Surpresas e decepções de 2014

por Marcelo Seabra

Surpresas de 2014

Guardians of The Galaxy

Ao fazer os balanços de fim de ano, é sempre bom constatar que alguns filmes surpreenderam positivamente. Algo no projeto não fazia o público ter muita fé. Ou tudo, logo de cara, parecia muito errado. Se é possível fazer uma lista como a que segue, é porque alguém foi muito feliz em suas escolhas. E o primeiro a ser lembrado, de todo 2014, é James Gunn e seus Guardiões da Galáxia. A Marvel Studios vinha fazendo ótimas adaptações, sempre lembradas por serem o mais pé no chão possível. Aí, vem um grupo de não-heróis e manda tudo para o espaço, literalmente. Sem se levar a sério, mas não deixando de atentar para todos os detalhes, como a trilha sonora marcante e a riqueza de seus vários cenários, o filme conseguiu ser um sucesso de público e crítica e deu aquele reforço na carreira de seu protagonista, Chris Pratt, que enfrenta dinossauros em seu novo trabalho, o aguardado Jurassic World.

No campo da ficção-científica com cara de videogame, Tom Cruise mais uma vez mostra que sabe fazer boas escolhas. Depois do eficiente Oblivion, mas com Guerra dos Mundos no currículo, o gosto do ator para o gênero parecia meio duvidoso. Mas, a exemplo de Minority Report, ele acertou novamente com No Limite do Amanhã, que balanceia ação, comédia e drama de forma exemplar. Cruise sabe escolher, ou formatar, um papel que lhe cabe como uma luva e defende bem o projeto. É invejável a energia que coloca em suas atuações. E o mais importante: o roteiro é construído sobre um mistério que altera a realidade, e as explicações sobre essa situação são bem plausíveis – dentro daquele universo. O resultado é entretenimento com lógica e boas atuações.

Outra boa surpresa, também no campo da ficção-científica, e ainda proporcionando interessantes críticas, é a refilmagem de Robocop. Como na direção está o nosso José Padilha, era esperado que o estúdio pudesse tomar o filme para si e cuidar da edição final, como se queixa Heitor Dhalia de seu 12 Horas. Mas Padilha parece ter feito sua visão prevalecer, e foi corajoso o suficiente para tomar uma direção diferente da escolhida por Paul Verhoeven na recente versão original. Enfatizando o perigoso papel que a mídia vem tomando e o poder das grandes corporações, Robocop mostra que o futuro podre retratado na tela não está muito longe do que vivemos, e pode ser um triste presságio.

Lego

Com tantas asneiras feitas com base em brinquedos clássicos, como G.I. Joe e Batalha Naval, um filme sobre Lego não era nada excitante. Os roteiristas e diretores Phil Lord e Chris Miller, experientes tanto em comédias de animação quanto em live action, souberam aproveitar os recursos do brinquedo, montando e desmontando o que fosse necessário para que a trama de Uma Aventura Lego caminhasse. A trama básica, sobre um cara comum que será a chave contra o governo opressor, se prova a oportunidade perfeita para misturar diversos personagens do universo pop, e ajuda ter a gigante Warner Bros. por trás, já que ela é detentora de muitos direitos de uso. Assim, temos heróis como o Batman e o Superman com Han Solo e Chewbacca, o mago Gandalf, figuras históricas como Michelangelo, e parece não haver limite. Bem como na brincadeira de uma criança, que não precisa obedecer a regras ou lógica.

O diretor e roteirista argentino Damián Szifrón escreveu seis histórias que retratam situações em que os personagens são levados a atos extremos conduzidos pela raiva. A costura dessas histórias, o longa Relatos Selvagens, não poderia ser mais atual, escancarando a estupidez que às vezes pode brotar de um cotidiano estressante ou de uma realidade massacrante. Encabeçando um ótimo elenco, Ricardo Darín protagoniza uma das histórias, e é até difícil dizer qual é a melhor, tamanho é o equilíbrio entre elas. Vingança é o tema recorrente e, se o diretor defende uma tese, é a de que violência gera mais violência. Mas sem se levar muito a sério, já que ele escancara a falta de noção dos envolvidos. Uma estreia discreta, produzida por nossos vizinhos, acabou se mostrando um dos filmes mais interessantes do ano.

