A vida é dele. Deixem que decida o que lhe é melhor

Chegamos ao ponto onde nem mesmo um semelhante, dotado das mesmas condições, tem direito ao próprio livre arbítrio

Deixem-no em paz, já que a vida não deixou

Há certas coisas que me dão um profundo nó na cabeça. Não que eu já não seja pra lá de perturbado e tudo o que não me falta é mais motivo para estar sempre em conflito. A angústia comum “de onde vim e para onde vou” já não faz nem mais cócegas na minha ansiedade cotidiana. Há tempos que minha inquietude se alimenta de dilemas, digamos assim, mais mundanos mesmo. Mais reais. Mais humanos.

Aborto, por exemplo. Balanço como um pêndulo no assunto. Já fui contra, já fui a favor e hoje sou muito antes pelo contrário, hehe. Porte de armas idem. Outros temas complexos e polêmicos como pena de morte, legalização da maconha, redução da maioridade penal já consegui me apaziguar. Eutanásia também. Mas eis que a vida está sempre a nos desafiar.

Vocês devem ter lido a respeito do rapaz que sofre de uma doença renal crônica, que o obriga a fazer hemodiálise regularmente, e que não quer mais dar continuidade ao tratamento. Com 22 anos de idade e gozando de perfeita saúde mental, o rapaz diz preferir a morte que viver condenado a uma vida de sofrimento e sem esperança. Sua doença é incurável e o tratamento penoso. Leia aqui a matéria completa.

A mãe, inconformada e desesperada, entrou com uma ação judicial pedindo a interdição do filho e o direito de assumir a curadoria da sua saúde, ou seja, obrigá-lo a se tratar. Após uma avaliação psiquiátrica, o juiz responsável pelo caso concedeu à mãe a responsabilidade pelo tratamento. Ainda assim, o rapaz se nega a continuar com as sessões e seu advogado já entrou com o recurso.

A avaliação psiquiátrica apontou que o rapaz apresenta condições normais de cognição, mas que suas decisões são afetadas por sua dor e falta de expectativa de vida. Ora, e desde quando isso impede alguém de decidir algo em relação a si mesmo? Quer dizer que o único afetado, fisicamente falando, não possui direito sobre seu corpo por estar decidindo baseado no próprio sofrimento? Fico aqui a me lembrar da tal frase “meu corpo, minhas regras”, que as defensoras do aborto tanto invocam. Lembrando que, neste caso, apesar de “hospedado” no corpo da gestante, há uma outra vida em questão.

Entendo perfeitamente a atitude da mãe e adoraria poder poupa-la de tamanho drama. Entendo perfeitamente a atitude do juiz, que simplesmente não pode contrariar uma perícia técnica, ainda que esdrúxula. Tanto que em seu despacho assinalou que o rapaz não poderá ser tratado sob uso da força ou sedação. Não entendo absolutamente a opinião do perito, alguém capaz de assim resolver: “Embora sua capacidade cognitiva não esteja comprometida, ele não está completamente isento no aspecto psicológico, tendo passado por conflitos internos que o levaram ao desinteresse pela vida, prejudicando seu processo de decisão”. Mas o que eu gostaria mesmo de entender é de onde surge tamanha prepotência, em nós seres humanos, que nos faz presumir capazes de decidir pelo outro.

O homem já decidiu que é o único ser vivo a merecer uma vida após a morte. Decidiu-se superior a qualquer outra espécie animal, tomando para si o direito de matar, seja por necessidade ou mero esporte, os outros seres vivos do planeta. Decidiu que possui uma alma e que é o único dotado de sentimento e razão a caminhar por aqui. Decidiu até que pode ceifar a vida de um próprio semelhante, vejam só. Na verdade, talvez tenhamos confundido a famosa determinação divina e pensamos que Deus é que foi criado à nossa imagem e semelhança, não o contrário. Daí nos concedermos tamanha importância. Tamanha prepotência. Daí termos nos tornado, paradoxalmente, tão ignorantes assim. Provavelmente é que nos levará à ruína final.

