Victoria e Abdul diverte com uma amizade diferente

por Marcelo Seabra

Em 2010, chegou às mãos de um historiador o diário de um certo Abdul Karim, que seria apenas mais um indiano se não fosse um fato curioso: ele passou 14 anos ao lado da Rainha Victoria como seu professor e amigo. Essa é a história retratada em Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha (Victoria and Abdul, 2017), longa que reúne a grande Judi Dench ao diretor Stephen Frears pela terceira vez.

Além de ter vivido no Cinema outras nobres ficcionais e reais, Dench foi a própria Rainha Victoria em Sua Majestade, Mrs. Brown (Mrs. Brown, 1997), filme que retrata a amizade bem próxima da monarca com um serviçal escocês, John Brown (Billy Connolly). Desta vez, encontramos a rainha amuada, anos depois da morte de Brown e de seu marido, Albert. Em 1887, seria comemorado o Jubileu de Ouro, os cinquenta anos de Victoria no poder, e foi quando ela conheceu o novo amigo.

Abdul Karim (Ali Fazal, de Velozes e Furiosos 7, 2015) trabalhava em uma prisão em sua Agra natal registrando os nomes dos coitados. Uma das comemorações do Jubileu era presentear a rainha com uma moeda valiosa, o mohar, como uma espécie de agradecimento por ela ser a Imperatriz da Índia. Claro que isso era arranjado pelos oficiais britânicos, já que nenhum indiano, oprimido pelo Império, iria tomar parte nisso. Karim e Mohammed (Adeel Akhtar, de The Night Manager) são recrutados e passam dois meses num barco para ajudarem a dar à cerimônia realismo.

Chegando no palácio, em meio a tanto luxo, Karim fica encantado pela rainha, e a sua falta de decoro a encanta de volta. Nasce aí uma amizade que incomoda a todos que frequentam a realeza, e entendemos que Victoria está em um ninho de cobras. Seu próprio filho, Bertie (Eddie Izzard (da série Hannibal), a quer declarada incapaz ou morta, para assumir logo o trono. Nesse cenário, um indiano, de uma casta inferior e pele marrom, sofre todo tipo de preconceito. O colega conterrâneo o alerta constantemente, doido para voltar para casa, mas Karim entra cada vez mais naquele universo.

Escolado em produções de época, assim como nas contemporâneas, Frears dirige tudo com muita classe, evitando sentimentalismo e derrapadas no humor, que segue sem exageros. Reconstituições de cenários e figurinos são impecáveis, marcados por uma trilha sonora discreta, tudo combinando. O elenco, prioritariamente inglês (com Michael Gambon como o primeiro-ministro, além do recém falecido Tim Pigott-Smith), está muito bem, e Dench sempre dá show. Ao lado de uma parceira tão competente, Fazal empalidece, e seu personagem segue um caminho perigoso, que o torna um pouco presunçoso, orgulhoso.

Os palacianos fizeram questão de apagar todo e qualquer registro da passagem do indiano, mas um sobrinho dele guardou seu diário. Com o documento histórico em mãos, Shrabani Basu cruzou as informações ali descritas com outras fontes e escreveu o livro que serviu de base para o roteiro de Lee Hall (de Cavalo de Guerra, 2011). Quando avisa se tratar de uma história real, o filme alerta: “a maior parte”. Fica claro que liberdades são tomadas, ou para preencher buracos de registros ou para fins dramáticos. Logo, a obra não deve ser tomada como uma aula de história. Como filme, funciona muito bem.

O real e o filme, muito próximos

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Programa do Pipoqueiro #08 – Forrest Gump

por Marcelo Seabra

Nessa edição do Programa do Pipoqueiro, o filme Forrest Gump – O Contador de Histórias (1994) é comentado e sua trilha marca presença, além de críticas de novidades nas telas. Aperte o play abaixo!

