A Era de Ultron continua a Fase 2 de maneira grandiosa

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Avengers 2

Vingadores: Era de Ultron (Avengers: Age ofUltron, 2015) chega às telas com a missão de preparar o fim  do que o Marvel Studios chamou de sua “Fase 2” no que diz respeito à construção do MCU (Marvel Cinematografic Universe, ou Universo Cinematográfico Marvel) na telona. Essa fase compreendeu Homem de Ferro 3, Thor: O Mundo Sombrio, Capitão América: O Soldado Invernal e Guardiões da Galáxia. Não só isso, o longa também estabelecer o terreno para a Fase 3, apresentar novos personagens, superar seu antecessor e, de maneira quase melancólica, marcar a despedida de Joss Whedon da franquia, que cede seu lugar para os irmãos Anthony e Joe Russo (de O Soldado Invernal). Após 140 minutos vertiginosos, pode-se dizer que o filme cumpre todas essas missões com bastante mérito.

A trama de Vingadores: Era de Ultron aproveita elementos espalhados por toda a Fase 2 do MCU, com foco, inicialmente, naqueles decorrentes de Capitão América 2. A exemplo de seu antecessor, ele começa com uma cena de ação vertiginosa que enche os olhos dos espectadores quando o grupo formado por Capitão América (Chris Evans), Homem de Ferro (Robert Downey, Jr.), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) confrontam tropas remanescentes da Hidra com o propósito de resgatar o cetro de Loki das mãos do Barão Strucker (Thomas Kretschmann, da série Drácula) em um castelo no leste europeu. Uma vez lá, o grupo acaba sendo confrontado por Wanda e Pietro Maximoff (o casal de Godzilla, Elizabeth Olsen e Aaron Taylor-Johnson – abaixo), irmãos gêmeos que, após submetidos a experimentos pela Hidra, adquirem capacidades sobre-humanas. Apesar desse contratempo, a missão é bem sucedida. O que Tony Stark pretende fazer com o cetro de Loki, no entanto, é algo que ele esconde do resto do grupo e desencadeia todos os eventos que levam ao desenvolvimento da trama do longa e da criação daquele que, nos quadrinhos, é o mais recorrente vilão dos Vingadores. Contar mais do que isso seria estragar a experiência daqueles que ainda não foram ao cinema.

Avengers 2 new

O que pode ser dito, no entanto, é que Joss Whedon fez um trabalho brilhante aqui. Além das sequências de ação grandiosas, estilizadas e até mesmo relativamente exageradas, ele se preocupou bastante em desenvolver todos os personagens e trabalhar as relações entre todos eles. Se o primeiro Vingadores era um filme de origens, aqui os membros do grupo já se conhecem há algum tempo e se vê na tela todos os benefícios e desvantagens que isso traz. É interessante notar nesse quesito como Whedon se preocupou a dar a personagens mais secundários – como o Gavião Arqueiro e a Viúva Negra – uma profundidade que eles não haviam experimentado antes, até por serem os únicos heróis dos Vingadores a não terem tido um filme solo. Da mesma forma, é bem legal ver o antagonismo entre o Capitão América e o Homem de Ferro ir crescendo aos poucos, algo que é essencial para a trama de Capitão América: Guerra Civil, longa que colocará ambos em lados distintos. Finalmente, é bem salutar ver os Vingadores se preocupando não apenas em bater no vilão, mas também com as vítimas civis geradas por seus confrontos. Proteger os inocentes é, ou deveria ser, o objetivo primordial de qualquer herói que se preze.

Deixando de lado os aspectos técnicos, todos os atores principais retornam a seus papéis de maneira bastante competente, com destaque para Paul Bettany (de Transcendence, 2014), que deixa de ser apenas a voz do mordomo virtual Jarvis para assumir uma forma física ao dar vida a Visão, um novo membro dos Vingadores. Além dele, merece uma menção o belo trabalho de voz realizado por James Spader (da série The Blacklist) ao dar voz a Ultron (abaixo), dando-lhe uma profundidade compatível à sua versão quadrinhística.

Avengers Ultron

Há muitos aspectos a serem analisados em Vingadores: Era de Ultron. Apesar de trazer o mesmo nível de ação e alívios cômicos presentes em todas as produções de Joss Whedon, o filme também traz uma série de eastereggs para os mais atentos, alguns refletindo acontecimentos passados e outros semeando o caminho para os próximos filmes da Marvel, como é tradição do estúdio desde o primeiro longa do Homem de Ferro.  Além, é claro, de uma série de convidados ilustres que não se limitam apenas ao onipresente Stan Lee.

Era de Ultron é mais uma prova do trabalho sério que o Marvel Studios vem desenvolvendo na criação de um universo Marvel no Cinema e provando, ano após ano, que filmes de super-heróis podem ser tanto simples diversão quanto abordar questões mais sérias – no caso, a busca do ser humano por segurança e paz – desde que sejam feitos com profissionalismo e respeitando sua fonte de inspiração. Seguindo a tradição do estúdio, há uma cena após o encerramento do filme, mas ela se dá no meio e não no fim dos créditos. A Fase 2 do MCU se encerra em julho, com a estréia do longa do Homem-Formiga.

