Evil Dead volta a assombrar os cinemas

Até que demorou para a franquia seguir adiante, já que o último filme é de 2013. A Morte do Demônio (Evil Dead, 2013) foi apresentado à época como uma mistura de refilmagem e continuação do novo clássico de 1981. Traz basicamente a mesma história, mas a leva mais longe enquanto faz homenagens à trilogia de Sam Raimi. Agora, dez anos depois, é a vez de Lee Cronin dirigir e escrever um longa que pode levar a franquia adiante criando um universo mais amplo que aquele de Ash.

Para quem está chegando agora, é bom contextualizar: Raimi, hoje mais conhecido como o diretor da trilogia do Homem-Aranha de Tobey Maguire, lançou sua carreira em 81 com um terror de baixo orçamento estrelado pelos amigos. Bruce Campbell, hoje um notório ator de filmes B e figurinha fácil em encontros nerds, era Ash, o coitado que enfrenta demônios quando amigos em uma cabana afastada encontram o Livro dos Mortos e os invocam. Ele ainda apareceu nos dois filmes seguintes e na série de TV.

Cronin, que tem no currículo alguns curtas e o instigante The Hole in the Ground (2019), além de ter trabalhado com Raimi na série 50 States of Fright, seguiu os passos de Fede Alvarez, diretor da obra de 2013 que reviveu o nome Evil Dead. Assim como o colega, chamou nomes desconhecidos para o elenco e lança agora A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise, 2023), com uma história que ele próprio escreveu e que tem vida independente dos demais. De forma direta e enxuta, mostra o horror de uma família quando um espírito parece tomar o corpo da mãe.

Assim como no filme de 2013, esse A Ascensão tem sangue a rodo, além de vísceras e outras partes humanas visíveis por dentro. Membros arrancados não faltam e é aconselhado a estômagos mais frágeis que passem longe, assim como pessoas facilmente impressionáveis. Para os fãs do gênero, não há nada exatamente inovador, apenas uma trama amarradinha, com poucos clichês e sustos gratuitos, e a sensação de risco constante. Todos os personagens estão em perigo, das crianças aos adultos, e as protagonistas, Lily Sullivan e Alyssa Sutherland, fazem um bom trabalho.

Assim como no anterior, coisas acontecem de acordo com a conveniência do roteiro. Nada que chegue a incomodar, mas as regras do Necronomicon não chegam a ficar claras. Alguns elementos recém-descobertos podem levar a várias outras continuações. Ainda mais levando-se em consideração o baixo custo dessas produções. E Cronin deve se tornar um nome forte no gênero terror, tendo em vista as críticas positivas que A Ascensão tem recebido. Isso, além da atenção recebida devido às pessoas que alegadamente passaram mal nas sessões.

Campbell aposentou seu Ash e não aparece aqui

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O Lodo é Minas no Cinema

Juntando-se os talentos dos mineiros Helvécio Ratton, mais conhecido cineasta do estado, do jornalista e escritor Murilo Rubião, maior nome do Realismo Mágico da literatura brasileira, e de parte do elenco do Grupo Galpão de teatro, temos O Lodo (2023), longa que chega aos cinemas essa semana. Distribuída pela Cineart Filmes, a obra foi elogiada na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e agora abre para o grande público a oportunidade de conferi-la e de Belo Horizonte se ver na tela.

Passando por pontos muito conhecidos da geografia da capital mineira, como a Rua Sapucaí e a Praça da Estação, a fotografia de Lauro Escorel acaba ficando mais em ambientes internos, como o apartamento do protagonista ou o consultório do médico onde ele vai se tratar. Isso acentua a sensação do público de confusão e de claustrofobia, não muito diferente do que o próprio personagem está sentindo.

Manfredo (vivido pelo ótimo Eduardo Moreira) está em um estado de entorpecimento frente à vida: não sente vontade de encontrar a amante, de sair de casa, muito menos de trabalhar. Por isso, procura um analista, o Dr. Pink (Renato Parara), mas logo se arrepende da decisão e pede ao médico e à secretária que parem de procurá-lo. Com muita insistência, os dois seguem marcando consultas para Manfredo, afirmando que o tratamento não pode parar. Segundo o terapeuta, o sujeito teria um lodo dentro de si que precisava ser retirado aos poucos.

