Preacher é mais DC/Vertigo nas telinhas

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Preacher

Após a boa repercussão de Lucifer, eis que mais uma adaptação da Vertigo, selo da DC Comics com quadrinhos voltados ao público adulto, chega à TV. Preacher é uma adaptação da elogiada obra de Garth Ennis (roteiro) e Steve Dillon (desenhos) que estreou no fim de maio na rede americana de TV a cabo AMC e, a exemplo de sua antecessora, é uma “série levemente baseada nos conceitos apresentados no original”. Após ter cinco dos dez episódios previstos para a primeira temporada transmitidos, podemos dizer que Preacher é uma série que ainda não se justificou e que, a exemplo de Lucifer, deve desagradar os mais puristas, por apresentar poucas semelhanças com seu material de origem.

Produzida por Seth Rogen (ator conhecido por comédias questionáveis como A Entrevista, 2014), Evan Goldberg (também de A Entrevista) e Sam Catlin (de Breaking Bad), a série conta a história de Jesse Custer (Dominic Cooper, o jovem Howard Stark do Universo Marvel), um pastor em uma pequena cidade texana que está no meio de uma crise de fé. Mesmo sabendo que sua cidade precisa dele, Jesse não quer mais seguir a promessa feita a seu pai de seguir seu trabalho de evangelização. Enquanto se vê nessa situação, ele recebe a visita de Tulipa (Ruth Negga, de Warcraft, 2016), uma assassina mercenária que tem uma história com o pastor e quer que ele a ajude em um último trabalho. Completa o trio o irlandês Cassidy (Joseph Gilgun, de O Último Caçador de Bruxas, 2015), um vampiro que está em constante fuga de uma organização misteriosa. A situação toda se complica quando Jesse passa a ter seu corpo coabitado por um ente misterioso que lhe concede um grande poder de influência sobre os outros.

Preacher trio

Quando surgiu, em 1995, nos Estados Unidos, Preacher chamou a atenção por uma série de fatores. Além da premissa bastante polêmica em uma sociedade dominada pelo puritanismo cristão, o gibi apresenta uma diversidade de personagens bizarros e situações surreais, além de um senso de humor negro, diálogos ácidos e uma saudável dose de violência. Apesar de Rogen se dizer um fanático pela série e Garth Ennis ser um de seus consultores, até o momento muito do que fez Preacher obter seu status “cult” foi deixado de lado na adaptação do AMC. A violência se faz presente, assim como os personagens bizarros, mas de resto, pouca coisa sobrou. Dentre o trio de protagonistas, apenas o Cassidy de Gilgun reflete o personagem dos quadrinhos e o ator entrega uma performance muito boa. Já Jesse e Tulipa – que teve sua etnia alterada de caucasiana para afro-americana na adaptação – estão bem longe do que se esperava deles. Algumas escolhas de direção, como letreiros que remetem a filmes de faroeste dos anos 1960 também podem ser questionáveis, mas isso já pode ser mais uma implicância do que um demérito para a série.

Preacher cai naquela categoria de série que é feita para agradar um tipo de público, mas não deve agradar muita gente. Aqueles fãs dos quadrinhos de Ennis & Dillon que há anos esperavam ver todo o humor politicamente incorreto na série da TV se decepcionarão, enquanto que o público que se interessa por séries violentas e bizarras deve se sentir meio perdido devido a algumas escolhas de roteiro que introduzem personagens do nada e não voltam a eles, ainda que possa curtir toda a violência apresentada.

A exemplo da malfadada Constantine (outra série da Vertigo adaptada para TV que, ao contrário de Lucifer, foi cancelada após a primeira temporada), Preacher é uma série que, apesar de ter metade da primeira temporada transmitida, deve depender de mais tempo para cair no gosto do público e bem mais de empenho de todos os envolvidos para criar algo que não seja um tanto genérico. O AMC parece confiante, já que autorizou a produção da segunda temporada.

Nos quadrinhos eles são assim

Nos quadrinhos eles são assim

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Paul Rudd vira cuidador no Netflix

por Marcelo Seabra

The Fundamentals of Caring posterMais uma produção original Netflix está disponível para o público. E é curioso que The Fundamentals of Caring (2016) tenha sido lançado enquanto Como Eu Era Antes de Você (Me Before You, 2016) ainda está nos cinemas. Trata-se de uma outra história sobre um cuidador de uma pessoa paralisada, mas com um elenco bem mais afiado e sem as armadilhas fáceis, como pender para o romance. E o humor ácido ajuda muito no resultado.