Os novos e velhos atores se reúnem

Os novos e velhos atores se reúnem

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Pessoas boas correm um Risco Imediato

por Marcelo Seabra

Good People

O que você faria se achasse uma sacola cheia de dinheiro aparentemente sem dono? Vários filmes já partiram dessa premissa e agora é a vez de Risco Imediato, o inacreditável título nacional para Good People (2014). Adaptação de um livro do bem vendido Marcus Sakey, o longa conta com um elenco facilmente reconhecível que certamente não merecia passar por esse constrangimento. A trama bobinha passa por momentos previsíveis até chegar a um final mais óbvio ainda, e bem anticlimático.

As pessoas boas do título original deveriam ser chamadas de pessoas estúpidas. Ou trouxas, no mínimo. James Franco (de A Entrevista, 2014) e Kate Hudson (de O Assassino em Mim, 2010) vivem um casal que subloca o porão do apartamento para um criminoso que aparece morto. O sujeito deixa para trás um punhado de libras que a polícia não encontra ao dar uma geral no lugar, mas o personagem de Franco tem sucesso. Aí, vem a dúvida: entregar o dinheiro para autoridades e encerrar a história com honestidade ou aproveitar que o morto não tinha parentes e fingir de bobo? Nada no roteiro é discreto, tudo fica escancarado, como a necessidade do casal por dinheiro, os dramas vividos por eles anteriormente (como se agora fosse A oportunidade de serem felizes) e a maldade dos vilões. Parece ser a primeira bola fora da roteirista Kelly Masterson, responsável pelos ótimos Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (2007) e Expresso do Amanhã (2013).

Good People cash

O malfeitor Jack Witkowski (Sam Spruell, de Busca Implacável 3, 2014) não se cansa de ter suas proezas recontadas, além de aparecer no meio de outras. A morte do irmão supostamente seria um agravante, mesmo que o responsável já estivesse morto. O que, aliás, faz muito sentido: o sujeito trai seu bando, rouba uma bolada e volta pra casa, para morrer de overdose num porão sarnento. Tudo faz muito sentido. As ações do casal Wright são mais incompreensíveis ainda. Alguém pensou, por exemplo, em se mudar? Não, seria algo muito esperto para essas “pessoas boas”.

Em Cova Rasa (Shallow Grave, 1994), início de carreira de Danny Boyle, três amigos descobrem a dinheirama deixada pelo falecido locatário e o drama se dá em torno deles, do caminho que as relações tomam. Focar a obra em seus personagens é uma decisão bem mais acertada do que começar uma corrida de gato e rato em que ninguém está interessado. Outro estudo de situação muito interessante é Um Plano Simples (A Simple Plan, 1998), que traz um pouco mais de ação e perigo para seus protagonistas.

Nenhum desses dois filmes é regido por conveniências, os personagens realmente parecem gente tomando decisões, por mais erradas que possam parecer. Ninguém é burro como os Wright, o detetive (Tom Wilkinson, de Selma, 2014) ou mesmo os vilões, Witkowski e Gengis Khan – sim, é assim que se identifica o francês vivido por Omar Sy (a revelação de Intocáveis, 2011). Risco Imediato é uma estréia nada memorável para o dinamarquês Henrik Ruben Genz, que marca sua chegada à direção nos Estados Unidos e vai ter que continuar tentando acertar.

Esse é um dos muitos clichês do filme

Esse é um dos muitos clichês do filme: reafirmar o tanto que o vilão é mau

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Marvel e Netflix fazem justiça ao Demolidor

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Daredevil banner

Conhecido do grande público pelo fiasco protagonizado nas telonas por Ben Affleck em 2003, o Demolidor é um dos personagens mais complexos da Marvel e finalmente recebe o tratamento merecido graças aos produtores Drew Goddard (de Lost) e Steven S. DeKnight (de Spartacus), além do ABC Studios, Marvel Studios e da Walt Disney Company, dona da Marvel. A presença da Disney, no entanto, não suaviza as coisas. Ao contrário do personagem caricato do filme de Affleck, o que vemos na série do Netflix é um justiceiro brutal, obstinado e preocupado em seguir seus próprios dogmas, por mais difícil que isso seja. Tudo isso em uma história muito bem construída e com toda a ação que se poderia esperar de uma série produzida por um dos criadores de Spartacus.

Baseada no personagem criado em 1964 por Stan Lee e o desenhista Bill Everett, a série Demolidor (Daredevil, 2015) é o primeiro resultado da parceria entre a Marvel Studios e o serviço de distribuição Netflix,  anunciada no fim de 2013 e que prometia expandir ainda mais o dito MCU (Marvel Cinematic Universe, ou Universo Cinematográfico Marvel). Mesmo sendo apenas a primeira da parceria, é seguro dizer que, como quase sempre, o Marvel Studios acertou mais uma vez. E eles já têm, em diversos estágios de produção, séries baseadas em personagens de segundo e terceiro escalões, como Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e os Defensores (que deve reunir esse pessoal) e ainda rumores sobre uma nova encarnação do Justiceiro.

