Jorge Furtado volta à ficção com Real Beleza

por Marcelo Seabra

Real Beleza

Não é porque não fazia um longa de ficção desde 2007 que Jorge Furtado estava parado. Tendo lançado no ano passado o documentário Mercado de Notícias e Doce de Mãe para a TV, além do roteiro de Boa Sorte, a última coisa que ele faz é parar. Prova disso é que já está nos cinemas seu novo trabalho, o drama Real Beleza (2015), que ensaia uma discussão sobre o que é belo, mas prefere focar em seu protagonista e seus dilemas. Nem por isso erra o alvo, sendo provavelmente o trabalho mais sensível do diretor.

Entre roteiro e direção, Furtado costuma ser lembrado por comédias, como O Homem Que Copiava (2003), Meu Tio Matou Um Cara (2004) e Saneamento Básico, O Filme (2007). Mas, com Real Beleza, ele entra fundo na vida de João (Vladimir Brichta, da série Tapas & Beijos), um fotógrafo cuja carreira um dia promissora está estagnada. Ele coloca suas fichas na busca por uma menina que levantaria seu nome novamente. Para isso, visita diversas cidades do sul e fotografa todas as candidatas que aparecem, sempre à procura “daquela” beleza. Por algum motivo, nenhuma delas o cativa, até que aparece Maria (Vitória Strada), a adolescente aparentemente perfeita para a campanha que João fará.

Real Beleza cena

O problema é que o pai da garota (Francisco Cuoco, de Doce de Mãe) é contra a ideia e uma liberação é necessária para que ela possa viajar. João vai até a casa distante onde a família mora e conhece a mãe, Anita (Adriana Esteves, atualmente em Babilônia), uma mulher madura e bonita que o atrai de cara. Partindo da questão da beleza de mãe e filha e da busca do fotógrafo, o filme prefere se aprofundar em seu protagonista. Não temos muitas informações sobre sua história, fora algumas migalhas, mas Furtado está mais preocupado com a cabeça de João, com o que se passa lá. Inicialmente muito focado na parte profissional, João vê sua vida pessoal virar do avesso.

Desde os criativos créditos iniciais, que se escondem atrás dos atores, o diretor mostra todo o seu domínio da câmera, com closes, enquadramentos e paisagens belíssimos. Há sempre uma escolha bem feita em cena, conduzindo o olhar do público como um bom fotógrafo deve fazer. O casal da vida real Brichta e Esteves tem uma ótima sintonia, promovendo uma química acertada para João e Anita. Até o geralmente canastrão Cuoco funciona bem, conferindo uma mistura interessante de força e fragilidade a um homem que deve ter sido bem másculo, mas está velho e debilitado. É seu Pedro e a biblioteca que ele mantém que servem de canal para Furtado poder homenagear algumas figuras ilustres, como Shakespeare, Jorge Luis Borges e Cartier-Bresson.

É bom, no meio de tanta bobagem lançada no Cinema Nacional, ver um trabalho sério, com personagens que tomam decisões inteligentes, e não apenas convenientes. Não há grandes eventos, apenas a vida seguindo seu rumo. A beleza da garota acaba por mudar as vidas de todos os envolvidos, e essa talvez seja a razão de ser do título: quando a beleza é real, ela transforma tudo ao seu redor.

Vitória Strada é a bela descoberta por João

Vitória Strada é Maria, a bela descoberta por João

Publicado em Estréias, Filmes, Indicações | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Terceiro capítulo de Sobrenatural chega aos cinemas

por Marcelo Seabra

Insidious Chapter 3

Gostando-se ou não da trilogia Sobrenatural (Insidious), não se pode dizer que ela não seja coerente. Além das histórias criativas e dos sustos garantidos, é muito interessante perceber as engrenagens que o roteirista Leigh Whannell criou e a forma como elas se conectam. Pode-se ir e voltar no tempo, mas a cronologia é sempre observada e as referências abundam. Chega agora aos cinemas Sobrenatural: A Origem (Insidious: Chapter 3, 2015), que na verdade não conta origem alguma, mas volta no tempo um bocado.

Nossa velha conhecida, Elise Rainier (Lin Shaye), volta a lidar com o outro lado depois de um longo tempo afastada. Uma experiência a traumatizou e foi necessário uma garota em apuros para sensibilizá-la. A adolescente Quinn Brenner (Stefanie Scott, de Detona Ralph, 2012) queria fazer contato com a mãe, recém-falecida, mas já aprendemos que nem sempre o espírito que responde ao chamado é o certo, e muito menos ele é bem intencionado. A garota começa a ter problemas com uma suposta entidade maligna e resta ao pai Brenner (Dermot Mulroney, de Álbum de Família, 2013) procurar por Elise.

