Ricardo Galuppo
Parte I
Sempre que se fala no nome de Ricardo Guimarães, alguns torcedores mais exaltados reagem com irritação e o acusam de estar no Galo apenas com a intenção de aumentar sua fortuna. Por esse ponto de vista, Ricardo é um homem ambicioso, enquanto seus críticos são honrados e se preocupam apenas com o bem do Atlético. Não basta, para essa turma, saber que ele é envolvido com vida do Galo desde criança. O problema é que Ricardo tem, para muitos de seus críticos, o defeito imperdoável de ser um milionário de berço. E no Brasil, como costumava afirmar o maestro Tom Jobim, “o sucesso é ofensa pessoal”.
Talvez ele tivesse se poupado de críticas se tivesse agido como seu pai, o banqueiro Flávio Pentagna Guimarães, e preferido atuar nos bastidores para socorrer o clube em momentos de dificuldade. Existe um milagre que já mencionei em oportunidades anteriores, embora jamais tenha mencionado o santo que o praticou. Lembra daquele jogo contra a Seleção Brasileira, em 1969? Aquela partida tinha um objetivo que ia muito além de medir forças contra o time de João Saldanha.
Com as finanças em petição de miséria, o clube estava, àquela altura, com três folhas de pagamento em atraso. A expectativa era de que a renda da partida contra o time de Pelé, Rivelino, Jairzinho e Edu rendesse uma bilheteria suficiente para pagar as despesas — o que definitivamente, não aconteceu. No dia seguinte, na esperança de que a euforia pela vitória por 2 a 1 contra a equipe de Saldanha despertasse a generosidade do atleticano, o clube colocou uma urna na Praça 7.
A ideia era recolher donativos dos que se dispusessem a ajudar o Galo a sair da situação difícil. No final do dia, quando foram conferir o que havia lá dentro, encontraram as notas e moedas depositadas pela massa. No meio delas, um cheque nominal ao Clube Atlético Mineiro. O valor era suficiente para completar o valor da bilheteria e juntar o necessário para pagar os salários em atraso.
Quem praticou o gesto generoso jamais quis que seu nome se tornasse público. Mas, mantendo o sigilo da fonte que me revelou o segredo, e sem pedir licença a ninguém, digo que o cheque tinha fundos e levava a assinatura de Flávio, pai de Ricardo. Isso não é lenda! Não é boato! Muito menos uma inconfidência inconsequente — até porque, já se passaram mais de 50 anos daquela data e qualquer sigilo que houvesse em relação ao gesto já teria caducado a essa altura. O fato é que a doação foi feita, ajudou a resolver o problema e ponto final.
CONDOMÍNIO DE CREDORES
Ao contrário do pai, Ricardo Guimarães preferiu assumir a linha de frente. Afinal, os tempos eram outros e as dificuldades, bem maiores. No ponto que a situação tinha chegado em 2001, uma ação nos bastidores não seria suficiente para resolver problemas muito mais sérios. Com o suporte financeiro de Ricardo e sob a liderança do advogado José Murilo Procópio (que retorna à diretoria como vice-presidente na chapa encabeçada por Sérgio Coelho) foi organizado um Condomínio de Credores, que começou a por as contas em ordem e aliviar o sufoco. E, naquele momento, foi tomada a decisão que acabou comprometendo o prestígio do presidente junto à torcida.
Como não havia recursos para tudo, optou-se por usar o dinheiro disponível para corrigir os erros do passado e investir na Cidade do Galo. Concebido por Elias Kalil, o lugar se transformou, por obra de Ricardo Guimarães, no mais moderno centro de treinamentos do Brasil. O dinheiro que foi posto ali para, entre outras benfeitorias, ampliar a área e construir o moderno hotel que serve de concentração para a equipe principal, foi uma doação ao clube. Só que ele não investiu no presente e o time patinou. Escorreu no campeonato de 2004 e só se livrou da queda para a segunda divisão na vitória sobre o São Caetano, na última rodada do torneio. Em 2005 não teve jeito: a queda foi inevitável.
A tragédia de 2005 custou caro à reputação de Ricardo Guimarães e ele passou a ser mais apedrejado pela torcida e por parte da imprensa brasileira do que a Geni de Chico Buarque. E tudo o que ele fez pelo clube, inclusive o dinheiro que emprestou a juros praticamente negativos, acabou perdendo importância. Ah, sim! Ricardo é um home ambicioso e tudo que ele fez foi porque estava interessado em se apropriar do patrimônio do Atlético. Tudo o que ele fez foi porque queria se tornar dono do Diamond Mall, o shopping center construído no terreno sagrado do antigo estádio de Lourdes.
