Ah, Cazuza, Cazuza… Saímos dos porões da ditadura, onde milhares foram torturados, para cairmos nos porões da democracia, onde milhares já não bastam, mas, sim, milhões, duas centenas para ser mais exato é que levam no lombo todos os dias. Se soubéssemos que seria assim, hein?
Cresci em Brasília, em pleno regime militar. Ouvia diversas histórias e expressões. Uma delas eram os tais “porões da ditadura”. Diziam, mesmo anos após o fim do período militar, que ouviam-se urros e gemidos de dor nos subsolos dos quartéis e dos DOPS. Já morando em BH, sempre que passava em frente ao da Av. Afonso Pena ficava com medo dos tais urros fantasmas.
O Brasil tornou-se uma “democracia”. Grafei entre aspas, pois não concordo. Democracia não admite castas na sociedade. Igualmente não admite compadrio e fisiologismo entre os poderes. Muito menos um poder judiciário que se pretende um monarca absolutista. Tampouco um poder legislativo permeado de criminosos autoimunes. Ou um poder executivo como fonte de corrupção. Democracia vem da palavra “demos”, que significa povo, em grego. Ouvi isto de alguém, posso estar errado. Se estiver, me corrijam à vontade. Este blogueiro é palpiteiro, não erudito. Assim, para sermos uma democracia teremos de começar a mexer em tudo. E o primeiro passo é acabar com os porões. Não com aqueles da repressão, pois já eram. Mas com os atuais, onde os segredos dos poderosos são guardados ou vazados seletivamente, onde seus crimes são arquivados ou julgados por conveniência do xerife de plantão, ou onde ainda repousam os dados das contas secretas irrigadas com bilhões e bilhões de reais surrupiados do país através da corrupção.
O Procurador Geral da República Rodrigo Janot agiu como tal monarca absolutista. Num rompante e numa canetada decidiu, sabe-se lá por que, arquivar a delação premiada do empreiteiro corrupto e condenado a mais de 15 anos Leo Pinheiro, da OAS, onde o safo espalhava a merda acumulada em anos de negociatas com o poder. Noticia-se que Lula iria para o saco de vez. E levaria junto Dilma, Aécio Neves e José Serra (este último, eu duvido). Mas Janot mandou tudo para o porão do Ministério Público Federal sem qualquer explicação ou satisfação à sociedade. Ou melhor, à democracia. E por que? Por causa de um vazamento de um trecho onde o ministro do STF Dias Toffoli era citado. Bem, fica a dúvida: quem Janot quer poupar? Lula, Dilma, Aécio, Serra ou Toffoli?
Passam-se dois ou três dias e algo ainda mais impactante nos surge: Num gesto impensado — ou muito bem pensado — o sujeito que acumula mais de dez inquéritos criminais repousados nos porões do STF, há anos, em público, ao vivo e em cores para todo o Brasil, diante do presidente do Supremo Tribunal Federal e de seus colegas de senado grita para o mundo que “impediu” a continuidade do processo contra a senadora petista investigada por corrupção, Gleisi Hoffmann, esposa do ex-presidiário temporário, o também petista ex-ministro Paulo Bernardo, no próprio Supremo.
“Cuma??”, diria o imortal Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgina Mufumbo.
Pois é. Cuma, né, Didi? Como — e por que — um presidente do senado impede a continuidade de um processo tramitando no Supremo? Mais, amigos: como — e por que — a Suprema Corte aquiesce? Quantos mais (e quais) outros processos não têm o mesmo destino? Ou quantos (e quais) processos não correm céleres, ligeiros como o do ex-presidente do congresso Eduardo Cunha, por mera conveniência do Procurador Geral? Tempo recorde! Renan Calheiros, “sem querer querendo”, nos apresentou outro porão.
