Spectre fecha o arco de Daniel Craig

por Marcelo Seabra

Spectre poster

Um agente secreto agindo sozinho, por conta própria, descobre a existência de uma grande organização criminosa e, na missão de desbaratar o grupo e pegar o líder, só pode contar com os colegas mais fiéis, que arriscam suas carreiras. Ao mesmo tempo, seu superior deve lutar para que o governo não acabe com a própria companhia que os emprega. Poderíamos estar falando de Missão: Impossível – Nação Secreta (Mission: Impossible – Rogue Nation, 2015), mas essa acontece de ser também a trama de 007 Contra Spectre (Spectre, 2015), nova aventura do espião mais famoso do Cinema.

Depois de realizar o fantástico Skyfall (2012), o diretor Sam Mendes voltou ao universo de Ian Fleming com a aparente intenção de homenagear a série. Algumas cenas e sequências remetem a outros episódios, até o figurino do vilão parece escolhido com essa intenção. Os mesmos três roteiristas, John Logan, Neal Purvis e Robert Wade, criaram a história e contaram com Jez Butterworth (de James Brown, 2014) para finalizar o texto. A homenagem já começa da premissa: a S.P.E.C.T.R.E. é uma organização clássica que já esteve por trás de muitos problemas vividos por James Bond. E retomar esse tom mais fantasioso derruba a ideia de deixar Bond mais próximo de real, como vinham fazendo os filmes anteriores. Este novo segue tentando humanizar Bond, mas se confunde em vários momentos e volta a mostrar um personagem raso, que serve às necessidades do roteiro.

SPECTRE Oberhauser Swann

Daniel Craig se diverte vivendo situações absurdas e passa muita segurança no papel, liderando um bom elenco. A mocinha da vez é vivida por Léa Seydoux (do quarto Missão: Impossível) e o que vai acontecer com ela é bastante previsível, e inclusive repete muito uma outra bond girl recente. E o vilão, o sujeito por trás da Spectre (cujo nome não é tratado como uma sigla, mas como um substantivo), é Christoph Waltz (de Django Livre, 2013), em mais um personagem educado, inteligente e sádico, como tantos outros de sua carreira, correndo um risco enorme de ficar estereotipado. Ele dá a impressão de ser muito mau, mas apenas nos levam a crer nisso, relatando seus feitos. A verdade é que ele é mal aproveitado e se torna apenas mais um megalomaníaco padrão. Apesar da tentativa de lhe dar um histórico, suas motivações nunca são reveladas. E coincidências do passado soam como forçar a barra além da conta. A forma como tudo é amarrado é interessante e nos dá uma sensação de unidade, de que tudo foi pensado desde o início, mas se conclui de forma fraca.

Personagens geralmente relegados a segundo plano têm a chance de participar mais ativamente. Um exemplo é M (o ótimo Ralph Fiennes, de O Grande Hotel Budapeste, 2014), que tem uma subtrama só para ele, duelando contra o suspeito C (Andrew Scott, de Sherlock) para proteger o programa 00. E Q (Ben Whishaw) e Moneypenny (Naomie Harris) partem para a ação para ajudar Bond. Outras novidades, além das já mencionadas, respondem por Monica Bellucci (de As Idades do Amor, 2011) e Dave Bautista (de Guardiões da Galáxia, 2014), fechando o grupo principal.

Uma característica marcante de 007 é a música-tema. A mais recente, Skyfall, deu a Adele e à franquia um Oscar. Era de se esperar algo na mesma altura. E nos deparamos com um certo Sam Smith sofrendo horrores em sua interpretação de Writing’s on the Wall, nos torturando com seu falsete. E o instrumental, nada memorável, é provavelmente o mais discreto das últimas músicas. É engraçado perceber que os temas da “era Craig”, se organizados por qualidade, ficariam na mesma ordem que os filmes: Cassino Royale (2006) e Skyfall à frente, Quantum of Solace (2008) em último e este Spectre no meio do caminho. Resta saber se Craig honra seu contrato e faz mais um ou se ele pula fora, já que “prefere cortar os pulsos a fazer mais um James Bond”, como afirmou publicamente.

Mendes, no meio, apresenta seu elenco

Mendes, no meio, apresenta seu elenco

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Mineiros e espiões contam suas histórias no Cinema

por Marcelo Seabra

Bridge of Spies

Dois longas atualmente em cartaz partilham características: são baseados em fatos e dão uma leve exagerada no melodrama. Mesmo com essa ressalva, ambos conseguem atingir bons resultados, cada um com seus méritos. Ponte dos Espiões (Bridge of Spies, 2015) tem o peso de seu diretor, Steven Spielberg, e de seu protagonista, Tom Hanks, e faz um retrato mais realista e menos excitante dos agentes da Guerra Fria, que usavam mais a caneta do que armas. E Os 33 (The 33, 2015) dramatiza a saga dos mineiros chilenos que ficaram presos em uma mina após um desabamento. Dois episódios fortes que não precisavam de tantos discursos, closes e trilhas sentimentais para emocionar o público.