Isso mesmo! Ricardo investiu na Cidade do Galo, bancou o Condomínio de Credores, emprestou dinheiro cobrando apenas a taxa Selic e, na medida do possível, fez contratações pontuais porque estava de olho no shopping. Ninguém parou para pensar que, se esse fosse o objetivo do banqueiro ambicioso, talvez fosse melhor esperar que o clube ficasse insolvente e comprar o patrimônio na bacia das almas… Mas é melhor nem aprofundar nesse tema..
DINHEIRO PELO LADRÃO
É aí que entra na história outro personagem que vem dando o que falar: o empresário Rubens Menin. Atleticano das antigas, ele já estampava sua marca na camisa do Galo muito antes de sua empresa se tornar a maior construtora do Brasil. Com o tempo e o sucesso, resolveu ampliar sua participação no clube e se envolver, ainda que por vias indiretas, na administração do clube. Bastou que ele e seu filho Rafael, mais o empresário Renato Salvador, dos hospitais Mater Dei, se unissem a Ricardo e assumissem a dianteira do trabalho de transformar o Atlético num clube capaz de andar com suas próprias pernas para que o papo do shopping voltasse com toda força.
Graças a essa turma o Atlético tem um centro de treinamento de padrão mundial. Logo terá um estádio moderno, que o livrará da exploração de que tem sido vítima para jogar nos campos de Belo Horizonte. Investiu este ano quase R$ 200 milhões na contratação de jogadores… Mas, tudo bem… tudo isso só está acontecendo porque esses homens são ambiciosos e só pensam nos próprios bolsos. Querem se tornar donos do clube.
Ironias à parte, é lógico que essas pessoas não estariam colocando recursos tão vultosos no clube se não se cercassem da garantias de que o dinheiro que está sendo investido agora não escorrerá pelo ladrão. É justo e razoável que um dia queiram receber de volta o que investiram — mas isso não acontecerá às custas da sangria dos recursos do alvinegro. Pelo contrário: virá no dia em que o Galo já não precisar mais deles para seguir seu caminho.
Se Ricardo Guimarães quisesse executar a dívida que o Galo tem com ele há quase 20 anos, já teria feito há muito tempo. Só que nunca fez isso e provavelmente nunca fará enquanto o clube não se desviar do bom caminho. É claro que, diante de circunstâncias como essas, nada acontece na avenida Olegário Maciel, 1516 sem que esses investidores saibam e aprovem.
NOVA ERA
Sette Câmara e Lásaro Cândido foram nomes adequados ao momento que o Clube vivia em 2017, quando foram eleitos. Advogados, cuidaram para que o Galo passasse a ser respeitado nos tribunais e deixasse de perder dinheiro em razão dos contratos mal feitos e dos oportunistas que pululam no ambiente do futebol. Suas vitórias jurídicas significaram alguns milhões no caixa e impediram que as finanças do clube continuassem a ser sangradas por esse caminho. Foram várias vitórias importantes. A mais significativa, pelo menos para mim, foi a que obrigou aquele sujeito chamado Cicinho a morrer em R$ 3 milhões numa ação relacionada com a quebra irregular de seu contrato com o clube em 2003.
Não é segredo para ninguém que a diretoria que tocará o clube pelos próximos 20 anos, encabeçada por Sérgio Coelho e José Murilo, só foi eleita porque contou com o apoio dos empresários que investem no clube. Os dois, por sinal, fizeram parte da gestão de Ricardo e, bem ou mal, ajudaram a tocar o barco no meio do maior nevoeiro da história do clube. Agora, em outro momento e em circunstâncias muito diferentes, podem provar que o fracasso que aconteceu em campo quando estiveram por lá foi culpa das circunstâncias — e que, daqui para frente, nada será como antes. E que, nas mãos deles, o Galo conhecerá uma nova era, cheia de glórias e sem cobradores batendo à porta a cada minuto Tomara, tomara mesmo, que seja assim!
Empréstimo sem juros !
Tbm ouso discordar do nobre escritor. Ao meu ver as críticas ao RG não passa pelo fato dele ser milionário. Absolutamente. Mas pelo fato de como gestor do clube ter aumentado a dívida, se tornado um dos maiores credores e ainda ter levado o clube para a lama: o rebaixamento. Portanto, como gestor se mostrou totalmente incapaz. Ele deve ser excelente banqueiro/empresário mas como gestor do clube provou nao ser capaz.