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Liga da Justiça é Os Vingadores da DC

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Assim como Batman vs Superman, Liga da Justiça (Justice League, 2017) é um filme que passou por diversos percalços para chegar às telonas. Dois deles, ambos envolvendo o diretor Zack Snyder, foram fundamentais para que o que vemos na tela seja algo bem distante do que se espera regularmente do diretor: um filme visualmente esplêndido, mas sem alma, sombrio e depressivo.

O primeiro se deu justamente devido ao fato de Snyder não aceitar a enxurrada de críticas negativas que seu segundo esforço em transportar personagens da DC para a telona – o primeiro foi Homem de Aço, de 2013 – recebeu. Isso, somado ao fato de a bilheteria do filme ter ficado bem abaixo do esperado, fez com que os executivos da Warner tirassem um pouco da autonomia de Snyder e dessem a Geoff Johns, chefe criativo da DC, algum poder de decisão.

De cara, Johns (abaixo), que é um escritor bastante criativo e que revitalizou personagens como o Lanterna Verde e Aquaman – que se tornou bem interessante nas mãos dele – além da própria Liga da Justiça, determinou uma mudança de rumo: chega de filmes sombrios e depressivos. As pessoas querem acreditar em super-heróis e precisamos ter esse sentimento de esperança em nossas produções. Isso já determinou em parte o que viria a seguir.

Outro fator que contribuiu para o resultado de Liga da Justiça, ainda que venha de uma tragédia, foi o afastamento de Snyder da produção em maio devido ao suicídio de sua filha Autumn, em março. Para completar a película, a Warner decidiu contratar Joss Whedon, diretor de Os Vingadores (2012) e Os Vingadores: A Era de Ultron (2015). Coube a Whedon cuidar de algumas refilmagens, escrever cenas extras e novos diálogos e ajudar a terminar o filme. Isso fez com que o produto fosse uma mistura dos estilos de ambos os diretores: temos a beleza visual e o cuidado técnico de Snyder e a leveza e a diversão de Whedon. E isso fez com que Liga da Justiça se tornasse o melhor filme da DC até agora, e bem parecido com seu irmão mais velho da Marvel.

O fato é que, desde os anos 1940, quando a Sociedade da Justiça foi introduzida nos quadrinhos, as histórias de grupos de heróis utilizam-se, basicamente, da mesma fórmula: um bando de seres poderosos que é forçado a se juntar para combater um mal que, sozinhos, nenhum deles poderia enfrentar. Foi assim com a Liga da Justiça original (que apareceu nos quadrinhos pela primeira vez em 1960), com os Vingadores (1963), os Jovens Titãs (1964), os Defensores (1971) e por aí vai. Quarteto Fantástico e os grupos sob a égide do X (X-Men, X-Factor, Geração X e afins) fogem à regra, já que eles se unem por razões de afinidade.

Assim como seus antecessores, Liga da Justiça não foge à regra. Quando a história começa, o mundo ainda vive o luto pela perda do Superman. A ausência do kryptoniano faz com que forças poderosas se interessem em invadir e dominar nosso planeta. O pretenso conquistador da vez é Steppenwolf (ou Lobo da Estepe, vivido por Ciarán Hinds, de Dois Lados do Amor, 2015), um ser alienígena milenar que estava esperando apenas o momento certo para unir três artefatos que lhe dariam total poder sobre nosso planeta.

Mesmo sem tomar consciência total da ameaça, Bruce Wayne/Batman (Ben Affleck) sente que o planeta será atacado por um inimigo que ele é incapaz de deter sozinho. Contando com a ajuda de Diana Prince/Mulher-Maravilha (Gal Gadot), ele parte em busca de três seres poderosos que poderiam ajudá-los na defesa do planeta: o velocista Barry Allen (Ezra Miller), o Protetor dos Mares Aquaman (Jason Momoa) e o híbrido humano-máquina Victor Stone (Ray Fisher). Cabe ao quinteto deter a ameaça eminente de destruição do planeta.

Liga da Justiça faz o que nenhum filme da Warner/DC fez até o momento, que é ser uma experiência divertida e empolgante. As cenas de ação são tecnicamente bem feitas e parecem menos bagunçadas do que vimos em algumas sequências de Batman vs Superman. E os diálogos melhoraram bastante desde seu antecessor. A história flui melhor e não há muitos buracos de roteiro que incomodem. Há soluções preguiçosas, mas nada no nível de “não me mate porque minha mãe e a sua se chamam Martha”.