Não é de hoje que Spielberg faz escolhas perigosas. Ao mesmo tempo em que ele cria passagens memoráveis, divertidas e tensas, outras ficam bem além da conta no quesito apelação, feitas para fazer chorar. Há algumas amostras nesse Ponte dos Espiões, e incomodam um pouco. Mas há várias compensações, a começar pela atuação de Hanks. Seguro como sempre, ele confere a seu personagem a hombridade necessária. Ele parece ser a única pessoa correta em meio a uma turba enfurecida que pretende condenar um suspeito de espionagem russo. É uma surpresa agradável ver a maturidade do diretor ao não ter medo de mostrar o povo americano de forma tão negativa.

Bridge of Spies scene

A trama básica do longa envolve um espião russo que é preso em solo americano, um trabalho belíssimo do veterano Mark Rylance (de O Franco-Atirador, 2015). O Coronel Abel é um homem metódico, calmo, até bem humorado, principalmente naquelas circunstâncias. James Donovan (Hanks) é um advogado que lida com seguros apontado pelo sócio sênior do escritório para defender o russo. A CIA pretende mostrar para a opinião pública que o julgamento foi correto e a justiça foi feita. O problema é que Donovan leva a tarefa a sério, quase como um Atticus Finch (de O Sol É Para Todos, 1962), tornando-o o segundo homem mais odiado da América – atrás apenas de Abel. As cenas entre os dois atores são o ponto alto do filme. Dois patriotas sensatos em lados opostos de uma guerra fria.

Se, no início, acompanhamos um drama de tribunal, logo acompanharemos uma negociação, e as coisas se tornam ainda mais interessantes. O filme vira uma aula de argumentação e, apesar de ter um ritmo mais lento, não cansa, sempre mantendo o interesse do público. Por isso, engolimos uma cena ou outra mais boba e a trilha de Thomas Newman, que insiste em querer guiar as emoções do espectador, caindo na obviedade. A fotografia do parceiro habitual Janusz Kaminski abusa de takes noturnos e na chuva, além do frio alemão, o que acaba proporcionando umas imagens bonitas.

The 33

O outro longa a trazer uma legenda nos informando ser uma história real, Os 33, é baseado num fato recente que muitos acompanharam pela televisão. Uma mina de cobre no vilarejo de Copiapó, no deserto de Atacama, desabou e prendeu 33 mineiros a 700 metros de profundidade. O resgate era uma missão quase impossível e tudo foi relatado pelo jornalista Héctor Tobar no livro que ganhou esta adaptação. A mexicana Patricia Riggen (de Garota em Progresso, 2012) assina a obra e trouxe dois grandes nomes para atrair atenção: Antonio Banderas e Rodrigo Santoro. Não que o elenco se restrinja a eles, mas são de fato os principais.

Desde o início, conhecemos os traços básicos da personalidade dos membros mais importantes do grupo, o que permite um mínimo de identificação. Uma vez que o incidente ocorre e os trabalhadores ficam presos, somos apresentados ao representante do governo que vai intermediar a situação. Banderas (de Os Mercenários 3, 2014) assume a liderança entre os mineiros e Santoro (de Golpe Duplo, 2015) é o porta-voz do presidente (vivido por Bob Gunton, de Demolidor). Outros nomes famosos presentes são os de Juliette Binoche (de Godzilla, 2014), Gabriel Byrne (de Vikings), James Brolin (de Amor por Acidente, 2015) e o sumido Lou Diamond Phillips (de Longmire). Tantas nacionalidades diferentes reunidas, personagens chilenos e a língua que ouvimos é o inglês. Isso causa muita estranheza.

Assim como em Ponte dos Espiões, em Os 33 temos uma trilha sentimental inadequada, discursos de bom mocismo e closes heróicos. Mas a história é poderosa o suficiente para segurar essas derrapadas, o elenco funciona muito bem, a fotografia do deserto, com suas cores quentes, é utilizada de maneira acertada. Muita coisa conta a favor para que o resultado fique positivo.

Santoro é campeão de discursos e closes

Santoro é campeão de discursos e closes

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Ridley Scott leva Matt Damon a Marte

por Marcelo Seabra

The Martian poster

O sempre carismático Matt Damon se uniu ao renomado Ridley Scott para levarem ao Cinema Perdido em Marte (The Martian, 2015), adaptação do elogiado livro de Andy Weir. Felizmente, essa mistura de talentos deu como resultado um filme que consegue ser leve, tenso e inteligente ao mesmo tempo, sendo um dos melhores das carreiras dos envolvidos. E é provavelmente uma das obras mais otimistas de Scott, que parece ter superado a perda do irmão e deixou de lado temporariamente seus temas mais sombrios.