O roteiro, assinado por Ratton e outro nome famoso do nosso Cinema, L. G. Bayão (de O Segredo dos Diamantes, 2014, também de Ratton), estende o conto de Rubião, criando mais situações e personagens, mas sem perder o clima do absurdo kafkiano que o autor mineiro emulou. Propondo algumas perguntas não tão fáceis, a dupla de roteiristas deixa as respostas para o público, se preocupando mais em criar incômodos que em dar soluções. Fica claro que o filme pretende criar discussões e reflexões acerca de saúde mental, da responsabilidade sobre as ações de cada um e sobre o passado, do qual não se pode fugir.

Psicólogo por formação, Ratton está interessado na mente humana. No curta de estreia do cineasta, Em Nome da Razão (1979), ele aborda o assunto pelo prisma da saúde pública. Agora, está mais interessado na psicologia do indivíduo, como disse à Folha de São Paulo. Para o elenco, convidou atores que já trabalham juntos há anos, muitos deles do tradicional Grupo Galpão, como Moreira, Inês Peixoto e Teuda Bara. Essa cumplicidade de muito tempo pode ser vista na tela, traz naturalidade às relações dos personagens. Não há ninguém fora do tom, todos abraçando a estranheza da situação.

Depois de quase três anos de espera, a Quimera Filmes consegue lançar O Lodo lutando contra as dificuldades impostas por um governo que tentou a todo custo acabar com a cultura do país. O projeto seguinte de Ratton, ao lado da colega produtora Simone Magalhães Matos, seria um curta misturando live action e animação, Não Abuse, e a verba da Lei Estadual de Incentivo à Cultura já estava liberada. A Secretaria Estadual de Cultura, seguindo os passos do então governo federal, se mostrou tão limítrofe que os muitos percalços enfrentados fizeram os produtores devolverem a verba e desistir do projeto. Ter O Lodo em cartaz é uma grande vitória do Cinema nacional.

Ratton levou sua equipe e elenco para o lançamento do longa em BH

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Ladrões vivem uma trama divertida em Dungeons & Dragons

Por anos, fãs do desenho Caverna do Dragão torceram por uma adaptação para o Cinema. A obra era baseada no jogo que é tido como o primeiro RPG da história, aqueles que você vai decidindo o destino dos personagens nos dados. Ao invés de usar o desenho, os realizadores decidiram ir direto na fonte e criar uma trama totalmente nova. Assim, temos a chegada nos cinemas de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves, 2023).

Lançado em 1974, o jogo atribui a cada participante um personagem, com características definidas antes do início da partida. Com o andar da história, cada um pode ganhar riquezas, habilidades ou experiências. Ignorando (mas homenageando) Caverna do Dragão e a trilogia feita no início dos anos 2000, a Paramount Pictures decidiu começar tudo do zero e incumbiu Jonathan Goldstein e John Francis Daley (de A Noite do Jogo, 2018) da direção, além de escreverem o roteiro com Michael Gilio.

O longa começa com dois amigos, presos, contando sua história para os juízes de um possível perdão. Livres, eles vão atrás da filha de um deles, que passou os últimos anos sob os cuidados de outro amigo. Só que o sujeito se mostra um safado traiçoeiro e, para derrubá-lo, a dupla vai precisar reunir a antiga gangue. Encabeçando o elenco, temos de um lado Chris Pine (o Capitão Kirk de Star Trek) e Michelle Rodriguez (da saga Velozes e Furiosos) e, do outro, como antagonista, Hugh Grant (de The Undoing). Outros destaques respondem por Sophia Lillis (de It – A Coisa, 2017), Justice Smith (de Jurassic World: Domínio, 2022) e Regé-Jean Page (de Bridgerton).

Como uma espécie de Guardiões da Galáxia da fantasia, a turma funciona muito bem junta. Pine, o estrategista falastrão, e Rodriguez, a guerreira durona, se complementam perfeitamente, liderando os demais, que não fazem feio. Grant faz o vilão tranquilamente, com todo o charme de sempre, e parece se divertir. Page, com poucos títulos em sua jovem carreira, já parece alçado à condição de participação especial, como acontece com veteranos do peso de um Bill Murray, por exemplo. Causa certo estranhamento, mas nada que atrapalhe.