Insidious Chapter 3 ghost

A trama da família Lambert, dos dois primeiros filmes, parecia bem fechada, e Patrick Wilson chegou a afirmar isso, apontando a falta de sentido em se voltar àquele universo. Mas Whannell foi esperto o bastante para não se repetir, desenvolvendo melhor os outros personagens da franquia, principalmente Elise e os caçadores de fantasmas Tucker (Angus Sampson) e Specs (o próprio Whannell). Além de atuar e escrever, Whannell ainda assumiu a direção no lugar do amigo e colaborador constante James Wan, fazendo sua estreia na função. Wan foi cuidar de Velozes e Furiosos 7 (Furious Seven, 2015) enquanto isso, sendo creditado aqui apenas como produtor.

Depois de Ty Simpkins, coube a Scott o papel de jovem possuída, e a garota leva bem a responsabilidade, como fez o colega. A história desse terceiro capítulo é a mais simples das três, e os personagens são todos razoáveis em suas ações e decisões, o que já é um alívio para filmes do gênero. Ao mesmo tempo, não deixa de ser um problema, já que muitas coisas se tornam previsíveis e levam embora a tensão. A compensação vem na forma de tratar o pai, que foge do clichê do incrédulo burro, e nas novidades sobre quem já conhecíamos. Aparentemente, todas as cartas estavam na mesa, mas Whannell cria formas de fazer revelações.

Apesar de Wan se mostrar mais inventivo quanto a planos e enquadramentos, seu substituto não deixa a desejar, e prova estar bem inteirado quanto a esta série. Quando perguntado sobre o futuro de Sobrenatural, Whannell foi evasivo, mas deu indicações de que pode dar continuidade a este filme, seguindo na jornada de Elise. A fala, nessas horas, é sempre a mesma: “não faremos por dinheiro apenas, será só se tivermos um bom roteiro”. Como ele próprio é o responsável, podemos esperar por novidades.

Stephanie Scott é uma boa iniciante

Stefanie Scott é uma boa iniciante

Publicado em Estréias, Filmes, Indicações | Com a tag , , , , , , , | Deixe um comentário

O Quarteto continua longe de ser Fantástico

por Marcelo Seabra

Fantastic Four

A Fox tentou de novo levar o Quarteto Fantástico (Fantastic Four, 2015) às telas, depois dos constrangimentos de 2005 e 2007, ambos dirigidos por Tim Story (quem?). Agora, a jogada foi pegar Josh Trank, que chamou a atenção com sua boa estreia, e colocar sangue novo inclusive no elenco, rejuvenescendo os personagens. É triste constatar que, mais uma vez, o resultado não funciona, mesmo com um time talentoso envolvido. E as bilheterias têm sido tão vergonhosas que a continuação, já prometida, deve estar fora de cogitação.

Poder Sem Limites (Chronicle, 2012), a primeira produção dirigida por Trank, é praticamente uma adaptação de quadrinhos, com o pequeno detalhe de ser uma história original. Está tudo lá: a amizade, a descoberta, os problemas advindos dos poderes, as mudanças, o conflito. Com um orçamento maior, seria ele capaz de dar dignidade a Reed Richards e companhia? Essa era a questão que a Fox, tão bem sucedida com os X-Men, buscava responder, inclusive recrutando um dos roteiristas dos mutantes, Simon Kinberg. A pequena alteração na fonte, colocando Johnny Storm negro e a irmã Sue, loira, adotada, não seria razão por si só para receio, mesmo não havendo nenhuma necessidade disso.

Fantastic Four scene

O fato dos personagens estarem saindo do colégio complica um bocado as coisas. Como, tão jovens, seriam responsáveis por um projeto tão importante e poderiam se arriscar da forma como ocorre? Essas e outras questões vão passando pela cabeça e a conclusão é sempre a mesma: esqueça isso e divirta-se. Porque não era possível pensar em nada melhor. Tendo isso em mente, a primeira metade do longa é bem interessante, com os laços sendo desenvolvidos, mesmo que meio corrido, e podemos conhecer as características básicas de cada um.

