O melhor do Cinema em 2015 – e o pior

por Marcelo Seabra

balance

É chegada a hora do balanço de melhores e piores filmes lançados no Brasil em 2015. Muitos deles têm críticas publicadas, basta clicar no título para abrir. É curioso notar que na lista de piores filmes não há nada com Adam Sandler ou com Nicolas Cage, que sempre dão as caras. E isso não se dá devido ao fato de eles terem melhorado suas escolhas: eu apenas fui mais seletivo e não vi nada deles.

Aproveito para agradecer as visitas, os comentários, as curtidas, os compartilhamentos e as conversas com todos que tenho o prazer de ter contato. Em 2016 tem mais!

Melhores

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Piores

Jupiter Ascending

2016

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Fassbender e Cotillard são os Macbeth

por Marcelo Seabra

Macbeth couple

Provavelmente o autor mais adaptado do mundo, Shakespeare ganhou uma produção de peso. Em meio a muita coisa produzida em diversas línguas, algumas bem rasteiras, chega aos cinemas uma nova versão de Macbeth (2015), com um elenco fantástico e um cuidado técnico invejável. Tendo passado por diretores como Orson Welles, Roman Polanski e Akira Kurosawa, a história agora está nas mãos do australiano Justin Kurzel, que a trata com o devido respeito e apresenta uma interpretação bem particular.

Clássico conto sobre ambição e culpa, Macbeth acompanha o general homônimo (Michael Fassbender) durante uma campanha de guerra em defesa de seu rei (David Thewlis). O sujeito encontra três bruxas que lhe anunciam uma profecia: de que viria a ser o rei da Escócia. Macbeth fica mexido com aquela história, divide-a com a esposa (Marion Cotillard) e ela já começa a bolar um plano para acelerar o fato. O general, então, mata seu rei e, quando os herdeiros fogem, assustados, assume o trono devido a um parentesco. Lady Macbeth entra para a história da literatura como a grande incentivadora do regicídio, enquanto seu marido é corroído progressivamente pela paranoia de que todos estariam contra ele, o que o leva a cometer diversos assassinatos.

Macbeth battle

Shakespeare misturou várias fontes e usou figuras histórias para compor esta peça, uma de suas menores, mas mais densas. Para dar vida a um texto complexo e tido como amaldiçoado, era necessário um casal de peso. No papel principal, Fassbender (o jovem Magneto) atua com o vigor certo, parecendo ter nascido para esta missão. Carismático e ao mesmo tempo ameaçador, ele sabe ir de comandado a comandante, chegando a um extremo tirânico. Para sua esposa, a icônica Lady Macbeth, ninguém melhor que Cotillard (sempre lembrada por Piaf, 2007). Ela perde um pouco do elemento conspirador, já que o roteiro atribui a trama aos dois, dividindo a responsabilidade pelos crimes.

Completando o elenco, temos David Thewlis (de Rainha & País, 2014) no papel do rei traído. Com seu sotaque inglês natural, ele traz majestade a Duncan no pouco tempo que tem em tela. Vilão no último Missão: Impossível, Sean Harris muda de lado como Macduff, um guerreiro íntegro que suspeita ter algo de podre no reino da Escócia. Sempre comedido, Harris some quando a câmera liga, dando lugar a quem quer que esteja vivendo. Além do insípido mocinho do mais recente Transformers, Jack Reynor, o outro nome interessante neste grupo é o de Paddy Considine (de Crimes Ocultos, 2015), que dá vida a Banquo, amigo de Macbeth que logo terá sua vida transtornada pela profecia das bruxas.

Conhecido por sua única experiência na direção, Snowtown (2011), Justin Kurzel cria algumas liberdades na história, acrescentando certos elementos que justificariam determinadas ações e até criando referências interessantes. O uso de cores vivas para o campo de batalha acentua a violência que ele nos oferece, sem qualquer rodeio, já que vemos sangue voando, espadas entrando na carne e ossos se partindo. A fotografia de Adam Arkapaw (também de Snowtown) nos proporciona cenas lindas, dentro e fora das batalhas, geralmente com muita fumaça. Mais contemplativo do que se costuma esperar de um filme de guerra, Macbeth tem seus momentos lentos, para logo a seguir partir para a loucura de seu protagonista.

O diretor e seus protagonistas levaram o longa a Cannes

O diretor e seus protagonistas levaram o longa a Cannes

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JJ Abrams rejuvenesce outra franquia intergalática!

por Marcelo Seabra

O Pipoqueiro

Ver uma nova aventura do universo de Star Wars e concluir que a missão foi muito bem cumprida é um alívio muito grande. Afinal, os três episódios mais recentes desapontaram muita gente. O Despertar da Força (The Force Awakens, 2015) consegue ser feliz ao homenagear a série clássica e também ao inserir novos elementos, agradando a fãs e a novatos e dando continuidade à história. É emocionante ver Han Solo pilotar a Millenium Falcon, ouvir os urros do Chewbacca e conhecer uma riqueza de seres e objetos que não fariam sentido algum em outra situação.

