Uma (mais uma!) praga urbana

Não importam mais a região e o tamanho das cidades. Estacionou seu carro ou moto na rua? Lá vêm os indefectíveis flanelinhas

Se essa rua, se essa rua fosse minha…

Pois é. Praga é assim mesmo: se não se elimina no início, cresce sem parar. É o tal do “cortar o mau pela raiz”. Deixou crescer, já era meu irmão. Só com muita força de vontade e perseverança se vence depois. E o risco da volta permanece eterno. Vejam a inflação: após décadas infernizando a vida dos brasileiros — todos os brasileiros! –, a partir do Plano Real de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e toda aquela brilhante equipe econômica, a carestia deu uma trégua. Se jamais foi extinta, ao menos, como um vulcão comportado, nunca entrou em erupção novamente, mesmo com alguns momentos de, digamos assim, soluços, onde aumentos de preços foram cuspidos acima de um dígito. Ou seja, a praga inflacionária foi controlada, não extinta. Ao menor descuido, cresce e aparece, sem aviso prévio.

Outro exemplo: as favelas. Pequenas invasões, toleradas sob o politicamente correto nome de “ocupações”, foram crescendo e fincando raízes por todos os grandes centros urbanos. Décadas após seu surgimento, não há a menor possibilidade de extirpá-las ou minimamente controlar sua expansão.  Sim, favelas são uma praga! São locais inadequados a uma habitação digna. São sujas e sem saneamento básico. São violentas e muitas delas “paraestatais”, deixando seus moradores à sorte das maiores vilanias e crimes possíveis. Pior. Ao invés de saídas para este tipo de habitação, criou-se o termo “comunidades”, a fim de disfarçar o que são.

A violência talvez seja a maior destas pragas urbanas. Ou melhor, é! Nada é pior no país. E como toda e qualquer praga, teve seu início desprezado por quem deveria impedir seu crescimento. Os pivetes dos anos 70 tornaram-se trombadinhas nos anos 80. Depois, formaram grupos e iniciaram os arrastões. Nos anos 90, já eram quadrilhas organizadas sob siglas como CV e PCC. Bem, conhecemos o resultado, não é verdade? A violência jamais foi combatida. Ao contrário, foi até mesmo romantizada, nas músicas de MPB e telenovelas da Globo. Em seguida, com a CF de 88 e os tais ECA e Direitos Humanos da vida, a bandidagem encontrou terreno fértil. Prosperou como nunca e hoje é uma espécie de Quarto Poder. Um Poder paralelo ao Estado.

Há uma outra destas pragas urbanas em franco crescimento. Antes relegada às grandes cidades do sudeste do Brasil, hoje ultrapassou qualquer fronteira geopolítica e tornou-se mais um dos “símbolos nacionais” do nosso subdesenvolvimento, mais uma das nossas jabuticabas. Falo dos famigerados Flanelinhas. Marmanjões que se recusam a um emprego formal e tomam as ruas públicas como espaços privados seus. Não raro, travestem-se de Agentes de Trânsito, vejam só, e resolvem controlar o tráfego de ruas e avenidas. Achacam livremente a população assustada e indefesa e cobram por um serviço que inexiste — salvo se o Estado terceirizou a (in)segurança pública e não nos avisou. Trata-se, isso sim, de um assalto velado. Não há outro nome.

Já passou da hora de os vereadores de Belo Horizonte cuidarem deste assunto. Em São Paulo, por iniciativa do vereador Fernando Holiday (DEM), já tramita, naquela casa, um Projeto de Lei que pretende autuar e punir quem intimide e coaja cidadãos a pagar para estacionar nas ruas. Uma bela iniciativa que exige coragem e determinação, para não cair na vala fácil do populismo bocó que sempre surge nestas horas. PT, PSOL e afins, todos sabemos, sairão a gritar “em defesa” dos Flanelinhas. Dirão que são trabalhadores em busca do sustento das famílias. Uma ova! E o que são todos os que param os carros nas ruas e têm de pagar por isso? Vagabundos? Ricos? Elite branca opressora?

Eis aí. Mais uma praga que cresceu. Ainda é controlável, mas se nada for feito, anotem: migrarão do asfalto para as calçadas, e começarão a cobrar dos lojistas e comerciantes também. Aguardem: Não costumo errar muito no que digo.