Daredevil

Como não poderia deixar de ser, a primeira temporada de Demolidor é uma história de origem. Nela, vemos como Matt Murdock (Charlie Cox, de A Teoria de Tudo, 2014), ainda criança, é afetado após um acidente automobilístico que lhe tira a visão. Ao salvar a vida de um senhor que seria atropelado por um caminhão transportando produtos tóxicos, Matt tem seus olhos atingidos pelo tal produto. Ele fica cego, mas todos os seus demais sentidos se ampliam de uma maneira sobre-humana. Quase duas décadas depois, Matt e seu amigo de faculdade Franklin “Foggy” Nelson (Elden Henson, de Jogos Vorazes – A Esperança, 2014) decidem abrir um escritório de advocacia juntos em Hell’s Kitchen, bairro violento e pobre de Nova Iorque no qual ambos cresceram. Seu primeiro caso os leva a conhecer Karen Page (Deborah Ann Woll, da série True Blood). Karen é acusada de um assassinato e jura ser inocente.  Ao provar a inocência de Karen – com uma ajuda do alter-ego de Matt, então conhecido apenas como “o mascarado” – a dupla vai acabar se chafurdando em um caso de corrupção que vai até as mais altas esferas do poder no estado de Nova Iorque. O homem que eles precisam derrubar, no entanto, não cairá facilmente, pois é uma figura esquiva e impiedosa cujo nome poucos conhecem: Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio, de O Juiz, 2014).

Daredevil FiskEste é o resumo do que será visto na primeira temporada da série sem estragar as possíveis surpresas para aqueles que não estão familiarizados com o personagem. Todos os atores citados estão muito bem em seus respectivos papéis, com destaque para o vilão humano construído por D’Onofrio. A química entre a dupla de advogados é ótima, assim como as cenas de tribunal. E devem ser mencionados o James Wesley de Toby Leonard Moore (de John Wyck, 2014) e o Ben Urich de Vondie Curtis-Hall (de séries como Law and Order: Criminal Minds), que sempre chamam a atenção quando aparecem. E a bela Rosario Dawson (de Sin City: A Dama Fatal, 2014) também marca presença, vivendo uma enfermeira que acaba ajudando Matt.

Com relação aos demais aspectos, a obra segue o padrão de qualidade Marvel Studios com os quais nos acostumamos, seja no roteiro bem amarrado, bem dosado, com poucos furos, seja na parte técnica, com fotografia e iluminação adequadas e ação bem coreografada. E não faltam aquelas referências ao material fonte que fazem a alegria dos fãs dos quadrinhos. As cenas de luta, inclusive, são uma atração à parte. Desde Batman Begins (2005), não há uma produção com personagens de quadrinhos onde as lutas são tão brutais e orgânicas, com muito pouco da firula que se vê normalmente. O que condiz com o personagem, afinal, por mais que seus sentidos tenham se desenvolvido, Matt Murdock ainda é, em essência, um humano “normal”, se comparado a personagens como o Homem-Aranha e o Capitão América. Os desgastes pelos quais ele passa ao apanhar ou mesmo ao bater incessantemente são muito reais.

Com 13 episódios e promessa para uma segunda temporada, os episódios de Demolidor já estão todos disponíveis no Netflix, como é costume da empresa. Para aqueles acostumados com as produções da Marvel Studios e para os fãs do personagem, a série é essencial. E encontros com outros personagens não devem ser descartados, já que é possível ouvir menções rápidas.

O lançamento de Demolidor foi a sensação da Comic Con de NY

O lançamento de Demolidor foi a sensação da Comic Con de NY

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Cinderela ganha carne, osso e vestidos

por Marcelo Seabra

Cinderella

A história é a mesma de sempre, já contada em animação e live action diversas vezes. Já foi atualizada, teve alterações no contexto, passou por todas as modificações pensáveis para permitir levar a personagem novamente aos cinemas. Agora, a Disney inovou: fez uma nova Cinderela (Cinderella, 2015) com nada de diferente. Isso mesmo: a novidade é que não tem novidade. Ao menos financeiramente, a empreitada funcionou maravilhosamente bem: a arrecadação já beira o meio bilhão, cinco vezes o seu custo.

Para ficar em alguns exemplos mais recentes de contos de fadas, tivemos a Alice de Tim Burton, duas Brancas de Neve, Oz e o spin off da Malévola, várias tentativas de aumentar ou enriquecer universos já conhecidos por todos. No entanto, os originais permanecem nos corações como as versões inesquecíveis. Com Frozen (2013), percebemos a consolidação de outra tendência que vinha ganhando força: as princesas deixaram de ser mocinhas em perigo e passaram a ser mulheres fortes, ativas, que não colocam seu destino nas mãos de um homem, como se ele soubesse melhor o que fazer do que ela própria.

Cinderela passa longe de tudo isso. Para o bem ou para o mal, é uma produção antiquada, da velha escola, exatamente o que poderíamos esperar de uma adaptação literal do desenho (ou do conto). Chris Weitz, que não escrevia um filme desde A Bússola de Ouro (The Golden Compass, 2007), fez um roteiro redondinho, que tenta desenvolver as situações para que haja sentido. Como aquela menina chega a ser uma empregada em sua própria casa? Weitz nos apresenta aos pais dela e podemos acompanhar todo o desenrolar. A direção de Kenneth Branagh (de Thor e do último Jack Ryan) é a mais correta possível, reverenciando suas fontes e mantendo-se fiel. O que, nos tempos em que vivemos, com o caminho iconoclasta e revisionista que tudo parece tomar, traduz-se em algo totalmente sem graça.