George Lucas, o pai de Star Wars, é conhecido por seus diálogos constrangedores e não é exatamente um gênio atrás de uma câmera. Essa genialidade ele guarda para outros fins, como o comercial, ganhando dinheiro de várias formas em cima do mesmo produto. Por isso, ele foi muito feliz ao passar a direção deste novo episódio para J.J. Abrams, nerd de carteirinha que já havia dado nova vida a outra franquia intergalática: Star Trek, com dois ótimos filmes. Abrams é um cineasta seguro, que sabe utilizar efeitos especiais na medida adequada, evitando qualquer artificialidade. E ele usa emoção e humor sem ser piegas ou infantil, o que traz um equilíbrio à obra, indo facilmente da leveza a um embate de vida ou morte.

Star Wars - Recibe news, ontem!

Além da qualidade de Abrams como diretor, ele demonstra muita familiaridade com o material. É como um menino que tira seus bonecos da embalagem, brinca a valer e os conserva. O roteiro, que ele escreveu com Lawrence Kasdan (de O Império Contra-Ataca, geralmente apontado como o melhor da série, e O Retorno de Jedi) e Michael Arndt (de Jogos Vorazes: Em Chamas, 2013), trata a mitologia já montada com respeito, repetindo muito da dinâmica original. Conseguimos encontrar várias pontes diretas, tornando esse filme algo muito próximo de uma refilmagem. As referências vão de rimas visuais aos diálogos. Eles chegam a criar uma estação espacial chamada Starkiller – que lembra de cara a grande Estrela da Morte (Death Star), além de adotar o sobrenome originalmente pensado para Luke.

A história, por alto, lembra muito Uma Nova Esperança (A New Hope, 1977), com dois personagens que poderiam ser os correspondentes a Luke e Han, mas com características misturadas. E a grande surpresa: um é negro, a outra é uma mulher. E isso é apenas uma característica de cada um, não é nada definidor. Daisy Ridley, com passagens em várias séries de TV, é a nova guerreira deslocada, como Luke foi, e é o grande destaque do longa. Ela é forte e deixa claro que não precisa da ajuda de nenhum homem para cumprir o que deve. E John Boyega (de Ataque ao Prédio, 2011) é o Stormtrooper que cria consciência e deseja fugir daquilo tudo. É a primeira vez que temos um soldado se tornando protagonista, quando conhecemos um Stormtrooper mais a fundo. Fica claro que ele será advertido pelo simples fato de quebrar o protocolo, tirando o capacete.

Star Wars - Episode VII

A trama começa quando o melhor piloto da resistência, Poe Dameron (Oscar Isaac, de O Ano Mais Violento, 2014 – no alto, no meio da foto), entrega informações confidenciais a um dróide que vai parar nas mãos de uma catadora (Ridley). O tal Stormtrooper fugitivo cruza o caminho da garota e acaba ajudando-a em sua nova missão, chegando a conhecer o lendário Han Solo (Harrison Ford) e o peludo Chewbacca (Peter Mayhew). Depois de um primeiro momento, começamos a encontrar os personagens míticos, o que é sempre emocionante. Sabemos que Darth Vader não aparecerá, mas ele não deixa de ser mencionado, e não falta a música tema. John Williams demonstra estar bem afiado e cria faixas que casam muito bem com a ação, sendo discretas e pontuando bem cada momento.

Kylo RenNo papel de vilões, temos dois grandes atores com resultados diversos. Adam Driver (de Girls – ao lado) não é nenhum garotinho, mas seu papel dá a entender que ele traz traumas de criança e não passa de um pós-adolescente mal criado. No entanto, de máscara, como um herdeiro de Vader, ele se mostra ameaçador e perigoso. Já Domhnall Gleeson (de Questão de Tempo, 2013) faz uma versão bem afetada de Hitler, um líder político que depende de táticas de amedrontamento e lavagem cerebral para manter sua equipe. A referência nazista, inclusive, é uma constante, mas a atuação bem exagerada de Gleeson compromete seu resultado. A ideia parece repetir a importância de Peter Cushing no primeiro filme, mas Gleeson parece sempre a ponto de dar um chilique. E isso não é legal para um vilão fodão.

Na resistência, além da General (ex-Princesa) Leia (Carrie Fisher), temos o tal piloto Poe, que o guatemalteco Oscar Isaac vive. Com muita tranquilidade e a segurança que o personagem exige, Isaac é o líder em combates aéreos, e é interessante ver um latino em papel de destaque. A vencedora do Oscar Lupita Nyong’o (de 12 Anos de Escravidão, 2013) faz uma espécie de sucessora de Yoda, uma sábia veterana que aconselha os personagens. E o grande Max von Sydow, o eterno Padre Merrin, faz uma ponta. Nomes importantes não faltam ao elenco, e há outros não creditados. Entre eles, Daniel Craig, Simon Pegg, Andy Serkis, Gwendoline Christie, Thomas Brodie-Sangster, Greg Grunberg, Warwick Davis, Michael Giacchino, Judah Friedlander e Bill Hader, comediante que ajuda a dar personalidade ao simpático robô BB-8. Isso, além dos membros clássicos, os já citados e Mark Hamill.