Com um peso dramático adequado, temos uma boa mistura de ação e humor e uma montagem ágil, que não cansa o espectador, apesar das mais de duas horas de duração. A trilha, assinada por Lorne Balfe (de Adão Negro, 2022), acompanha bem as cenas, sem sobressair ou nos dizer o que sentir, e a fotografia de Barry Peterson (também de Noite do Jogo) explora bem a geografia dos lugares e a criatividade dos designers de produção, que inventaram um mundo bacana que certamente será mais explorado no futuro. Só não dá para entender o uso da palavra “rebeldes” no subtítulo, quando “ladrões” seria a tradução certa e que faria sentido para a trama.

Grant tem brincado em entrevistas que é tão vaidoso quanto seu personagem

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Urso da Cocaína chega aos cinemas em longa divertido

Em 1985, um traficante de drogas estava fazendo o transporte quando o avião, muito pesado, começou a ter problemas. Para garantir o voo, ele começou a jogar sacolas e mais sacolas de cocaína em pleno ar, tudo caindo em um parque ecológico. Um urso negro foi encontrado morto três meses depois, bem longe do local, com 40 embalagens de cocaína abertas. A causa da morte: overdose. Esse fato serve de premissa para O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear, 2023), que extrapola a realidade e nos presenteia com o primeiro urso serial killer do Cinema.

Elizabeth Banks, em seu terceiro crédito como diretora (depois de A Escolha Perfeita 2, 2015, e As Panteras, 2019) resolveu contar essa história como se fosse a vingança do urso, como ela afirmou em entrevistas. Com roteiro de Jimmy Warden (de A Babá: Rainha da Morte, 2020), o longa é um slasher estilo anos 80 – inclusive ambientado nessa década – com uma diferença: ao invés de um vilão sobrenatural, como Jason Voorhees, temos uma força na natureza. Um urso doidão na droga.

O filme toma o cuidado de deixar claro que ursos negros americanos não atacam humanos, não são territorialistas ou violentos. Nesse caso, o comportamento do animal teria sido totalmente alterado pela cocaína. Vários personagens são criados para serem vítimas em potencial. Traficantes, oficiais da lei, turistas e crianças são algumas das possibilidades. E há passagens muito divertidas, mortes toscas e membros sendo arrancados.

À frente do elenco, a eterna Felicity Keri Russell faz uma mãe que precisa ir atrás da filha fujona, interpretada pelo prodígio Brooklynn Prince (de Projeto Flórida, 2017). O maluco do avião é vivido pelo marido de Russell e parceiro de The Americans, Matthew Rhys. Temos ainda Margo Martindale (de Bem-Vindos à Vizinhança), Jesse Tyler Ferguson (de Modern Family), Alden Ehrenreich (de Han Solo, 2018), O’Shea Jackson Jr. (de Obi-Wan Kenobi), Isiah Whitlock Jr. (de Destacamento Blood, 2020) e o saudoso Ray Liotta (de História de um Casamento, 2019) em um de seus últimos trabalhos. Entre nomes mais ou menos famosos, todos funcionam muito bem.

Banks demonstra segurança na direção, entregando uma obra enxuta, direta, com um bom equilíbrio entre humor e suspense e dividindo bem o tempo de cena dos muitos personagens – dos quais sabemos pouco, mas o suficiente para nos importarmos. E, no fim, nos pegamos também torcendo pelo pobre urso, que não tem culpa de ter ficado louco na cocaína. Só confesso que cheguei ao final da sessão ainda sem saber o que é “pintar a cachoeira”.

A diretora levou o “amigo” para apresentarem uma categoria no Oscar

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Daisy Jones and The Six traz uma fantástica banda de um sucesso só

Já estão disponíveis no Amazon Prime Video os dez episódios da minissérie Daisy Jones and The Six, nova produção dos estúdios Amazon. O livro fez grande sucesso nos EUA quando lançado, em 2019, e por isso a adaptação vinha acompanhada de muita expectativa. Aparentemente, o barulho em torno da obra diminuiu quando ela estreou, mostrando uma recepção bem fria por parte do público norte-americano. Agora, os brasileiros podem entender o porquê disso.

Feita em formato de documentário, a série – ficcional, é preciso ressaltar – acompanha jovens músicos na década de 70 buscando realizar o sonho de serem famosos. Os caminhos da banda The Six se cruzam com o de Daisy Jones, a garota acaba se juntando a eles e, juntos, conseguem finalmente atingir o topo das paradas de sucesso. Então, acontece o impensável: a banda acaba e cada um segue o seu rumo. Vinte anos depois, esse documentário pretende investigar as causas do rompimento. Algo que era comum na época e há até um termo para isso: “one hit wonders“, ou “as maravilhas de um sucesso só”.