Cinderella couple

No início, quando somos apresentados aos personagens e à (má) sorte de Ella, temos a sensação que será algo como Cinderella Begins, em referência ao mundo sombrio e pé no chão que Batman parece ter trazido ao Cinema. Mas, quando ratinhos engraçadinhos aparecem, percebemos que há algo estranho. E as tiradas bem humoradas de Caminhos da Floresta (Into the Woods, 2014) passam longe. Apesar de ser uma obra cansativa, Caminhos tinha uma Cinderela bem mais interessante, assim como um príncipe diferente do usual. Lily James e Richard Madden vieram de participações elogiadas em séries de TV de sucesso: Downton Abbey e Game of Thrones, respectivamente. Com o roteiro de Weitz, eles não têm muito o que fazer, apenas devem vencer os percalços para terem o final esperado.

Cinderella castAté aquele que parecia ser o maior trunfo do longa acaba deixando a desejar. A madrasta é vivida pela fantástica Cate Blanchett (de Blue Jasmine, 2013), que rouba a cena sempre que aparece. Com seus vestidos suntuosos e clássicos, ela apaga a mocinha de nosso campo de visão. O papel da vilã de um conto de fadas é sempre cobiçado, e não à toa atraiu gente do calibre de Julia Roberts e Charlize Theron (das Brancas de Neve). Mas a personagem é fraca e tem pouco destaque, não permitindo a Blanchett brilhar como deveria. As duas filhas (Sophie McShera e Holliday Grainger), coloridas e atrapalhadas, enfraquecem ainda mais. Outros que mostram a cara, com a competência habitual, são Helena Bonham Carter (de O Cavaleiro Solitário, 2013), Stellan Skarsgård (de Ninfomaníaca, 2013) e Derek Jacobi (da série Vicious), além de Ben Chaplin (de O Retrato de Dorian Gray, 2009) e Hayley Atwell (a Agente Carter da Marvel).

Com um elenco tão interessante, figurino e direção de arte adequados, uma fotografia correta e efeitos especiais bem criados, Branagh poderia ter inovado em algum momento. O resultado não é ruim, longe disso. Só é mais do mesmo. Deve agradar à maioria do público e ser esquecido no momento seguinte, ao contrário de um Frozen. A não ser, quem sabe, o lindo vestido azul de Ella.

É, de fato, um belo vestido!

É, de fato, um belo vestido!

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Netflix reúne ótimo elenco para Bloodline

por Marcelo Seabra

Bloodline header

Tamanho foi o sucesso da primeira temporada, o Netflix já encomendou a segunda. Desde o dia 20 de março, estão disponíveis os 13 episódios de Bloodline (2015), nova atração do serviço de exibição online em parceira com a Sony Pictures Television. Além da qualidade que não deixa nada a desejar e coloca muito filme para escanteio, a série conta com um elenco fantástico e um enredo que faz o espectador ficar aflito pelo destino dos personagens.

Centrada na família Rayburn, Bloodline começa com a volta para casa do filho ovelha negra, um sujeito que nunca deu certo em nada e vive de pequenos trabalhos, muitos deles além da lei. No papel, certamente como o destaque de um grupo valoroso, está o australiano Ben Mendelsohn, ator que chamou a atenção de público e crítica com Reino Animal (Animal Kingdom, 2010). Ele emprega uma atitude que é sempre difícil saber o que seu personagem pretende, sendo aquele que não se contentou em ficar perto dos pais, acatando as vontades deles. Alguma coisa aconteceu com Danny que o mandou para longe, e é cômodo para todos que permaneça assim. Devido a uma homenagem ao casal Rayburn, muitos parentes se reúnem e Danny decide se firmar na cidade.

Bloodline cast

No papel do irmão mais centrado, que se sente responsável por todos, está um velho conhecido da TV: Kyle Chandler. Visto recentemente nos cinemas como o agente do FBI que investiga O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013), Chandler é lembrado como o protagonista de duas séries com dez anos de diferença, Early Edition, de 1996, e Friday Night Lights, de 2006. Coadjuvante em diversas produções, ele sempre mostra serviço e faz um trabalho no mínimo competente. Como John Rayburn, ele é capaz de ir do tipo bonzinho a algo mais ameaçador, em muito responsável pelo sucesso da série ao lado de Mendelsohn.

Os outros dois irmãos são vividos pelos menos conhecidos Linda Cardellini (a Velma de Scooby-Doo) e Norbert Leo Butz (de Rolou uma Química, 2014), todos cumprindo a contento a tarefa. Para o papel impactante dos Rayburns seniores, os criadores chamaram ninguém menos que Sam Shepard (de Álbum de Família, 2013) e a eterna Carrie, A Estranha, Sissy Spacek. Os dois veteranos dão um peso importante a seus papéis, representando pilares da comunidade que criaram um hotel famoso e filhos tidos como celebridades na cidade praiana paradisíaca onde vivem. Claro que as coisas só parecem ser simples e os segredos familiares vão aparecem com o andar dos episódios. Os nomes menos frequentes do elenco, como Jacinda Barrett e Chloë Sevigny, são marcantes quando aparecem.

