Só as vítimas merecem, por ora, qualquer atenção. O resto não me importa

Segue uma satisfação (e explicação) à tantos que me cobram um post a respeito da tragédia de Brumadinho

Imagem: Google

Sempre que uma tragédia de grandes proporções ocorre no Brasil, me chama muito a atenção a reação das autoridades e da opinião pública em geral.

Não sei se motivados pela revolta, por tanto descaso, corrupção, incompetência etc, o certo é que imediatamente todos passam a apontar os dedões acusadores. Todos passam a querer um copo de sangue, como se a sede por justiça se apaziguasse aí.

Nunca escrevi sobre tragédias. Nem escreverei. Respeito demais o sofrimento daqueles que perderam familiares e bens, para permitir que minha opinião possa roubar um segundo sequer do tempo que deve ser destinado exclusivamente à solidariedade e apoio às vítimas.

Na parte civilizada do mundo, tragédias mostram, em primeiro lugar, todos os esforços, energia e pensamentos voltados à assistência. Em segundo lugar também. E em terceiro, quarto, quinto… Só depois busca-se investigar, identificar, acusar, comprovar e finalmente punir os responsáveis.

Por aqui, seguimos o caminho contrário. Acusa-se, sem conhecimento e a esmo. Especula-se de forma serial. Condena-se por “diz que disse”. A guerra de versões e opiniões, de provas e contra-provas, de laudos e perícias, assume o protagonismo no lugar de quem não deveria.

Por ora, danem-se os motivos e os responsáveis. Danem-se os culpados e inocentes. Tudo o que (deveria) importar são as pessoas. Estas que poderiam ser quaisquer um de nós.

Acudam, acolham, protejam, amparem quem precisa. Pois é só o que importa neste momento.

Depois fiquem à vontade para beber o sangue de quem quer que seja. E que mereça!

16 thoughts to “Só as vítimas merecem, por ora, qualquer atenção. O resto não me importa”

  1. Prezado Ricardo, perfeitamente; a hora agora é de pensar, rezar e ajudar as pessoas. Entretanto, aproveitando o tema e o momento vale apontar algumas coisas importantes. Os conselhos de meio ambiente, aqueles que recebem demandas de empreendimentos e ampliações têm sua origem na Alemanha. Só que lá bem como em outros países civilizados a composição destes conselhos é de 50% de integrantes do governo em todas as suas esferas e o restante da população. O poder econômico tem todo direito de expor no conselho mas não tem voto ou assento nestes conselhos. Aqui, onde ainda não temos maturidade ética os conselhos possuem cerca de 50% do poder público onde só se salva, com raríssimas exceasoes os representantes das universidades públicas e do ministério público. O RESTANTE dos representantes do poder público se comportam como verdadeiros ventríloquos da outra maioria que compõe os outros 50%, p poder econômico, este representado pelos sindicatos da construção, indústria, mineração e imobiliário. Isso mesmo aqui no Brasil o poder econômico não só tem a maioria destes 50% como tb tem assento e voto nos conselhos. E seus conselheiros se comportam como robôs que se esquecem que são humanos, pais, habitantes do planeta e estão lá só para votar tudo sem nenhum cuidado com o meio ambiente, futuro e as pessoas. Sobra-se na maioria dos conselhos 1 ou 2 assentos para a população e de alguma entidade de defesa do meio ambiente. Está desproporcionalidade e aberração faz com que (vejam as atas do copa sobre Brumadinhi na Internet) empreendimentos como a da barragem de feijão fosse irresponsavelmente rebaixada sua periculosidade. Imaginem as outras aberrações que estes conselhos decidem. É lá que aqueles que querem aumentar o rigor da legislação (vide governador Zema) deveria agir. Deus salve as pessoas abaixo das demais barragens!

  2. Gosto muito da sua coluna, é tento, sempre acompanhar. Mas dessa vez tenho que discordar. A solidariedade deve, sim, estar em primeiro Lugar. Mas temos que aproveitar esse novo momento que vivemos nesse Pais, e, buscarmos justiça, ao mesmo tempo que assistimos às vitimas, ou corremos o risco de que tudo caia no esquecimento outra vez…como Mariana.