Como no livro, o roteiro é bem detalhista. Chega a dar a impressão de ser baseado em fatos, tamanha é a riqueza de informações. Drew Goddard, criador e roteirista da série do Demolidor, adaptou o texto original, que nos apresenta a uma equipe de astronautas, cada um com uma especialização, que vai a Marte. No meio de uma tempestade de areia fortíssima, eles são obrigados a bater em retirada e um membro acaba ficando para trás. Dado como morto, Mark Watney (Damon) consegue sobreviver apenas para descobrir que dificilmente conseguirá aguentar muito tempo naquele lugar inóspito.

The Martian cast

Aplicando seus conhecimentos em botânica, Watney vira uma espécie de MacGyver do espaço, cultivando vida e, ao mesmo tempo, esperança. Enquanto acompanhamos suas peripécias, temos o time que segue para a Terra na nave e o pessoal da NASA que ainda não sabe que o colega sobreviveu. Trabalho em equipe é uma constante, tanto embaixo quanto em cima. Acompanhar personagens inteligentes tomando boas e bem pensadas decisões é sempre um alívio, visto que muitas vezes em outras produções chuta-se a coerência pro lado apenas para o roteiro poder andar. E não precisamos saber muito sobre cada personagem para nos importarmos com ele, todos são apresentados de forma crível o suficiente.

É interessante notar o bom humor em uma ficção-científica, já que muitas são sisudas e entram em aspectos filosóficos, tratando da existência humana, do futuro do planeta e afins. Prometheus (2012), do próprio Scott, vai por esse caminho, mas tanto Cloverfield (2008) quanto Guerra Mundial Z (World War Z, 2013), roteirizados por Goddard, se agarram mais à sobrevivência de seus protagonistas, o que também observamos com Watney. Ele mantém sua sanidade mesmo quando as coisas dão errado, e imprevistos não faltam, trazendo bastante drama à trama. Mesmo assim, a leveza permanece. Ainda mais com o ótimo uso da trilha sonora, dentro e fora da realidade do astronauta. Temos clássicos da Disco Music ouvidos pelo próprio Watney, além de outras músicas populares, como David Bowie, pontuando momentos importantes.

Além de Damon, totalmente à vontade no papel, temos sua companheira de Interestelar (2014), Jessica Chastain, como capitã da nave. Ela é forte, justa e decidida, como uma Jeff Danielsmulher do Cinema deve ser – e poucas o são. Outro destaque, em meio a tanta gente boa (como Chiwetel Ejiofor, Aksel Hennie, Sean Bean, Kate Mara e Sebastian Stan), é Jeff Daniels (de The Newsroom – ao lado). Ele faz um possível vilão, alguém que precisa tomar medidas difíceis, e o ator consegue passar longe de qualquer estereótipo para criar um sujeito real, que dá a cara a tapa por ser o responsável pela NASA e zelar pela reputação da instituição.

Com uma combinação tão feliz, Perdido em Marte é bom entretenimento e consegue ser muito mais perspicaz a ágil que boa parte das produções lançadas anualmente. E o público parece ter descoberto isso, já que o longa acumula quase U$ 400 milhões de bilheteria pelo mundo. O orçamento, de U$ 108 milhões, foi mais do que coberto, e Scott cumpriu sua missão, voltando à boa forma pela qual é lembrado.

O diretor se junta a seu astro no suposto terreno de Marte

O diretor se junta a seu astro no suposto terreno de Marte

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Del Toro leva terror à Colina Escarlate

por Lígia Freitas e Marcelo Seabra

Crimson Peak

Ao observar as descobertas da doce Alice Kingsley no criativo longa de Tim Burton, baseado no clássico de Lewis Carrol, imaginávamos ter visto toda a coragem de Mia Wasikowska em cena. Ledo engano. A Colina Escarlate (Crimson Peak, 2015) nos mostra que ela estava apenas se aquecendo, ganhando fôlego para interpretar a sofrida Edith Cushing no novo trabalho de Guillermo del Toro. O diretor faz uma homenagem aos clássicos do terror, à Os Inocentes (The Innocents, 1961), abusando de contrastes e sombras, aparentemente mais preocupado com a forma que com o conteúdo.

O filme nos transporta para o século XIX, quando nos encantamos por Edith, uma americana aspirante a escritora que, logo de início, nos mostra que pouco tem de Jane Austen e mais de Mary Shelley. Ou, pelo menos, é isso que a narrativa inicialmente nos faz crer. Após enfrentar a morte da mãe quando criança, ela passa a vivenciar fenômenos sobrenaturais, deparando-se com a presença de uma entidade assombrosa, talvez a mãe, que a pede para manter distância da colina escarlate, mensagem até então indecifrada.