Star Wars: O Despertar da Força já arrecadou mais de 530 milhões de dólares pelo mundo, sendo o recordista da história em bilheteria no fim de semana de estreia. Da série, já ocupa o sexto lugar em arrecadação nacional, posição que deve mudar radicalmente nos próximos dias, com mais vendas de bilhetes. Dessa forma, a nova trilogia demarca território e já chega com números expressivos, o que vai facilitar o caminho para os novos episódios e para os extras, que contarão histórias paralelas ou prévias. Quem ganha é o fã do universo criado por Lucas.

 

Star Wars - Venda Nova

Hamill, Fisher e Ford são a principal atração

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O Clã mostra a força do cinema argentino

por Marcelo Seabra

El Clan poster

Todos os dias, pela manhã, um senhor varre a calçada em frente ao restaurante da família, num subúrbio rico de Buenos Aires. Conhecido e respeitado na comunidade, ele vive bem com a esposa e os filhos, um deles um admirado jogador de rugby. Em 1985, o caso tomou os jornais: a família vinha cometendo assassinatos e sequestros e ficou conhecida como o Clã Puccio. Depois de livro e série de televisão, a saga chega à tela grande com produção dos irmãos Almodóvar e o renomado diretor argentino Pablo Trapero à frente.

O Clã (El Clan, 2015) nos apresenta a Arquímedes Puccio (Guillermo Francella, de O Segredo dos Seus Olhos, 2009), o patriarca de uma família aparentemente normal. Como ele era um agente remanescente dos tempos da ditadura militar, seu trânsito entre figuras importantes era bom e isso dava uma certa segurança. Para aumentar a renda da família, Puccio reúne alguns comparsas e começa a sequestrar pessoas financeiramente relevantes. Enquanto ele não recebia o pagamento do resgate, a vítima ficava presa em um quarto de sua própria casa, envolvendo no crime sua esposa e filhos.

El Clan Puccios

Com uma fantástica reconstituição do início da década de 80, entre ruas, roupas e cabelos, o longa cobre muito bem os acontecimentos que envolveram os Puccios, dando ao público informações completas sem ser cansativo. São quase duas horas de projeção recheadas de boas músicas populares que marcam as cenas e fazem um interessante contraponto com o que vemos. O grande destaque da trilha, que pontua o início e o fim do filme, é Sunny Afternoon, dos Kinks, canção animada que já deixa o público ansioso pelo que virá.

Politicamente engajado, Trapero não deixa de fazer críticas e dar algumas cutucadas. A sangrenta ditadura pela qual o país passou e acabava de sair produziu gente como Arquímedes Puccio, ou ao menos os recebia muito bem. E a burocracia vigente acobertava o que fosse necessário, fornecendo meios para a violência continuar. A lei poderia funcionar para outros, não para quem estava com o governo. Os filhos, que se consideravam inocentes e aparentavam estar incomodados com as ações do pai, logo entraram na festa, vendo o dinheiro arrecadado. As altas quantias movimentadas compravam facilmente o silêncio de todos. E os sequestros e mortes se tornaram parte do dia a dia dos Puccios, que passaram a ver aquilo como normal.

Tecnicamente impecável, O Clã alterna bem momentos de tensão com drama e até cenas mais engraçadas. Não à toa, o filme já ocupa a segunda posição em bilheteria na história do cinema argentino, perdendo apenas para a grande surpresa do ano passado, Relatos Selvagens. Segundo a BBC News, de quinta a domingo, na estreia, foram mais de 505 mil bilhetes vendidos, o que equivale a 53% do público que foi aos cinemas. Premiado no Festival de Veneza com o Leão de Ouro, entre outras menções importantes, o filme é o indicado da Argentina à seleção de filmes estrangeiros para o Oscar 2016.

Peter Lanzani, Pablo Trapero e Guillermo Francella levaram o filme a Veneza

Peter Lanzani, Pablo Trapero e Guillermo Francella levaram o filme a Veneza

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Pacotão: novidades do Cinema

por Marcelo Seabra

Abaixo, alguns dos destaques recentes nos cinemas e na televisão.

Straight Outta Compton

Straight Outta Compton – A História do N.W.A. (2015)

O diretor F. Gary Gray (de Código de Conduta, 2009) aproveita sua longa ligação com a música, principalmente o rap e o hip hop, para contar a história do N.W.A., grupo formado em 1986 na perigosa cidade californiana Compton. Jovens que viriam a se tornar bem famosos se uniram para falar contra a violência, a pobreza e outras mazelas que faziam parte do dia a dia deles. Mas, também, tinha muito machismo, ataques a desafetos e valorização de riqueza, sexo e festas. Um bom elenco representa figuras como Dr. Dre, Ice Cube e Easy E e temos ainda Paul Giamatti (de Terremoto, 2015) no papel de um empresário de moral um tanto duvidosa. O resultado, como a maior parte da obra de Gray, não passa do correto, deixando aqui a impressão de que o rabo preso com os produtores, os artistas retratados, impediu o longa de ir além na imagem que pinta de todos.