Paul Rudd, agora mais lembrado como o Homem-Formiga da Marvel, é um sujeito extremamente carismático que traz uma simpatia natural para os projetos dos quais participa. Mesmo que seu personagem esteja num momento bem sombrio, sem rumo, torcemos por seu restabelecimento. Ben, o sujeito em questão, está se separando e não se vê escrevendo um novo livro. Por isso, faz um curso e vira cuidador de pessoas com necessidades especiais. A primeira vaga à qual se inscreve o leva à casa de Elsa (Jennifer Ehle, de Cinquenta Tons de Cinza, 2015), onde ele conhece o filho dela, Trevor (Craig Roberts, de Anjos da Lei 2, 2014), acometido por uma distrofia muscular rara. Ben e o jovem parecem se entender e ele é contratado. Trevor tem um humor peculiar que envolve piadas de cunho sexual e outras relacionadas à sua condição.

The Fundamentals of Caring scene

Como Ben não transmite pena e nem trata Trevor como coitado, os dois logo se aproximam, e o rapaz topa sair do seu marasmo e viajar por pontos turísticos esdrúxulos, visitando por exemplo o maior boi do mundo e o poço mais fundo. Seguindo a tradicional linha dos road movies, eles vão conhecer algumas figuras interessantes, como a andarilha de Selena Gomez (de Vizinhos 2, 2016), e acabar chegando a algum tipo de conclusão/redenção. Um grupo de pessoas problemáticas reunidas e nem por isso um filme chato ou cansativo. Pelo contrário, há tiradas bem engraçadas que se alternam de forma fluída com momentos mais sensíveis. Se algumas situações beiram a pieguice, não chega a causar problema.

Misturando com competência grandes produções com indies como esse, Rudd se consolida como um ator versátil, hábil ao demonstrar diferentes emoções e ao tirar um sorriso do rosto do espectador. O experiente produtor Rob Burnett (do Late Show de David Letterman) fez de The Fundamentals of Caring seu segundo filme como diretor, além de assinar o roteiro, e acertou em cheio também ao escalar o ótimo Roberts, inglês que já havia mostrado talento em produções anteriores e não foi diferente aqui. Chamado pelo IMDb de Amizades Improváveis, o longa é uma ótima opção para aproveitar esse frio debaixo das cobertas.

É um choque descobrir que o rapaz não tem o problema muscular de verdade

É um choque descobrir que o rapaz não tem o problema muscular de verdade

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Mais destruição em outro dia da independência

por Marcelo Seabra

Independence Day 2 Poster

Depois de vinte anos, os alienígenas voltaram à Terra para terminar o que começaram em Independence Day (1996). E para satisfazer a necessidade que o diretor Roland Emmerich tem de destruição em larga escala. Em Independence Day: O Ressurgimento (ID: Resurgence, 2016), os países aprenderam a trabalhar unidos e o planeta parece totalmente reconstruído, empregando inclusive tecnologia de fora. Nada melhor para unir povos que uma hecatombe. Mas existe aquele risco de um novo ataque, já que o primeiro rendeu muito dinheiro nas bilheterias. Era questão de tempo até que o elenco original fosse reunido. Só não podíamos prever que o roteiro seria tão besta e os diálogos, tão horrorosos.

Uns dizem que Will Smith pediu muita grana; ele próprio alegou conflito de agenda, já que as filmagens iriam coincidir com as de Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016). Tirando a ausência dele e do falecido Robert Loggia, que foi inserido digitalmente como uma homenagem, os demais estão lá. Jeff Goldblum é o agora Diretor David Levinson, envolvido em tudo que diz respeito aos aliens devido ao seu conhecimento dos eventos anteriores. O ex-presidente e eterno líder do mundo livre Thomas Whitmore continua na pele do sumido Bill Pullman e tem papel importante na nova resistência. O pai de Levinson, Julius (Judd Hirsch), também volta, para tristeza do público, elevando o ridículo a um outro patamar. Até o tresloucado Dr. Okun (Brent Spiner) aparece, quando todos achavam que ele tivesse morrido.

