A partir do final da década de 70 e por todos os anos 80, houve uma família que reinou no mundo da luta livre, prática conhecida nos Estados Unidos como Wrestling. Jack Adkisson criou um nome artístico para si, Fritz von Erich, e fez carreira nesse universo. E garantiu que cada filho que teve seguisse pelo mesmo caminho, eles querendo ou não. Como é costume nesse tipo de luta, cada lutador cria para si um golpe especial e isso se torna sua marca registrada. O golpe de Fritz von Erich era conhecido como a Garra de Ferro (The Iron Claw, 2023), que dá nome ao longa que chega aos cinemas essa semana.
O primeiro filho de Fritz a entrar para a luta livre, Kevin, é vivido por Zac Efron (de Operação Cerveja, 2022) e o ator deve ser a maior surpresa do longa. O corpo de Efron o cadidata ao papel de He-Man, e o corte de cabelo ridículo também. Muito bem caracterizado, ele dá a dimensão exata a seu personagem, o irmão mais velho (vivo) que quer cuidar de todos e ainda precisa aguentar os desmandos do pai, interpretado por Holt McCallany (da saudosa série Mindhunter). Projetando nos filhos o sucesso que não teve, ele perde de vista a vontade deles e impõe a sua, e tem ao lado uma esposa (Maura Tierney, de Querido Menino, 2018) permissiva, que finge não ver os problemas dos filhos.
Como o primogênito da família morreu aos cinco anos, Kevin se vê como o mais velho, e a escadinha segue com Kerry, o ótimo Jeremy Allen White (agora mais conhecido como O Urso). Kerry é quem mais se permite ser competitivo com os próprios irmãos e acaba sendo o personagem mais interessante, além de ter um intérprete que se funde ao papel. Allen White é outro que ficou impressionantemente forte, o que o afasta totalmente da premiada série que estrela. O outro destaque é Harris Dickinson, estrela em ascensão que chamou atenção em Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness, 2022) e aqui não faz feio.
Com dois longas bons e surpreendentes na carreira (Martha Marcy May Marlene, 2011, e O Refúgio, 2020), o diretor e roteirista Sean Durkin partiu para um trabalho mais convencional, e nem por isso menos impactante. Como havia muita história a contar, Durkin abriu mão de alguns personagens, como o irmão mais novo e um primo falso contratado por Fritz, e o longa ainda passou das duas horas. Marcada pela tragédia, a família von Erich não se permitia viver o luto, reflexo da busca cega do pai pelo troféu de campeão do mundo. É uma jornada dolorosa, mas interessante de se acompanhar.
Evitando os extremos, Durkin não cai na armadilha do sentimentalismo e nem transforma ninguém em um vilão caricatural. A recriação da época é bem apropriada e ainda salpicada por clássicos da música, como Don’t Fear the Reaper (Blue Öyster Cult) e Tom Sawyer (Rush), além da trilha original assinada por Richard Reed Parry, da banda Arcade Fire. Só continuamos sem entender, ao final de Garra de Ferro, como funcionam as lutas desse universo: os lutadores se consideram muito sérios, mas combinam golpes nos bastidores. Como é possível ter surpresa no vencedor e no perdedor de algo arranjado previamente?
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