Existe, no entanto, um abismo de continuidade entre Batman vs Superman e Liga da Justiça e isso se dá principalmente nos protagonistas. Se em Batman vs Superman o Cavaleiro das Trevas era um sujeito amargurado e sentindo o peso das duas décadas combatendo o crime, aqui ele parece ter adquirido outra personalidade. O Bruce Wayne que se vê aqui é mais carismático, afável e, principalmente, dotado de bom humor. Sim, Batman conta piadas quase que o tempo todo, algumas ácidas, outras nem tanto, perdendo apenas para o Flash de Miller e o Aquaman de Momoa. Já o Superman de Cavill nunca pareceu tão humano. Sai o sujeito que parece não se encaixar em nenhum lugar, entra o ser poderoso que faz piadas e ri de si mesmo, até dando entrevista para crianças.

Essa mudança de personalidade de ambos pode incomodar alguns, especialmente aqueles que acham que os filmes da DC devem ser sombrios e soturnos para contrastar com a colorida Marvel. Esses, no entanto, são uma minoria. Liga da Justiça finalmente mostra os personagens da DC como devem, com uma ressalva aqui e ali, e esperamos que essa mudança de tom nas produções da Warner/DC seja definitiva.

Uma última observação: o longa tem duas cenas após seu fim, uma no meio e uma no final dos créditos. Vale a pena ficar para ambas.

O elenco participou de painel na convenção de San Diego

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Liga da Justiça é mais um ponto para a DC

por Marcelo Seabra

Parece que os produtores da DC aprenderam muito com a lição de Mulher Maravilha (Wonder Woman, 2017). Ou seria de observar os resultados da Marvel no Cinema? Ou ainda teria o afastamento de Zack Snyder feito muito bem? Qualquer que seja a razão, o fato é que Liga da Justiça (Justice League, 2017) é um filme muito superior a outras empreitadas com ícones da editora e teremos espectadores no mundo inteiro respirando aliviados, sabendo que seus heróis favoritos foram bem tratados.

Antes de falar sobre o filme propriamente, é preciso fazer um adendo: comparações com a Marvel são inevitáveis. As dinâmicas entre os personagens são bastante similares, mesmo que se alternando. Bruce Wayne e Tony Stark têm muito em comum, e Diana às vezes é a voz dissonante da razão, como Bruce Banner, para na sequência se tornar o alter-ego verde, partindo para porrada. E o Flash é o grande responsável pelo bom humor. Ou seja: temos aqui tudo o que os detratores da Marvel costumam apontar ao defender a DC. Tem muito de Vingadores 2 nesse Liga da Justiça, o que fica ainda mais evidente quando se observa que, com a ausência de Snyder, quem assumiu o batente e transformou o resultado foi exatamente Joss Whedon, responsável pelos dois Vingadores.

Com todos os defeitos de Whedon apontados nos filmes da Marvel, ainda é um alívio saber que ele acabou pesando mais na montagem que Snyder, e é muito fácil indicar cenas dirigidas por cada um. Por mais que o crédito seja de Snyder, ele já disse em entrevistas que o produto não é o que ele tinha idealizado. Algumas decisões parecem bobas, mas ajudam a fazer a diferença. A duração mais curta, fixada em duas horas, é uma delas, além do título simples. E eficaz.

No início, talvez por influência de Logan (2017), e a atenção que Johnny Cash chamou, temos uma bela versão de um sucesso de Leonard Cohen, Everybody Knows. A Terra parece ter perdido a esperança com a morte de seu campeão. Um rápido passeio da câmera revela muita coisa, ninguém engoliu a morte de Superman (Henry Cavill). Prevendo o mal que está por surgir, Bruce Wayne (Ben Affleck) se une à Princesa Diana (Gal Gadot) para que, juntos, possam recrutar outros super-seres, que formariam a resistência do planeta.