Temos, na série, dois protagonistas, e a relação entre eles é o principal ponto a se acompanhar. Vivendo Daisy, Riley Keough (de O Diabo de Cada Dia, 2020) consegue dar doçura a uma personagem que poderia ser vista como insuportável e egoísta. A atriz realmente faz um ótimo trabalho evitando exageros na composição, mas não disfarçando os problemas da moça. O mesmo pode-se dizer de Sam Claflin (de Peaky Blinders), ator que ficou famoso fazendo um draminha água com açúcar (Como Eu Era Antes de Você, 2016), entre outros trabalhos, e vem se mostrando bem competente. Ele evita fazer um Billy Dunne prepotente e arrogante, apenas mostrando traços disso aqui e ali.

Billy é o líder dos Six, na verdade uma banda formada por cinco integrantes, já que um pula fora antes da fama. Quando Daisy entra no barco, os dois batem de frente disputando o papel de líder. Os demais membros também têm seus dramas contados, mas em uma proporção bem menor. Outros papéis de destaque são defendidos por Camila Morrone (de Desejo de Matar, 2018), que vive a esposa de Billy e fecha o triângulo amoroso; Tom Wright (de Medical Police), que faz o empresário e figura paterna de todos eles; e Timothy Olyphant (de Justified), o gerente de turnê que os mantêm juntos.

O elenco de Daisy Jones and The Six não tem ninguém destoante, eles fazem o que podem com o material. Os problemas estão no roteiro, bobinho e previsível, e em algumas opções da direção, que se repete muito em seus recursos e torna o andamento modorrento. Os personagens, em suas versões mais velhas (alguns com as mesmas caras, fora um cabelo grisalho e a chapinha de Claflin), dão depoimentos para a câmera e o que mais vemos são momentos de silêncio com caras e bocas, como se calados eles já dissessem muito. Na segunda ou terceira vez, isso irrita, e segue assim.

As referências, tanto na ficção (Quase Famosos, 2000, por exemplo) quanto na vida real (alô, Fleetwood Mac!), são óbvias e pulam na nossa cara, e as ótimas músicas da trilha não original ajudam a marcar as épocas. As dancinhas e figurino de Daisy emulam Stevie Nicks diretamente, e outras bandas vêm à mente em certas passagens. As canções originais do livro foram descartadas e Blake Mills foi contratado para refazer tudo do zero, contando com a colaboração de gente do cacife de Jackson Browne, Marcus Mumford e Phoebe Bridgers. O disco, Aurora, está disponível nos serviços de streaming de áudio.

Relatos de quem leu o livro de Taylor Jenkins Reid apontam outras diferenças entre o texto original e a adaptação, mas nada que fuja do normal em uma adaptação: um personagem cortado aqui, uma situação melhor desenvolvida ali. Os produtores, roteiristas e showrunners da atração,  Scott Neustadter e Michael H. Weber, já são uma dupla criativa há anos e têm altos ((500) Dias com Ela, 2009) e baixos (Cidades de Papel, 2015) em seus currículos. Dessa vez, ficaram bem no meio do caminho e criaram a perfeita definição para a expressão “guilty pleasure”: algo que não é exatamente bom, mas te atrai o suficiente para acompanhá-la e você fica com aquela pontinha de culpa por gostar.

A bela Camila Morrone completa o triângulo amoroso com Keough e Claflin

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The Last of Us é o mais recente sucesso da HBO

Com o nono episódio exibido na noite do Oscar, roubando audiência da Academia, a primeira temporada de The Last of Us chegou ao fim. Elogiadíssima pelos novatos nesse universo, a série conseguiu agradar também os fãs do videogame. Além de um farto orçamento, que permitiu muito cuidado na produção, a HBO garantiu fidelidade à obra original, satisfazendo gregos e troianos. E a segunda temporada já está confirmada.

Criado pela desenvolvedora norte-americana Naughty Dog, também responsável por Uncharted: Drake’s Fortune (que virou o filme com Mark Wahlberg e Tom Holland), The Last of Us é um jogo para o Playstation 3, lançado em junho de 2013, que ganhou uma sequência em 2020, além de produtos em outras mídias, como uma revista em quadrinhos. Tido como um dos melhores jogos já inventados e com vários prêmios na sacola, era questão de tempo até que ele ganhasse vida na TV ou Cinema.