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26 thoughts to “Uma (mais uma!) praga urbana”

  1. No meu caso que ando de moto acho o trabalho dos flanelinhas fantástico porque eles ajudam a estacionar as motos e fazem caber mais veículos no mesmo espaço. Essa atividade é regulamentada pela prefeitura em belo horizonte. Os que estorquem são bandido, mas os outros estão correndo atrás, lembremos que existem 12 milhões de desempregados

    1. “ajudam a estacionar as motos e fazem caber mais veículos no mesmo espaço”. Geralmente jogando motos em cima das outras, arranhando, quebrando manetes, retrovisores, pelo menos tirando do lugar, dificultando para tirar as motos, isto quando não há efeito dominó jogando várias em cima das outras – comigo já aconteceu 2 vezes e já vi acontecer outras 2. Fora as que são roubadas sob a guarda dos mesmos.

  2. Não moro mais em BH mas uma vez, na praça da liberdade, um flanelinha foi me ‘orientando’ para estacionar.
    Assim que estacionei, ele ‘pediu’ 10 pilas pra tomar conta do carro.
    SOLUÇÃO: Eu perguntei pra ele onde eu conseguiria alguém pra tomar conta dele pois eu não iria paga-lo e se acontecesse qualquer coisa com meu carro eu ia ‘encher ele de porrada’ e, se ele fizesse algo no carro enquanto eu me afastasse, que eu voltaria um outro dia e o pegaria de surpresa(e pagava MESMO) e neste caso, era melhor ele ‘sumir’ da praça.
    Fim!

    1. Já que comentou sobre ‘lojas’ e passeios, certa vez cheguei em uma loja levando um aparelho de tv para reparos.
      Do outro lado da rua havia(e ainda tem) um espaço para ‘carga e descarga’. O dono da loja em frente ao carga e descarga colocou 2 cones e quando eu quis parar, ele disse que estava esperando um caminhão que iria descarregar ‘coisas’ na loja dele.
      Desci do carro, dei 2 bicudos nos cones(1 bicudo em cada que rolaram rua abaixo) e falei que o espaço era pra uso público e não era exclusivo dele nem da loja dele.
      Ele ficou muito puto mas eu estacionei lá até retirar a tv e entregar na loja do outro lado da rua.
      Brasileiro é foda, vai tomando posse do que não é dele e passa a ter certeza de que o o que ele apossou é direito dele…igual a flanelinhas, petistas e outras merdas!

        1. Fica quieto frango senão descubro seu IP e vou onde vc estiver pra dar uns bicos, aí c vai ficar com ôio ‘roxa’!
          Quem se denomina ‘frango’, no meu entendimento e no conhecimento geral é viado e comprovo o seu pois vive perseguindo homens…né frango?

          Comente sobre o tema do blog e pare de me perseguir, detesto viados!

            1. Kkkkk esse blog é diversão garantida.

              E esse JLT! Comédia pura! Não deve saber nem o que é um IP. É valentão assim, mas no outro dia nem senta de tanta nervosia.

              Estou chorando de rir

  3. Mais uma ótima crítica, que poderia chamar-se “Por falar em Hipocrisia”. Como ressaltado pelo Ricardo, é a hipocrisia nossa de cada dia. Todo esse caldo está ficando insuportável. Está queimando a língua. Parabéns, Ricardo.
    Aproveito só para lembrar que lei nós já temos. O que falta é fiscalização e cumprimento dessa mesma lei. O que vemos é somente ações pontuais. No dia seguinte tudo volta a ser como dantes…
    Aproveito ainda para recomendar a correção gramatical de dois detalhes: “cortar o mau pela raiz”. Não é mau; É mal. Pelo menos assim entendi. Se o “mau” aí são os flanelinhas, está certo. Outra: “Se jamais foi instinta,”. Não é “instinta”. É “extinta”.