Em rápidos entremeios, descobrimos um pouco mais da história do Flash (Ezra Miller), Ciborgue (Ray Fisher) e Aquaman (Jason Momoa), além do que está acontecendo em Temiscira. Resumindo, todos os cinco têm histórias de perdas, como também era o caso do Superman. Isso acaba ficando um pouco repetitivo, mas não deixa de dar um passado a cada um e é também uma forma de uni-los e fazer com que se dediquem a uma causa maior. Nada ridículo como o “Martha” de Batman vs Superman (2016). Todos são bem utilizados pelo roteiro (assinado por Whedon e Chris Terrio) e têm boas oportunidades de usar seus poderes. Sobra até para o Alfred de Jeremy Irons, que segue sendo o back office de Bruce.

Sem entrar em detalhes sobre a história, mesmo que muito já tenha sido revelado por campanhas de marketing e seja até esperado, é interessante notar o tratamento dispensado aos personagens. Todos parecem mais humanos. Se a DC é sempre lembrada por ter deuses, dessa vez podemos vê-los feridos, inseguros ou mesmo tristes. O Batman, por exemplo, fica para trás mais de uma vez, o que é totalmente compreensível, já que seu único poder “é ser rico”. E, como geralmente ele é o deprimido da turma, dessa vez até ri e faz piada. Para que os personagens ficam aparecendo sem camisa a gente não sabe. Pode ser para humanizá-los, ou apenas para oferecer um agrado às espectadoras, tão acostumadas a ver mulheres em trajes mínimos desnecessariamente. Ao menos para o Aquaman a falta de figurino faz sentido.

Affleck se mostra um dos melhores Batmen do Cinema, é uma pena que não deva durar no papel – ele tem dito em entrevistas que pretende arrumar uma forma graciosa de deixar o personagem. Gadot é mais uma vez uma mistura de força e doçura na dose certa, geralmente roubando a cena quando aparece. E Miller, como Flash, traz um equilíbrio raro, já que não faz o tipo machão que costuma aparecer em produções do tipo. Esse fica mais para o Ciborgue, que esconde uma grande inteligência atrás do corpo biônico e da cara fechada, e para o Aquaman de Momoa (abaixo), um bad boy que não deve ser tão burro quanto parece. A cena dele falando verdades é ótima e quebra alguns paradigmas.

Os pequenos afagos aos fãs aparecem aqui e ali e devem deixar muitos alegres. Um telefone vermelho, por exemplo, remete à série sessentista do saudoso Adam West. Uma cena de batalha, contada em flashback, traz vários personagens que poderão ser identificados, como por exemplo uma certa tropa verde. Uma “metacuriosidade” é ter o pai do Flash vivido por Billy Crudup: ele foi colega de Jeffrey Dean Morgan, que fez o pai de Bruce, em Watchmen (2009), também de Snyder. E ninguém melhor que o experiente Danny Elfman para cuidar da trilha, dando pitadas de vários temas misturados. Ele aproveita até para revisitar sua marcante música do Batman de Tim Burton, mesmo que rapidamente.

Liga da Justiça se amarra bem ao que vimos antes e vai mais longe, felizmente. Fabian Wagner, o diretor de fotografia, é novo nesse universo, e traz luz e cores, ao contrário da chuvarada dos anteriores. E um grande acerto é não haver qualquer referência à bomba Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016), que com sorte será esquecido e sofrerá um reboot em breve. Vamos aguardar o desenrolar dos fatos para saber o que esperar do próximo Liga da Justiça, se será cria de Whedon ou Snyder, que teve problemas familiares e ainda toca outro projeto. Se seguir pelo caminho desta aventura, podemos nos dar por satisfeitos.

Ah, e não deixe de ver as duas cenas pós-créditos, como já é tradição em adaptações de quadrinhos.