No início, a impressão que fica é de que Bloodline será mais uma novela, contando os dramas dos Rayburns. Mas os responsáveis pela premiada Damages,  Todd A. Kessler, Glenn Kessler e Daniel Zelman, sabem o que fazem e plantam alguns mistérios e reviravoltas para chacoalhar as coisas. Para quem se empolga e gosta de maratonas, são 13 episódios de quase uma hora, e não precisa esperar pela próxima semana. Dá pra ver tudo em uma longa sentada. O problema é acabar e ter que esperar até o ano que vem pela continuação.

Aos poucos, descobrimos os segredos dos Rayburns

Aos poucos, descobrimos os segredos dos Rayburns

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Metalhead chama a atenção para a Islândia

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Metalhead Hera

Exibido em alguns festivais independentes – inclusive no Brasil – no ano passado, o longa Metalhead (Málmhaus, 2013), do diretor e roteirista islandês Ragnar Bragason. tem chamado a atenção dos fãs da chamada “música extrema” pela forma como ele aborda esse gênero musical de forma singular em uma interessante história de superação. Essa atração, no entanto, se mostra bastante exagerada, já que, ainda que o filme seja recheado de heavy metal e o próprio título possa ser traduzido como “metaleiro”, o black metal que ele supostamente evoca tem pouquíssimo tempo de tela na película.

Metalhead tem sua história toda passada em uma pequena comunidade rural islandesa. O longa começa quando a jovem Hera (Diljá Valsdóttir) presencia um acidente bizarro que tira a vida de seu irmão mais velho Baldur (Óskar Logi Agústsson). Muito ligada ao irmão, Hera resolve meio que assumir sua identidade, adotando seu figurino – ela queima suas roupas “de menina” e passa a andar com as camisas pretas estampadas com logos e imagens de bandas de heavy metal do irmão – sua guitarra e seu gosto musical. Sua mãe, Droplaug (Halldóra Geirharðsdóttir) lida com a perda de maneira similar, mantendo o quarto de Baldur intocado, como se ele ainda vivesse naquela casa enquanto que seu pai Karl (Ingvar Eggert Sigurðsson) continua a fazer seus trabalhos na fazenda – a família se dedica à produção de leite – sem encarar sua dor da forma como deveria fazê-lo.

Metalhead

Uma década se passa e, no início dos anos 1990, vemos Hera (Thora Bjorg Helga) ainda naquela situação. Além de adotar o guarda-roupas e o gosto musical de Baldur, ela tenta canalizar sua raiva e dor pela perda do irmão em uma atitude tipicamente autodestrutiva e de auto-sabotagem que esconde apenas superficialmente o fato de que está perdida e não sabe sequer como pedir ajuda para sair daquela situação para, finalmente, superar o sentimento de perda que a consome. Enquanto trabalha na fazenda dos pais ordenhando vacas, limpando os currais e etc, Hera compõe músicas que nunca termina, enquanto mergulha em fanzines e revistas especializadas em heavy metal.

Essa trajetória sofre uma virada, inicialmente para pior, quando acontecem dois fatos que afetam a vida de Hera: a chegada de um novo padre (Þröstur Leó Gunnarsson) à paróquia freqüentada por sua família e o surgimento da cena black metal norueguesa e os famosos incêndios a igrejas ocorridos então. Aqui cabe uma contextualização rápida: entre 23 de maio e 25 de dezembro de 1992, nove igrejas cristãs foram incendiadas na Noruega e a autoria dos crimes foi atribuída a diversos membros de bandas de black metal locais. Na época, apesar das acusações, ninguém foi preso pelos crimes, com a única exceção de Varg Vikernes, fundador e único membro da banda Burzum, preso pelo assassinato de Øystein Aarseth, vulgo Euronymous, membro da também banda de black metal Mayhen. Varg, cujo trabalho musical é referenciado de leve neste filme, acabou também acusado do crime de incendiar igrejas, mesmo que sua participação nesses atos nunca tenha sido comprovada.

Ao se aprofundar na música realizada no país vizinho, no entanto, Hera finalmente encontra uma saída para direcionar toda a raiva que ainda guarda pelo irmão e isso acaba tendo um efeito em toda a sua família. Apesar de alguns problemas, especialmente no que diz respeito à passagem do tempo e uma ou duas cenas que despertam vergonha alheia no espectador, Metalhead se mostra uma opção bem interessante para aqueles que desconhecem filmes vindos da Islândia. De bônus, ainda traz uma trilha sonora recheada de bandas clássicas do heavy metal, como Judas Priest, Diamond Head e Megadeth.

Elenco do filme de cara limpa

Elenco do filme de cara limpa

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Diretor acerta pela terceira vez com O Ano Mais Violento

por Marcelo Seabra

A Most Violent Year

1981. De fato, um ano para os habitantes de Nova York esquecerem. Os assassinatos chegaram a níveis alarmantes, mais de três vezes que o habitual. Crimes de rua como roubos, agressões e estupros, inclusive associados a gangues e à Máfia, cresceram muito e colocaram a polícia em constante alerta, levando-os a criar as novas formas para reforçar a lei que deram frutos nos anos seguintes. Mas, enquanto nada era feito, 1981 continuou batendo recordes, como mostra o novo filme de J.C. Chandor, O Ano Mais Violento (A Most Violent Year, 2014). Trata-se de um conjunto de escolhas acertadas numa obra que, ao contrário do que o título indica, não é tão violenta.