Independence Day 2 Hemsworth

Como a moda é colocar no meio alguém com apelo jovem, para atrair vários públicos, temos um Hemsworth recrutado. Liam (dos Jogos Vorazes – acima) mostra mais uma vez o tanto que lhe falta em carisma, sendo apenas um rostinho bonito numa tentativa de agradar as garotas da plateia, como se elas também não estivessem mais interessadas no espetáculo de pirotecnia. Outro colírio oferecido é Jessie T. Usher (de Quando o Jogo Está Alto, 2014), cujas tarefas são orgulhar o pai morto (o Capitão Hiller de Smith) e justificar a presença de Vivica A. Fox, que repete o papel da mãe. Seguindo essa lógica torta de estúdio, para o público masculino temos Maika Monroe (de Corrente do Mal, 2014), colocada oficialmente na função de coitadinha ao ter o noivo e o pai em perigo. A outra mulher “forte” do elenco é Sela Ward (de Garota Exemplar, 2014), a atual presidente, praticamente uma ponta. Completa o grupo principal o competente William Fichtner, que anda se envolvendo em bombas do tamanho de As Tartarugas Ninja (2014).

Sem Will Smith, as tentativas de humor caem principalmente nas mãos de Hirsch, completamente deslocado, e de um sujeitinho que parece ser um contador que acaba no meio da guerra e mostra ter “alma de guerreiro”, frase dita por outro personagem improvável em meio a um festival de diálogos babacas, falsos e motivacionais. Ocasionalmente, Hemsworth tenta ser engraçadinho e só consegue deixar o público ainda mais enfarado. Clichês como um grupo desavisado ir parar no meio do campo de batalha e o cachorrinho que foge e alguém tem que voltar para buscá-lo não faltam. O humor é tão fora de lugar que torna as cenas mais dramáticas ou tensas simplesmente apáticas, ao invés de apenas proporcionar uma quebra saudável.

Dean Devlin, parceiro de Emmerich no roteiro original, volta à função ao lado de nada menos que três outros roteiristas. Um filme escrito a dez mãos só poderia ser um tanto bagunçado. A trama, previsível, nos apresenta ao possível fim do mundo, já que a tal raça volta sedenta de sangue e os humanos não veem saída. Mas sua força de viver vai prevalecer e eles vão achar uma saída. Ou algo assim. O governo americano, claro, toma a frente e é formada uma equipe de pilotos que vão promover o contra-ataque. No meio do time não poderiam faltar o novinho, a garota chinesa e o cara negro, numa tentativa politicamente correta de ter vários estereótipos e agradar a vários públicos. Com todos esses lugares comuns, uma trilha cansativa e óbvia e uma fotografia que não acrescenta nada, essa sequência sem dúvida é bem mais fraca que o anterior. E podemos esperar pelos próximos episódios.

Reunidos para a sequência - e para uma selfie

Reunidos para a sequência – e para uma selfie

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Tartarugas Ninja continuam não convencendo

por Marcelo Seabra

Teenage Mutant Ninja Turtles 2 poster

A notícia boa é que a continuação supera o original. A ruim é que isso não significa muita coisa. Se o primeiro filme não conseguiu ir longe, As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras (Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows, 2016) vai pouco a mais. Com uma trama incompreensível ou, no mínimo, implausível, a solução do roteiro para uma nova aventura foi juntar o vilão já conhecido a outro novo para, juntos, buscarem o mesmo objetivo de sempre: a conquista do planeta. Nada megalomaníaco e bastante criativo.

O vilão número dois, já que o Destruidor está de volta (desta com Brian Tee, de Wolverine: Imortal, 2013, vestindo a máscara), é o alienígena Krang (voz de Brad Garrett, da série Raymond), um dos personagens mais antigos do universo das Tartarugas. Para tamanha importância, o aproveitamento dele deixa muito a desejar. Quem acaba ganhando mais destaque são os capangas Bebop (Gary Anthony Williams) e Rocksteady (Stephen Farrelly, o lutador conhecido como Sheamus O’Shaunessy), dois humanos que ganham características animais a auxiliam o clã do Destruidor.