Scouts Guide to the Zombie Apocalypse

Como Sobreviver a um Ataque Zumbi (Scouts Guide to the Zombie Apocalypse, 2015)

A comédia é um gênero que costuma tratar bem zumbis, caso de Zumbilândia (Zombieland, 2009), Meu Namorado É Um Zumbi (Warm Bodies, 2013) e o quase clássico Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004), entre outros. Mas não é o caso desse suposto guia de sobrevivência, que traz três escoteiros que precisam enfrentar uma horda de mortos-vivos enquanto estão com tesão, procurando uma festa com as meninas em quem estão interessados. O elenco, encabeçado pelo competente Tye Sheridan (de Amor Bandido, 2012), passa por maus bocados com um roteiro infantil escrito por três pessoas que devem rir de piadas de banheiro. Christopher Landon (de Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal, 2014) deveria pensar seriamente antes de dirigir qualquer coisa novamente, até um carro.

Far From the Madding Crowd

Longe Deste Insensato Mundo (Far From the Madding Crowd, 2015)

A história de Thomas Hardy ganha nova adaptação pelas mãos de Thomas Vinterberg, que partiu do denso A Caça (Jagten, 2012) para este romance dramático muito bem fotografado e atuado. Se a nossa heroína, Bathsheba Everdene (vivida por Carey Mulligan, de Inside Llewyn Davis, 2013), começa como uma mulher forte e independente, ela logo se torna uma bobinha, como de costume na obra de Hardy, e terá que escolher entre três pretendentes: o humilde e habilidoso Gabriel Oak (Matthias Schoenaerts, de Prazeres Mortais, 2014), o mulherengo sargento Francis Troy (Tom Sturridge, de Na Estrada, 2012) e o solteirão milionário William Boldwood (Michael Sheen, da série Masters of Sex). Claro que a garota tomará as piores decisões possíveis e o longa deve arrancar lágrimas de muita gente.

The Visit

A Visita (The Visit, 2015)

O megalomaníaco M. Night Shyamalan vem descendo o barranco há alguns anos, o que é uma lástima, tendo em vista seus primeiros trabalhos – o mais lembrado costuma ser O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999). Depois das últimas catástrofes, este A Visita até representa uma melhora, o que não é um grande elogio. Usando o batido recurso das “filmagens encontradas”, ou caseiras, ele acompanha dois adolescentes (Olivia DeJonge e Ed Oxenbould) que partem para outra cidade para visitar os avós que não conhecem. A mãe deles (Kathryn Hahn) fugiu de casa jovem, com um namorado mais velho, e agora manda os filhos pra longe enquanto viaja com o parceiro atual. O casal de velhinhos (Deanna Dunagan e Peter McRobbie) vai muito além de ser apenas excêntrico e é a melhor coisa do filme. O problema é a falta de sentido da coisa toda, desde as filmagens da garota, perfeitas e de ângulos criativos e diversos, ao comportamento dos avós, passando pela previsível virada do roteiro, algo obrigatório tratando-se de Shyamalan.

Victor Frankenstein

Victor Frankenstein (2015)

Partindo da mesma ideia de “origens” que Drácula: A História Nunca Contada (Dracula Untold, 2014), este Victor Frankenstein resolve apresentar uma história que ninguém conhece porque acabou de ser inventada. Contada do ponto de vista do assistente Igor (Daniel “Harry Potter” Radcliffe), a trama mostra como os dois se conheceram e como Victor (James “Charles Xavier” McAvoy) chegou a criar um ser vivo, a criatura conhecida por seu sobrenome. O simples fato de tomarem liberdades quanto à fonte não é problema algum, o Cinema está sempre reinventando alguma coisa. O problema é quando estas liberdades são esdrúxulas e abusam da paciência do espectador, que precisa aturar situações mirabolantes e até irritantes, caso do detetive vivido por Andrew Scott, que está bem mais caricato que em 007 Contra Spectre (2015).

O Que Aprendemos Juntos

Tudo Que Aprendemos Juntos (2015)

O engenheiro e empresário Antônio Ermírio de Moraes, falecido no ano passado, teve uma de suas três peças adaptadas para o Cinema, com a direção a cargo do baiano Sérgio Machado (de Cidade Baixa, 2005). No longa, Lázaro Ramos (também de Cidade Baixa) é um músico experiente que, devido ao nervosismo, não consegue ser aprovado para a orquestra que tanto deseja. Para se sustentar, escuta um amigo e se torna professor de violino de uma escola estadual da periferia de São Paulo. A jornada de Laerte será a mesma que já vimos em diversos filmes – é uma trama bem comum no Cinema americano – e os vários roteiristas não conseguem fugir do óbvio. Ramos e os garotos que trazem um diferencial ao projeto, que ao fim da sessão poderá ser classificado como “bonitinho”.