A revista Variety cobriu a premiere do longa, dia 13

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Inumanos é o pior esforço da Marvel até o momento

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Os Inumanos são uma raça de seres superpoderosos criados em 1965 como coadjuvantes do Quarteto Fantástico. O plano inicial da Marvel era leva-los ao cinema, como parte da Fase 3 do MCU. Devido a uma série de problemas e decisões executivas, esse projeto se transformou em uma série de TV, veiculada na ABC, praticamente como um derivado de Agentes da S.H.I.E.L.D. O conceito de Inumanos – aqui, seres humanos normais com uma alteração em seu DNA que, ao serem expostos a um gás derivado de um cristal, adquirem poderes ou habilidades super-humanas – foi bastante explorado na série.

O fato de o projeto ter mudado de longa-metragem para série de TV e ter sido acelerado para que os primeiros dois episódios fossem exibidos inicialmente no cinema – exclusivamente no formato IMAX – comprometeu demais o resultado. Inumanos é, de longe, o pior produto entregue pela Marvel, seja no cinema, seja na TV, até agora.

Quando a série começa, somos apresentados aos Inumanos como uma raça que habita Attilan, uma cidade escondida na lua. Os Inumanos são uma raça governada por Raio Negro (Anson Mount, de Sem Escalas, 2014), um rei que deve se abster de qualquer comunicação verbal, pois sua voz é tão poderosa que um simples sussurro seu pode vaporizar uma parede de concreto. Para ajudar a transmitir seus desejos e ordens, ele conta com a ajuda da rainha Medusa (Serinda Swan, de Ballers), cujos longos cabelos ruivos obedecem às suas ordens como se fosse um ser vivo.

Completam a família real Gorgon (Eme Ikwuakor), que possuí poderosos cascos no lugar de seus pés; Karnak (Ken Leung, de Lost), que pode descobrir instintivamente o ponto fraco de qualquer estrutura, pessoa ou plano; Crystal (Isabelle Cornish), com poderes de manipular os quatro elementos; Dentinho, um cão gigantesco com poderes de teleporte e Maximus (Iwan Rheon, o Ramsay Bolton de Game of Thrones), irmão de Raio Negro, que não possui qualquer habilidade especial.

Como os Inumanos habitam um espaço limitado na lua, escondidos dos olhos humanos graças a dispositivos de camuflagem, eles estabeleceram um sistema de castas bastante rígido: aqueles cujas habilidades despertadas pela Terrigênese (ritual no qual o inumano inala o gás de um cristal especial) são mais úteis habitam o topo da sociedade. Aqueles com habilidades menores – ou nenhuma habilidade despertada no ritual – são condenados a trabalhar nas minas de Attilan, sem possibilidade de alçar-se à casta superior.

Esse isolamento lunar incomoda Maximus (acima), que coloca em curso um plano para dar um golpe de estado. Sua ideia é depor Raio Negro, eliminar o sistema de castas e, principalmente, mudar Attilan do espaço confinado na lua para a Terra. Isso dá errado e os membros da família real conseguem fugir para a Terra, ainda que separadamente. Espalhados pelo Havaí, Raio Negro e sua família têm três objetivos claros: se reunir, voltar à lua e acabar com os planos de Maximus.

Desde o começo, Inumanos foi criticada pesadamente, antes mesmo de ir ao ar. Os figurinos pareciam baratos, os efeitos especiais pobres – salvo por Dentinho – e a ambientação em geral parecia abaixo do nível esperado de uma produção Marvel. Ao final de sua primeira temporada, vemos que as críticas, ainda que muito prematuras, acabaram por se justificar. Apesar dos esforços do elenco, Inumanos parece um produto mal-acabado e apressado em sua concepção. Os roteiros apresentam soluções descabidas e os personagens, em sua maioria, são bastante unidimensionais.

Outro problema se dá no que diz respeito à caracterização da família real e seus membros. Parece que o time de produção resolveu gastar boa parte dos recursos destinados para os efeitos de CGI na criação do cão Dentinho, o que fez com que ele se tornasse bastante crível. Isso, no entanto, parece ter tirado recurso dos outros personagens, de forma que eles usam seus poderes muito pouco ao longo dos oito episódios da temporada. Gorgon, por exemplo, apesar de ter cascos no lugar dos pés, os mantém contidos em botas militares por praticamente toda a série, e lidam com os poderes de Karnak e Medusa de maneira similar. O que é uma pena, porque a solução criada para mostrar os poderes de Karnak na tela foi muito bem bolada, ainda que muito pouco usada.