Milles Teller, grande descoberta de um dos melhores filmes do ano, Whiplash (2014), é Reed Richards, o cabeça do quarteto. O ator é ótimo, só não tem oportunidade de fazer muito, ainda mais com as falas que lhe cabem. Jamie Bell, o eterno Billy Elliot (2000), entra mudo e sai calado, principalmente quando coberto por tantas pedras. O drama do Coisa é muito mal aproveitado, a sua nova aparência é foco de apenas uma conversa rápida e já se parte pra a ação. Sue Storm, a Mulher Invisível, é vivida por Kate Mara, um dos destaques de House of Cards, e tem menos ainda o que fazer. Ela é uma cientista que fica estudando e ouvindo música o tempo todo e ainda tem sua importância para a missão diminuída, sendo mostrada como apenas a responsável pelos uniformes. E Michael B. Jordan, de Poder Sem Limites, é o esquentado Johnny Storm, um menino mimado que só quer dar dor de cabeça para o pai (Reg E. Cathey, também de House of Cards).

Fantastic Four Doom

Assim como tem acontecido com os filmes dos estúdios Marvel, um dos grandes problemas de Quarteto Fantástico, dentre vários, é o vilão. Toby Kebbell (de O Conselheiro do Crime, 2013) é Victor Von Doom, um gênio rebelde que se deixa dominar pelo desejo por Sue e pelo que todos os malvados padrão buscam: poder. Uma vez que é feita a transição, o personagem se perde totalmente. Não entendemos o que ele busca, suas motivações e nem o que acontece com ele. Tudo é muito conveniente e as resoluções são esdrúxulas. E o outro antagonista cabe a Tim Blake Nelson, que interagiu com o gigante esmeralda em O Incrível Hulk (2008). Aqui, ele é o estereótipo do militar chefe, apenas cobrando e dificultando.

Se Trank consegue criar algo interessante na primeira hora e pouco, ele fica em débito com os vinte ou trinta minutos finais. E o filme fica nessas duas partes apenas, ele pula do desenvolvimento para o ato final e dá um susto no público, que rapidamente percebe que o suplício está perto do fim. O diretor logo contou que a Fox mexeu bastante no filme, desde a concepção até a edição final, que foi tirada de suas mãos. O orçamento foi cortado – percebe-se pelos defeitos especiais – e coube a ele fazer um milagre, o que não aconteceu. Se isso é tudo verdade e se ele teria feito algo superior, nunca saberemos. Mas é possível afirmar que este é o melhor filme já feito com o Quarteto Fantástico. Pena que isso não signifique quase nada.

Um ótimo elenco foi desperdiçado: Teller, Mara, Bell e Jordan

Um ótimo elenco foi desperdiçado: Teller, Mara, Bell e Jordan

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes, Quadrinhos | Com a tag , , , , , , , | 2 Comentários

Anthony Hopkins é o novo Heineken sequestrado

por Marcelo Seabra

HeinekenNão é de hoje que Anthony Hopkins não acerta nos projetos que escolhe. Quando o filme é bom, seu papel é pequeno, caso de Thor (2011 e 2013). Quando a importância dele é maior, o filme dá com os burros n’água (como em Hitchcock, 2012). E há aqueles em que seu personagem é menor e o resultado é desastroso, como o novo Jogada de Mestre (Kidnapping Mr. Heineken, 2015), nova versão da história do sequestro que ainda é lembrado como aquele com o maior valor pago pelo resgate de um indivíduo.

Em 2011, a trama chegou aos cinemas produzida na Holanda, com Rutger Hauer como Freddy Heineken. No mesmo ano, o ator esteve em O Ritual (The Rite), outra bomba protagonizada por Hopkins, que agora assume a função de ser sequestrado por um grupo de pequenos empreendedores que deram errado. Conhecemos os três principais, vividos por Jim Sturgess (de O Melhor Lance, 2013), Sam Worthington (de Cake, 2014) e Ryan Kwanten (de True Blood), quando eles têm um empréstimo negado. Logo, entendemos que eles precisam de dinheiro para tocarem seus negócios e suas vidas. E que se tornar assalariado não é uma opção. Peter R. de Vries levantou todas essas informações para seu livro.

Kidnapping Mr Heineken scene

Magicamente, o roteiro de William Brookfield (de Hipnose, 2002) faz com que um deles tenha a brilhante ideia de sequestrar Alfred Heineken, o magnata da cerveja. E, para ter dinheiro para fazer tudo certo, eles ainda roubam um banco antes, de olhos nos milhões que poderão receber. Com muita gente envolvida, eles logo vão perceber que não se pode ter uma grana louca e bons amigos ao mesmo tempo. O próprio Freddy faz questão de reforçar isso enquanto brinca com a cabeça de seus algozes. Ele, inclusive, parece ser a única pessoa que está se divertindo com tudo o que está acontecendo.