  3. Olá Inundado, a tragédia de grandes proporções é uma só e dura quinhentos e dezenove anos, pois, desde que seu Cabral chegou à Coroa Vermelha a elitizinha rapinosa, extrativista e predadora suga as riquezas, manda o lucro para longe e deixa a terra arrasada e o povo semi nu, (observem as fotografias com as pessoas de Bento Rodrigues e de Brumadinho, invariavelmente com roupas puídas e ou encardidas).
    Com efeito, além da terra arrasada a elitizinha deixa aqui certos blogueiros e uma legião de diletos capachos (por exemplo: nada disseram acerca da devastação Mariana Abaixo, teve, inclusive, um lance deveras vexatório, pois, dias depois da Lama escorrer Rio Doce Abaixo houve homenagem em Jogo do Vasco da Gama, no São Januário às vítimas de Paris, mas no evento nada se disse de Bento Rodrigues ) que defendem a sede de lucro desmedido, em desfavor da segurança e da dignidade das pessoas o que quase sempre chama de iniciativa privada. Então os Paulo Guedes, os Henrique Meireles, os Anastasias, os Mourãos para ficar num pequeno exemplo pregam a diminuição do Estado e o campo aberto para a espoliação com a retirada de todos os direitos dos trabalhadores e a proteção da Seguridade Social.
    Na outra frente, a Embraer, o supra sumo, a crema de la crema, a cereja do mais apetitoso bolo foi construída pelo Estado através de brasileiros que lutaram em prol do povo de Pindorama. Agora vai sendo entregue para o império do norte. Logo logo irão transferir para longe o núcleo do laboratório (onde concentram as pesquisas e as melhores remunerações) e em mais algum tempo o país ficará apenas com depósito e prestação de serviços com mais dependências do que vem de fora.
    Para quem se disponha a pesquisar, veja se não foi isso que aconteceu com a Metal Leve, outra jóia que deixou o Brasil, como tem deixado os minérios ao longo do tempo.
    Então, não vale a lacrimosidade barata e oportunista pela usura da Vale. É necessário dar nome aos bois e atacar as causas, pois, os efeitos estão ai e perdurarão se não for removido as bases da injustiça e da rapinosidade.
    Diga lá Cecília Meireles:
    Mil bateias vão rodando
    sobre córregos escuros;
    a terra vai sendo aberta
    por intermináveis sulcos;
    infinitas galerias
    penetram morros profundos.

    De seu calmo esconderijo,
    o ouro vem, dócil e ingênuo;
    torna-se pó, folha, barra,
    prestígio, poder, engenho . . .
    É tão claro! — e turva tudo:
    honra, amor e pensamento.

    Borda flores nos vestidos,
    sobe a opulentos altares,
    traça palácios e pontes,
    eleva os homens audazes,
    e acende paixões que alastram
    sinistras rivalidades.

    Pelos córregos, definham
    negros a rodar bateias.
    Morre-se de febre e fome
    sobre a riqueza da terra:
    uns querem metais luzentes,
    outros, as redradas pedras.

    Ladrões e contrabandistas
    estão cercando os caminhos;
    cada família disputa
    privilégios mais antigos;
    os impostos vão crescendo
    e as cadeias vão subindo.

    Por ódio, cobiça, inveja,
    vai sendo o inferno traçado.
    Os reis querem seus tributos,
    — mas não se encontram vassalos.
    Mil bateias vão rodando,
    mil bateias sem cansaço.

    Mil galerias desabam;
    mil homens ficam sepultos;
    mil intrigas, mil enredos
    prendem culpados e justos;
    já ninguém dorme tranqüilo,
    que a noite é um mundo de sustos.

    Descem fantasmas dos morros,
    vêm almas dos cemitérios:
    todos pedem ouro e prata,
    e estendem punhos severos,
    mas vão sendo fabricadas
    muitas algemas de ferro.

    Sorte, Saúde e Sabedoria.

    1. O grande chefão da quadrilha rapinosa, extrativista e predadora, que comandou o maior assalto da história do Homo sapiens ( e da “mulher sapiens”, como diria uma conhecida anta), está preso em Curitiba junto com alguns comparsas.

    2. Santa babaquisse Batman! O maior pilantrel das Minas Gerais, durante quatro anos, sentou-se à mesa com os empresários do minério de ferro e, em troca de propina gorda e farta, colocou todos os mineiros de quatro e vários já estão levando o “ferro”. Todos que vieram antes dele fizeram isso também, mas, só o partido do pilantrel prometeu acabar com isso. Não tem desculpa esfarrapada, a culpa e a merda é toda na conta do PT.

  4. O distinto publico telespectador já se acostumou… um dia tem roubalheira, no outro tem tragédia e no seguinte tem os dois.
    Mesmo sem abalos sísmicos, nossas barragens e os viadutos superfaturados ou sem manutenção (Guararapes em MG e dois em SP) caem ou se desmancham, matam inocentes, destroem famílias, residências, patrimônios e provocam caos neste país.
    E o destaque fica para os atos heroicos, morosidade da justiça e tecnologias emergenciais para reerguer estruturas e localizar vivos ou mortos, enquanto o descaso com as vítimas e a impunidade seguem firme na liderança.

  5. Sempre que ocorre uma tragédia desta natureza, nos faz lamentar PELOS MORTOS e, igualmente, SUAS FAMÍLIAS, muitas vezes órfãs de tudo. Contudo, é importante lamentar, também, a enorme desigualdade que assola este país, a cada dia que passa, com perspectivas de só aumentar a miséria, com o atual governo federal (e estadual também, porque só ingênuo acredita em governador empresário, que acha bonito pagar doméstica a 300,00 por mês…). Governo Federal atual que, inclusive, já vinha propondo o AFROUXAMENTO da legislação ambiental e outras, além de propor aumentar o desmanche da CLT, esta esfacelada no “governo” Temer ladrão! Proposta existe ATÉ, pasmem, de PUNIR fiscalização! Enfim, estou surpreso com uma coisa: AINDA não botaram a culpa no LULINHA PAZ E AMOR!

