Universo DC: um balanço final

Com o final do Universo Extendido DC, ou DC Extendend Universe, que atendia pela sigla DCEU, cabe fazer um ranking com todas as produções lançadas. Indo de 2013 a 2023, esse universo foi marcado por uma total falta de coesão, já que os filmes pouco têm a ver uns com os outros e boa parte não se comunica com os demais, nem parecendo fazer parte de um todo. Ou seja: o oposto do que fez a Marvel, cujos filmes são tão interligados que parecem um esquema de pirâmide: precisa ver um para entender o outro e assim sucessivamente.

Com a contratação de James Gunn e Peter Safran (acima) para liderarem o departamento de filmes em live action (com atores), as coisas devem mudar. No primeiro anúncio oficial da dupla, já foram enfileiradas uma sequência de filmes e séries que farão sentido como um todo, construindo o novo DCU – ou Universo DC. Ao que tudo indica, eles darão maior liberdade aos artistas envolvidos, principalmente diretores e roteiristas, ao contrário do que vinha sendo feito até então, com cineastas querendo lançar uma segunda versão de seus filmes como a definitiva.

Confira, abaixo, a ordem de colocação entre as 16 produções do finado DCEU (com links para as críticas completas) e comentários rápidos:

16- Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016)

Atrocidade cometida por David Ayer, cujo resultado, segundo ele, ficou muito longe do que ele havia planejado. Várias músicas excepcionais são desperdiçadas numa trama sem sentido que reúne personagens sem sentido, como a ótima Arlequina, que é totalmente desperdiçada em meio a um supergrupo ao qual ela não pertence. Horroroso!

15- Besouro Azul (Blue Beetle, 2023)

Primeiro herói latino que vemos na telona traz todos os estereótipos possíveis e personagens irritantes que só gritam, numa trama que não faz sentido com uma vilã genérica e chata. Por incrível que pareça, o personagem segue adiante no novo universo DC (DCU), mas esperamos poder esquecer essa besteira.

14- Shazam! Fúria dos Deuses (Shazam! Fury of the Gods, 2022)

O escopo do filme é aumentado, para ter uma ameaça maior, mas os buracos de roteiro acabam sendo enormes também. Vilãs inexpressivas desperdiçam a grande Helen Mirren e destroem a cidade, colocando o público numa situação de anestesia, sem se importar com o que possa acontecer. Personagens tomam determinadas atitudes apenas para que o filme possa seguir, mesmo que sem o menor sentido.

13- O Homem de Aço (Man of Steel, 2013)

Cuspindo no cânone do Homem de Aço, Zack Snyder inicia esse universo DC irritando boa parte dos fãs do herói. Se fossem só alterações, tudo bem. No entanto, ele mexe onde fica sem sentido, tipo um filho deixando o pai morrer sendo que ele poderia facilmente interferir. Tudo é muito chutado, com soluções fáceis, mas não sem antes destruir quase toda Metrópolis numa luta interminável e cansativa – para quem está assistindo. O universo DC parecia morto em seu nascimento.

12- Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016)

Temos, aqui, um Superman totalmente insosso sendo introduzido ao Batman de Ben Affleck, um ator limitado, mas que funciona bem no papel. A trama, e o principal, o seu desenrolar, são ridículos, com todo um conflito sendo resolvido por um nome. Para que se tivesse uma pancadaria entre os dois, era preciso ter um problema a ser trabalhado no braço, mas tudo ficou bem ridículo. Os coadjuvantes ajudam, como o Alfred de Jeremy Irons, e a introdução da Mulher-Maravilha (e sua marcante trilha) impedem por pouco o filme de se tornar uma bobagem.

11- Mulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984, 2020)

Execrado a torto e a direito, o longa traz símbolos da década de 80 para situar sua trama, protagonizada por uma heroína que tenta se manter em segredo mesmo se escancarando em frente a museus e câmeras de televisão. A diretora e roteirista Patty Jenkins constrói uma aventura divertida, sem sentido em certos momentos, que não chega a lugar algum. Parece uma daquelas histórias em quadrinhos que você se esqueceu de ter lido.

10- Liga da Justiça (Justice League, 2017)

Com um diretor que conhece bem o Universo Marvel (Joss Whedon, dos dois Vingadores), ficou mais fácil repetir alguns acertos da editora rival. A dinâmica entre alguns dos ícones da DC funciona, mesmo que tudo termine de maneira afobada e sem qualquer apelo ao público. Suas histórias pregressas são razoavelmente desenvolvidas e a dinâmica entre eles funciona, com tudo soando bem superficial.

9- Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder’s Justice League, 2021)

Depois de ele próprio puxar o coro dos fãs, Zack Snyder conseguiu junto à DC fazer sua versão da Liga da Justiça. Remontando as cenas já filmadas, usando duas vezes a duração original e dividindo em capítulos, o diretor desenvolveu sua visão e deu mais tempo de cena para cada herói, mas ainda continuou sobrando estilo e faltando conteúdo.

8- Adão Negro (Black Adam, 2022)

Fazer um filme com um vilão forte e não poder usar um herói à altura, no caso Shazam, é sem sentido, e colocam vários heróis “menores” para Adão Negro enfrentar, deixando sempre o foco em Dwayne “The Rock” Johnson. A relutância em mostrá-lo como vilão incomoda e falta nexo à história, mas os demais personagens são bem feitos e a ação desenfreada mantém o público entretido, sem pensar muito. E percebemos a dedicação de Johnson ao projeto, que teria tido um futuro longo na DC se a bilheteria justificasse.

7- Aquaman e o Reino Perdido (Aquaman and the Lost Kingdom, 2023)

Se não revoluciona nada, ao menos diverte e dá continuidade à saga do herói dos mares fazendo sentido. Alterna bem humor e tensão e ainda deixa uma discreta mensagem de defesa ambiental. Depois de tantos tropeços, James Wan encerra bem este universo DC e Jason Momoa se despede do personagem.

6- Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (Birds of Prey and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn, 2020)

Raro caso de personagem menor, geralmente associada a um maior, que se dá bem sozinha. Ou não exatamente, já que ela ganha outras companhias bem interessantes. O longa aproveita o sucesso de Margot Robbie como Arlequina dando a ela o protagonismo, com um roteiro raso e um vilão mequetrefe. Tudo é bem amarrado pela diretora Cathy Yan e quase não percebemos a falta de substância.

5- The Flash(2023)

Finalmente ganhando sua aventura solo, o Flash do problemático Ezra Miller chega ao ápice de seu poder e percebe que consegue viajar no tempo e espaço, sendo assim a figura que nos revela a complexidade do multiverso DC. Isso permite ao filme usar várias participações especiais e elas acabaram chamando muita atenção, com direito a três Batmen – e é ótimo rever Michael Keaton no papel. Miller segura bem a peteca com dois personagens e entretém belamente o público.

4- Shazam! (2019)

Um herói que é uma criança num corpo adulto, mas com bons ideais, escolhido por um mago milenar para ser o campeão dele na Terra. A ideia funciona na prática e o filme é divertido, com um vilão bem desenvolvido e atuado – cortesia de Mark Strong – e toda uma família de coadjuvantes interessantes, que funcionam. Uma aventura leve, divertida, onda a esperança prevalece, muito longe do que Zack Snyder vinha fazendo.

3- Mulher Maravilha (Wonder Woman, 2017)

Uma das melhores caracterizações da DC, a Mulher-Maravilha de Gal Gadot tem a sua história contada em meio à Segunda Guerra Mundial. Um filme devidamente iluminado, que passa uma mensagem de esperança, ao contrário das obras sombrias de Zack Snyder. Com um discreto aceno ao feminismo, a diretora Patty Jenkins aproveita uma personagem geralmente insossa nos quadrinhos e faz uma aventura de fôlego e conteúdo.

2- O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, 2021)

Durante um curto imbróglio com a Marvel, James Gunn (responsável pelo sucesso dos Guardiões da Galáxia) se viu disponível para a editora rival e assumiu o Esquadrão Suicida, que havia tido um longa terrível cinco anos antes. Reorganizando tudo, Gunn trouxe novos personagens, aproveitou os que julgou pertinentes e criou uma história bem amarrada e divertida, do tipo que esperamos quando assistimos a uma adaptação de história em quadrinhos.

1- Aquaman (2018)

Seguindo a fórmula da Marvel, com aventuras solares bem desenvolvidas e bem humoradas, James Wan chegou ao universo DC trabalhando um personagem que nunca foi estrela na editora, mas encontrou o intérprete perfeito. Na pele e barba de Jason Momoa, Aquaman se tornou um sujeito interessante, e cercado por bons coadjuvantes, com um elenco fantástico e muito acertado. Assim como o Homem de Ferro fez na rival, Aquaman chegou como quem não queria nada e logo assumiu o primeiro lugar no DCEU.

Correndo por fora, temos O Pacificador, série de TV dirigida por James Gunn, o mesmo diretor que comandou O Esquadrão Suicida (de 2021) e aproveitou um personagem de lá para desenvolver uma história independente. O sujeito vivido por John Cena continua bem estúpido, algo que Cena faz muito bem, e seu círculo de coadjuvantes funciona muito bem, algo como um Inspetor Closeau, de A Pantera Cor de Rosa. A trama, absurda, é desenvolvida de forma que a compremos, e ainda torcemos por esse anti-herói.

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Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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