Passados alguns anos, Edith tenta, em vão, que sua obra dramática de ficcção seja aceita pelos homens encarregados do mundo em pleno século XIX, que sugerem que deve haver mais romance em suas linhas. Fantasmas, que servem de metáfora para o passado, não vendem – ao menos, se escritos por uma mulher. Para que sua caligrafia feminina não a denuncie, ela pede ao pai, um influente e nobre construtor (Jim Beaver, da série Supernatural), para usar a máquina de datilografar do escritório. Lá, encontra aquele que personificaria todo o seu ideal romântico pueril: Thomas Sharpe (Tom Hiddleston, o Loki da Marvel), jovem do norte da Inglaterra, inventor que carece de investimentos. A irmã, Lucille Sharpe (Jessica Chastain, de O Ano Mais Violento, 2014), é uma misteriosa – e mal humorada – pianista que está sempre por perto.

Crimson Peak siblings

A reclusa Edith cede à tentação, aceita ir a uma festa com Thomas e provoca inveja no mulheril presente, além da ira de Lucille, ao dançar com ele uma delicada e autêntica valsa à moda europeia. A partir daí, uma sucessão de fatos tão tristes como estranhos levam a agora Sra. Sharpe, não mais Srta. Cushing, ao norte inglês, à mansão decadente dos nada usuais irmãos. Com sua veia investigativa, a garota começa a descobrir o que não deve. O barro vermelho do terreno da Colina Escarlate circunda a vida e morte da família Sharpe. O uso do vermelho é uma associação clara à tragédia.

Com efeitos visuais, música marcante, figurinos, vocabulário e ambientação, o longa convence, especialmente quanto à caracterização da época em que se passa a trama. O filme busca elementos temáticos presentes na obra de del Toro, como o surreal, o impressionante e o incomum, já anteriormente vistos em Hellboy (2004) e O Labirinto do Fauno (Pan’s Labyrinth, 2006). E não poderia faltar o mímico Doug Jones, dando vida à criatura fantasmagórica. Na fotografia, efeitos visuais e na interpretação de Hiddleston, o filme é “mais”, convence. Mesmo que o ator assuma demais uma postura de coitadinho e seu personagem não tenha muita coerência.

Crimson Peak house

O tom gore-gótico do filme retoma um pouco do gênero terror de antigamente, onde o sangue se mistura muitas vezes com a própria terra de cor carmim, ressaltada pela aparência gélida do local. Não deixa de ser uma referência à intrínseca raiz violenta da família de Thomas e Lucille e à estranha relação entre eles. O clima lembra o também requintado A Mulher de Preto (The Woman in Black, 2012), mas com uma história bem menos interessante, sem surpresas, requentando o velho número da casa assombrada. Mama (2013), também produzido pelo mexicano, conseguiu ir mais longe nessa mesma vizinhança. A dupla do roteiro, coescrito por Matthew Robbins, é a mesma do fraco Não Tenha Medo do Escuro (Don’t Be Afraid of the Dark, 2010), se repetindo mais uma vez.

Embora “mais” no visual, o roteiro é “menos” nas escolhas feitas pelos personagens e pelo compasso, muito acelerado, mas vazio de acontecimentos. Os sentimentos provocados no público acabam por ser frágeis, pois em determinado momento começamos a nos questionar onde estaria aquela força feminina de Edith, ofuscada pelo amor fulminante dedicado a Thomas Sharpe. Sentimento este aos nossos olhos tão raso quanto a interpretação de Jessica Chastain, que mal convence como vilã, sem conseguir escapar da fórmula. Charlie Hunnan (de Círculo de Fogo, 2013) é outro castigado, vivendo uma figura quadradinha.

Onde o filme é “mais”, é mais da mesma lição já há muito aprendida: temer pouco os mortos, mais os vivos.

Crimson Peak posters

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O futuro chegou!

por Marcelo Seabra

BTTF poster

Além dos 30 anos do lançamento de De Volta para o Futuro (Back to the Future, 1985), comemorados este ano, estamos hoje no dia em que, na segunda parte, a dupla de protagonistas chega ao futuro: 21 de outubro de 2015!

Muito está sendo comentado nas redes sociais, sites e até programas de televisão já se dispuseram a analisar o que daquele futuro se tornou realidade e o que ainda está longe de acontecer.

Focando nos três filmes da série, gravamos um podcast especial que já está disponível no Cinema em Cena. Curiosidades, análises e tudo o mais, com o Pipoqueiro e a equipe CeC.

Clique aqui para ouvir o podcast!