    1. Pois é, os seus ídolos corruptos, retrógrados e incompetentes, em quase 1 década e meia de uma monumental de farra e roubalheira dinheiro público, afundaram o País no fundo desse poço economico, administrativo, social e moral.
      Um país quebrado, com déficit de 150 no/ano nas contas públicas e uma dívida de quase 5 trilhões, não tem como dar educação, assistência médica etc aos mais que mais dependem do Estado.
      Mas lulinha paz e amor pelo dinheiro dos outros enriqueceu a si e a toda a família com milionárias propinas em troca de superfaturamentos lesivos aos cofres publiicos.

  6. Lama, viadutos, facções criminosas, corrupção, violência urbana, balas perdidas, desemprego… Como diz os Racionais Mc’s: “Sobrevivendo no Inferno”.

  7. Olá Distinto, nos helicópteros que fazem os resgates em Brumadinho, na perícia e na dedicação dos Bombeiros e outro profissionais, aparece o logotipo do SUS, Sistema Único de Saúde, uma instituição do povo brasileiro, um órgão ESTATAL que socorre as pessoas, pois, a iniciativa privada leva o ouro e o lucro para longe e pará nós deixa a terra arrasada, as casas e o sonhos destruídos e os soluços que passam da garganta e TV mostra!

  8. Meu irmão trabalhou na Vale durante um bom tempo. Vou repassar aqui parte de um texto que me escreveu:

    ” Durante 7 anos trabalhei na arqueologia e no meio ambiente da Vale, de modo que gostaria de dizer algumas coisas. Tenho observado muita gente sendo hostil com aqueles que são funcionários da empresa e, sinceramente, acho que esta é a escolha errada do carrasco. No tempo em que lá estive posso dizer que 98% das pessoas com quem trabalhei eram de boa índole, que trabalhavam julgando ser o bem, tal qual o fiz em minha época. Por vezes estive às margens da dita barragem e todos trabalhavam como um padeiro que faz o pão ou um agricultor que cultiva. Está certo que nessa vida fazemos escolhas, mas nem sempre. Embuídos da necessidade de sobreviver, de viver, de estudar, de trabalhar, chegaram, assim como eu, a essa empresa, às vezes por acaso, às vezes como sonho. E assim, transformam-se em engrenagem, nesse caso, pequenas, que apenas giram para fazer a máquina funcionar sem ve-lâ, de fato, como um todo, a que ou a quem serve. Chamo isto de alienação. Lembro-me ainda, como se fosse ontem, do movimento de força tarefa que foi realizada para inspeção das barragens após o crime de Mariana. A quem cabia, acredito que fez-se o melhor. Mas, o que quero dizer afinal?

    Que o buraco é muito maior e muito mais em cima.

    Num mundo em que o conceito de crescimento desacelarado é sinônimo de crise, o sistema é pressionado até as últimas pontas até estourar. O Estado chegou num ponto em que é preciso fazer esforços homéricos para lhe “sobrar” alguma fatia de sobrevivência para dar ao social. Ele precisa entregar a alma, para continuar a viver e alimentar o seu invisível inchaço. O neoliberalismo vem desmantelando nações, sucateando estruturas e instituições, escravizando pessoas num modo “soft” e, pior, fazendo com que elas defendam o próprio modelo em que são escravas. Eu vejo claramente isto, é uma constatação e vou repetir: chama-se alienação.

    Mas não adianta eu ficar falando neste tom de abstracionismo, tal qual o capitalismo é: abstrato e incisivo. Assim, tentarei ser um pouco incisivo também:

    Com o Estado desmontado tal qual está, nada se resolverá. Esse papo de auto regulação não regula mais. O corpo de meio ambiente público é absolutamente falido. Não há estrutura, não há corpo técnico nem qualitativo nem quantitativo, a legislação não é cumprida, a fiscalização é simplesmente inexistente, as ONGs são deslegitimadas, as políticas educacionais nada sobre meio ambiente ensinam, nenhuma punição é aplicada, multas não são pagas. Em síntese, o meio ambiente no Brasil é apenas uma coisa: burocracia. E como se resolve a burocracia? Política! Marretada de cima pra baixo. Que começa lá nas famílias, passa pela bolsa de valores, alcança os acionistas, que tocam os diretores, que pressionam os políticos, que, por fim, entregam o que for necessário. Acionista também é alienado, ele não estica a mão para salvar ninguém da lama, ele só vê os gráficos e os números. E a nós, reles mortais, funcionários da Vale ou não, sobra essa borra do capitalismo. Este “apenas fazer”.

    Solução? Duas. (…) ”

    É isso. Parabéns Brasil.

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