Beasts of No Nation

Beasts of No Nation (2015)

O serviço de distribuição Netflix lançou em outubro Beasts of No Nation (2015), longa escrito e dirigido por Cary Joji Fukunaga (da primeira temporada de True Detective) que adapta o livro do nigeriano Uzodinma Iweala. O filme acompanha um garoto (o ótimo Abraham Attah) durante uma guerra civil em um país africano não identificado e nos apresenta à barbárie onde os dois lados são sanguinários e parece não haver uma boa saída. A fotografia é muito bonita, Idris Elba (de O Franco-Atirador, 2015) está fantástico como o comandante da milícia e a trama traz alguns socos no estômago. O fato de não sabermos onde se passa a ação e a chegada salvadora do Ocidente são pontos negativos, mas não enfraquecem o resultado.

Keith Richards

Keith Richards: Under the Influence (2015)

O famoso guitarrista dos Stones aparece como protagonista de um documentário que começa como uma entrevista e vai seguindo o caminho que o sujeito indica, passando por suas influências na música. Servindo também para fazer publicidade de Crosseyed Heart, mais novo trabalho solo de Richards, o documentário, que é uma produção original Netflix e está disponível no serviço, ajuda a desmistificar a ideia que se tem do músico, geralmente lembrado como alguém que fica chapado o dia inteiro, quebra o pau com os colegas de banda – especialmente Mick Jagger – e seria um instrumentista limitado. Tudo balela, como se pode ver no longa do premiado diretor e produtor Morgan Neville.

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Conheça o fato por trás de Moby-Dick

por Marcelo Seabra

In the heart of the sea

Em 1820, uma baleia enorme atacou sistematicamente um navio baleeiro até afundá-lo, deixando a tripulação sobrevivente à deriva. Como é costume em longas que contam histórias reais, No Coração do Mar (In the Heart of the Sea, 2015) explora tudo o que está em volta: da vida prévia de seus personagens ao que houve depois, passando lentamente pelo próprio fato. O diretor Ron Howard, acostumado a lidar com histórias de não-ficção, acerta novamente, dosando bem drama e suspense e resistindo à tentação de transformar seus personagens em heróis impecáveis.

O projeto é baseado no livro homônimo de Nathaniel Philbrick, que narra os fatos como eles teriam acontecido. O escritor Herman Melville usou a mesma premissa para criar aquele que é conhecido como um dos maiores clássicos da literatura norte-americana: Moby-Dick. E é desse ponto que o roteiro de Charles Leavitt (inacreditavelmente, o mesmo de O Sétimo Filho, 2014) parte: o encontro do jovem Melville (Ben Whishaw, de Spectre, 2015) com o último sobrevivente da tragédia com o Essex, um veterano dos mares (Brendan Gleeson, de No Limite do Amanhã, 2014) que vive atormentado por suas memórias. Procurando exorcizar o passado e ainda ganhar um dinheiro, ele conta tudo.

In the heart of the sea captain

No relato, conhecemos, dentre vários personagens, nossos protagonistas. O Primeiro Imediato, Owen Chase, é um homem forte, decidido, que sempre é prejudicado por ser de origem humilde e de fora, numa cidade incrivelmente bairrista. O Capitão, George Pollard, é de uma família rica e tradicional, com o sobrenome garantindo a liderança no barco mesmo com a pouca experiência e a enorme insegurança. Esses dois logo entrarão em embate, mas terão mais com o que se preocuparem. Nos papéis, temos uma química interessante entre Chris Hemsworth, que repete a parceria de Rush (2013) com Howard, e Benjamin Walker (de Abraham Lincoln – Caçador de Vampiros, 2012), que consegue compor um sujeito que parece aplicar as dicas que o pai lhe deu para tentar sair de situações que nunca viveu.

Além da dupla principal, temos um elenco interessante que ajuda a compor a tragédia. O narrador, Thomas Nickerson, é vivido por dois bons intérpretes: Brendan Gleeson, quando mais velho, que é um dos maiores atores em atividade; e Tom Holland, o garoto revelado em O Impossível (The Impossible, 2012) e que será visto em breve como Homem-Aranha. O Espantalho, da trilogia Batman, também está presente: Cillian Murphy é mais um marinheiro que ajuda o Essex a cumprir sua tarefa. Ben Whishaw fica mais restrito, por ficar apenas dentro de casa, entrevistando, mas é sempre uma figura interessante.

Talvez o principal defeito de No Coração do Mar seja a ausência da obsessão e da tensão que temos em Moby-Dick. Fora um momento ou outro, o filme segue sem muitos solavancos. Por outro lado, o roteiro aproveita para desenvolver as personalidades, o que nos permite conhecer um pouco melhor alguns deles e faz com que nos preocupemos com eles. Apesar de torcer pela baleia.