Margin Call (2011) é uma tensa releitura do que pode ter acontecido nas quebras de grandes instituições financeiras. Até o Fim (All Is Lost, 2013) é um estudo de outro tipo de situação de risco, com um homem em um barco lutando contra o mar. Agora, em seu terceiro grande trabalho seguido, Chandor volta sua atenção para Nova York, símbolo do sonho americano que já foi desnudado por mestres como Sidney Lumet, Martin Scorsese, William Friedkin, Abel Ferrara, entre outros. É uma bela companhia para se estar, e o diretor não faz feio. Desde o início ambientando a história numa cidade bem real, com a ajuda da bela fotografia de Bradford Young (de Selma, 2014) e da fantástica Inner City Blues (Make Me Wanna Holler), canção de Marvin Gaye (também usada em Zodíaco, 2007), o diretor e roteirista nos apresenta Abel Morales, um homem aparentemente correto que luta contra as circunstâncias que parecem atirá-lo ao mal.

A Most Violent Year Isaac

A referência mais clara parece ser a trilogia O Poderoso Chefão, com cenas e momentos que poderiam ter saído dos clássicos de Francis Coppola, como os assaltos em plena luz do dia. Mas Morales, apesar da semelhança física, representa a antítese de Michael Corleone, é alguém que começou sua vida profissional dirigindo caminhões similares aos que veio a ter no negócio de transporte de combustíveis. E que sempre relutou em se misturar com os demais de seu meio, formado por pessoas de moral duvidosa e até gângsteres. O competente Oscar Isaac (de Inside Llewyn Davis, 2013) mais uma vez mostra que tem tudo para ser um protagonista forte e convincente, fazendo um sujeito que tenta sempre ser admirado por seus empregados, treinando e dando dicas a um por um. Vaidoso, ele busca ser um modelo para os demais até na aparência, e demonstra também uma certa necessidade de aprovação dos colegas mais velhos. A disputa ainda é acirrada pela questão da etnia, pois ele é um latino em meio a ítalo-americanos e judeus.

A Most Violent Year BrooksNo elenco principal, temos ainda dois outros grandes nomes. Aparecendo cada vez mais, com vários filmes lançados num período curto de tempo, Jessica Chastain (de Interestelar, 2014) vive a esposa de Abel. Anna é uma mulher forte, vinda de uma família da pesada que não pensa duas vezes antes de deixar claro que fará o necessário para proteger a família e suas posses. Mesmo que o marido não concorde. Além de linda, Chastain tem aquele brilho perigoso nos olhos que permite a ela até declamar uma ou outra fala mais bobinha sem comprometer a persona criada. E o discreto veterano Albert Brooks (de Drive, 2011 – acima) é o advogado dos Morales, o confiável conselheiro que sempre está por perto quando uma decisão deve ser tomada ou um contrato, redigido. Há ainda as interessantes presenças de David Oyelowo (de Selma, 2014) e Alessandro Nivola (de Trapaça, 2013), ambos homens ambiciosos, mas em lados opostos da lei. Ninguém, nesse filme, é apenas bom ou mau.

Filho de um experiente corretor do mercado financeiro, Chandor parecia em casa ao realizar Margin Call. Mas nem por isso ele ficaria em terreno seguro, demonstrando ter uma curiosidade sadia por outros universos. Com O Ano Mais Violento, ele pode estar discutindo muitas coisas, como as dificuldades de ser empresário, a criminalidade crescente dos grandes centros ou os riscos que alguém corre ao estar em um meio perigoso. Mas, acima de tudo, o interesse dele está na natureza humana. Pode um homem resistir a seu meio? Qual é o limite que este sujeito vai aturar antes de quebrar? Essas são algumas das perguntas que vão perdurar no público muito após a sessão.

Chandor levou sua equipe à premiere em Hollywood

Chandor levou sua equipe à premiere em Hollywood

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John Lithgow e Alfred Molina vivem uma bela história de amor

por Marcelo Seabra

Love Is Strange

Como já cantaram Bo Diddley, Buddy Holly e vários outros, o amor é estranho. O diretor e roteirista Ira Sachs (de Deixe a Luz Acesa, 2012) usou esse mote para contar uma bela história de amor, companheirismo e luta contra adversidades que se chama exatamente O Amor É Estranho (Love Is Strange, 2014). Além de tratar as situações de forma bem realista, misturando momentos cômicos e dramáticos, o filme conta com dois grandes protagonistas que, por si só, já valem o ingresso.

Ben (John Lithgow) e George (Alfred Molina) conseguem finalmente se casar, depois de quase quarenta anos de relação. O casamento torna ainda mais pública a orientação dos dois, que nunca esconderam nada. Por isso, George é demitido e começa uma dificuldade com as contas a pagar. Os dois optam por vender o apartamento e comprar um mais barato, mas os trâmites para a aquisição demoram mais do que deveriam, fazendo os dois dependerem de amigos e parentes para acolhê-los. E ninguém consegue receber os dois juntos, separando o casal por alguns dias.