As Tartarugas Ninja continuam desenvolvendo a dinâmica familiar, com conflitos de irmãos surgindo a toda hora. Um acha que é responsável pelos outros, o outro não quer seguir ordens do irmão… Cada um tem uma personalidade distinta dos demais, ou ao menos traços que os diferenciam. Um parece um cientista, o outro, um samurai. E um só quer comer pizza, gosto dividido com todos eles. E o Mestre Splinter (voz de Tony Shalhoub), como o Mestre dos Magos, se limita a dar sábios conselhos em determinados momentos, deixando a ação para os filhos. Eles travam uma batalha urbana silenciosa, já que a sociedade não pode conhecê-los. Dois ressentimentos surgem desse fato: eles não podem ser revelar como os verdadeiros heróis da cidade, que derrotaram o Clã do Pé e o milionário Eric Sacks (William Fichtner); e não conseguem preencher uma certa necessidade de pertencimento, não podem se relacionar com as pessoas.

Teenage Mutant Ninja Turtles 2 Jones

Do lado humano, continuamos acompanhando a intrépida repórter April O’Neil, mais uma vez vivida por Megan Fox. Para falar positivamente sobre a atriz, é possível dizer que ela é linda, e os elogios param aí. Will Arnett consegue um pouco mais de importância na trama, Vernon é reconhecido em qualquer lugar como o cara que derrotou o Destruidor e sua gangue, já que as Tartarugas devem permanecer nas sombras. A novidade do lado bom responde por Stephen Amell, conhecido pela série Arrow (acima). O justiceiro das ruas mascarado como jogador de hockey Casey Jones virou um policial mauricinho e chato, nada perto do desequilibrado dos quadrinhos. Laura Linney (de Mr. Holmes, 2015) vive uma chefe de polícia investigando o caso do Clã e Tyler Perry (de Garota Exemplar, 2014) encerra o elenco principal como o Dr. Baxter Stockman, um cientista com tendências criminosas.

Indo da ação desenfreada a uma conclusão atropelada, As Tartarugas Ninja 2 tem problemas de ritmo, de roteiro, de interpretações e de mais um tanto de coisas. Com um tom mais infantil do que o anterior, pelo menos essa fatia do público deve ser agradada. O clima cartunesco é claro e o filme parece mais um desenho animado. Desse jeito, melhorando pouquíssimo a cada episódio, vai levar só algumas décadas para termos uma aventura decente desses heróis. De preferência, sem homenagem ao cantor Vanilla Ice.

Amell e Fox são simpatia pura no lançamento do filme

Amell e Fox eram simpatia pura no lançamento do filme

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Química do casal segura Como Eu Era Antes de Você

por Marcelo Seabra

Me Before You banner

Tinha tudo para ser mais uma comédia romântica dramática à Nicholas Sparks. Mas até que Como Eu Era Antes de Você (Me Before You, 2016) consegue ir além do usual fugindo de alguns estereótipos e fazendo piadas acertadas no limite da acidez. E é bom ressaltar que quem vai ver esse tipo de filme no cinema, tendo um mínimo de informação prévia a respeito, já tem uma ideia do que esperar. E é bem capaz de encontrar exatamente isso.

Baseado no best-seller de Jojo Moyes, que escreveu o roteiro e manteve suas falas melosas, o filme nos apresenta a Louisa Clark, uma garota simples que trabalha há anos em uma lanchonete para ajudar a família, que precisa de cada centavo que entra. Ao ver o estabelecimento fechar, ela é obrigada a buscar um novo ganha pão e acaba na porta dos Traynors, a provável família mais rica da cidadezinha inglesa onde moram. O filho do casal, outrora um empresário poderoso, hoje necessita de cuidados especiais após um acidente deixá-lo tetraplégico. A situação dele inclusive suscitou manifestações de grupos que se posicionam contra a forma como tudo é conduzido.

Me Before You couple

As conclusões óbvias que poderemos tirar ao ler essa curta trama não precisam ser mencionadas. E é fato que, nos dez a vinte primeiros minutos de projeção, a impressão que temos é de que a experiência será difícil de engolir, mesmo com pipoca e refrigerante. Mas a boa surpresa acontece e os atores parecem se encaixar em seus papéis. Tudo o que eles precisavam era de tempo para se familiarizarem. Dando um tempo no convívio com dragões e exterminadores do futuro, Emilia Clarke começa um tanto abobada, pendendo claramente para o pastelão até achar o tom certo. Sua Lou leva jeito de ser burra, irritante e exageradamente brega em seu modo de vestir, mas acaba mostrando outras habilidades. Ela é aparentemente incapaz de se deixar abater e é a simpatia em pessoa.

