Produtores envolvidos em adaptações de quadrinhos já devem ter percebido que é muito mais simples trabalhar com personagens menos conhecidos do que com um Batman ou Super-Homem. A exigência é menor, a liberdade é maior e a cobrança fica apenas nos fãs mais extremistas, com todos os demais apenas buscando uma boa diversão. Vai nessa direção o novo Adão Negro (Black Adam, 2022), projeto dos sonhos de Dwayne Johnson que finalmente chega essa semana aos cinemas.
O então vilão Adão Negro estreou nos quadrinhos no primeiro número da revista da Família Marvel (depois Família Shazam), da finada editora Fawcett Comics, em 1945. Originalmente inimigo do Capitão Marvel (que virou o Shazam), ele passou por várias reviravoltas e teve sua origem recontada algumas vezes, principalmente depois que a DC comprou a Fawcett e o incorporou ao seu time. O filme aproveita elementos de arcos diferentes e toma liberdades, sendo a principal delas a relutância em mostrá-lo como vilão.
A história do filme começa no Egito antigo, em Kahndaq, uma sociedade onde todos convivem bem e têm vidas produtivas, até que um sujeito toma o poder e escraviza boa parte da população. Um desses escravos recebe os poderes do mago Shazam, derrota o tirano e, por algum motivo, fica cinco mil anos aprisionado. Uma liderança rebelde de Kahndaq encontra o local onde Adão estaria e consegue acordá-lo. Nesse momento, Amanda Waller, nossa velha conhecida (criadora do Esquadrão Suicida), decide que Adão é uma ameaça e convoca uma nova formação da Sociedade da Justiça para capturá-lo.
O primeiro problema do roteiro (de três roteiristas sem nenhuma experiência em filmes de heróis) reside no envolvimento de Waller: temos que acreditar que ela monitora o uso de super-poderes em todo o mundo e logo detectou Adão. E o segundo problema: baseando-se em lendas e escritos antigos, deduz que o sujeito é um mal a ser combatido de cara, sem nem trocar uma ideia antes. E envia a Sociedade da Justiça, o que fazia parecer que a trama se passaria nos anos 40, ao invés dos dias de hoje. E por que não enviar o Esquadrão Suicida? Ou a própria Liga da Justiça? Ou Shazam?
A história de Adão Negro é contada em várias camadas, cada hora descobrimos mais uma parte. E o personagem nunca sai de cima do muro: ele é basicamente um herói que mata. Os roteiristas devem ter achado difícil colocá-lo como vilão e fazer o público torcer por ele, algo como vimos em Venom (2018). Dwayne Johnson (de Alerta Vermelho, 2021) tinha razão em se dedicar tanto ao projeto, ele se encaixou muito bem ao personagem. Só não tem muita oportunidade de aproveitar seu carisma e timing para comédia, já que Adão Negro tem uma jornada trágica e dificilmente solta uma piadinha.
Os quatro heróis que compõem a Sociedade da Justiça são muito bem representados. O Gavião Negro ficou ótimo interpretado por Aldis Hodge (de Uma Noite em Miami…, 2020), que adota um tom professoral que cai bem para o líder do grupo. Não se perde tempo explicando quem ele é, apenas vemos que ele parece ter roubado as posses do Professor Xavier (a mansão e o avião lembram bastante). E o colega dele, Kent Nelson, é vivido por ninguém menos que o ex-James Bond Pierce Brosnan. Os poderes do Senhor Destino não ficam muito claros, mas ele faz o que lhe cabe na missão e a caracterização ficou acertada.
Para uma missão de tamanha periculosidade, tendo em vista os poderes de Adão Negro, era de se esperar uma equipe experiente e acostumada a trabalhar junta. Ao invés disso, Gavião e Destino têm as companhias de Esmaga-Átomo (Noah Centineo, da franquia Para Todos os Garotos) e Ciclone (Quintessa Swindell, de Viajantes, 2021), dois jovens bem intencionados que não sabem bem o que fazer. Além de trocarem olhares apaixonados, quando o rapaz não está mascarado, mais parecendo Deadpool.
Lidar com personagens muito poderosos tem sempre aquela dificuldade de se chegar no momento da luta. Assim como em O Homem de Aço (Man of Steel, 2013), temos sequências cansativas de destruição e pancadaria que fazem o filme parecer mais longo do que suas duas horas. O final é convencional e previsível, mas os trechos divertidos compensam, deixando o resultado bem na média. O que já é lucro para o diretor Jaume Collet-Serra (de Jungle Cruise, 2021), que se saiu melhor que Zack Snyder.
Estou ansiosa para ver no cinema! Vou garantir minha pipoca! Ter o Noah me fez ficar ainda mais interessada! Ele parece o jovem Mark Ruffalo.