O roteiro, escrito por Sachs e Maurício Zacharias (de Madame Satã, O Céu de Suely e Deixe a Luz Acesa), retrata seus protagonistas de forma singela, deixando o fato de serem dois homossexuais da terceira idade como apenas um detalhe. E é exatamente o que é: um detalhe, numa história de amor bonita e melhor construída que muitos filmes que acabam ganhando mais atenção. Os problemas vividos nessa etapa da vida independem de orientação sexual, religião ou time de futebol. Todos caminham para o mesmo fim, e sorte de Ben e George terem um ao outro para se apoiarem.

Love is strange scene

O grande trunfo de O Amor É Estranho é o par principal. Lithgow, a melhor participação da série Dexter, já mostrou ser um excelente ator em diversos papéis, de pai inofensivo (como em Planeta dos Macacos: A Origem, 2011) a psicopata (Síndrome de Caim, 1992), ou os dois juntos (em Dexter). Molina, mais lembrado como o Dr. Octopus de Homem-Aranha 2 (Spiderman 2, 2004), está no mesmo patamar, e os dois juntos funcionam excepcionalmente bem. O carinho e a admiração que demonstram um com o outro é algo milimetricamente calculado que aparece como natural, surge sem grandes esforços. Evitando clichês e exageros, os dois dão muita dignidade a seus personagens, que passam por uma fase difícil, mas permanecem educados e respeitosos, mesmo que carentes e tristes pela situação. No elenco de apoio, destaque para Marisa Tomei (de O Lutador, 2008), sempre uma figura marcante, e o jovem Charlie Tahan (de Blue Jasmine, 2013).

É muito interessante ver a mudança pelas quais os coadjuvantes passam ao ajudarem Ben e George na adversidade. Quem mais parecia ser atencioso e preocupado pode se mostrar insensível ou intolerante. É muito fácil ser legal em festas e jantares, situações pontuais em que todos falam de amenidades e se divertem. Dizem que, dando poder, você conhece uma pessoa. Precisando dela também. É na necessidade que a verdade aparece.

Ira Sachs e seus atores dão uma pausa nas filmagens

Ira Sachs e seus atores dão uma pausa nas filmagens

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Constantine merece a segunda temporada

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Constantine Ryan

Criado pelo escritor Alan Moore (Watchmen, V de Vingança, Do Inferno) na década de 1980 para ser um coadjuvante do Monstro do Pântano, o mago John Constantine logo se tornou popular especialmente por representar a antítese dos heróis que se via nos quadrinhos de então. Arrogante, prepotente, frio, calculista e carismático, Constantine logo ganhou sua própria revista. John Constantine: Hellblazer foi um marco para a DC Comics e o primeiro título do então selo da editora voltada para o público adulto, o Vertigo.

Depois de uma adaptação malfadada em 2005, estrelada por Keanu Reeves e Rachel Weisz e execrada pelos fãs, a NBC resolveu dar ao personagem mais uma chance. A série Constantine estreou nos Estados Unidos em 24 de outubro de 2014, estrelada pelo britânico Matt Ryan (de séries como Criminal Minds e The Tudors) e, apesar de se manter mais próxima de suas origens do que o filme de Reeves, ainda assim não foi poupada pelos fãs dos quadrinhos, especialmente pelo fato de ela se basear mais no gibi Constantine (lançado pela DC em 2013) do que em John Constantine: Hellblazer, aquele responsável por sua popularidade. Além disso, toda a publicidade da série dava a entender que Constantine seria mais algo como um Supernatural genérico, visando atrair os fãs dos irmãos Winchester para si.

Essa repercussão negativa foi tão forte que, inicialmente programada para 22 episódios, ou seja, uma temporada completa, logo foi anunciado que a NBC optaria por uma série limitada com apenas 13 episódios. Após a temporada ter sido encerrada no dia 13 de fevereiro, essa decisão parece um pouco precipitada. A exemplo de diversas séries – como Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D. e a saudosa Arquivo X – Constantine é daquelas produções televisivas que precisam de tempo para encontrar seu próprio ritmo de forma a agradar não só aos fãs (lembrando que esse é um público difícil e restrito), mas encontrar sua própria audiência. Inicialmente, os roteiristas tentaram agradar tanto os fãs antigos quanto os novatos e ainda trabalhar ao redor das regras restritivas da TV aberta nos Estados Unidos, que não permitiriam, por exemplo, mostrar Constantine, um fumante inveterado nos quadrinhos, fumando. A partir do momento em que esses entraves foram superados, a série se desenvolveu de maneira surpreendente. E, sim, John aparece fumando em diversos episódios.

Constantine

Não sou fã de Supernatural, logo, não sei como ela funciona, mas imagino que o modelo seja o mesmo usado aqui e em Arquivo X: desde o primeiro episódio, vemos Constantine percorrendo os Estados Unidos (e não a Inglaterra, como no gibi original) atrás de fenômenos sobrenaturais ligados, impreterivelmente, à manifestação de alguma figura demoníaca na Terra, enquanto uma trama maior se desenvolve em segundo plano. Com o apoio da paranormal Zed (Angélica Celaya, da série Dallas), do taxista Chas (Charles Halford, de True Detective) e do relutante anjo Manny (Harold Perrineau, de A Hora Mais Escura, 2012), Constantine tenta, ao enviar um espírito demoníaco semanalmente de volta para o inferno, impedir o evento chamado Trevas Ascendentes, que abriria os portões do submundo trazendo o Apocalipse sobre o planeta.