  4. A permissividade na legislação penal fomentou toda sorte de bizarrices que presenciamos, inclusive flanelinhas autoritários com colete da PBH…
    Nossos legisladores, prevendo a derrocada, inventaram uma gama enorme de benefícios e medidas cautelares (tornozeleiras eletrônicas) para se furtar às consequências de suas transgressões…
    Por muito tempo dizia-se que tínhamos a melhor Constituição e blá blá blá, mas a verdade é que ela é ineficaz e extremamente desrespeitada…
    O Brasil não melhora sem uma nova Carta Magna, verdadeiramente ajustada aos anseios da sociedade de bem. Sem punição e rigor, as pragas perpetuam…

  5. Eu não conseguiria ser tão preciso Ricardo Kertzman ! Parabéns.
    Eu me lembro durante a minha infância nos anos 70 o surgimento dos pivetes.
    Eu costumo dizer que a única falha dos governos militares foi não ter endurecido o código penal e processual penal de modo a tirar das ruas todo e qualquer infrator da lei e da ordem.
    A pessoa pobre tem sim a opção de viver uma vida dentro da lei. As instituições e programas sociais sempre existiram, assim como as escolas públicas. Se a bandidagem fosse implacavelmente combatida, o pobre buscaria sim um meio para melhorar sua condição. O governo não é pai ou mãe de ninguém pra ficar dando e distribuindo tudo e a todos. Como disse uma vez um presidente americano: “não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país”.

  6. Pior são aqueles “flanelões” que a pessoa está estacionando o carro numa vaga que caberia uma jamanta e sem ninguém pedir ajuda, lá vem eles te “orientando” e te chamando de “patrão”, “chefia”, “amigão”, “colega”…

  7. Eu sempre disse isso. Pelo menos há uns 20 anos falo. E o que víamos só em filmes de Hollywood, comerciantes pagando por proteção em centros urbanos, passaremos a ver aqui, se nada for feito.

    Em tempo: NUNCA paguei flanelinhas, sempre os enfrentei, nunca mexeram no meu carro. E ainda os aviso: se eu voltar e tiver um arranhão no meu carro, eu te acho onde você estiver.

  8. Se eu fosse amigo do vereador Gabriel Azevedo (Deus me livre de um dia ser), mandaria esse texto para ele, exigindo que o vereador, que é criador do direito novo, como legislador, propusesse uma lei para proibir tal prática. Esses flanelinhas cobram atá pra cuidar do nosso carro em frente à nossa casa.

    Em tempo: cortar o mal (não o mau) pela raiz.

    1. 1) Perde não sendo amigo do Gabriel; 2) Exigindo? Troco por sugerindo. E já conversamos sobre isso; 3) Esse mau aí é meu, e é com “u” mesmo.

  9. Olá Inundado, esse e outros temas nos faz lembrar que, invariavelmente, estamos a debater os efeitos e não as causas.
    No próximo ano, se assim permitir os golpistas, haverá eleições. Porém, a necessária e inadiável reforma eleitoral não foi feita e nem será, porquanto não ha mais prazo. E daí? E dai que fatalmente serão eleitos e reeleitos os políticos por um modelo que já exaustivamente se revela prejudicial à democracia e ao desenvolvimento nacional. O que vemos é gritaria, impropérios, ódios, mas discussão sóbria e serena acerca dos males deste país pouco ou quase nada se faz. E menos ainda, não se enfrentam os reais problemas nacionais. Sorte, Saúde e Sabedoria.

    1. Ora… vamos dar um abraço nos flanelinhas então, que o problema estará resolvido!!
      Ou me culpe, pois sou homem, heterossexual, branco, conservador, de nível superior e ganho mais de 5 salários mínimos por mês!
      Isso é tudo culpa minha, portanto, e do meu ódio!!

  10. Muito bom! Alguma autoridade precisa enfrentar essa praga, já que a grande maioria dos cidadãos tem medo e acaba incentivando a ação desses marginais, cedendo às extorsões. Acompanhei o surgimento e a expansão desse tipo de crime aqui em Belo Horizonte, sempre com muita indignação e revolta. Paro um pouco mais longe, os ignoro, me nego a pagar de forma pacata e às vezes já precisei me desentender com alguns, mas o problema é que muita gente paga e aí não há como a situação melhorar. O número de marginais atuando só aumenta, pois conseguem dinheiro fácil, principalmente nas imediações de estádios ou locais de show.
    É preciso que haja fiscalização e punição severa para que essa situação melhore.

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