BTTF

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Zemeckis cruza os céus com A Travessia

por Marcelo Seabra

The Walk

Em 1974, o artista francês Philippe Petit realizou um feito que é conhecido até hoje como o maior crime artístico do século: ele andou entre as duas torres do recém-inaugurado World Trade Center em um cabo. Petit reuniu um grupo de amigos que foi para Nova York, estudou a situação e montou tudo sem nenhuma autorização oficial, ferindo um bocado de leis e colocando a população lá embaixo em êxtase. Depois de ser contado em um documentário premiado, o fato agora ganha uma dramatização ficcional com cara de Oscar: A Travessia (The Walk, 2015), que está nos cinemas.

Diretor de obras amadas como a trilogia De Volta para o Futuro e Forrest Gump (1994), Robert Zemeckis imprime na história um tom de fábula, como é comum em sua obra. A diferença é que trata-se de uma história real, ao contrário, por exemplo, do recente O Voo (Flight, 2012), que também narra uma façanha improvável. Baseado no livro do próprio Petit, o roteiro explora bem seu protagonista, construindo uma história interessante que acompanhamos até chegar ao momento mais esperado. Conhecemos o passado do sujeito, suas motivações e o caminho percorrido para chegar aonde chegou. O tom descontraído e até engraçado vai dando lugar à tensão do clímax, deixando aflito até quem conhece a história. Parece um filme de roubo, a condução segue a mesma estrutura, mas ninguém rouba nada.

Philippe Petit

Quem dá vida a Petit (acima) é Joseph Gordon-Levitt (de Sin City: A Dama Fatal, 2014), ator que tem construído uma carreira interessante, com projetos bem variados. Duas coisas causam certa estranheza: a maquiagem à Looper (2012) que o deixa bem diferente, completada por um cabelo de cuia que o aproxima bem da aparência de Petit, e o uso do francês, que nos faz questionar se não teria sido melhor recrutar um ator que tivesse o idioma como língua nativa. Uma vez vencidos estes dois pontos, conseguimos entrar de cabeça na trama. Os demais membros do elenco também fazem um bom trabalho, mesmo que seus personagens não sejam tão bem desenvolvidos e acabem se confundindo entre si. Sir Ben Kingsley (de Êxodo: Deuses e Reis, 2014) é o principal nome, vivendo o mentor de Petit, outro com sotaque estranho.

Como é costume para Zemeckis, temos tomadas e ângulos fantásticos que não só nos dão todas as informações necessárias, como de um ponto de vista criativo. A fotografia, de Dariusz Wolski, nos proporciona cenas de tirar o fôlego, nos colocando no alto, junto com Petit. A caracterização da época é bem rica, o que nos transporta para aquele cenário. E a trilha sonora de Alan Silvestri completa a experiência, alternando entre temas mais clássicos e discretos e os mais agitados, jazzísticos, que combinam muito bem com a ação. Para quem não conhecia a história, que não assistiu a O Equilibrista (Man on Wire, 2008), A Travessia pode ser ainda mais instigante. E ainda serve como uma bela homenagem ao World Trade Center, que é praticamente um personagem.

Gordon-Levitt, Zemeckis e Petit nos sets, em Montreal

Gordon-Levitt, Zemeckis e Petit nos sets, em Montreal

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Peter Pan ganha nova vida na tela grande

por Marcelo Seabra

Pan

Quando parecia não haver mais jeito de levar Peter Pan às telas, vem Hollywood com uma prequel contando as origens do garoto, que vira uma mistura de super-herói com Neo, o predestinado de The Matrix (1999). E lembra o recente Drácula – A História Nunca Contada (Dracula Untold, 2014), já que revela fatos que até então eram desconhecidos pelo simples motivo de terem sido inventados agora. Este novo Peter Pan (Pan, 2015) cria um punhado de elementos para a mitologia do garoto que deixaria J.M. Barrie com a impressão de não conhecer sua própria criação.

Usando como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial, o longa parte para uma abordagem sombria, mostrando Peter (Levi Miller – abaixo) e diversos outros garotos órfãos sofrendo nas mãos de uma cruel diretora de orfanato. No momento em que pessoas descem por uma corda do teto do lugar para sequestrar crianças, você percebe que toda aquela seriedade foi pro espaço. Literalmente! Um navio voador os leva embora para a Terra do Nunca, cuja localização desconhecemos. Uma série de improváveis coincidências faz com que Peter fique cara a cara com o impiedoso pirata Barba Negra (Hugh “Wolverine” Jackman), o responsável pelo trabalho escravo de milhares de pessoas, predominantemente crianças, nas montanhas e paredes da Terra do Nunca.

Pan Miller

Arranhando a questão da escravidão bem de leve, o roteiro de Jason Fuchs (de A Era do Gelo 4, 2012) faz uma mistura louca de piratas, fadas, rebeldes da floresta que devem proteger as fadas dos piratas – por algum motivo – e diversas outras situações que ficam muito mal explicadas e aparecem quando é conveniente. Há muita explicação para umas coisas e nenhuma para outras, o que fica além ou aquém do ideal, nunca na dose certa. A predestinação de Peter deixa tudo muito previsível e enfraquece o personagem, que deveria ser apenas mais um “garoto perdido”, mas agora tem um passado.