Completando a dupla de protagonistas está Sam Claflin, que ganhou certa projeção com a franquia Jogos Vorazes. Mesmo sendo um papel pequeno, ou até por isso, ele fez melhor do que em outros trabalhos em que participou mais, como no pavoroso Simplesmente Acontece (Love, Rosie, 2014). Pela primeira vez, ele consegue se manter bem nos holofotes, vivendo um sujeito que traz uma mistura de raiva e desilusão por ter sido obrigado a deixar o estilo de vida ao qual se apegou tanto. O que ele consegue é se afastar do clichê do brigão mal humorado de sempre. Ele é um almofadinha que aprendeu a ser um pouco menos arrogante e valoriza o esforço genuíno da garota de tentar ajudar a fazê-lo se sentir melhor. Temos aí um quê de Pigmalião, uma troca de erudição e simpatia entre eles.

Como em uma novela de Manoel Carlos, temos dois núcleos bem distintos: os ricaços que levam uma vida miserável e têm seus segredos; e os pobretões que parecem se divertir bem mais, mesmo com as dificuldades financeiras enfrentadas. Charles Dance, também de Game of Thrones, e Janet McTeer (da série Divergente) entregam as melhores performances como os Traynors, e até conseguimos sentir um pouco da dor que eles carregam. E a cineasta que conduz essa receita de água com açúcar, Thea Sharrock (da ótima série Call the Midwife), é mais uma nova voz feminina atrás das câmeras, o que merece ser celebrado.

O visual de Lou é um caso à parte

O visual de Lou é um caso à parte

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Casal Warren investiga novo caso assombrado

por Marcelo Seabra

The Conjuring 2 banner

Depois de arrecadar mais de 300 milhões de dólares, era certo que Invocação do Mal (The Conjuring, 2013) teria uma continuação. E o diretor James Wan gostou da ideia de seguir nesse universo e se garantiu no comando da franquia. Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2, 2016) já chegou aos cinemas e traz uma nova investigação do casal Warren, demonologistas que teriam participado de mais de dez mil casos de possessão, assombração e afins. Não é imprescindível ter visto o anterior, já que se trata de uma nova história.

Repetindo os papéis principais, temos Patrick Wilson e Vera Farmiga como Ed e Lorraine Warren. Eles viajam pelos Estados Unidos para ajudar pessoas que estariam sendo vítimas de espíritos com más intenções. Um dos casos mais documentados e famosos de todos os tempos é o da casa de Amityville, onde um morador matou sua família e alegou ter sido obrigado a isso por forças sobrenaturais. Essa situação serve de ponto de partida e encontramos os Warrens cansados de tanta energia ruim, e Lorraine faz o marido prometer que essas aventuras estariam encerradas. Eles acabam aceitando ser consultores da Igreja Católica, com a perspectiva de apenas fazerem uma visita, e acabam entrando de cabeça.

Janet

Em Londres, uma mãe e seus quatro filhos começam a observar fenômenos sobrenaturais dentro de casa. Nem a polícia nem o padre podem ajudar, e os Warrens são chamados para eliminar a possibilidade de farsa, o que alguns afirmam ser o caso. O fato ficou conhecido como o Poltergeist de Enfield e vai garantir ao público alguns sustos bem dados. Wan consegue contornar a maioria das obviedades do gênero, mantendo a sobriedade do primeiro filme. Há, sim, cruzes rodando na parede, mas são poucos os clichês. Novamente, a fotografia explora bem os cantos da casa e conta com contrastes de luz pra criar a atmosfera necessária. O cineasta e seu diretor de fotografia, Don Burgess (de O Voo, 2012), conseguem uns enquadramentos muito interessantes e a câmera passeia pelos ambientes levando junto o espectador. A trilha sonora do colaborador usual de Wan, Joseph Bishara, chega a evocar o clássico O Exorcista (The Exorcist, 1973), contribuindo para o quadro geral.

O roteiro, novamente a cargo de Wan e dos irmãos Carey e Chad Hayes, além de David Johnson (de Fúria de Titãs 2, 2012), toma um tempinho para apresentar os novos personagens e para encontrar os já conhecidos. Isso é fundamental para que possamos entender e nos importar com aquela família. Os momentos dramáticos são bem arquitetados e há doses de humor em meio à tensão, uma quebra bem-vinda que cria ainda mais expectativa. A reconstituição de época é rica e recria o final da década de 70. E Madison Wolfe (de Joy, 2015) acerta na composição de sua Janet, uma menina que procura um lugar em meio à turma da escola e logo se vê afastada de todos, tida como diferente, até amaldiçoada.