A história de The Last of Us, longe de ser muito fantasiosa, parte de uma possibilidade: e se as alterações climáticas fizessem o fungo Cordyceps se tornar resistente à temperatura do corpo humano? Teoricamente, ele poderia tomar conta dos seres humanos infectados, como já faz com insetos, e é dessa premissa que o jogo e a série partem. As pessoas se tornariam zumbis violentos e as cidades entrariam em colapso.

Em sua primeira adaptação de um jogo, a HBO incubiu o produtor Craig Mazin (vindo do sucesso de Chernobyl) do trabalho, e ele contou com a consultoria de Neil Druckmann, o diretor criativo da Naughty Dog que comandou o projeto. Só pelos nomes envolvidos, já dá para perceber que o estúdio levou a tarefa a sério. Como os atores que viveram os personagens no game não são tão conhecidos, coube aos produtores escalar nomes mais reconhecíveis.

Para o papel principal masculino, Joel, foi chamado Pedro Pascal, atualmente estrelando também The Mandalorian. Um dos grandes atores do momento, devido a estes dois sucessos, Pascal caiu muito bem e usa um sotaque texano, se aproximando bem do jogo. Para viver Ellie, a garota que Joel protege, foi escolhida, em meio a uma centena de candidatas, Bella Ramsey, altamente recomendada pelos showrunners de Game of Thrones, que atestaram o talento da jovem atriz.

Com a dupla principal definida, era o momento de escolher os muitos coadjuvantes que participam de episódios esporádicos, como o terceiro, que conta em paralelo a história de Frank e Bill, dois sobreviventes que cruzaram o caminho de Joel. Não se surpreenda se os dois atores escalados (acima), Nick Offerman (de Pam & Tommy) e Murray Bartlett (de The White Lotus), ganharem vários prêmios nas próximas oportunidades. Os dois são ótimos e dão muita dimensão a personagens que, no jogo, eram pequenos ou quase inexistentes. Outra atriz marcante que aparece é Anna Torv (de Mindhunter), que faz uma Tess dura e amável ao mesmo tempo. Outras surpresas com relação ao elenco vão sendo reveladas ao longo da temporada.

Sob essa desculpa de apocalipse zumbi, vários temas interessantes são tratados e The Last of Us se mostra uma série em várias camadas. Antes de mais nada, aqui são as relações humanas que importam, sejam entre casais, pais e filhos, irmãos etc. É o que motiva a maioria dos personagens a seguirem adiante em meio a tanta destruição e morte. Todos esses predicados fazem com que a segunda temporada (ou parte) já seja extremamente aguardada, mesmo que ela chegue apenas em 2025. Os personagens estarão mais velhos e teremos novas tramas para acompanhar.

Para se ter uma base de comparação, estes são os protagonistas no videogame

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O Capítulo 4 fecha a saga de John Wick

O pai de pet mais letal do cinema está de volta para sua quarta e última aventura nos cinemas. John Wick 4: Baba Yaga (John Wick: Chapter 4, 2023) segue a fórmula bem sucedida de seus predecessores com uma trama simples, alguns rostos novos e mais ação, ou talvez a mesma quantidade de ação de antes. Não sei, mas tem muita ação, pode ter certeza.

A história retoma pouco à frente de onde paramos em John Wick 3: John (Keanu Reeves) se recupera dos ferimentos de sua última incursão no Hotel Continental de Nova York e parte em busca de sua liberdade e da cabeça dos membros da “alta cúpula”, que por sua vez designam o Marquês Vicent de Gramont (Bill Skarsgård, o palhaço de It – A Coisa) responsável por caçar e matar o Baba Yaga. E lhe concedem poder absoluto e todos os recursos necessários para essa nada fácil missão.

A lista de aliados e lugares para se esconder não para de encolher e John se arrisca a buscar refúgio com um velho amigo, Koji (Hiroyuki Sanada, de Mortal Kombat, 2021) gerente do Continental de Osaka. Na condição de “excommunicado”, John põe em risco não apenas a si mesmo, mas qualquer um que o ajude ou que se negue a matá-lo caso a oportunidade se apresente, o que torna cada personagem um potencial caçador de recompensas e qualquer cenário um possível campo de batalha. Um prato cheio para os fãs de filmes de ação.

