A exemplo de outros grandes personagens da literatura, como James Bond, o célebre detetive particular Philip Marlowe ganhou nova vida mesmo após seu criador ter falecido. Raymond Chandler, considerado um dos pais do policial noir norte-americano, foi seguido por outros vários escritores premiados buscando recriar o clima de suas histórias. Um desses livros, The Black-Eyed Blonde, ganhou adaptação para o Cinema e marca o centésimo filme de Liam Neeson, ator que assumiu o papel.
Chamado no Brasil de Sombras de Um Crime (2022), sendo simplesmente Marlowe no original, o longa se baseia num livro de John Banville (sob o pseudônimo de Benjamin Black), com roteiro dos veteranos William Monahan (Oscar por Os Infiltrados, 2006) e Neil Jordan (Oscar por Traídos Pelo Desejo, 1992), sendo Jordan também o diretor. Mesmo com todos esses talentos envolvidos, o filme nunca decola. O mistério não cativa, o público não se importa.
Escolha inusitada para a posição de protagonista, Neeson vem de diversos filmes de ação, muitos deles duvidosos. Para cada Caçada Mortal (2014), há vários Desconhecido (2011) ou mesmo a série Busca Implacável (2008, 2012 e 2014). Irlandês, ele dá vida a um sujeito tipicamente americano e o transforma numa figura taciturna, melancólica. Tudo bem que trata-se de uma versão mais velha de Marlowe, mas a sagacidade demonstrada por gente como Humphrey Bogart, Robert Mitchum, Elliott Gould ou James Caan passa longe. Gould, em especial (em O Perigoso Adeus, 1973), foi o Marlowe mais engraçadinho, soltando várias piadas enquanto desvendava crimes.
Neeson faz o que dá, enquanto seus colegas têm um resultado pouco melhor. Jessica Lange aproveita sua experiência como Joan Crawford (de Feud) para criar uma prima donna do Cinema, enquanto a maravilhosa Diane Kruger (de J.T. LeRoy, 2018 – acima) não passa muito do sem sal como a femme fatale de plantão. E o elenco não para aí, com Danny Huston, Alan Cumming, Colm Meaney, Daniela Melchior, Ian Hart e François Arnaud. Todos em cenários e figurinos que recriam a Los Angeles de 1939 com perfeição, o que acaba sendo um desperdício.
Com vários escritores criando novas histórias para o detetive, o que não faltaria é fonte para mais filmes. A julgar pelo resultado desse, a nova franquia morre no parto. Baixo faturamento e críticas negativas não vão levá-la adiante. O que poderiam fazer é voltar no original e adaptarem outra história de Chandler. Quem sabe assim Marlowe ganhasse fôlego para continuar aparecendo na telona?
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