Usando trejeitos meio psicóticos, com um olhar de viciado em drogas no auge do surto, Hopkins é bem enérgico para alguém que está sendo mantido refém, algemado a uma parede. E todos os demais seguem no piloto automático, sem qualquer suspense ou tensão. E sem o menor esforço para parecerem holandeses, já que cada um é de uma nacionalidade. O sueco Daniel Alfredson, ao contrário do irmão também cineasta Tomas, que estreou em língua inglesa com o ótimo O Espião Que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011), não teve sucesso. Como ele já mostrou mais talento em sua terra natal, por exemplo nos filmes da série Millennium original, fica a expectativa por um próximo trabalho. Na língua que for.

Hopkins mais uma vez erra o tom do personagem

Hopkins mais uma vez erra o tom do personagem

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes, Refilmagem | Com a tag , , , , | Deixe um comentário

O futebol mineiro chega aos cinemas

por Tânia Alves

O Dia do Galo

“O dia do Galo” (2015), documentário dirigido por Cris Azzi e Luiz Felipe Fernandes, acompanha a rotina de alguns atleticanos no dia da final da Copa Libertadores de 2013. Impossível não se identificar com a maior paixão dos brasileiros – o futebol – ao acompanhar atleticanos de várias idades, profissões e posições sociais. Do padre ao locutor de rádio, todos viram um só ao torcer por uma virada improvável de placar, quase um “milagre” que culminou com a vitória da “loucura mais divertida do futebol brasileiro”, como bem disse o jornalista esportivo Fábio Chiorino ao se referir ao Clube Atlético Mineiro.

O personagem principal deixa de ser o jogo entre Atlético Mineiro e Olimpia e o foco é a emoção, a paixão que moveu (e move!) os torcedores ao som do “eu acredito”. O documentário mostra que a campanha do time se tornou atemporal para seus torcedores quando encontramos os espectadores em uma sala de cinema prontos para o estádio: uniformes, bandeiras e lágrimas pela lembrança daquele dia, o dia do Galo.

Mário Henrique, o Caixa, é um dos torcedores apresentados

Mário Henrique, o Caixa, é um dos torcedores apresentados

Publicado em Estréias, Filmes, Indicações | Com a tag , , , , | Deixe um comentário

Magic Mike cai na estrada novamente

por Marcelo Seabra

Magic Mike XXL

Três anos depois do elogiado Magic Mike, longa que trazia Channing Tatum e um grupo de fortões fazendo a alegria da mulherada em shows desinibidos, o elenco se reúne para mostrar o que teria acontecido com aqueles personagens. O roteirista Reid Carolin voltou ao batente, com apenas essas duas experiências na ficção, mas Steven Soderbergh deixou a direção para Gregory Jacobs, seu habitual diretor de segunda unidade. Por manter esse time, pode-se dizer que Magic Mike XXL (2015) repete a essência do anterior, mas seguindo um caminho próprio, e inovando quando possível.

Dentre os atores, dois não toparam voltar, e o roteiro é hábil para justificar isso. Tirando Matthew McConaughey e Alex Pettyfer, o apresentador e o aprendiz de stripper, os demais rapazes voltam, o que significa reencontrar Joe Manganiello, Matt Bomer, Kevin Nash, Adam Rodriguez e Gabriel Iglesias. As principais novidades são Jada Pinkett Smith (de Gotham), Andie MacDowell (do Footloose de 2011), Elizabeth Banks (da franquia Jogos Vorazes) e Amber Heard (que agora é Depp, de 3 Dias Para Matar, 2014). Interessante notar que os destaques são mulheres. Os homens, mais do que nunca, estão lá para servi-las.Esse parece ser um tópico recorrente, o cerne da trama. Como o assunto atrairia um público feminino grande, nada mais acertado que voltar toda a situação a elas.

10.06_ 0847.tiff

Quando reencontramos Mike (Tatum), ele está dando duro em sua empresa de reformas, mas o retorno não parece ser dos melhores. Tanto que, quando os Reis de Tampa remanescentes passam por sua cidade a caminho de uma espécie de exposição de strippers, ele decide se juntar ao bando para esta que seria a última apresentação de todos eles. A estrutura episódica, comum a alguns road movies, pode incomodar. Há cenas que parecem costuradas de qualquer jeito, que não fariam a mínima falta se não existissem. Certas falas se alongam mais do que o recomendável e a câmera se demora em closes que não têm muita explicação – principalmente em Bomer, que deve ter um ímã para aparecer tanto.

Com bastante humor, Magic Mike XXL consegue divertir ambos os sexos e é bobagem acreditar que trata-se de algo para mulheres exclusivamente. Claro que os corpos bem definidos serão uma atração para elas, mas os sujeitos deixam um pouco de serem apenas pedaços de carne e passam a ter um pouco mais de profundidade. Seus sonhos e aspirações têm espaço, o que nos permite conhecê-los melhor e até passar a nos importar com eles. E, óbvio, o mais importante: nos vemos torcendo por eles.