Nao sei se entendi direito, mas o escritor diz que ele investiu no ct e tratou de equacionar as dividas (formando o condominio de credores), nao investiu no time e por isso o time derrapou. Mas veja bem: nunca houve redução da divida. Pelo contrário. Ela sempre aumentou. Ele inclusive é um dos maiores credores. E outra: dizer que sem essa turma o Atlético nao teria um CT digno é demais. O Galo tem o mesmo nivel de receitas de Gremio, Athletico, Inter, Cruzeiro. Todos esses citados tem bons CT,s, estádio (fora nosso rival), possuem suas glorias, seus patrimônios, e nao dependem de mecenas. O Galo é uma empresa com receita anual de 300 milhões. Nao é capaz de andar por suas próprias pernas? O buraco que o Galo está decorre de péssimas administracoes, incluída a do RG.
Não é graças a eles que o Galo tem centro de treinamento. A maioria dos clubes de ponta do Brasil possuem. O Galo é um dos maiores clubes do Brasil, com 8 milhões de clientes. O mínimo é ter um ct de ponta. O estádio vem em decorrência de patrimônio do atlético (já se esqueceram da venda do shopping?), junto de cadeiras cativas adquiridas pela torcida, os namingh rigths (que é um bom negócio para a MRV, diga-se), etc. Fica parecendo que o Galo é um pobre coitado. Prestem atenção na máquina que é o Atlético.
E ai vou discordar totalmente do escritor. Espero estar totalmente errado, que esses caras coloquem o Galo nos trilhos realmente, que façam um choque de gestão, cortando diretores q nao fazem nada e ganham fortunas, etc. Mas percebam que as pessoas que comandam o Galo são as mesmas de sempre, há um ciranda de nomes que volta e meia retornam pra comandar o clube, é como se estivéssemos vendo a historia se repetir: RG no inicio dos anos 2000, com o Sérgio Coelho e José Murilo Procópio fazendo parte da Administração; agora retornam de novo; o próprio Kalil já participou no inicio dos anos 2000, retornando em 2008. Sette Câmara era um dos vices de RG nos anos 2000 e virou presidente. Enfim, espero estar totalmente errado e q nosso Galo tenha um futuro digno, mas vejo o futuro repetir o passado. Torço para estar errado.
E para finalizar: percebam como vem a ajuda dos nossos mecenas: RG emprestou dinheiro “sem juros”, e a dívida nunca baixou; agora os menin emprestaram 200 milhões “sem juros”, prometendo outros milhões para ano que vem, mas o dinheiro só pode ser usado para reforçar o time. Sinceramente, está tudo errado! (Mas é claro que estou adorando essa fase do time, com um ótimo elenco, otima comissao técnica, uma maravilha).
Mas eles estão aumentando o buraco do clube. Ano que vem a divida vai bater em 1 bilhão (que eu esteja errado).
Nao acho que eles sao obrigados a ajudar o Galo. Absolutamente. Mas podemos tomar como exemplo o que o Paulo Nobre fez no Palmeiras: comprou a divida do clube. Ou seja, emprestou o dinheiro pra acabar com a dívida, e nao socou dinheiro pra investir em time (esse tipo de parceria é nociva, vide a Unimed com o Flu, vide a Parmalat com o Palmeiras – gera títulos, mas a conta fica). Ele se tornou o credor, instituíndo formas de devolução que desse fôlego ao clube (que inclusive já o pagou). Pq nossos mecenas nao fazem isso?
Menin tem patrimônio de 10 bilhões. Quer “ajudar” o Galo de verdade? Compre a divida não tributária, faça um plano de devolução suave (como diz que está fazendo emprestando dinheiro agora para montar time) e ajude o clube. Receberá todo o valor de volta e nao aumentará a dívida, estancará o problema dos juros e terá seu dinheiro de volta, ajudando a criar mecanismos que impeçam surgimento de dívidas duvidosas. Nao tendo que pagar 50 milhoes de juros da divida por ano, receberá todo valor aportado em menos de 5 anos.
Perfeito.
Caros,
Tomara q amanhã NOSSO GALO jg com honra, é jg PRÁ MACHO!
Chega de LAMBE BOLAS entregador de rapadura!
AQUI É GALO!
Eu admiro muito seus textos, Galuppo e me curvo ao seu conhecimento sobre a história do Galo. Sei que não existe quem seja mais ou menos atleticano, porque na Massa não existe simpatizantes. Porém, há aqueles que doam muito mais por esse clube e eu agradeço pelo conhecimento que você nos passa de forma tão ímpar.
