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Best Seller da Segunda Guerra ganha adaptação

por Marcelo Seabra

The BookThief

A Segunda Guerra Mundial continua sendo o mote para várias histórias, boas ou ruins. Uma dessas, A Menina Que Roubava Livros (The Book Thief), se tornou um best seller e projetou o nome de seu autor, Markus Zusak, para fora de sua Austrália natal. Era questão de tempo até que o livro ganhasse as telas, e já está em cartaz. Mas, como aconteceu com outro fenômeno de vendas da literatura, O Caçador de Pipas (The Kite Runner), a adaptação não saiu à altura do barulho causado e tende a passar batida pelas salas, decepcionando os muitos fãs que Zusak já conquistou.

O primeiro motivo aparente para tamanho fracasso é a escolha do apagado e inexperiente Brian Percival para a direção. Responsável por vários filmes e séries para a TV, Percival parece não ter dimensão do que é fazer Cinema, se limitando a focar nos diálogos de seu competente elenco e se perdendo quando algo mais se faz necessário. Uma trama com extremo potencial lacrimejante, algo como O Menino do Pijama Listrado (The Boy in the Striped Pyjamas, 2008), acaba sendo apenas bonitinha, num formato mais apropriado para um público bem mais novo. E, claro, não é por ser protagonizado por crianças que o filme precisava ser infantil. Em mãos mais experientes, teria tido muito mais drama e suspense. E não ajuda nada ter o roteirista de O Ritual (The Rite, 2011), Michael Petroni.

Sophie Nélisse

Depois que chamou a atenção em O Que Traz Boas Novas (Monsieur Lazhar, 2011), a canadense Sophie Nélisse foi convocada para viver Liesel Meminger, a garota que não sabia ler e, tão logo resolve esse problema, passa a ter uma grande atração por livros. É interessante ressaltar o período retratado, o fim da década de 1930, quando o Partido Nacional Socialista está no poder na Alemanha e seu desvairado Führer resolve atacar a Polônia, evento indicado como o início da Segunda Grande Guerra. Uma das políticas nazistas era erradicar livros (e qualquer outra forma de arte) estrangeiros, num ufanismo desmedido que visava a dominação da mente das pessoas. Mas a pequena Liesel é corajosa e encontra meios de continuar suas leituras, mesmo que precise roubá-los.

Narrada pela própria Morte, a história começa quando Liesel é deixada pela mãe biológica, uma possível comunista fugitiva, no lar de um casal alemão puro sangue que espera receber uma pensão do governo pelo ato de bondade. Se num primeiro momento ela se mostra arredia, logo ela se solta e seu relacionamento com os novos pais melhora, e ajuda conhecer um garoto da vizinhança que passa a ser seu companheiro constante de aventuras. Os dois adultos principais ficam a cargo de  Geoffrey Rush (de O Discurso do Rei, 2010) e Emily Watson (de Cavalo de Guerra, 2011), atores que até sem fazer qualquer esforço são ótimos. O garoto Nico Liersch, que vive o vizinho Rudy, faz um belo par com Nélisse, e são esses quatro que salvam a produção da mesmice do filme da semana da TV a cabo.

Em vários momentos, a sensação de oportunidade perdida é palpável. Personagens são mal aproveitados, possibilidades de levar certa tensão ao público são apressadas e dão em nada. O resultado não consegue ultrapassar a barreira do insosso, e Zusak vai precisar de mais sorte na adaptação de seu próximo livro. Talvez com Eu Sou o Mensageiro, se acontecer. Quem diria que nem o maestro John Williams estaria em seus melhores dias, e mesmo assim conseguiu a única indicação do longa ao Oscar 2014?