Um conceito comum em história em quadrinhos é empregado aqui: o de que heróis e vilões podem ter sido amigos e algo os levou a direções opostas, o que M. Night Shyamalan fez muito bem em Corpo Fechado (Unbreakable, 2000). Peter e James Hook (ou Gancho, vivido por Garrett Hedlund, de Na Estrada, 2012) se aliam contra Barba Negra (abaixo) e, apesar da relutância do adulto, criam uma bela amizade. As ações de Hook tornam cada vez mais improvável uma mudança drástica de rumo, já que sabemos aonde ele tem que chegar. E, assim como em qualquer pré-continuação, sabemos que os personagens novos terão que sumir de alguma forma, o que pode criar outro problema.

Pan Jackman

Com um histórico de dirigir dramas pesados, como Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 2005) e Anna Karenina (2012), Joe Wright se arriscou na ação com Hanna (2011) e agora mergulhou na aventura. Com tantos efeitos especiais, e ainda com o uso do 3D, o diretor fica um pouco sem foco, e algumas cenas são até difíceis de entender. Para os atores, ele define um tom caricato, teatral, que constantemente soa forçado. Enquanto Hedlund parece sempre tentar ser um galã de segunda, daqueles canastrões, Jackman está freneticamente exagerado. Rooney Mara (de Ela, 2013), que vive a princesa da floresta, parece um bichinho acuado. E não nos esqueçamos da ridícula freira má do orfanato, interpretada por Kathy Burke (de O Espião Que Sabia Demais, 2011). Apenas o garoto Miller, praticamente um estreante, está seguro de maneira adequada. Amanda Seyfried (de Ted 2, 2015) quase entra muda e sai calada, e é exatamente isso que Cara Delevingne faz – indo das Cidades de Papel (Paper Towns, 2015) para o mar.

A história de vida de J.M. Barrie levou à realização de Em Busca da Terra do Nunca (Finding Neverland, 2004), revelando a possível inspiração para seu personagem mais conhecido. E Peter já ganhou animações, longas, séries e desenhos de TV e até a imaginativa sequência Hook – A Volta do Capitão Gancho (1992), com Robin Williams no papel, em uma versão adulta. Só faltava mesmo uma prequel, e está na moda contar origens. Só que Fuchs misturou elementos de várias histórias de Barrie, inventou outros e não soube costurar.

Pan cast

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Novas séries são derivadas do Cinema

por Marcelo Seabra

Minority Report

No Cinema, o número de sequências, remakes e outros diversos tipos de obras não originais já é grande há algum tempo. E o fenômeno da repetição tem chegado forte à TV também, com séries baseadas em conceitos anteriormente desenvolvidos em filmes. Dois exemplos recentes são Minority Report e Limitless,  que partem de onde seus irmãos mais velhos pararam, tentando manter o interesse mesmo que sobre algo que já conhecemos. Ambas têm tramas que se passam após os eventos conhecidos, procurando expandir seus universos.

Baseado num conto de 1956 de Philip K. Dick, o filme Minority Report (2002) chamou bastante atenção não só por seu ótimo elenco, capitaneado por Tom Cruise, mas pelas ideias apresentadas. A polícia daquele futuro conseguia prender os criminosos antes do crime acontecer, apoiando-se nas previsões de três jovens videntes – os PreCogs – que eram mantidos presos e sedados. A série acompanha exatamente esses três, que foram libertados em segredo após o fim do programa de prevenção, sem qualquer registro, documento ou ficha policial.

Minority Report coupleDash (Stark Sands, de Inside Llewyn Davis, 2013) era tido como o PreCog menos poderoso, aquele que pegava as peças que passaram direto nas visões dos outros dois, complementando. E ele é o nosso protagonista, alguém que não consegue ficar longe sabendo que pode ajudar (como Agatha, vivida por Laura Regan) e muito menos pensa em lucrar com seu talento (como Arthur, interpretado por Nick Zano, de 10 Anos de Pura Amizade, 2011). Como ele não consegue todas as informações necessárias, está sempre chegando atrasado em alguma cena de crime. É aí que entra a policial Lara Vega (Meagan Good, de Tudo por um Furo, 2013), que tenta alistar Dash em sua luta contra o crime (na foto acima, Good e o colega Wilmer Valderrama).

Como não há nenhuma novidade realmente importante que a série possa trazer, a impressão que fica é que o bando de roteiristas inventa o crime da semana a ser resolvido enquanto pensa em inovações tecnológicas para manter o interesse do público. Afinal, a ação se passa cinquenta anos no futuro, é preciso inventar muita coisa. Quando isso falha, ou não é o bastante, sempre pode-se apelar aos atributos físicos de Good, colocando-a em roupinhas apertadinhas, como se isso fosse o suficiente para manter a audiência. No fim, é apenas mais uma série de procedimentos policiais, com investigações, crimes escabrosos e uma subtrama que vai se arrastar até o final da temporada, quiçá da série.