Obrigado mesmo!!!!
Boa tarde amigos do Galo. Faltam 13 rodadas para o término do Brasileirão, ganhar hoje é muito importante para o NOSSO GALO, perdemos jogos bobos que nos custaram pontos preciosos, mas o NOSSO GALO está vivo na competição. Apesar da COVID-19, erros seguidos e comprometedores da arbitragem, contusões e escalações questionáveis do nosso técnico, o NOSSO GALO é o segundo colocado na tabela. Acredito que o azar passou para o outro lado, o adversário de hoje perdeu seu melhor jogador em um lance que ele se contundiu sozinho, tem muitos outros pendurados e um esquema manjado. Hoje o jogo será definido pelos técnicos e o Sampaoli sabe muito bem disto.
Estranho que quando é para cornetar aparecem muitos… Para aplaudir os beneméritos do CAM, poucos. Eles e muitos outros sabem o que fizeram. Não tenho como fazer, então me resta aplaudir!
Belo texto!
Boa tarde AmiGalo Ricardo Galuppo. Seus textos são uma verdadeira obra de libertação da injustiça promovida pela ignorância de grande parte dos atleticanos contra grandes atleticanos que só pensam e anseiam a grandeza do CAM. Já tive oportunidade de escrever sobre isso aqui várias vezes mas, sem a excelência e o realismo de seus textos. Atleticanos como Ricardo Guimarães, Rubens Menin e agora também o Renato Salvador ainda serão reconhecidos pela história do CAM pelas muitas benfeitorias entregues ao clube somente por amor ao pavilhão.
Grande Paulo Silva, seu pensamento é o pensamento da massa, dos que amam nosso clube, tamo junto, amigo
Em
Geral concordo com o texto, mas discordo demais do uso da frase do Tom Jobim. Não estamos falando de sucesso, mas de herança q torna tudo mais fácil em um país que sequer taxa milionários.
Boa tarde, ja passou alquela fase de reclamao minha, Ricardo Guimaraes, Sette Camara, critiquei muito esses dois, mas o que eles ja fizeram pelo Galo, eu nao fiz um dedinho deles, hoje temos o melhor CT do Brasil, daqui uns dois anos se nao for o maior deve ser o melhor estadio particular de um clube brasileiro, e para quem foi eliminado na primeira fase da copa do Brasil pelo Afogados, nao pode reclamar da campanha que vem fazendo ate o presente momento no brasileiro, eu reclamei em varios momentos, retiro minhas cornetagens, e reitero, sou Galo ate morrer!
Ricardo, MUITO, mas MUITO OBRIGADO MESMO por este texto! Tem muita conhecido meu com este espírito mesquinho que só vê interesses financeiros na paixão destes atleticanos cujo unico “defeito” é serem ricos. Para estes eu sempre pergunto: “Voce ama o Galo a ponto de, se tivesse 1 bilhao, emprestar 100 milhoes para o clube sem juros?”.
Sobre os nomeados “mecenas” volto a dizer o que falo há tempos :
são os Três Mosqueteiros ( o filho é o D’Artagnan ) que entenderam que a marca CAM significa para eles um ótimo e lucrativo negócio que lhes trará dividendos perenes
Por mais dinheiros que possam ter ninguém é maluco pra sair distribuindo almoço grátis
Prezado Barata: parabéns pela lucidez e coragem para manifestar sua sincera opinião. O que mais me intriga é a dúvida se as pessoas são ingênuas ao ponto de acreditar nessas narrativas de milionários abnegados ou se tais narrativas fazem parte de uma estratégia para convencer incautos cegos pela paixão. Eu sigo o seu entendimento Barata. Não acredito nessa narrativa de abnegados desprovidos de interesses econômicos. São investidores que viram no Clube potencial de retorno para suas empresas. O nome Arena MRV vai proporcionar algum retorno para a empresa? Existem ganhos intangíveis que eu como neófito em marketing esportivo não tenho competência para mensurar. Todavia,espero que os investidores tenham pleno êxito em seus propósitos e que nosso Galo se torne a potência esportiva que eles prometeram.
Porra! Que historia do caralho!
Eita , PAULO SILVA , seu texto anterior foi um primor
ObriGalo, Barata. A simplicidade do futebol simplifica tudo. Pena que os gênios que militam no esporte insistem em reinventar a roda.