O personagem que mais sofreu, no entanto, foi justamente Raio Negro, cujos poderes ficaram bastante reduzidos, com alguns deles completamente eliminados. Sua superforça, por exemplo, é algo que some e reaparece de acordo com o que o roteiro pede. Já Medusa parece desenvolver uma visão periférica de 360 graus, pois é capaz de transformar a linguagem de sinais do marido em palavras sem sequer olhar para ele. Isso pode parecer detalhes, mas é apenas mais um indício de que a Marvel caiu na mesma armadilha da Warner ao apressar o roteiro da mesma forma que foi com Esquadrão Suicida. O resultado de ambos ficou bastante próximo, ainda que os planos da Marvel para os Inumanos ainda não estejam claros.

A primeira temporada de Inumanos foi encerrada nos EUA na última sexta-feira, dia 10 de novembro, e estreia no Brasil hoje, 14, com uma exibição especial dos dois primeiros episódios – os que passaram nas salas com IMAX no mês passado. Confira no canal a cabo Sony a partir das 21h.

Estes são os Inumanos dos quadrinhos

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Ben Stiller reflete sobre O Estado das Coisas

por Marcelo Seabra

“A grama do vizinho é sempre mais verde”. Esse ditado consegue definir, em termos simples, a ideia por trás de O Estado das Coisas (Brad’s Status, 2017). O novo trabalho de Ben Stiller aproveita uma de suas melhores personas, se não a melhor: a do sujeito em crise, com cara de quem não tem ideia do que fazer. E a razão dessa situação deve ser comum a muita gente: se colocar em competição com outros e se sentir constantemente diminuído.

No vocabulário dos mais jovens, o termo correto seria mimimi. Ou uma expressão que anda muito comum nesses tempos: white people’s problems. É mais ou menos quando tudo na sua vida corre bem e você inventa motivos para se preocupar. Algo similar ocorre com Brad, que vive com a esposa e o filho em uma boa casa em Sacramento e tem uma ONG. Apesar de ser a capital da Califórnia, a cidade não é exatamente excitante, ou não como uma Nova York ou Los Angeles.

Resumindo, Brad tem uma vida boa, estável. Seus problemas aparecem quando ele começa a pensar na situação atual dos colegas de faculdade com quem ele andava – participações de Michael Sheen, Luke Wilson, Jemaine Clement e Mike White (abaixo), roteirista e diretor do longa. Todos estão aparentemente bem colocados, milionários e em evidência na mídia. Na cabeça dele, existe algum tipo de competição entre eles e Brad seria o perdedor, e é terrível que alguém possa vê-lo dessa forma. Essa crise surge quando ele está prestes a viajar com o filho para Boston, para visitarem faculdades e o jovem participar de entrevistas com recrutadores.

A narração constante de Stiller nos mantém informados de como a cabeça de seu personagem funciona. Os problemas que ele vê podem ser tidos como besteiras se analisados de fora. Para ele, fazem total sentido e o colocam para pensar. Nesses momentos, vemos que ele não é exatamente um cara legal, como ninguém o é 100% do tempo. Se acompanhássemos a cabeça das pessoas, isso é mais ou menos o que teríamos: boa parte de bons pensamentos, querendo o bem do próximo, e uma parcela de negatividade, babaquice, atribuição de culpa e estupidez. Esses trechos sonhadores nos remetem a Walter Mitty, outro personagem de Stiller, mas sem aquelas bobagens de auto-ajuda.