Wilson e Farmiga levam a sério o universo dos Warren e trazem a força e a dignidade necessárias, e temos uma ideia dos desafios que o casal vivia quando são chamados de charlatões em um programa de televisão. O elenco, que inclui Frances O’Connor, Simon McBurney e Franka Potente, está bem nivelado, e ajuda muito ter personagens críveis, que tomam atitudes compreensíveis. Wan evita exageros ou apelações e entrega um filme de terror com classe, que nos faz aguardar as próximas aventuras de Ed e Lorraine. Problemas de agenda podem tirar o diretor da terceira parte, mas isso não deve impedi-la de acontecer.

Wan apresenta uma das assombrações

Wan apresenta uma das assombrações

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Warcraft é o mais recente game a ganhar as telas

por Marcelo Seabra

Warcraft banner

Tanto quanto um livro longo e rico, é tarefa das mais complicadas adaptar para o Cinema um videogame de grandes proporções como é o caso de Warcraft. Com o subtítulo O Primeiro Encontro de Dois Mundos (2016), o longa chegou dividindo opiniões. Visualmente empolgante, como outras obras de fantasia da atualidade, ele é prejudicado por uma trama um pouco confusa e um número enorme de personagens que acabam se confundindo. O resultado é bem superior a outras adaptações de jogos, um subgênero ainda marcado pelo fracasso, mas ainda está longe do desejado.

Em um mundo perto da exaustão de recursos, tribos de orcs se mobilizam para transferirem suas famílias através de um portal mágico. Paralelamente, temos humanos vivendo em paz naquele que seria o mundo ideal para os Orcs. Ou seja: guerra à vista. Essa é a premissa de um jogo lançado em 1994 que já teve várias expansões e inovações. Seus personagens são divididos em raças, classes e profissões, cada um com tarefas e características bem definidas, como poderes mágicos e divindades. Cabe ao jogador escolher se estará com a Aliança ou com a Horda e uma série de outras definições.

Todo este rico universo foi construído sugando referências de diversas fontes. Não é difícil ver elementos de O Senhor dos Anéis, por exemplo, e sobra até para Game of Thrones. Claro que adaptações deveriam ser feitas para o material funcionar no Cinema, o que deve desagradar os fãs mais extremistas. Mesmo simplificando, há diversos nomes citados aqui e ali, muita gente parecida que não se sabe mais se é um ou outro. E alguns rumos que a história segue não ficam claros. Escrito pelo diretor Duncan Jones e por Charles Leavitt (de No Coração do Mar, 2015), o roteiro se perde na extensão dos fatos narrados e, do início, já sabemos que as pontas soltas não serão todas amarradas. Afinal, aqui se tenta estabelecer uma franquia. Histórias e potencial não faltam.

Warcraft orc

Tragédias e heroísmos pontuam a trama, reforçando a iconografia de alguns personagens, olimpianos dos humanos e dos orcs. Seus intérpretes, em sua maioria, são inexpressivos, formando um elenco bem homogêneo, nivelado por baixo. Ben Foster (de O Grande Herói, 2013), Travis Fimmel (da série Vikings), Paula Patton (de Dose Dupla, 2013) e Dominic Cooper (de Drácula: A História Nunca Contada, 2014) são os nomes principais, eclipsados por Toby Kebbell, que repete o belo trabalho de interpretação e captura de movimentos mostrado em Planeta dos Macacos: O Confronto (2014).

Jones, lembrado pelos ótimos Lunar (Moon, 2009) e Contra o Tempo (Source Code, 2011), assumiu um projeto maior, com orçamento de 160 milhões. Diretores competentes já se perderam com dinheiro demais, e nem é o caso aqui: Jones imprime sua marca no longa, que passa longe do fracasso de outras adaptações de games. Mas o fato da lógica daquele universo ser apresentada aos poucos, à medida do necessário, traz uma sensação de oportunismo que enfraquece a trama. As coisas acontecem na hora em que precisam acontecer, da forma como deve ser. Talvez, em uma sequência, com verdades já estabelecidas, o resultado seja melhor.