Decepções de 2014

Interstellar

É bom lembrar que uma lista de maiores decepções não traz filmes necessariamente ruins, mas aqueles que não cumpriram a grande expectativa que criaram no público. Este ano, a menção principal vai para Christopher Nolan e seu Interestelar. Com elenco competente e orçamento mais do que generoso, o projeto do diretor e roteirista vinha recebendo elogios e comparações desmedidas, e desenvolvimento se arrastava há anos. O resultado infelizmente é frio, não consegue empolgar ou se conectar a seu público. E o número de situações inexplicadas é grande, é preciso um grande salto de fé para acreditar e, o pior, aceitar tudo. Interestelar não é de todo ruim, claro, mas está longe do brilhantismo que aprendemos a esperar de Nolan.

Outro diretor que se cercou de louros é Darren Aronofsky, e decidiu desagradar tanto cinéfilos quanto religiosos com sua visão sobre a história de Noé, um dos personagens mais famosos dos textos bíblicos. Não é preciso ser muito envolvido com alguma religião para conhecer os pontos básicos da trama do patriarca que salvou a vida na Terra colhendo pares de todos os animais que andavam e voavam por aqui. Várias situações no roteiro que dependem pura e simplesmente da fé soam como furos e enfraquecem a obra, afastando um espectador minimamente cético. E aqueles que esperavam ver um retrato fiel do que é narrado na Bíblia também se frustram, com anjos transformados em gigantes de pedra. Esse é um exemplo das loucuras de Aronofsky, que fez um longa tecnicamente perfeito, mas cansativo e difícil de acompanhar.

Labor Day

Depois de quatro longas que tinham em comum um senso de humor crítico, cínico e inteligente, Jason Reitman (de Jovens Adultos, Amor Sem Escalas, Juno e Obrigado por Fumar) se tornou um diretor a se acompanhar. Por algum motivo incompreensível, ele decidiu partir para um drama e mostrar um lado mais sensível em Reféns da Paixão. Com personagens sofridos e injustiçados numa situação bem forçada e inverossímil, Reitman parece ter cometido seu primeiro pecado, mostrando que nenhuma carreira cinematográfica é perfeita. É louvável que ele tenha decidido se arriscar em terreno inédito, mas isso não significa que tenha sido bem sucedido. Seu forte segue sendo as comédias ácidas, que ele já fez tão bem e às quais pode eventualmente voltar.

Uma comédia já clássica teve sua esperada continuação esse ano. Os personagens são os mesmos, mas o humor se perdeu no caminho e Tudo por Um Furo – ou O Âncora 2 – é um fracasso retumbante. A história de Ron Burgundy segue para os anos 80 e pouca coisa se aproveita. Nem os coadjuvantes, antes tão interessantes, conseguem trazer ar fresco a esta produção. Will Ferrell se repete, a rusga entre ele e James Marsden não gera interesse algum e até Steve Carell consegue sair por baixo, já que seu Brick Tamland deixa de ser engraçado e se concentra em ser estúpido. Nem a tão falada sequência final salva, sendo apenas um ponto nonsense que requenta o longa anterior e tenta chamar a atenção com participações especiais.

Ao fazer o terceiro filme dos Mercenários, Sylvester Stallone exaure uma fórmula que funcionou bem da primeira vez e se mostrou gasta já na segunda. Mais entrou gente do que saiu, e há jovens e veteranos entre as novidades. Com tanta gente famosa em cena, é difícil querer desenvolver alguma coisa, e outra tarefa dura é dividir o tempo em cena desse povo todo. Além de repetir a si mesma, a série repete coisa pior. O papel do desafeto da vez coube a Mel Gibson, que já havia sido o vilão do horroroso Machete Mata, o que tira qualquer possibilidade de ineditismo. Os momentos de “bromance” também são constrangedores: os brutamontes param em cenas prolongadas rindo e “dividindo um momento”, e parece apenas erro de edição. Stallone ganhou fôlego com essa franquia e ajudou muita gente a se levantar. Agora, é hora de seguir adiante.

Expendables 3

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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2 respostas para Surpresas e decepções de 2014

  1. Wagner Cardoso disse:

    A surpresa foi o monumental O Homem Mais Procurado (A Most Wanted Man) sendo que vi ele 3 vezes e vou continuar vendo.Considero ele um jovem clássico!
    A decepção foi o Robocop já que esperava um pouco mais de José Padilha que parece estar no piloto automático em algumas cenas ( As do tiroteio antes deles ser morto no carro poderiam ser mais intensas e cruas).Não acho o trabalho ruim mas mediano pelo potencial do diretor!
    Filmes ruins como Machete e Mercenários eu passei longe esse ano me precavendo!!!

  2. Itfalo disse:

    Pqp, o cara falar q interestelar N é brilhante é ser muito inútil viu, mds. Interestelar é o melhor filme de todos os tempos, eu já o vi mais dez vezes pra dizer isso. Se vc N sabe nem o q é gravidade N merece nem comentar sobre filmes.

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