É interessante reparar na trilha sonora, assinada pelo mesmo compositor de Thor: Ragnarok (2017). Mark Mothersbaugh a alterna do modo discreto para o perturbador, seguindo o estado de espírito do protagonista. Num momento, ela quase não aparece, para na sequência nos deixar tão desconfortáveis quanto Brad. Quem traz certa leveza é o jovem Austin Abrams (de Cidades de Papel, 2015), que vive o filho de Brad. Troy vê o mundo com uma dose de inocência e tem a cabeça no lugar, sendo o maior motivo de orgulho para Brad. Mas o sujeito parece mais preocupado com a grama do vizinho.

Mike White, mais lembrado como o verdadeiro Ned Schneebly de Escola de Rock (2003), mostra um faro acertado para uma questão pertinente, e a conduz de uma forma que é prazeroso acompanhá-la. A personagem de Shazi Raja, então, entra para dar uma chacoalhada em Brad, dizendo a ele com todas as palavras que ele não tem motivo para ficar infeliz. Essa é uma mensagem que muitos espectadores podem precisar ouvir. Mesmo que um pouco previsível e ingênuo, O Estado das Coisas funciona muito melhor que uns filmes de auto-ajuda que andam chegando aos Cinemas, e é divertido.

A família se completa com Jenna Fischer

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Programa do Pipoqueiro #07 – Temas do Vietnã

por Marcelo Seabra

Nessa edição do Programa do Pipoqueiro, trazemos algumas dicas de filmes sobre a Guerra do Vietnã e músicas de suas trilhas sonoras, além de comentários sobre filmes em cartaz e curiosidades da música e do Cinema. Aperte o play abaixo e divirta-se!

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Schwarzenegger vai mais fundo Em Busca de Vingança

por Marcelo Seabra

Desde que retomou sua carreira como ator, Arnold Schwarzenegger não havia oferecido uma performance tão acertadamente calculada. Possivelmente, nem antes. Em Busca de Vingança (Aftermath, 2017) tem um ritmo mais lento e se foca mais nos personagens do que os projetos usuais do austríaco, que mostra ser capaz de ir muito além de apenas distribuir sopapos. Pena que o ridículo título nacional não é o único problema do longa.

Arnie vive um mestre de obras imigrante nos estados Unidos que espera pelo retorno da esposa, que foi ao país deles buscar a filha grávida. Sua euforia pelo reencontro familiar dá lugar ao enorme pesar de perder as duas em um acidente aéreo. Paralelamente, conhecemos o controlador de voo (Scoot McNairy, de War Machine, 2017 – abaixo) que estava encarregado na noite do ocorrido. Sabemos que, em algum momento, os dois devem se encontrar, e é aí que a tensão é construída.

O mais interessante em Aftermath (que pode ser traduzido como consequência, resultado) é exatamente o estudo que se segue após a tragédia, passando longe dessa vingança besta do título nacional. O que se passa com o pai devastado, interpretado por um Schwarzenegger contido e crível, e com o funcionário da companhia aérea que de repente recebe um peso enorme nos ombros. McNairy parece mudar de cara com muita facilidade, fica até difícil associá-lo a outros de seus papéis.

Esses bons momentos são alternados por passagens enfadonhas, que parecem não avançar, e o roteiro perde ainda mais força perto do final da sessão. Não foge do previsível, mas um pouco de agilidade faria bem. O experiente Javier Gullon (de O Homem Duplicado, 2013) custa a render o material para durar uma hora e meia e o diretor, Elliot Lester (de Sleepwalker, também de 2017), não traz nada de memorável ao filme.

Desde que deixou a política, Schwarzenegger vem ensaiando um grande retorno, mas estava amarrado a suas origens, a um ar oitentista. Esse Em Busca de Vingança é um passo importante nessa direção e mostra que, aos setenta anos, ele dá conta de mais profundidade. Se o resultado não é fantástico, também não é ruim. Apenas dá a impressão de uma grande oportunidade perdida.

A missão de passar dor e desespero foi cumprida

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Young Sheldon é o primeiro derivado de The Big Bang Theory

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

É difícil entender como o personagem Sheldon Cooper (Jim Parsons, de Estrelas Além do Tempo, 2016) pode ser tão popular entre os fãs de The Big Bang Theory. Sheldon tem todas as características de uma pessoa odiável: petulante, prepotente, egoísta, egocêntrico, infantil, machista, teimoso… A lista poderia continuar infinitamente.