Fimmel é um herói bem insosso

Fimmel é um herói bem insosso

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Jornalismo é o centro do Jogo do Dinheiro

por Marcelo Seabra

Money Monster banner

Está em cartaz o novo filme da diretora Jodie Foster, O Jogo do Dinheiro (Money Monster, 2016), e ao contrário do que se pode pensar, não se trata de uma obra sobre o mercado financeiro. O foco é muito mais o jornalismo que é feito hoje e o buraco no qual a profissão vem se escondendo. Mesmo trazendo uma discussão mais rasa, o longa nos mostra que o problema é generalizado, e não apenas no Brasil, e indica que há muito paramos de fazer as perguntas certas, aceitando verdades como fatos.

O protagonista, Lee Gates (George Clooney, de Ave, César, 2015), é um figurão da mídia que ganha bem fazendo um espetáculo na TV. Não vemos análises ou dicas bem fundamentadas, mas dancinhas, memes e chutes relacionados a ações e ao que poderia ser lucrativo. Pequenos investidores podem assistir ao programa e seguir os palpites de Gates, que não tem responsabilidade alguma ao indicar empresas de conhecidos e inadvertidamente contribuir com golpes. Seria apenas algo inocente visando entretenimento, como Gates gosta de pensar, ou ele teria uma responsabilidade maior com seu público?

Money Monster scene

Durante uma gravação, que parecia ser apenas mais uma, Gates é surpreendido por um jovem armado que o faz vestir um colete com explosivos. Tudo isso para obter respostas. O que teria causado um rombo de US$ 800 milhões que levou a economia de muita gente pequena? Quem responde por isso? A queda brusca das ações de uma empresa pode ser justificada por um erro num software? Kyle (Jack O’Connell, de Invencível, 2014), o jovem e desesperado invasor, faz questionamentos que poderão tirar a equipe do programa do piloto automático. A produtora (Julia Roberts, de Álbum de Família, 2013) se comunica com Gates pelo ponto eletrônico e, juntos, eles tentarão resolver o caso.

Roberts, sentada na maior parte do tempo, não causa uma impressão forte, o que deixa para os colegas de elenco. Clooney começa usando aquele charme natural de canalha que já conhecemos bem para, quando em risco, começar a atuar de fato, injetando ânimo nas cenas. E O’Connell, que já segurou filmes nas costas e nunca decepciona, traz credibilidade a seu personagem, alguém que não vê outra possibilidade a não ser o ato extremo que causa. E ele sabe qual é o provável desfecho, como deixa claro. Dentre os demais nomes de apoio, o destaque é a bela e firme Caitriona Balfe (de Rota de Fuga, 2013), que não tem nada de mocinha em perigo.

Dirigindo pela quarta vez, Foster (de Um Novo Despertar, 2011) parece estar reunindo amigos para uma confraternização, bem ao estilo de Clooney, que também é produtor. Todos se mostram bem à vontade. A tensão da história consegue se manter por quase toda a projeção, mesmo que seja fácil antecipar o final. Em pouco mais de uma hora e meia, acompanhamos uma história interessante que pode fazer pensar um pouco e questões mais sérias. O que é uma vitória para os envolvidos.

Seria esse o fundo do poço?

Seria esse o fundo do poço?

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Memórias Secretas nos leva ao terror do Holocausto

por Marcelo Seabra

Remember posterZev Guttman é um velhinho aparentemente inofensivo que guarda um trauma enorme: ter tido a família assassinada em Auschwitz. Depois de muitos anos, ele tem a oportunidade de vingá-los, indo atrás do igualmente octogenário responsável pelas execuções. Memórias Secretas (Remember, 2015) representa, além de outra grande interpretação de Christopher Plummer, uma volta do diretor Atom Egoyam à boa forma após algumas bolas fora. Outros grandes nomes no elenco ajudam a manter o resultado acima da média, mesmo que muito possam torcer o pescoço para a conclusão.

Com roteiro do estreante Benjamin August, que já engatou um segundo projeto em produção, Egoyam (de Sem Evidências, 2013) voltou sua atenção para um sobrevivente do holocausto em busca de vingança. O alemão Zev (Plummer, de Não Olhe Para Trás, 2015) conhece no asilo um compatriota com o mesmo histórico, Max (Martin Landau, de Frankenweenie, 2012), e eles traçam um plano para encontrar e eliminar o líder do bloco onde foram prisioneiros. O inconveniente é que existem, na América do Norte, quatro pessoas com nome, nacionalidade e idade idênticos, o que torna a busca mais longa. Zev deixa o amigo inválido no asilo e foge atrás das pistas que dispõe, sempre se orientando pela carta escrita por Max. O detalhe: Zev está sofrendo de um tipo de demência que ataca sua memória e precisa ser lembrado, por exemplo, que sua esposa faleceu.