É claro que um primeiro filme tem sempre um ineditismo e, por isso, pode ser facilmente considerado o melhor da dupla. Mas essa continuação tem alma, mesmo que vise ganhar alguns trocados para o estúdio. E o número é mesmo bem alto no que diz respeito a valores. O orçamento já foi superado há tempos, e várias vezes. Será que veremos Mike e os Reis de Tampa mais uma vez se apresentando?

Cada um deles tem algo interessante à vista

Cada um deles tem algo interessante à vista

Publicado em Estréias, Filmes, Indicações | Com a tag , , , , | 2 Comentários

Bairro londrino é destaque em Ripper Street

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Ripper Street O bairro de Whitechapel, localizado no leste de Londres, passou à história pelo fato de, entre 31 de agosto e 9 de novembro de 1888, ter sido o cenário escolhido pelo assassino conhecido posteriormente como Jack, o Estripador atuar (e, de acordo com algumas teorias, morar). A identidade de Jack nunca foi revelada e isso, associado aos detalhes sórdidos de seus crimes e à infinidade de teorias a respeito de suas motivações e identidade, o tornou uma figura icônica.

Se os atos de Jack são bastante conhecidos, pouco se sabe sobre os homens do Distrito H, subseção da Polícia Metropolitana que esteve envolvida na caçada pelo assassino. Ripper Street, série da BBC cujas três primeiras temporadas foram recentemente disponibilzadas no Netflix e é transmitida pelo canal a cabo BBC HD no Brasil, foca justamente nesses personagens, misturando figuras reais com outras completamente ficcionais que tentam continuar com suas vidas após o maior fracasso de suas carreiras.

A série se inicia em abril de 1889, seis meses após Jack ter desaparecido misteriosamente. Apesar dos assassinatos terem cessado, seu espectro ainda assombra a divisão H, especialmente o Detetive Inspetor Edmund Reid (Mathew Macfadyen, de Os Pilares da Terra), chefe do distrito na época dos assassinatos, e do Inspetor Chefe Frederick Abberline (Clive Russel, de Thor: O Mundo Sombrio, 2013). Ambos tratam do assunto de maneira diferente: enquanto Reid tenta evitar que a busca por Jack afete seu trabalho, Abberline prefere ver o estripador em qualquer crime brutal acontecido na época. O pontapé inicial para a série é, justamente, um assassinato brutal que Abberline quer atribuir ao estripador, enquanto Reid, um daqueles detetives clássicos da televisão inglesa, procura por respostas mais palpáveis e próximas da realidade.

Ripper Street Flynn Para conseguir seus resultados, ele conta com a ajuda do sargento Bennet Drake (Jerome Flynn, de Game of Thrones) e do capitão Homer Jackson (Adam Rothenberg, de séries como Elementary e House), um médico americano com um passado obscuro que vem à tona ao longo da primeira temporada da série. Homer tem um relacionamento muito próximo com Long Susan (MyAnna Buring, de Downton Abbey), dona de um bordel local que divide esse passado com ele e tem uma importância significativa na série. Completam o quadro principal Rose Erskine (Charlene McKenna, de séries como Lei & Ordem: Reino Unido e Misfits), uma das garotas do bordel de Susan pela qual o sargento Drake sente uma forte atração, e Fred Best (David Dawson, de Luther), editor de um tablóide local no estilo dos jornais populares que temos por aqui, ou seja, quanto mais sangue, melhor.

Apesar da sombra do estripador estar presente em diversas ocasiões, Ripper Street se foca muito mais na rotina do Departamento de Polícia da rua Lemhan do que em Jack. A série procura mostrar o período turbulento pelo qual Londres, especialmente Whitechapel, um bairro industrial pobre, passava naquela época, tendo uma reconstituição histórica bastante interessante e tramas bem amarradas. Assaltos, sequestros, epidemias e, claro, assassinatos são crimes aqui explorados, assim como as vidas pessoais do trio de protagonistas.