Mas antes disso, do nosso fim… vou dormir! Afinal, amanhã tenho de exercer minha prepotência e decidir um monte de coisas pelos outros.

Boa noite.

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27 thoughts to “A vida é dele. Deixem que decida o que lhe é melhor”

  1. Há tempos que minha inquietude se alimenta de dilemas, digamos assim, mais mundanos mesmoSSSSSSSSSSSSSSS.
    Falta de coerência e coesão textual, com frases longas, tentando tentando bancar o complexo e intelectual, em um assunto que não tem o menor conhecimento.

      1. Ele sente tesão é por Ah É Sim!!Ele sente tesão é por Ah É Sim!! tesão é por Ah É Sim!!Ele sente tesão é por Ah É Sim!!Ele sente tesão é por Ah É Sim!!Ele sente tesão é por Ah É Sim!!

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      1. Pois eu tenho 2 filhos que amo incondicionalmente e respondo. Faria de tudo para convence-lo do contrário, talvez pedisse um prazo com terapia, mas a decisão final com certeza seria somente dele.
        Ricardo, me identifiquei demais com o início do seu texto. Me balanço como um pêndulo nessas questões citadas por você.

  2. Blogueiro do jornal Estado de Minas… Se achando o Reinaldo Azevedo das Alterosas…kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    1. Ué! E por quê, hein? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

      1. Ricardo, seu blog tà virando Circo, cheio de palhaços, como esses ai, que sò escrevendo, cheiram excrementos. um assunto sério, e esses animais zoando argumentos que nao tem nada a haver.

  3. Prezado. Tenho uma sobrinha que tem ELA e há 05 anos nem pisca o olho, mas é completamente lúcida. Para quem não conhece, é a mesma doença do físico Stephen Hawking. Qdo foram fazer traqueostomia nela, seu pai deixou por sua conta a escolha de continuar respirando com aparelhos ou morrer por falta de movimentos que nos possibilita respirar. Ficamos no aperto dela optar pela 2ª escolha, mas o que prevalece até hoje é a profissão de fé.
    Quem sou eu para sugerir alguma coisa para este menino, porém, ao invés de medidas cautelares de interdição, uma boa terapia possa dar um alento para o garoto e seus pais.
    Como você bem disse, temos mais que respeitar do que julgar.
    Baita abraço.

  4. Taí, gostei.
    Você viu essa?
    Juiz acusado de receber relógio como suborno volta ao cargo 26 anos depois de ser afastado.
    Recebeu os salários durante 26 anos, de férias durante 26 anos. E o juiz que julgou disse que ele sofreu demais todos estes anos por não poder exercer a magistratura.
    Você acredita mesmo que este país tem jeito?

  5. Não acho que temos o poder de decidir viver ou morrer. Já testemunhei suicidas se arrependerem anos depois após tentarem dar fim a própria vida. O garoto precisa de tempo para decidir se realmente ele deseja morrer. Talvez ele possa mudar de ideia, como mudamos quando refletimos sobre aborto, legalização de drogas, etc. A minha opinião é que a decisão sobre a eutanásia deve ser entre a família, o paciente e os médicos.

  6. Bom dia, Ricardo & amigos & inimigos!
    Tratar de um assunto tão complexo não é para poucos. Mas suas reflexões são pertinentes e sábias.
    Para todos nós, morrer é um horror. Temos dificuldades, como bem o disse, de entender questões que envolvem nossa origem e destino. Poucos de nós vive na superfície palpável e tem até medo destes questionamentos. Por isso, as críticas sobre uma reflexão tão importante como esta que nos ofereceu.
    Quando o ser humano compreender o que realmente é e não “quem” é e souber o que realmente veio fazer aqui, terá oportunidade de ler reflexões como esta e compreendê-las como exercício de bem viver e ajudar a viver.
    Abraços.

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