Apesar disso – ou por causa disso – ele se tornou o personagem mais popular da série. Tanto que, à medida em que ela se aproxima de seu final – atualmente a 11ª temporada está em exibição e a 12ª já foi anunciada como sendo a última – o produtor Chuck Lorre (Two and a Half Men, Mom, Mike & Molly) resolveu que um derivado de um de seus maiores sucessos seria uma boa. Melhor ainda: um derivado explorando a infância do personagem mais popular do grupo. Daí nasceu Young Sheldon.

A série começa quando o futuro físico teórico está prestes a ingressar no equivalente americano ao segundo grau. Sheldon (Iain Armitage) tem, então, nove anos e já demonstra algumas das características que apresentaria como adulto, especialmente no que diz respeito à sua personalidade sistemática e sua dificuldade de interagir com as pessoas ao seu redor.

Há ainda, um fator complicador nessa nova fase na vida de Sheldon, já que ele vai dividir a classe com seu irmão mais velho, George Jr. (Montana Jordan), que não se sente nem um pouco à vontade tendo o irmão bem mais novo na mesma turma que ele. Apesar de, por outro lado, isso representar um alívio para a irmã gêmea de Sheldon, Missy (Raegan Revord), também pode trazer complicações para George Sr. (Lance Barber, de Caça aos Gângsteres, 2013), um dos treinadores do time de futebol da escola dos filhos, que terá que lidar com as esquisitices do caçula em seu ambiente de trabalho e os conflitos que isso trará com os demais professores. Já a matriarca da família, Mary (Zoe Perry, de Scandal – abaixo) tenta ser um ponto de equilíbrio, mas sempre fica ao lado de seu filho “especial”.

Young Sheldon tem narração do próprio Jim Parsons e é interessante ao mostrar essa fase da vida do personagem, especialmente no que diz respeito à construção da relação de Sheldon com sua mãe, algo que é bastante marcante em sua vida adulta. É legal também ver como Zoe tenta imitar os maneirismos de Laurie Metcalf, atriz que vive a mãe de Sheldon na vida adulta. Esse esforço pode ser claramente observado especialmente a partir do segundo episódio da série.

Por outro lado, ainda há alguns aspectos que devem ser melhor trabalhados pelos produtores. Por exemplo: em apenas um episódio, o personagem Sheldon teve mais desenvolvimento do que a sua versão adulta em pelo menos cinco temporadas de The Big Bang Theory. Além disso, há diversos fatos mencionados pelo Sheldon adulto que, esperamos, os produtores não ignorem ou, simplesmente, alterem sem se preocupar com a continuidade, coisa bem comum em produções televisivas com essa mesma proposta.

De qualquer forma, é aguardar para ver como a série se desenvolverá, caso tenha mais de uma temporada. Young Sheldon estreia no Brasil no canal da Warner nesse domingo, dia 12 de novembro.

Família reunida para foto

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Programa do Pipoqueiro #06 – James Bond Pt. II

por Marcelo Seabra

A sexta edição do Programa do Pipoqueiro traz mais temas bacanas de James Bond e algumas músicas que ficaram de fora da seleção, mas foram compostas para a franquia e são tão interessantes quanto as que entraram. Isso, além de curiosidades e comentários sobre filmes e séries, com várias participações bacanas! Aperte o play abaixo!

Extras

Curiosidades

Elvis Presley – Edge of Reality

Elvis Presley – Surrender

Bono – GoldenEye

Dionne Warwick – Mr. Kiss Kiss Bang Bang

Shirley Bassey – Mr. Kiss Kiss Bang Bang

Beach Boys – Pet Sounds

Colaborações

Tullio DiasCinema de Buteco

Stephania AmaralFeito por Elas

Maristela BretasCinema no Escurinho

Priscila ArmaniO Que Assistir

Márcio SallemCinema com Crítica

Graciela PaciênciaCinema de Buteco

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