Ripper Street cast Uma outra característica interessante sobre Ripper Street é que ela é uma das primeiras séries a se aproveitar das novas formas de produção e trasmissão televisiva. Após duas temporadas, de oito episódios cada, recebendo boas críticas, mas com uma audiência considerada insuficiente para que continuasse sendo produzida, ela foi cancelada. Seus produtores procuraram outras formas de manterem a série e acabaram fechando contrato com o serviço de streaming da Amazon, que, através de seu Amazon Prime Instant Video, garantiu a produção de uma terceira temporada, cuja veiculação começou em janeiro de 2015. Assim que o acordo com a Amazon foi fechado, a BBC mostrou-se disponível a transmitir novamente a série, sendo logo seguida pela Netflix. Aqui há uma pegadinha, no entanto: enquanto os episódios das duas primeiras temporadas têm o formato padrão da TV inglesa de 55 minutos, a terceira temporada não tem essas restrições, tendo episódios com média de 65 minutos de duração. Devido a isso, aqueles que assistirem pelo Netflix ou pela BBC verão uma versão editada para caber dentro do padrão.

Independente de todos os seus percalços, Ripper Street é uma série bem interessante para aqueles que se interessam por esse tipo de dramaturgia, com histórias bem escritas e um elenco bastante afiado. Com temporadas de 8 episódios apenas, é a série ideal para se aproveitar na época do mid-season, quando suas séries preferidas (aquelas com 13 a 22 episódios por temporada) estão em hiato. E uma notícia mais legal ainda é que a Amazon anunciou recentemente que renovou o contrato com a Tiger Aspect, produtora da série, para mais duas temporadas.

Um dos fortes da série é a reconstituição de época

Um dos fortes da série é a reconstituição de época

Publicado em Indicações, Séries | Com a tag , , , , , | Deixe um comentário

A Forca requenta A Bruxa de Blair

por Marcelo Seabra

The Gallows

Se, em 2011, ao discutir Apollo 18, apontei o desgaste do subgênero dos falsos documentários, os found footage, imagine em 2015! Pois tem gente lançando esse tipo de filme até hoje, como é o caso de A Forca (The Gallows, 2015). Trata-se de um terror de baixo orçamento, e isso fica muito claro durante a sessão, dada a pobreza dos cenários, efeitos e recursos. Sem história para encher mais que seus míseros 80 minutos, o longa se satisfaz em dar alguns sustos e tenta surpreender no final.

Por algum motivo usando os nomes dos atores para os personagens, a trama nos apresenta ao mala de plantão Ryan (Ryan Shoos), que é assistente de produção da peça da escola, uma nova montagem de um texto que causou uma tragédia vinte anos antes. O protagonista atual, Reese (Reese Mishler), é um ex-atleta que topou estrelar no teatro apenas para ficar perto da mocinha, a patricinha Pfeifer (Pfeifer Brown). Ryan arruma uma desculpa para invadir a escola à noite, levando sua namorada (Cassidy Gifford) e Reese, e as coisas estranhas que já esperamos começam a acontecer.

The Gallows girls

O elenco todo segue na linha do “bonitinho, mas ordinário”. Nenhum deles tem muita experiência, todos têm apelo estético junto ao público e falta bastante profundidade. O mesmo pode-se dizer dos diretores e roteiristas, Travis Cluff e Chris Lofing, que parecem ter muita vontade e ambição e buscam seguir os passos de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez. As similaridades com A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999) são enormes: dupla de diretores roteiristas, atores novos, nomes dos personagens serem os dos atores, a duração, câmera na mão etc. Eles chegam a recriar uma cena claramente, quando uma personagem vira a câmera para o seu próprio rosto e chora, em pânico, faltando apenas pedir desculpa. Se isso acontecesse, deixaria de ser uma inspiração para ser uma cópia óbvia.

Sem sabermos exatamente o que está acontecendo ou quem estaria causando as situações, até conseguimos entrar no clima de tensão que a produção tenta construir. Mas tudo é muito previsível e bobo para se sustentar, chegando a um final que pretende ser impactante, a exemplo de Bruxa de Blair. A julgar pelos risos e xingamentos ao final da sessão, pode-se dizer que os realizadores não acertaram exatamente no alvo. Não que a obra não terá seus admiradores, que terão que procurá-la no fundo da prateleira da locadora ou em sessões da madrugada na televisão.

Os diretores alegam terem gasto apenas 100 mil

Os diretores alegam terem gasto apenas 100 mil

Publicado em Estréias, Filmes | Com a tag , , , , , | Deixe um comentário

Tomorrowland e Sob o Mesmo Céu mal chegaram…

por Marcelo Seabra

Tomorrowland

Certos filmes, quando muito elogiados lá fora, já chegam por aqui com boa fama e atraem um público maior, na expectativa criada por críticos e bilheterias estrangeiros. O que nem sempre funciona – vide o incensado Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011). E o contrário vez ou outra acontece também: malham tanto a produção que ela chega sob uma grande suspeita de ruindade, o que acaba afastando uma parte das pessoas. Temos dois longas que estrearam nessa segunda situação: sob uma nuvem de críticas negativas. Tanto que nem esquentaram lugar nas salas. Mas apenas um deles de fato merece essa desonra.