E assim começa a "carreira" da ladra

E assim começa a “carreira” da ladra

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A ninfomaníaca de von Trier começa sua história

por Marcelo Seabra

Nymphomaniac

Como falar de um filme que não terminou? Defensores da obra podem dizer que não há como criticar, se não é algo completo. Mas, se não terminou, como pode ter defensores? Talvez, os fãs do irascível Lars von Trier, diretor e roteirista dinamarquês já acusado de preconceituoso, marqueteiro e até de abusar emocionalmente de seus atores. A verdade é que Ninfomaníaca (Nymphomaniac, 2013) causou bastante barulho desde o seu anúncio devido ao volume de nudez e sexo, mas não passa de um filme vazio como sua protagonista.

A sociedade hoje já está bem acomodada quando o assunto é sexo. Para chocar ou causar uma impressão mais forte, é necessário ser algo muito transgressor, ou ao menos inovador. E Von Trier faz um filme convencional, episódico, em que a personagem principal se contenta em contar a um desconhecido espectador histórias de sua vida e como ela fez questão de se entregar a todo homem que cruzou o seu caminho, chegando a dez em um dia. Todos devidamente organizados em períodos, claros. A relação entre os dois é de fato novidade? O que ela estava fazendo caída na rua? Por que o sujeito a leva para casa? São questões que provavelmente serão respondidas na próxima parte. As chances do público ir para casa insatisfeito são grandes, e ficarão assim até o fim de março, quando chega aos cinemas o final da história.

Nymphomaniac gainsbourgCharlotte Gainsbourg, a escolhida como atriz principal, tem uma estabelecida carreira internacional, com filmes falados em inglês e em francês – apesar de nascida em Londres, ela foi criada em Paris pelos famosos pais franceses, Jane Birkin e Serge Gainsbourg. Com o diretor, ela já havia trabalhado em duas oportunidades: Melancolia (Melancholia, 2011) e Anticristo (Antichrist, 2009). Mas, ao menos nesta primeira Nymphomaniac martinparte, não é Gainsbourg quem mais aparece, mas sua versão mais jovem, o modelo e atriz estreante Stacy Martin. Insossa, a garota fica em cena por bastante tempo, já que tudo gira em torno dela. Isso, quando não é substituída por algo como um “dublê pornô” nas cenas mais gráficas. Quando as coisas esquentam, os atores saem e dão lugar a quem vai fazer aquilo de fato, quem foi contratado apenas pelo corpinho e pelo talento na cama.

É muito raro ver uma cena de nudez ou sexo em um filme e considerá-la realmente indispensável à trama. A maioria é totalmente desnecessária, como acontece aqui. Em vários momentos, a sugestão teria resolvido facilmente a questão, mas von Trier insiste em querer chocar, provocar ou seja lá o que passa na cabeça dele. Os closes nos órgãos sexuais dos dois gêneros eram mesmo importantes? Algumas de suas opções teriam que ser explicadas pelo próprio, e cabe a nós tirar uma conclusão e pensar se ela é satisfatória. Para que seriam aqueles dois minutos iniciais de tela escura? E as músicas de heavy metal que pontuam o início e o final, e até o meio? E de onde surgiu o homem (vivido por Stellan Skarsgård, visto nos dois Thor) que resgata Joe, um solteirão extremamente culto que tem uma metáfora ou uma relação com pescaria para cada impropério contado pela garota?

A primeira parte de Ninfomaníaca deixa mais dúvidas do que esclarece. Afinal, as incertezas vão se enfileirando, no aguardo de uma resolução apropriada. Mas não acontecerá nessas duas horas, talvez nas próximas duas. Personagens interessantes não devem voltar, como a esposa traída de Uma Thurman, certamente o que o filme tem de melhor. Gente como Willem Dafoe nem deu as caras ainda. E, infelizmente, Shia LaBeouf, como um dos vários homens da história de Joe, talvez o mais importante e o mais inverossímil, aparece nas duas partes, o que não ajuda o resultado. Christian Slater, canastrão e sem uma maquiagem apropriada, é outro que não colabora. Para um veredicto mais apurado, vamos aguardar a parte dois para termos: 1- uma bela surpresa ou; 2- uma triste confirmação.

Martin e LaBeouf têm algumas cenas tórridas

Martin e LaBeouf têm algumas cenas tórridas

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