In the heart of the sea whale

Mais uma vez, a natureza mostra sua força

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E os Jogos Vorazes se encerram!

por Marcelo Seabra

Mockingjay II

Chega ao fim a saga de Katniss Everdeen. O quarto filme da franquia Jogos Vorazes está em cartaz e passou dos 100 milhões de dólares em seu fim de semana de estreia. Mesmo assim, a performance de A Esperança – O Final (The Hunger Games: Mockingjay – Part 2, 2015) é considerada desapontadora, já que os anteriores foram mais longe. A aventura também é a nossa última oportunidade de ver o saudoso Philip Seymour Hoffman na tela grande.

Depois de ser usada como símbolo dos rebeldes, Katniss (Jennifer Lawrence) é colocada de lado pela Presidente Coin (Julianne Moore) para ressurgir apenas no momento da vitória, preservada como O Tordo do título original. Obviamente, a garota não fica satisfeita em apenas esperar e dá um jeito de voltar para o olho do furacão. E ela tem algo bem específico em mente: matar o Presidente Snow (Donald Sutherland). Ela parte com um grupo que inclui seu amor de infância, Gale (Liam Hemsworth), e seu par romântico mais recente, Peeta (Josh Hutcherson).

Mockingjay II scene

Com essa tradicional jornada de herói como desculpa, a escritora Suzanne Collins e os roteiristas Peter Craig e Danny Strong aproveitam para falar de política, de mídia, de poder e outros vários tópicos jogados nesse caldeirão. É fácil ver algumas daquelas falas saindo da boca de certas celebridades e políticos brasileiros, tamanha é a atualidade do texto. A solução, no entanto é bem simplista, e não se aplicaria ao nosso cenário, o que tira um bocado da força da trama. E por falar em força, há fatos mal aproveitados que poderiam ter tido muito mais impacto. Mas Francis Lawrence parece mais preocupado em cobrir o que é relatado no livro, sem muita atenção a tirar mais sentimento, e o diretor perde algumas oportunidades de encenar momentos memoráveis. Personagens são descartados repentinamente e muitos devem dizer que o livro é melhor resolvido.

Do trio principal, Hemsworth tem a chance de mostrar mais serviço que nas aventuras anteriores, mas ele não tem metade do carisma do irmão mais famoso, Chris (o Thor). E Hutcherson continua insosso, empalidecendo ao lado de qualquer colega de elenco, principalmente de Jennifer Lawrence. Os veteranos Sutherland e Moore não foram escolhidos a toa para serem os líderes de seus lados. Aparentemente sem esforço, eles vão longe dentro de seus personagens, mesmo que os diálogos não sejam fantásticos. Algo que chama a atenção é o excesso de discursos: a todo momento, alguém começa a falar da importância de alguma coisa, ou qualquer outra bobagem motivacional, e isso logo enfara o espectador.

Jogos Vorazes: A Esperança – O Final é um filme tecnicamente satisfatório, que leva a nossa heroína a uma conclusão. Mas, além de previsível, não causa nenhuma impressão mais forte, o que possivelmente aconteceria se a história não tivesse sido alongada para duas partes, ao invés de apenas uma. Para cada aspecto criativo e interessante, há outro questionável, o que joga a produção num empate medíocre. Para quem vem acompanhando a saga desde 2012 e se empolgou com o primeiro, sobrou só expectativa.

Liam Hemsworth, Josh Hutcherson, Jennifer Lawrence

Na tela, essa escadinha não fica tão evidente

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Marvel e Netflix nos presenteiam com Jessica Jones

por Marcelo Seabra

Jessica Jones

Enquanto aguardamos o lançamento da segunda temporada de Demolidor, série bem sucedida que deu ao herói o tratamento merecido, o Netflix nos presenteia com aventuras de outro personagem, esse ainda mais obscuro: Jessica Jones. Acertadamente apostando numa protagonista feminina, o serviço de distribuição de filmes e séries segue firme na parceira com a Marvel e os treze episódios já estão disponíveis.

Vivida por Krysten Ritter (de Cala a Boca, Philip, 2014), Jessica Jones é uma ex-heroína que passou por episódios traumáticos e decidiu seguir como investigadora particular. Vamos descobrindo a história dela aos poucos, com detalhes sendo revelados em momentos estratégicos. Assim como em Demolidor, a série tenta manter os pés no chão, acompanhando a difícil realidade de Hell’s Kitchen, bairro pobre e perigoso. Mas, da mesma forma que Matt Murdock tem seus sentidos aguçados, Jessica é superforte e praticamente indestrutível. E ela ainda conhece um sujeito com características parecidas que fãs de quadrinhos vão logo identificar: Luke Cage (Mike Colter, de The Following).

Jessica and Kilgrave

O fio condutor da trama, que une os casos de cada episódio, é o vilão: envolto em certo mistério, logo conhecemos Kilgrave (David Tennant, uma das encarnações de Dr. Who – na ilustração acima). O sujeito tem o poder de convencer as pessoas a fazerem o que ele quiser, basta uma ordem. E a temporada vai se desenrolar em torno do jogo de gato e rato entre Kilgrave e Jones. Outros personagens interessantes são apresentados, como a amiga de Jessica, a apresentadora Trish Walker (Rachael Taylor, de Prazeres Mortais, 2014), e a advogada Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss, a eterna Trinity de The Matrix), que emprega a investigadora com seus casos mais difíceis. Essa variedade enriquece a série sem perder o foco, histórias diversas que se encontram em Jessica.