Depois de estrear com atores de carne e osso em Missão: Impossível – Protocolo Fantasma (2011), Brad Bird partiu para uma fantasia que nos apresenta a um novo universo. Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível (2015) leva seu público a um lugar que não é bem definido, algo como um planeta paralelo fora da Terra. Tudo lá é inventivo, funciona bem e parece ter chegado a um ponto interessante de auto-sustentação. Mas algo errado aconteceu e nosso amigo Frank Walker (George Clooney, de Caçadores de Obras-Primas, 2014) foi expulso de lá. A ação começa quando ele conhece a jovem Casey Newton (Britt Robertson, de Cake, 2014), uma geniazinha como ele que recebe um estranho souvenir de Tomorrowland.

Tomorrowland cast

Como nada para Bird é simples como parece, há temas misturados nessa aparentemente bobinha ficção que podem levar a uma discussão mais profunda. Para começar, há a questão da escolha de quem pode viver nesse lugar tão evoluído, tão selecionado. E Hugh Laurie, mais lembrado como Dr. House, é o mandatário da cidade, a quem cabe decidir o andamento das coisas. Como o outro roteirista é o famigerado Damon Lindelof (de Lost e Prometheus, 2012), é natural que alguns detalhes ficassem no ar e certas explicações se fizessem necessárias. Mas, independente dessas pontas soltas, trata-se de uma aventura leve, criativa, com todo o jeito daquelas matinês oitentistas, prato cheio para saudosistas.

Aloha

O caso é bem diferente com Cameron Crowe e seu Sob o Mesmo Céu (Aloha, 2015). Depois de besteiras como Elizabethtown (2005) e Compramos um Zoológico (We Bought a Zoo, 2011), o diretor e roteirista que nos presenteou com o clássico instantâneo Quase Famosos (Almost Famous, 2000) bem que podia ter acertado a mão. Mas não é o que observamos com essa historinha fraca de um sujeito fracassado (Bradley Cooper, de Sniper Americano, 2014) que tem possivelmente sua última chance com um trabalho de volta ao Havaí, onde viveu muita coisa e deixou um amor para trás (Rachel McAdams, atualmente em True Detective). Uma militar acidentalmente linda (Emma Stone, de Magia ao Luar, 2014) é colocada para pajear o cara, que tem um histórico de problemas com mulheres, e completa o núcleo principal o milionário (Bill Murray, de O Grande Hotel Budapeste, 2014) que emprega o protagonista.

O elenco de Sob o Mesmo Céu, que não traz ninguém que lembre minimamente o tipo havaiano, é muito bom, e muito desperdiçado também. O único que consegue um momento interessante é John Krasinski (de Terra Prometida, 2012), com roteiro bem inspirado em Woody Allen, e outros atores entram e saem sem propósito. E assim pode ser descrita a trama, cheia de buracos e situações duras de engolir, que servem apenas à conveniência do texto. A impressão que fica é que existia uma ideia básica, mas não havia liga alguma, com várias partes espalhadas que Crowe não teve muito jeito para reunir. Ao contrário de Tomorrowland, ele merece as vaias, e seguimos na torcida pela recuperação rápida e definitiva do diretor.

Nem Bill Murray se salva nesse Aloha

Nem Bill Murray se salva nesse Aloha

Publicado em Estréias, Filmes, Indicações | Com a tag , , , , , , , , | Deixe um comentário

Homem-Formiga encerra a fase dois da Marvel

por Marcelo Seabra

Ant-Man Banner

Encerrando a fase dois do Universo Marvel no Cinema, o Homem-Formiga (Ant-Man, 2015) estreia trazendo um personagem classe D num longa divertido e charmoso como poucos do estúdio. Dando um jeito de fazer sentido, mesmo com algumas características esdrúxulas, e conseguindo se inserir bem junto aos demais longas de heróis, o personagem consegue seu espaço e cria expectativa por uma sequência, algo inevitável para os padrões de hoje. O resultado é um dos melhores que esse universo já conseguiu, mesmo tendo o menor orçamento.

Assim como a estrutura de Capitão América 2 (2014) se assemelha a uma trama de espionagem, Homem-Formiga é exatamente um filme de assalto. Algo como um Onze Homens e Um Segredo (Ocean’s Eleven, 2001) ou um Crown, O Magnífico (The Thomas Crown Affair, 1968 e 1999) com poderes diferenciados. O protagonista, Scott Lang, é um assaltante saindo da cadeia, pronto a recomeçar sua vida e a se reaproximar de sua filha pequena. A ex-mulher está noiva de um policial e os três já formam uma família feliz, sem precisar do pai natural da menina. Se acertar e arrumar um emprego são fundamentais para Scott. Mas, apesar de ter mestrado em engenharia elétrica, a vida não é fácil para um ex-detento. Mesmo tendo vários atenuantes que mostram o tanto que Scott é um ladrão bonzinho, o que ele próprio chega a afirmar.