Não dá mais! Não é possível um país com mais de 200 milhões de habitantes continuar à mercê de uma casta dominante, poderosa e empoderada, descolada da realidade cotidiana dos cidadãos, monárquica e absolutista, aglutinada em torno somente dos próprios interesses e conflitos. Não tem mais cabimento tanta humilhação, tanto sofrimento, tanto descaso, tanto roubo os quais somos submetidos diariamente há décadas e décadas. Não só pela situação em si, absurda e surreal, mas como também porque o bolso — e a saúde mental — já não suporta mais. Esta gente primeiro nos tirou a capacidade de consumir. Depois nos surrupiou a capacidade de poupar. Em seguida nos empurrou para a incapacidade de pagar. Agora já não nos permitem sequer vivermos dignamente (comer, beber, vestir, locomover, educar, etc).
Até quando, leitor amigo? Até quando, como nos berra Gabriel Pensador em sua canção, vamos levar “porrada, porrada… calados e sem fazer nada”?
Ricardo, o poder existe para proteger o poder, se assim não fosse, não seria o poder, o poder não existe para defender o povo o poder existe para se defender do povo, se assim não fosse os Lulas, dilmas, aécios,cunhas, renans, lewandowiscks, gleisis, não estariam no poder, tanto que o aparelho estatal de segurança externa e pública, encontram-se num capítulo da Constituição Federal denominado defesa do Estado, o outro nome do poder, e não num capítulo destinado à defesa do cidadão. Há alguns meses resolvi mudar de País e deixei minhas filhas no Brasil, gasto com elas aí o dobro que gasto comigo e a esposa em Portugal. C’est la vie. Aufwiedersehen.
Carlos, você está errado em apenas uma coisa: deixar suas filhas por aqui!
Comentario de primeira pagina!!!!?
É a primeira vez que leio algo que penso e me incomoda.Até quando seguiremos sem reação?O que mais é preciso para o brasileiro literalmente partir pra cima?Em nossas veias corre é água?
Não, Andrea. Sangue, mas talvez de barata.
Excelente artigo, Ricardo ! Não é necessário ser erudito para ser um ótimo operador das palavras, quando se as utiliza para formar um texto que retrata de modo tão claro nossa realidade, qual seja, não vivemos em uma democracia plena. Democracia não é apenas ter o direito de votar e o de poder xingar os eleitos: é também o de poder participar das decisões, atualmente tomadas apenas nos gabinetes (porões) dela própria.
Obrigado, Roberto. Comentário perfeito!
O PT do Lula, ou o Lulapetismo foi o ápice ou a grand finale ou ainda aproveitando o clima das olimpíadas, a medalha de ouro de tudo o que você expôs aqui. Se tudo na história política deste país já era nebuloso, o Lula chegou e disse “Se os outro fizero e nunca na história deste país alguém reclamô então vamu fazer direito”. E ai veio a institucionalização da corrupção e desvios (inclusive para países “amigos”), que se agigantaram. As tramoias, as enganações e as mentiras ganharam outra dimensão. Paralelamente (curioso) uma parcela da população que já tinha uma veia esquerdista se inflamou e radicalizou, a ponto de esconder para debaixo do tapete os podres de seus idolos e cantar de defensores da democracia e da honestidade na maior falsidade e hipocrisia (ou ingenuidade?). Mesmo que fosse um golpe constitucional, como apregoam os defensores desta quadrilha, seria uma solução muita benéfica para a nação tanto agora como principalmente para o seu futuro. É como se uma escuta telefonica ilegal podesse impedir que nosso país fosse invadido e destruido e um juiz internacional iria anular as provas e deixar a invasão acontecer. Seria razoável?
Perfeito, Gilney. Patabéns!
Os heróis deste, quando não morreram de overdose, morreram de complicações da AIDS. Ou seja, foram pervertidos de péssimo exemplo para a família agora representados por desses que foi imbecilizado e, que sem merecimento algum, tomou assento no STF. Meus heróis NÃO morreram de overdose.