O Netflix segue mostrando o comprometimento com a qualidade em suas produções originais. Um bom elenco, uma parte técnica impecável, com fotografia, trilha e caracterização muito competentes, e o mais importante: o envolvimento de gente que sabe o que está fazendo, como os produtores Kevin Feige, Stan Lee, Jeph Loeb e Joe Quesada, além da criadora da atração, Melissa Rosenberg (da finada Birds of Prey). Sexo e violência não são
problemas aqui, a exemplo do que fazem a HBO, AMC, Starz, entre outros. CoupleIsso traz ainda mais veracidade ao que vimos, evitando apenas os exageros, e não toda a cena. Os encontros de Jessica e Luke são bem apimentados sem necessariamente mostrarem nada de mais. Até a questão racial do casal, mesmo que bem superficialmente, é abordada.

Possivelmente, o que mais conta pontos para Jessica Jones é a falta de informação que o grande público tem da personagem, o que torna tudo uma surpresa e não há a cobrança de fidelidade à fonte. As pequenas citações ao que aconteceu em Nova York – eventos vistos em Os Vingadores (The Avengers, 2012) – mostram que os responsáveis olham adiante, amarrando todo o Universo Marvel, não importando a mídia. Isso mostra que um crossover entre Jessica e Demolidor não é nada difícil, pelo contrário. Eles, além de Luke, já estão alistados para uma nova série, Os Defensores (The Defenders), que reunirá um grupo de supers para o combate ao crime em NY.

Defenders

Para completar o time, só falta conhecermos Punho de Ferro

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Depp e Edgerton se aliam em história real

por Marcelo Seabra

Black Mass poster

Muita gente tem apontado a interpretação de Johnny Depp como o principal trunfo de Aliança do Crime (Black Mass, 2015), longa que era planejado há anos e finalmente chega aos cinemas. A verdade é que vários nomes do elenco merecem destaque e é exatamente isso a maior atração do projeto. Se alguns desses atores aparecem no Oscar do ano que vem, não vai ser surpresa. Uma história forte e interessante como essa merecia mesmo um elenco de peso, mesmo que a atenção dispensada a cada um seja um tanto desigual.

A diferença principal deste Aliança do Crime para outros filmes de máfia, como os de Martin Scorsese, por exemplo, é que trata-se de uma história real. Mas a influência é clara. Depp deixa de lado momentaneamente os papéis mais estranhos, como em Mortdecai (2015), mas não abandona a transformação pela qual parece passar em todo papel que vive. Quase careca e de lentes de contatos azuis, ele é uma figura bem estranha. Essas características acabam servindo como uma distração perigosa, que pode tirar o público do filme. Mas Depp emprega seu carisma e constrói um monstro que parece ser o herói da vizinhança, sendo querido por todos à sua volta.

Johnny Depp

O protagonista do longa, já retratado no documentário Whitey: United States of America v. James J. Bulger, é um criminoso que consegue dominar a região onde vive com a ajuda do FBI, por mais incrível que isso possa parecer. Whitey Bulger (Depp) se associa a um agente do Bureau, John Connolly (Joel Edgerton, de Êxodo: Deuses e Reis, 2014), seu velho conhecido, para aparentemente servir de informante. Mesmo não sendo um sujeito exatamente genial, Bulger manipula o FBI a combater seu inimigo, a máfia italiana, e toma conta de boa parte de Boston. Cada vez mais violento, ele parece estar envolvido em todos os crimes da cidade e ainda assim fica à solta, tranquilo por saber que tem proteção federal. E, para piorar, é irmão de um senador norte-americano (Benedict Cumberbatch, o Sherlock). A lealdade que ele inspira é outro traço fantástico de sua personalidade, mas totalmente usado para o mal.

A construção mais completa de um personagem nesse roteiro é a do agente Connolly. Edgerton consegue ser durão e trouxa na mesma medida, conferindo um grau de vulnerabilidade necessário para que acreditemos em sua jornada, de homem da lei idealista e competente a fã número um do psicopata que ele admira desde jovem. Ao voltar para sua cidade natal, Connolly reencontra aquele mundo e logo volta a ser o garoto impressionável das ruas de Boston, onde se tornou próximo dos irmãos Bulger. A vaidade vai tomando conta dele e os presentes-propinas se tornam cada vez mais frequentes, e vemos um indivíduo se afundando na lama.