Nesses treze primeiros episódios, a série apresentou algumas histórias interessantes, com alguns easter eggs (como a Delano Street, homenagem ao primeiro escritor do gibi solo do personagem, Jamie Delano) e, principalmente, um desempenho quase perfeito de Matt Ryan, que fez qualquer um esquecer o Constantine de Reeves. Ryan conseguiu trazer boa parte do carisma e da canalhice – dadas as restrições da TV aberta americana – de John Constantine para a TV, sem contar o fato de seu sotaque galês forte combinar muito mais com o personagem do que a fala californiana de Reeves. Nota-se o esforço dos roteiristas em tentar serem fiéis à natureza do personagem, por mais difícil que isso seja. Talvez em um canal como o Starz ou a HBO, essa tarefa tivesse sido menos penosa.

Constantine parece ter superado a desconfiança de boa parte de seu público alvo, como comprova a campanha para a renovação da série (#saveconstantine). Boatos de que a série migraria para o canal por assinatura Syfy pipocaram na internet nas últimas semanas, mas, segundo o site cinenablend, se mostraram falsos. Segundo essa mesma fonte, a NBC, apesar de ter reduzido a primeira temporada da série, ainda não declarou seu cancelamento oficial e pode ser até que a rede trate Constantine da mesma forma que Hannibal, ou seja, sempre com temporadas limitadas a 13 episódios. Caso a NBC opte por essa solução, não encontraria quaisquer problemas em termos de continuidade, já que a primeira temporada terminou deixando diversos ganchos para uma continuação. Teremos novidades em maio.

Uma imagem que já bate o longa de 2005

Uma imagem que já bate o longa de 2005

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Divertida farsa nacional adapta Jorge Amado

por Marcelo Seabra

O Duelo estreia

É muito bom que tenhamos comédias nacionais sem o baixo nível que tem imperado. O Duelo (2015) é mais um trabalho de Marcos Jorge, diretor e roteirista muito lembrado pelo bem sucedido Estômago (2007). E traz ainda a última interpretação de José Wilker, um dos grandes atores brasileiros, falecido em abril passado. Com um clima de farsa, a história nos apresenta a dois personagens fortes que entram em embate pela atenção dos moradores de uma cidadezinha.

Baseado em um livro de Jorge Amado lançado em 1961, Os Velhos Marinheiros, o roteiro começa com a chegada do Capitão Vasco Moscoso de Aragão (Joaquim de Almeida) na pequena Periperi, cidade litorânea onde as pessoas não parecem ter muito o que fazer. Logo, o capitão se torna a atração local, reunindo todos em sua casa, ou mesmo na rua, para ouvirem suas histórias de navegação, perigos e paixões. Isso é o suficiente para atrair o ciúme de Chico Pacheco (Wilker), até então a figura que era admirada e seguida no lugarejo. Suas viagens de trem à capital não eram páreo para os desafios vividos por Aragão.

O Duelo cena

Por puro despeito, Pacheco afirma veementemente que trata-se de um engodo, um farsante que está enganando a todos. A população se divide entre seguidores de um e de outro e vamos conhecendo versões do que pode ser a verdade. Wilker se diverte caluniando o outro, gastando todo seu estoque de xingamentos e abusando de sua famosa impostação de voz. Joaquim de Almeida, o Sherlock Holmes de O Xangô de Baker Street (2001), está acostumado a viver vilões latinos e sempre faz uso de seu português natal, ou ao menos do inglês com sotaque marcante. Dessa vez, no entanto, ele traz simpatia e segurança a seu Vasco, tornando crível a aceitação que um desconhecido tem ao chegar em Periperi. Outros nomes famosos por aqui aparecem em cena, como Cláudia Raia, Patrícia Pillar, Márcio Garcia, Tainá Muller e Maurício Gonçalves, ajudando a criar os causos de Aragão e Pacheco.

Os recursos utilizados para ilustrar cada história contada podem ser tornar cansativos. Fica claro que um dos dois apenas seria suficiente: ou a dramatização, ou a narração. Um em cima do outro fica exagerado e praticamente afirma que o espectador não entenderia apenas um. E os efeitos especiais com fundo inserido são toscos, o que nos tira totalmente da ação e chama a atenção para onde não deve. A riqueza de detalhes dos casos deve funcionar muito bem no livro, levando o leitor a aquele universo, mas se torna cansativo na tela. As duas horas de duração não são muito dinâmicas, não fluem como deveriam.

As críticas políticas de O Duelo não devem passar batidas. Marcos Jorge aproveita a farsa para lembrar que há indivíduos que tiram vantagem de sua posição na sociedade, de suas amizades, e nos mostra como é fácil seduzir as pessoas com dinheiro e fábulas. Cria-se uma fachada e todos caem, como políticos que vemos por aí. Faltou, sim, o tal duelo do título, já que Aragão e Pacheco não dividem muitos momentos. Mas a impressão que fica após a divertida conclusão é positiva e só conta a favor dos envolvidos.

Grande elenco ajuda a contar várias versões da mesma história

Grande elenco ajuda a contar várias versões da mesma história

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