por Marcelo Seabra
Quando o barulho promocional começou, parecia se tratar de um longa complexo, hermético. Um dos diretores vinha de obras conceituais, reflexivas. E muito elogiadas. Essa mistura, somada à ótima recepção em festivais, fez com que Bacurau (2019) fosse muito aguardado. Só que ele se mostrou bem diferente do esperado. Uma trama simples, objetiva e bastante carregada politicamente. Mesmo tendo sido pensado há anos, sobre um futuro hipotético, o filme se mostra extrema e tristemente atual.
Kleber Mendonça Filho (de O Som ao Redor, 2012, e Aquarius, 2016) se uniu ao parceiro habitual Juliano Dornelles (de O Ateliê da Rua do Brum, 2016) para fazer algo que ele sabe bem como fazer e que é muito necessário para a época em que vivemos: crítica. Tudo em Bacurau é muito claro e direto, com comentários facilmente extraíveis das cenas e situações vividas pelos personagens. Entrar em detalhes pode atrapalhar a experiência da sessão, mas pode-se adiantar que não há nada encriptado ou de difícil entendimento.
O roteiro, também assinado pela dupla de diretores, nos leva à pequena Bacurau, distrito no interior do Recife que amarga uma falta de água. Um caminhão-pipa resolve precariamente o problema e o prefeito se aproveita para aparecer e fazer promessas eleitoreiras. Acompanhamos as vidas dos moradores do povoado até que cheguem os acontecimentos que mudarão as coisas. Não é necessário relatar mais sobre a trama para que fiquem claras as várias críticas que são feitas à nossa sociedade. A ideia era misturar ficção-científica nesse caldo, mas é triste constatar o tanto que o que vemos se aproxima da realidade.
Um diálogo que particularmente bate com força em quem estiver assistindo é travado em inglês, com a participação de brasileiros. A escolha cuidadosa de cada palavra e a violência que se segue nada deixam a dever a um Tarantino. Se o diretor americano se metesse a filmar no nosso nordeste, certamente o resultado seria próximo. A trilha sonora tampouco deixa a desejar, com seus sintetizadores à John Carpenter causando estranheza e estabelecendo o clima.
Dentre vários talentos pouco conhecidos no elenco, tem-se que destacar a participação de Sônia Braga (de Aquarius). A veterana tem um peso natural em frente às câmeras e faz pouco esforço para brilhar. Outro nome famoso é o de Udo Kier (de Pequena Grande Vida, 2017), igualmente competente. Dentre os menos conhecidos, os destaques ficam por conta de Thomas Aquino (de 3%), Barbara Colen (também de Aquarius) e Silvero Pereira (de Serra Pelada, 2013), nomes a se acompanhar.
A trama de Bacurau não é exatamente inédita. Lembra muito um longa de 93, estrelado por figurão do gênero ação cujo penteado é homenageado aqui. Mas, tecnicamente, tudo funciona, e tem muito valor o comentário social que é feito. Kleber e Juliano seguem extremamente relevantes, conseguindo o difícil feito de fazer um filme divertido e, ao mesmo tempo, essencial a quem tem noção do que está acontecendo no mundo, mais especificamente no Brasil. Tudo indica que nosso futuro é trágico, mas não cairemos sem lutar.
Bela reflexão.
Um dos piores filmes que vi. Ruim demais. Horrível. kkkkkkkkkkkkkk
Simplesmente sensacional!