O bom moço de Hollywood Keanu Reeves volta para viver mais uma vez um de seus personagens mais famosos. Com diálogos curtos e pouquíssimas expressões emotivas, o personagem dificilmente teria tanta popularidade se não fosse interpretado por alguém tão carismático quanto Keanu. Retornam também os veteranos Laurence Fishburne, como o “rei dos mendigos”, Ian McShane como Winston e o recém-falecido Lance Reddick como o simpático concierge Charon. Já o time de rostos novos é encabeçado por Skarsgård, no papel do cruel marquês, Sanada e Clancy Brown (de Dexter), que interpreta um misterioso conselheiro. Os principais caçadores de recompensa são interpretados pelo artista marcial Donnie Yen (de Rogue One, 2016) e por Shamier Anderson (de Invasão), que ajudam a compor as cenas de ação, antes protagonizadas apenas por Reeves e figurantes.

Desde o sucesso (talvez inesperado) do primeiro filme da saga, o diretor Chad Stahelski parece apostar no mais, na soma, ao invés da inovação. Se o que deu certo desde o início era ver Keanu Reeves matando bandidos, vamos trazer mais bandidos, mais balas, mais armas, mais perseguições de carro, mas tempo de tela. As narrativas são sempre rasas, sem complexidade alguma. Como preencher tanto tempo apenas com pólvora e sangue e ainda deixar o espectador interessado?

A solução, para que não caíssemos no tédio, foi estética: o espectador agora conta com cenários mais variados. Nas últimas aventuras, John Wick sempre dava as caras em algum outro país ou cenário diferente, mas era sempre algo breve e pouco explorado. Desta vez, temos cenários mais diversos e um pouco de mistério, sem saber para onde iremos em seguida. Um ponto positivo é a trilha sonora: até aqui os disparos das armas eram acompanhados apenas por um techno de boate e temas originais pouco expressivos. Nesse quarto capítulo, temos algumas músicas mais empolgantes e conhecidas que casam com as cenas de pancadaria.

Outra correção de curso é a escalação de um bom antagonista. Se em outros filmes os chefões eram bem esquecíveis ou até ausentes, como no terceiro longa, temos Skarsgård personificando a frieza e a ambição da alta cúpula. O ator parece trilhar uma carreira de personagens antipáticos e cruéis, espero vê-lo em produções mais dramáticas no futuro.

Por fim, temos os furos de roteiro, os descolamentos da realidade, como alguém sobreviver a uma queda de 10 andares, ou o homem mais procurado do planeta e com poucos recursos viajar o mundo inteiro sem ser barrado em um aeroporto. Se nada disso te impediu de chegar até aqui e se divertir, nada mais irá. Admito que fui vencido pelo cansaço e acabei deixando esses questionamentos no passado. Depois de vencer tantos oponentes, a minha lógica é só mais um dos vários adversários que pereceram ao enfrentar o imbatível John Wick.

Skarsgård foi uma boa adição ao elenco da franquia

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Shazam! 2 pode causar fúria no espectador

Shazam volta aos cinemas para mais uma aventura calcada em piadinhas adolescentes e valores familiares. Shazam! Fúria dos Deuses (Shazam! Fury of the Gods, 2023), no entanto, não funciona bem, como foi o caso do primeiro filme. Tudo, agora, é maior: a ameaça, a responsabilidade, os questionamentos… E os furos no roteiro também, com as coisas acontecendo de acordo com a conveniência da história.

A partir do momento em que algo acontece e entendemos o funcionamento do recurso, esperamos que a lógica seja seguida. Por mais louca que seja. O cajado do mago, por exemplo. O problema é quando os roteiristas, se mostrando bem preguiçosos, não voltam àquele recurso, que resolveria o problema e simplificaria as coisas. No primeiro Shazam!, as coisas eram mais simples, o que facilitava respeitar as regras já estabelecidas. A partir do ponto em que o roteiro chama o espectador de burro, fica difícil estabelecer alguma ligação com a obra.

O longa tem um prólogo no qual pessoas em armaduras invadem um museu e roubam um artefato. Misteriosamente, em outro lugar da cidade, a ponte Benjamin Franklin começa a se romper e ameaça milhares de pessoas. A família Shazam se apresenta para salvar o dia, mas não deixam de ser alvo de chacota pela mídia, que os culpa pelos efeitos colaterais que eles causam quando agem. Isso bate forte no jovem Billy Batson (Asher Angel), que se sente um impostor quando se torna o herói com o raio no peito (Zachary Levi).

