Cobra Kai chega à quinta temporada

Tirando leite de pedra, Cobra Kai chegou à sua quinta temporada. As duas primeiras, produzidas pelo YouTube, reviveram de forma magnífica os antagonistas do novo clássico de 1984, Karatê Kid (The Karate Kid). Os encontramos depois dos 50 anos, cada um em uma situação. Esse cenário foi desenvolvido e, agora, os personagens chegam ao quinto ano, novamente produzido pela Netflix (desde o terceiro). E a qualidade só cai.

Na primeira temporada, reencontramos Daniel LaRusso (Ralph Macchio), um empresário bem sucedido, e Johnny Lawrence (William Zabka), um alcoólatra vivendo de pequenos serviços. Lawrence acaba se encontrando como professor de caratê, abre o dojo Cobra Kai, revive os traumas de LaRusso e eles logo entram em rota de colisão. Ao longo das quatro temporadas, as relações entre os dois vão e voltam, envolvendo diversos outros personagens, entre familiares, alunos e amigos, novos ou velhos, com várias participações especiais de nomes que já frequentaram a franquia.

No início da quinta temporada, temos Terry Silver (Thomas Ian Griffith – abaixo) se firmando como o dono do Cobra Kai. O vilão do terceiro filme (de 1989) se juntou ao amigo John Kreese (Martin Kove) à frente do dojo e logo o passou a perna, mandando-o para a cadeia. Parecendo um malfeitor da série de James Bond (como alguém bem o descreve), Silver está sempre impecável, com seu cabelão branco preso e golas chamativas. Não poderia ser mais exagerado, mas até tem seu charme. Griffith estava afastado das câmeras há 14 anos quando recebeu o convite.

Se, desde o início, Cobra Kai era chamada de “Malhação com Caratê”, agora está mais para uma novela mexicana. Além de vários draminhas chatos e pré-fabricados, o excesso de closes em caretas e pausas dramáticas chega a ser risível. Os atores, de forma geral, parecem saídos da escola Joey Tribbiani de atuação, tão canastrões quanto o personagem de Friendsque fazia graça propositalmente. Se Zabka continua no mesmo tom desde o início, Macchio parece ter perdido o foco, repetindo à exaustão uma cara de cachorro perdido na mudança. Kove, que era para ser um vovô ameaçador, só tem uma mesma expressão de mármore.

Entre os adolescentes, os principais basicamente só se repetem. Xolo Maridueña (Miguel), Tanner Buchanan (Robby) e Mary Mouser (Samantha) não acrescentam nada e alguns coadjuvantes, como Joe Seo (Kyler Park), se tornaram constrangedores. Por sorte, tem quem se salve, como Peyton List (Tory Nichols) e Dallas Dupree Young (Kenny Payne), que ganham maior destaque. O campeão Eli “Hawk” Moskowitz (vivido por Jacob Bertrand) aparece pouco, em momentos pontuais, como os demais colegas do início.

Assim como séries como Black Mirror, Cobra Kai perdeu força ao entrar para o catálogo de produções da Netflix. Dá a impressão que o streaming, buscando um público mais amplo, esvazia as atrações, nivelando por baixo. E o mais estranho: mesmo batendo recordes de audiência e ganhando prêmios, a série ainda não tem sua sexta temporada confirmada. A Netflix não sinalizou nada e os criadores da atração atualmente trabalham em vários outros projetos, como um derivado de Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Off, 1986) e um novo American Pie.

A dinâmica entre Daniel e Johnny continua sendo o forte da série

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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