Limitless

Melhor sucedida foi Limitless, que conseguiu usar o NZT-48 para criar mais personagens. Não se trata mais do “crime da semana”, mas de descobrir quem criou essa fantástica droga e tudo o mais que a envolve. Eddie Morra, que Bradley Cooper viveu no longa Sem Limites (2011), agora é senador, e não é ele que acompanhamos, mas Brian Finch (Jake McDormand, de Sniper Americano, 2014), um sujeito normal que ganha um comprimido de NZT-48 de um amigo e se vê envolvido em assassinatos. Ele precisa provar sua inocência e conseguir mais comprimidos, já que ninguém que experimenta esse nível de consciência quer voltar para trás.

Limitless MorraAssim como em Minority Report, temos o cara se unindo a uma autoridade feminina, no caso uma agente do FBI (Jennifer Carpenter, nossa eterna Debra Morgan de Dexter). Ele pretende usar a ajuda do bureau, que por sua vez vai manipulá-lo para chegar ao que estão buscando. Morra, que pode vir a ser o próximo presidente dos Estados Unidos, também tem seus planos para Finch, que fica no meio desse fogo cruzado, o que pode levar a disputas interessantes.

Há um aplicativo que faz o celular atuar como controle remoto, o Peel Smart Remote App, que capta quanto tempo a pessoa insistiu em determinado programa. Na temporada passada de estreias, os seriados que conseguiam segurar os espectadores por um mínimo de 15 minutos tiveram sucesso. Essa passou a ser mais uma ferramenta para medir níveis de audiência, e ela já indica a superioridade de Limitless em relação a Minority Report, que não deve sobreviver para uma próxima fornada. E nem precisava de muita tecnologia, essa é a conclusão que chegamos ao assistir aos primeiros episódios de cada uma.

O elenco de Minority Report promoveu a série na Comic Con

O elenco de Minority Report promoveu a série na Comic Con

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Mais uma possessão dá errado

por Caio Lírio

The Possession of Michael King posterO que é preciso para levar ao público um filme de terror de sucesso? Bons efeitos visuais? Uma história inovadora e envolvente (muitas vezes vendida como fruto de acontecimentos reais)? Uma fotografia soturna, precisamente prejudicada pelo já famoso e exaustivamente utilizado formato “found-footage” (filmagens encontradas dando à produção falso aspecto de veracidade)?  Bom, em A Possessão do Mal (The Possession of Michael King, 2014), o diretor e roteirista estreante David Jung parece atirar para todos esses lados, mas em poucos momentos consegue acertar ou convencer, nos oferecendo um longa que, além de ser mais do mesmo, mergulha em clichês do gênero, como o título nacional já indica.

Na história, Michael King (Shane Johnson) é um documentarista extremamente cético, que não acredita em espiritismo, religião, muito menos em paranormalidade. Mas, com a morte trágica da sua esposa, Samantha (Cara Pifko), ele decide realizar seu novo projeto relacionado à busca da existência de forças ocultas e sobrenaturais. Michael, então, vai atrás de vários “especialistas” no assunto e ele mesmo se oferece como cobaia para diversos rituais pagãos na intenção de provar a todos que tudo aquilo não passa de mentiras. A coisa sai do controle (claro) quando aquilo que ele menos acredita acontece e uma força maligna se apodera do seu corpo, provocando graves consequências.

The Possession of Michael King scene

A princípio, o argumento é bastante interessante e renderia ao expectador uma história instigante, mesmo já tendo sendo vista em várias outras tramas. Um ateu convicto que não acredita em Deus ou qualquer força sobrenatural, mas que vai buscar respostas justamente na figura do demônio para superar a morte da esposa. Porém, parece que Jung não se deu ao trabalho nem de criar tensão ou fator surpresa. Ao invés de mostrar a gradual possessão de Michael ou simplesmente deixá-lo mais tempo em tela para entrevistar outros especialistas e, assim, mostrar pontos de vista interessantes entre opiniões de religiões diferentes sobre o assunto, logo no início, mal dá tempo pro público perceber se o protagonista foi realmente subjugado por algo ruim ou simplesmente está sob efeito das drogas utilizadas nos rituais macabros aos quais ele se submete.