Como geralmente acontece num bom filme de máfia, temos belas imagens, externas e internas, na luz ou nas sombras. A fotografia é cortesia de Masanobu Takayanagi, que volta a trabalhar com o diretor Scott Cooper depois do fraco Tudo por Justiça (Out of the Furnace, 2013). O roteirista, Jez Butterworth, parece estar na moda, tamanha a lista de longas que têm assinado, como Spectre (2015) e James Brown (2014). Ele escreveu com o novato Mark Mallouk, adaptando Black Mass: The Irish Mob, The FBI and a Devil’s Deal, dos jornalistas Dick Lehr and Gerard O’Neill. O livro foi publicado em 2001 e antes mesmo já havia interesse pela compra dos direitos. Por vários motivos, tendo sido pensado até em uma minissérie, a produção foi atrasada e trocou de equipe várias vezes, terminando nas mãos de Cooper, que está longe de ser um diretor criativo, com um estilo marcante. Ele já ajudou Jeff Bridges a ganhar um Oscar (por Coração Louco, 2009), vamos ver se acontece o mesmo com Depp.

E esse é o verdadeiro psicopata

E esse é o verdadeiro psicopata

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Spectre fecha o arco de Daniel Craig

por Marcelo Seabra

Spectre poster

Um agente secreto agindo sozinho, por conta própria, descobre a existência de uma grande organização criminosa e, na missão de desbaratar o grupo e pegar o líder, só pode contar com os colegas mais fiéis, que arriscam suas carreiras. Ao mesmo tempo, seu superior deve lutar para que o governo não acabe com a própria companhia que os emprega. Poderíamos estar falando de Missão: Impossível – Nação Secreta (Mission: Impossible – Rogue Nation, 2015), mas essa acontece de ser também a trama de 007 Contra Spectre (Spectre, 2015), nova aventura do espião mais famoso do Cinema.

Depois de realizar o fantástico Skyfall (2012), o diretor Sam Mendes voltou ao universo de Ian Fleming com a aparente intenção de homenagear a série. Algumas cenas e sequências remetem a outros episódios, até o figurino do vilão parece escolhido com essa intenção. Os mesmos três roteiristas, John Logan, Neal Purvis e Robert Wade, criaram a história e contaram com Jez Butterworth (de James Brown, 2014) para finalizar o texto. A homenagem já começa da premissa: a S.P.E.C.T.R.E. é uma organização clássica que já esteve por trás de muitos problemas vividos por James Bond. E retomar esse tom mais fantasioso derruba a ideia de deixar Bond mais próximo de real, como vinham fazendo os filmes anteriores. Este novo segue tentando humanizar Bond, mas se confunde em vários momentos e volta a mostrar um personagem raso, que serve às necessidades do roteiro.

SPECTRE Oberhauser Swann

Daniel Craig se diverte vivendo situações absurdas e passa muita segurança no papel, liderando um bom elenco. A mocinha da vez é vivida por Léa Seydoux (do quarto Missão: Impossível) e o que vai acontecer com ela é bastante previsível, e inclusive repete muito uma outra bond girl recente. E o vilão, o sujeito por trás da Spectre (cujo nome não é tratado como uma sigla, mas como um substantivo), é Christoph Waltz (de Django Livre, 2013), em mais um personagem educado, inteligente e sádico, como tantos outros de sua carreira, correndo um risco enorme de ficar estereotipado. Ele dá a impressão de ser muito mau, mas apenas nos levam a crer nisso, relatando seus feitos. A verdade é que ele é mal aproveitado e se torna apenas mais um megalomaníaco padrão. Apesar da tentativa de lhe dar um histórico, suas motivações nunca são reveladas. E coincidências do passado soam como forçar a barra além da conta. A forma como tudo é amarrado é interessante e nos dá uma sensação de unidade, de que tudo foi pensado desde o início, mas se conclui de forma fraca.

Personagens geralmente relegados a segundo plano têm a chance de participar mais ativamente. Um exemplo é M (o ótimo Ralph Fiennes, de O Grande Hotel Budapeste, 2014), que tem uma subtrama só para ele, duelando contra o suspeito C (Andrew Scott, de Sherlock) para proteger o programa 00. E Q (Ben Whishaw) e Moneypenny (Naomie Harris) partem para a ação para ajudar Bond. Outras novidades, além das já mencionadas, respondem por Monica Bellucci (de As Idades do Amor, 2011) e Dave Bautista (de Guardiões da Galáxia, 2014), fechando o grupo principal.

Uma característica marcante de 007 é a música-tema. A mais recente, Skyfall, deu a Adele e à franquia um Oscar. Era de se esperar algo na mesma altura. E nos deparamos com um certo Sam Smith sofrendo horrores em sua interpretação de Writing’s on the Wall, nos torturando com seu falsete. E o instrumental, nada memorável, é provavelmente o mais discreto das últimas músicas. É engraçado perceber que os temas da “era Craig”, se organizados por qualidade, ficariam na mesma ordem que os filmes: Cassino Royale (2006) e Skyfall à frente, Quantum of Solace (2008) em último e este Spectre no meio do caminho. Resta saber se Craig honra seu contrato e faz mais um ou se ele pula fora, já que “prefere cortar os pulsos a fazer mais um James Bond”, como afirmou publicamente.

Mendes, no meio, apresenta seu elenco

Mendes, no meio, apresenta seu elenco

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