Nenhum dos seis órfãos superpoderosos tem um nome fantasia, e a sintonia entre eles não anda das melhores. Cada um tem um interesse e Billy fica tentando mantê-los unidos. Freddy (Jack Dylan Grazer e Adam Brody, quando transformado) está maravilhado com seus poderes e chama uma atenção desnecessária. No meio desse caos familiar aparecem as Filhas de Atlas, as vilãs da vez que trarão muita dor de cabeça ao sexteto.

O elenco continua muito carismático – a excessão é Levi, que andou falando bobagens anti-vacina em redes sociais. Na tela, no entanto, ele funciona bem e precisamos relevar o pensamento do ator para apreciar o filme. Helen Mirren (de Velozes e Furiosos 9, 2021) e Lucy Liu (de Kill Bill, 2003) são adições fortes e funcionam muito bem, assim como Rachel Zegler, apesar de sua personagem não ter muita lógica. Djimon Hounsou volta ao papel do mago e é responsável por alguns momentos mais leves.

Como visto também em O Homem de Aço (Man of Steel, 2013), seres muito poderosos em guerra tendem a causar muita destruição e o público logo fica anestesiado. Algumas sequências parecem custar a passar por causa disso, e era comum ver o pessoal no cinema olhando as horas, ansiando pelo final. Que é bem descabido, não faz sentido algum. E há duas cenas pós-créditos. A exemplo da Marvel, elas demandam algum conhecimento prévio para serem compreendidas, não só do primeiro filme, mas dos quadrinhos e de outras produções desse universo.

Helen Mirren é a grande adição ao elenco da continuação

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Entre Mulheres traz uma história impactante

Último dos indicados ao Oscar de Melhor Filme a chegar aos cinemas brasileiros, Entre Mulheres (Women Talking, 2022) traz exatamente o que seu título original indica: mulheres conversando e buscando um consenso. O tópico da discussão é complexo e entra na seara da religião. Estariam elas à mercê da vontade de Deus, tendo por isso que se resignar, ou poderiam tomar providências? Essa é a grande questão, discutida ao longo de cento e poucos minutos.

O livro de Miriam Toews que serviu de base ao roteiro remonta a uma história real: entre 2005 e 2009, mais de 100 mulheres na Colônia Manitoba, na Bolívia, foram anestesiadas e estupradas por homens locais usando remédios animais. Quando as atacadas chamavam atenção para o fato, eram tidas como histéricas, imaginativas, e os atos chegaram a serem atribuídos a demônios.

Mesmo com homens sendo pegos no ato, nada aconteceu a eles. Religiosas e ultraconservadoras, essas mulheres chegaram a um impasse: deveriam elas ficar quietas e aceitar; dar o grito e lutar; ou simplesmente partir? Essa trama foi recontada de forma ficcional por Toews e adaptada para o Cinema por Sarah Polley (lembrada por comandar Entre o Amor e a Paixão, 2011, entre outros). Elas se reúnem e conversam sobre o que fazer, mostrando que as mulheres devem se apoiar e são mais fortes juntas.

Escrito e dirigido por Polley, Entre Mulheres garantiu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e traz um elenco fantástico. À frente, temos três nomes mais do que competentes: Rooney Mara (de O Beco do Pesadelo, 2021), Claire Foy (de O Primeiro Homem, 2018) e Jessie Buckley (de Estou Pensando em Acabar com Tudo, 2020). Duas veteranas fecham o núcleo principal: a também produtora Frances McDormand (de A Tragédia de Macbeth, 2021) e Judith Ivey (a mãe de Keanu Reeves em Advogado do Diabo, 1996).

Com um texto bem escrito e ótimas atrizes para defendê-lo, a qualidade do resultado é garantida. E ainda vemos Ben Wishaw (o Q de 007) no único papel masculino do longa, deixando os holofotes para grandes mulheres contarem uma história aparentemente simples, mas muito impactante. Polley não perde a oportunidade de fazer um belo manifesto sobre as dificuldades que as mulheres vivem num mundo misógino, inclusive onde os homens se dizem religiosos e cidadãos de bem.

A figurinista Quita Alfred teve trabalho para retratar os menonitas

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