Claro que a intenção não é dar uma aula sobre ateísmo ou ocultismo, mas uma mera desculpa para mostrar o documentarista gritando em frente às câmeras e se transformando num assassino em potencial. A partir daí, uma chuva de clichês recorrentes em filmes de possessão demoníaca aparece, o que diminui ainda mais a promessa de um filme inovador. Acordes altos surgem do nada para fazer os mais desavisados pularem de susto nas poltronas – um recurso barato e infelizmente ainda usado à exaustão e de maneira gratuita nessas projeções. O cineasta também não se dá ao trabalho nem de inovar nos movimentos de câmera para criar a tensão e suspense que todo filme de terror deve fornecer. Shane Johnson se mantém até convincente em mostrar a transformação física e psicológica de Michael, tendo em vista que está em quadro em quase todo o filme, mas não é suficiente para mascarar os defeitos do longa.

O que mais chama atenção negativamente na projeção – e que deveria ser um trunfo de renovação do gênero, tendo em vista que Michael é documentarista e, portanto, especialista na criação de imagens – é justamente a estética pseudo-documental que o filme deseja passar (e não consegue). Em alguns momentos, parece que o Jung esquece que o filme é feito pelas lentes e equipamentos de Michael, transformando tudo em uma produção convencional. São personagens que não indagam a presença das câmeras em momento algum, como se estivessem realmente encenando para elas (algo impossível no mundo real), além de takes e planos meticulosamente trabalhados para captar convenientemente o que se quer mostrar. Por que, por exemplo, mesmo no auge da sua possessão, o protagonista ainda se preocupa em filmar tudo o que acontece (inclusive empunhando a câmera na mão em tomadas subjetivas)? Tudo isso tira o fator surpresa, a estética suja, despretensiosa e caseira que filmes como A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999), que reinventou o formato depois da sua criação em Holocausto Canibal (Cannibal Holocaust), em 1980, e Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007), que tornou isso tudo modinha, fizeram tão bem. Não foi dessa vez para Jung, que assim como Michael em boa parte do filme, faz muito barulho por nada.

"Michael não está, deixe seu recado após o bip"

“Michael não está, deixe seu recado após o bip”

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Polanski filma A Pele de Vênus

por Marcelo Seabra

Venus in fur

Dois ótimos atores, um teatro vazio e um texto instigante. Isso é tudo que Roman Polanski precisou para fazer um filme interessante, de várias camadas. A Pele de Vênus (Venus in Fur, 2013) tem seu roteiro baseado numa peça de David Ives, que partiu do famoso livro de Leopold von Sacher-Masoch, trazendo para o presente a história do sujeito que inspirou a invenção do termo masoquismo. O diretor ainda trouxe aspectos autobiográficos para o texto, chegando ao cúmulo de usar um ator que lembra ele próprio e uma atriz que é ninguém menos que sua esposa.

Não é segredo que Mathieu Amalric (de O Grande Hotel Budapeste, 2014) tem um tipo físico estranho como Polanski e ainda se inspira nele para criar o personagem, um diretor de teatro à procura de sua protagonista. Ele precisa de uma mulher forte, de classe, e se queixa com a noiva, ao telefone, de que todas as atrizes testadas eram inadequadas. E as descreve praticamente chamando-as de vagabundas, colocando opiniões que o caracterizam como um babaca machista. Nisso, entra Emmanuelle Seigner (de Dentro de Casa, 2012), um furacão em cena que de cara causa um tumulto interno em Thomas. Vanda é aparentemente rude e sem modos, e chega tarde para sua audiência. Sem dar muita brecha para negativas, ela consegue fazer um trecho do diálogo com Thomas.

Venus in fur Polanski

Com o roteiro escrito a quatro mãos, Polanski pôde fazer alterações e adições nos diálogos de Ives, colocando muita coisa pessoal. Algumas falas fazem parecer que ele está à frente das câmeras – e Amalric ajuda muito – e é possível perceber referência até ao arrastado caso de estupro que faz com que o cineasta continue sendo procurado em alguns países. Polanski primeiro estabelece as similaridades do personagem com ele para depois começar a brincar com isso, levando Thomas a caminhos inusitados na relação com Vanda. É como se ele brincasse com a impressão que as pessoas têm dele e usasse a peça de Ives (e o original) para levar as coisas a um outro nível de exagero.

O jogo entre os personagens já é apimentado o suficiente. Vanda faz questão de lembrar que o texto de Sacher-Masoch – e não de Lou Reed, como ela pergunta jocosamente – é decadente, datado, e aponta alguns de seus problemas morais. O fato da atriz ser esposa do diretor transforma a experiência quase que em voyeurismo, assistimos a uma longa discussão do casal. E Polanski é esperto o suficiente para inverter os papéis, como em seu longa anterior, Deus da Carnificina (Carnage, 2011), que tem muitas características em comum com A Pele de Vênus. A vítima logo toma o poder, como se atualizasse a história para os tempos mais igualitários em que vivemos – ao menos na teoria, infelizmente.

O diretor  Roman Polanski levou seus atores a Cannes

O diretor Roman Polanski levou seus atores a Cannes

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