A busca do protagonista o faz encontrar personagens interessantes e passar por situações inesperadas. E Egoyam tem a oportunidade de contar com atores como Dean Norris (de Breaking Bad), Jürgen Prochnow (de Hitman: Agente 47, 2015), Henry Czerny (de Revenge) e Bruno Ganz, muito lembrado como o próprio Hitler de A Queda (2004). Com essa turma, um roteiro bem polido e uma fotografia bonita, cortesia do parceiro habitual Paul Sarossy, o diretor consegue um resultado melhor que nos últimos filmes lançados. E é bom lembrar ainda da trilha marcante do também colaborador frequente Mychael Danna, que traz um quê de Hitchcock em alguns momentos.

Os amigos planejam a caça ao nazista

Os amigos planejam a caça ao nazista

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Kate Winslet costura uma vingança

por Marcelo Seabra

The Dressmaker banner

Para este filme ficar acima da média, bastou uma grande atriz como protagonista. A Vingança Está na Moda (The Dressmaker, 2015) se beneficia muito do talento e da beleza de Kate Winslet, que se vira bem com uma personagem que deveria ser interessante, mas é mal concebida e nunca revela a que veio. É no elenco, que ainda conta com a ótima Judy Davis, que o filme se apoia, já que o roteiro parece amarrado por linhas muito finas que não aguentam a pressão.

No início da história, já percebemos que tudo depende de esquecimentos e situações muito convenientes, essenciais para que a trama seja possível. Tilly Dunnage (Winslet, da franquia Divergente) há muito não voltava à pequena Dungatar, no outback australiano, e surpreende a todos com seu retorno. Deixando a alta costura parisiense, ela se propõe a cuidar da mãe doente (Davis, de Para Roma, Com Amor, 2012) e fazer vestidos para as garotas e senhoras locais. Por trás dessa atitude aparentemente altruísta, há um óbvio ressentimento esperando para se tornar vingança.

The Dressmaker KW

Uma mistura de asco e medo é percebida na população do vilarejo quando se trata das duas Dunnage. A mais nova é acusada de assassina e a mais velha é tida como louca. Poucos se dispõem a ajudar e a conviver com elas, caso do bom moço Teddy (Liam Hemsworth, da franquia Jogos Vorazes) e do policial Farrat (Hugo Weaving, de A Viagem, 2012). A maior parte da população é formada por homens machistas e grosseirões e mulheres vazias e interesseiras. Tilly não se encaixa nesse perfil e não se sujeita, mas tem uma certa necessidade de aceitação por baixo da postura de durona.

O que a garota pretende, no entanto, nunca fica claro. Fatos vão sendo revelados e entendemos melhor o quadro, mas não parece haver nada planejado. As coisas simplesmente acontecem e seguem um rumo, muito diferente do que esperamos de uma pessoa magoada que a qualquer momento vai explodir. Tilly é caça e caçadora e começa a ficar difícil identificar a diferença. Winslet defende as atitudes da personagem, e podemos até comprar algumas delas, mas o quadro geral é bem falho. Davis, como a mãe idosa e rebelde, segue na mesma trilha, extremamente competente em sua arte, mas necessita de verdade.

A diretora Jocelyn Moorhouse tem um longo histórico de misturas bem equilibradas entre drama e comédia (A Prova, 1991, e Colcha de Retalhos, 1995), e o marido, PJ Hogan, é sempre lembrado como o diretor de O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) e O Casamento de Muriel (1994), novo clássico do Cinema australiano. Moorhouse dirige um roteiro escrito pelo casal, baseado no livro de Rosalie Ham, e novamente prestigia sua terra natal, o que é admirável. As paisagens são benefício extra. Mas as várias versões do roteiro e o tempo que o projeto levou para sair do papel devem ter causado-lhe danos. O tom é indefinido, indo de um extremo a outro, e o resultado é irregular.

Hugo Weaving é outro que está muito bem

Hugo Weaving é outro que está muito bem

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