Ant-ManA Marvel tenta criar uma personalidade para seus personagens, algo além do básico que já conhecemos ou deduzimos. Para alguns, isso funciona melhor do que para outros, mas é o suficiente para comprarmos a ideia e entrarmos na história. Lang é encontrado por um cientista aposentado, Hank Pym, e recebe uma proposta: dar nova vida ao Homem-Formiga, espécie de espião minúsculo que o próprio Pym viveu em sua juventude usando a roupa que ele criou. Diminuindo a distância entre átomos, ele consegue reduzir qualquer matéria ao tamanho de um inseto, aumentando a força e a resistência no caso de um ser humano. A ameaça a ser neutralizada é um outro cientista, antigo pupilo de Pym, que está perto de conseguir o mesmo feito e que pretende vender o segredo a grupos paramilitares criminosos.

Ant-Man Rudd

Esse fiapo de história serve para que o roteiro crie várias piadas e situações engraçadas, colocando este filme num tom bem próximo de Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy, 2014). No início do projeto, Edgar Wright e Joe Cornish, parceiros de longa data (de As Aventuras de Tintim, Chumbo Grosso etc), estavam contratados como roteiristas e Wright iria dirigir. Com tudo encaminhado, eles saíram e coube a Paul Rudd e Adam McKay fazerem acertos e até mudarem passagens inteiras. E o novo diretor, Peyton Reed (de Sim Senhor, 2008), ajudou a misturar mais elementos. Milagrosamente, o produto final não ficou a zona que poderia se esperar. Pelo contrário: dosando bem graça e ação, o longa prende o espectador, que acaba relevando algumas inconsistências.

Na função de dupla principal, a Marvel mais uma vez acertou em suas escolhas inusitadas. Assim como Chris Pratt em Guardiões, Paul Rudd (de Bem-Vindo aos 40, 2012) é normalmente associado a comédias discretas, e não a superproduções milionárias de aventura. Os dois inclusive eram colegas na série Parks and Recreation, sucesso da TV finalizado este ano. Rudd faz um ótimo trabalho como Lang, com leveza e um jeito descolado, e nos faz acreditar na trajetória do herói. E é um ótimo contraponto à sobriedade e experiência de Michael Douglas (de Minha Vida com Liberace, 2013), que passa por um minucioso trabalho de maquiagem para viver Hank Pym em duas fases distintas.

Ant-Man duo

Algumas modificações na história do Homem-Formiga podem desagradar os fãs mais extremados, mas estas adaptações são essenciais para que o material funcione em outra mídia e outra época. E não haveria tempo para contar a história de cada um, já que, nos quadrinhos, Pym é o Homem-Formiga original, membro fundador dos Vingadores, e Lang se torna o herói ao roubar a roupa. A dinâmica entre os atores funciona muito bem e Douglas traz um peso fundamental, servindo como centro gravitacional para Rudd, Evangeline Lilly (a Tauriel de O Hobbit), que vive a filha do cientista, e Corey Stoll (de Lugares Escuros, 2015), o vilão Darren Cross. E o elenco de apoio se dá o luxo de trazer gente competente como Judy Greer (de Jurassic World, 2015), Bobby Cannavale (de Blue Jasmine, 2013), Martin Donovan (de Sabotagem, 2014) e Michael Peña (de Corações de Ferro, 2014), além de alguns rostos conhecidos do Universo Marvel.

Homem-Formiga já chega aos cinemas com críticas positivas das primeiras sessões e de fato merece os elogios. O problema recorrente no Universo Marvel é o fato de todos os filmes parecerem apenas parte de algo maior, como as esperadas cenas escondidas (há duas) reforçam. É como se estivéssemos vendo apenas episódios de uma série, e sempre há mais, estamos sempre na expectativa do que virá a seguir. Assim como James Gunn com Guardiões, Peyton Reed conseguiu fazer um grande episódio, que se sustenta sozinho e se encaixa bem no todo. E o próximo diretor novato na Marvel é Scott Derrickson (de Livrai-nos do Mal, 2014), que vai filmar Doutor Estranho a partir de novembro.

Ant-Man Comic Con

O elenco e o diretor foram à Comic Con!

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes, Indicações, Quadrinhos | Com a tag , , , , , , | 1 Comentário